História Ir ou não? Eis a questão. - Quem sou eu?

São 6:00 horas da manhã, faltam exatamente 30 minutos para o despertador tocar, e como sempre, eu acordo antes só para pensar na vida, para sofrer antecipadamente por ter que levantar daqui a pouco, não escuto barulho de chuva na janela então nada de desculpa para não ir hoje.

 Meu nome é Olivia, Olivia Clark, mas eu prefiro que me chamem de Olly, é assim que todos me chamam, quase todos. Sou uma adolescente comum que estuda em uma escola comum, que costumava ter uma família comum e uma vida que dá pro gasto, até ser interrompida por um marcante e trágico acidente. Não sou um desses adolescentes que dão trabalho para seus pais, pelo menos posso dizer que não dou trabalho para minha mãe, não muito. Não sou a popular da escola mas também não sou a nerd... faço parte do "padrão comum" aqueles que não chamam atenção, os famosos figurantes no meio dos alunos em filmes de escola, sabe? Tenho a pele clara, acho que até mais clara que o normal e isso não é nada bom, depois das aulas de educação física eu pareço um porco suado, porco não por sujeira, mas pela cor rosa, minhas bochechas ficam coradas com qualquer esforço e eu fico vermelha facilmente, tenho longos cabelos ruivos encaracolados que vivem preso em um coque, tenho muita vergonha de soltá-los além do mais já acostumei, uso esse penteado desde a 5 série. Tenho olhos castanhos claros, altura média, mais ou menos 1,65 e sou mais magra do que deveria ser, isso ajuda um pouco na educação física, sou a última a cansar na queimada, e a última a ser escolhida também, geralmente entro na equipe que falta alguma pessoa, por escolha do professor. Com a Amy já é diferente, Amy  Lee é minha melhor amiga, nos conhecemos no primário e estamos juntas até hoje, nossos pais são muito amigos também e isso faz com que nos faz nos ver não só na escola. Amy tem cabelos negros e liso, sua mãe tem descendentes japonês e isso explica o cabelo dela, ela tem a pele escura, igual a seu pai e olhos tão pretos quanto jabuticaba, um pouco mais alta que eu e um corpo muito bem desenhado, me sinto desconfortável as vezes perto dela, principalmente quando saímos juntas, as vezes faço de tudo para não ir, depende do lugar para onde vamos, enfim. Hoje tem prova na escola e o Sr. Hebert meu professor de História não tolera atrasos, e como atraso é o meu sobrenome depois de Clark, mamãe prometeu que me levaria para a escola, já que ela me convenceu a vender o meu carro, usamos o dinheiro para pagar algumas dividas, vamos passar na casa da Amy para busca-la. 6:30 o despertador tocou, tomei banho, me arrumei, vesti o uniforme horrível da escola, peguei a bolsa, diário e desci para a cozinha, lá estava mamãe tomando café, já pronta para o trabalho, mamãe é promotora de vendas e geralmente costuma ficar até uma ou duas semanas fora de casa, as vezes volta aos finais de semana, mas sempre tem que viajar, então eu passo a maior parte do tempo sozinha. Apesar de que tenho Beth, uma mulher super simpática que trabalha aqui em casa de vez em quando. 

 — Bom dia querida. - disse ela com voz de sono. 

Respondi com um sorriso. 

 Minha mãe é Emma Clark, promotora de vendas, moramos em uma casa distante de quase tudo, uma casa com uma floresta do outro lado da rua e não temos vizinhos. Nossas vidas mudaram de um dia para o outro assim que recebemos a notícia de que meu pai havia sofrido um acidente aéreo, fiquei um tempo sem acreditar, misteriosamente o corpo dele não foi encontrado e isso me fez criar uma esperança, mesmo com o corpo de bombeiro afirmando não existir uma pequema chance de haver um sobrevivente, mamãe sofreu muito com isso, creio que sofre ainda, ela já não é mais a mesma, ela trabalha dobrado agora, as vezes passa dias fora de casa, em viagem com o patrão e vive cansada. Ela não me diz, mas eu percebo isso nela. éramos muito unidos, papai foi a melhor pessoa que existiu nessa terra para mim, na verdade, não acredito até hoje que ele se foi, mesmo que já tenha se passado quase dois anos... Desde então mamãe trabalha por dois para nos sustentar, por isso ela paga a Beth para ficar comigo e arrumar a casa, uma doce senhora que fica comigo desde o momento em que chego da escola e sai às seis da tarde, aí sim fico sozinha. 

 — Olly, filha, ficarei essa semana fora, meu chefe me ligou ontem, mas já avisei a Beth e ela vem hoje a tarde. - Diz ela insistindo em conversar. 

 — Ok... - Tentei disfarçar a decepção na voz, tinhamos combinado de passar a semana juntas. — Ainda vamos passar na casa da Amy?. 

 — Vamos, e anda logo para não se atrasar.  Não quero mais reclamações suas. -ela termina o café, pega as chaves e sai pela porta.

Como já falei, eu tinha meu carro mas vendemos por questão financeira, Amy tem o dela porém insisti para que fosse comigo hoje, depois da escola vamos almoçar na nossa lanchonete favorita MstBurg, fica só a algumas quadras depois da escola.

 Chegamos na casa do Sr e Sra Miller e Amy já nos esperava na porta, ela usava uma blusa preta que combinava com suas botas, e uma calça jeans azul escuro. Assim que paramos ela entrou no carro.

 — Uau, acho que estamos adiantadas dessa vez! Bom dia Sra Clark!

 — Bom dia Amy. - mamãe olha pelo retrovisor. — E seus pais como estão?

 — Em pé de guerra, Sr Clark. Só brigam ultimamente... - Amy vira para mim e rapidamente  muda de assunto. — Mas e ai Olly, estudou para a prova? Vou te contar, nunca estudei tanto na minha vida como estudei ontem, esse Sr Hebert com certeza odeia a gente! 

— Realmente... - Respondi. 

 Mamãe nos deixou na porta da escola, me mandou um beijo prlela janela do carro, buzinou e foi logo em seguida, chegamos a tempo, antes do professor para ser exato e já sentamos em nossos lugares, Amy senta do meu lado em todas as matérias e aulas que fazemos juntas. 

 —  Alguma novidade? - ela se vira para mim atenta esperando uma resposta, me pegou desatenta pensando na vida. 

— Não, mamãe viajou de novo e ficarei sozinha por mais uma semana. 

 —  Aff.. - Ela reclama. —  Beth vai ficar com você? 

 — Só a tarde. 

 —  Quer dormir lá em casa? - Ela me pergunta enquanto tira o material da bolsa. 

—  Acho que minha mãe não deixaria, ela me quer em casa até ela voltar. 

 — Ok. Então vou dormir com você! - ela pisca para mim e vira para frente. Respondi com um riso curto.

 * O professor entra na sala.* 

 — Um bom dia a todos! Tenho duas notícias ótimas para vocês, uma é que a minha prova está mais difícil do que vocês imaginam e a outra é que as turmas do 2° ano dessa escola foi convocada para uma visita a Harvard University, eles estão em um projeto e nossa escola foi sorteada para esse passeio, e antes que comecem os comentários "eu não vou" e "blá blá blá" saibam que o passeio é obrigatório e quem não for é zero na prova sem questionamentos!

 *Todos começam a falar ao mesmo tempo e a questionar o passeio obrigatório* 

 — SILÊNCIO! Eu disse sem discussões! estarei entregando as autorizações, e a prova em seguida, peçam para seus pais assinarem, o ônibus estará aqui no horário normal de aula, sim o passeio é amanhã e nada de atrasos. - diz ele olhando direto para mim, no momento em que deixa a prova em minha mesa. 

A direção da escola conhece toda a minha vida, sabem de tudo que aconteceu, eles meio que tem uma atenção especial comigo. Me acompanham sempre e perguntam como estou, as vezes passo com o psicólogo da escola, ando meio sumida de lá, vou sempre que posso.

 Amy e eu fomos as últimas a sair da sala, entregamos a prova e saímos bem na hora em que o sinal bateu, os alunos foram dispensados da aula assim que terminassem a prova.

 — Olivia? - Sr Hebert me chama. 

 Na hora congelei, imaginei todas as coisas erradas que já tinha feito em toda minha vida, dei dois passos para trás e me virei em sua direção, ele me olhava sério enquanto limpava os óculos.

 Sr Hebert é um professor que  confesso realmente eu tenho medo, sua careca no alto da cabeça e seu avental branco o faz parecer medonho.

 —  Sim? - Respondi tentando passar mais tranquilidade o possível. 

— Tem um minuto? - Ele aponta para a primeira cadeira da fileira em frente a sua mesa. 

— Claro, senhor. - Tirei minha bolsa e sentei na cadeira. 

 — A direção entrou em contato com sua mãe e ela autorizou sua ida ao passeio amanhã. - Ele sorri maliciosamente como se soubesse que havia me assustado.

— Ok. - engulo a saliva que desce seca na garganta e dou um sorriso torto. —  Obrigada Sr Hebert.  - Agradeci balançando a cabeça e saí em seguida.

Então não tinha escolha, amanhã passeio. Que ótimo! Lá fora, Amy me esperava impaciente.

 — Demorou em? Sabe a quanto tempo estou te esperando aqui fora? O careca te prendeu lá dentro?

 — Não. Vamos? - Respondi antes de mais perguntas. — Estou morrendo de fome! 

Foi um dia longo na escola, almoçamos juntas na lanchonete e voltei para casa depois, Beth estava cozinhando, passei por ela, a cumprimentei e subi para meu quarto, deitei e voltei a pensar na vida. Escrevi sobre o meu dia no meu diário, meu querido companheiro e caí num sono profundo depois, acordei já de noite como uma mensagem da Amy dizendo que não poderia vir, desci para a cozinha e Beth estava saindo, comi a primeia coisa que vi e depois tomei banho, troquei de roupa, e... bom... só mais uma semana sozinha né? Vai ser fácil, já fiquei mais tempo que isso. Fiquei imaginando por um tempo ter que passar a tarde toda com o professor Hebert e sua turma de história, jantei, subi para meu quarto e voltei a dormir.