•Jimin's POV•
No momento em que avistei aqueles orbes escuras marejadas e o rosto inchado de Jeongguk, antes deste sair definitivo da cafeteria e entrar no carro junto com Taehyung, eu soube que tinha dado merda.
Ele sabia. Eu sabia que sim. Mas como?
Eu continuei parado, no meio da cafeteria, sem conseguir esboçar alguma reação momentânea. Eu estava, no momento, tomado pelo choque e por… Isso era medo?
— Mas… O que aconteceu aqui? – Minji se pronunciou ao meu lado, aparentemente confusa também.
— Ele sabe, Minji. De alguma forma, ele sabe. – disse e suspirei, frustrado e temeroso. Droga!
Como ele havia descoberto, eu sinceramente não fazia ideia. Os únicos que sabiam daquilo era eu, minha irmã e Yoongi; eu tinha mais do que certeza que o mais velho jamais diria qualquer coisa.
O corpo de minha irmã se tencionou ao meu lado e virei meu olhar até a mesma, que me retribuiu claramente em desespero; os olhos arregalados e mais pálida que o normal. Respirei fundo novamente, enlaçando meu braço ao redor de sua cintura e saindo dali com a mais velha, nenhum de nós ousando dizer uma palavra sequer.
Eu, de fato, entendia os motivos que levaram minha irmã a tomar as atitudes que tomou. Após eu chegar na cidade, Minji sentou-se comigo e me explicou toda a situação, o que realmente estava acontecendo e os motivos que a levaram me pedir o que pediu. É claro, sabia também que não havia sido a opção mais inteligente para se fazer, mas não a julgaria por isso. Era minha irmã, afinal, e a apoiaria sempre, até em suas ideias mais malucas.
Éramos nós dois contra o mundo, no fim. Sempre fora.
Entramos no apartamento ainda em silêncio e sentamos no sofá juntos, os movimentos mecânicos e sincronizados. O silêncio perdurou por mais alguns minutos.
— Ele sabe… – repeti novamente, como se agora eu conseguia, de fato, sentir o peso de minhas próprias palavras. — Céus, Minji, ele sabe! – a olhei, o pânico e medo começando a tomar conta do meu ser apenas naquele momento, a ficha finalmente caindo.
Droga, droga, droga!
— Nós precisamos falar com ele… – ditei, tentando me acalmar e a mais velha apenas me olhava, tão apreensiva quanto eu.
— Ele obviamente não está na casa dele, Jimin. – a garota suspirou, deslizando os dedos pelos fios longos e castanhos — E, do jeito que o Jeon é teimoso… Não vai querer olhar pra nossa cara, se ele realmente sabe de tudo. – completou e eu bufei, jogando o corpo no sofá, me sentindo frustrado.
— O que sugira que façamos, então? – perguntei, sem humor algum na voz, observando o teto branco da sala.
— Eu acho que… Precisamos dar um tempo pra ele… Hoje, pelo menos. – suspirou — E depois teremos que ser realmente insistentes. – seu tom de voz era extremamente desanimado.
Mesmo contrariado, concordei com suas palavras, observando a mais velha levantar-se do sofá e seguir até seu quarto. Permaneci ali na sala, ajeitando meu corpo no estofado e passando a apenas encarar o teto mais uma vez, sem vontade de fazer qualquer coisa.
Um misto de emoções se misturava dentro de meu ser, parte minha não queria acreditar que ele sabia de tudo. Droga, eu realmente tinha começado a me apegar àquele garoto. Fechei os olhos, respirando fundo, pensando em tudo que acontecera desde que eu havia chego em Seul.
Minha situação em casa não estava das melhores, eu já tinha planos em sair de Busan, então quando Minji me ligou, me propondo a maior loucura, foi também uma forma de me salvar do que já estava me sufocando naquela casa.
Quando minha irmã me fez aquela ligação, eu fiquei por muitos minutos em silêncio, simplesmente não conseguindo compreender qual era a porra do problema dela para me propor uma coisa desse nível para mim. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que jamais conseguiria negar ajuda para ela. Independente do que fosse, mesmo, nós sempre estaríamos um com o outro. Fora assim durante nossa infância toda e continuaria sendo assim sempre. Não sei se era pelo fato de sermos gêmeos e isso contribui com a forte ligação que tínhamos, mas ela era minha melhor amiga e vice versa. Não importasse em qual problema Minji se metesse, eu sempre estaria ali para ajudá-la, curar seus machucados quando precisasse, levar a culpa no seu lugar ou, até mesmo, acabar me metendo no problema com ela para, no fim, me foder junto. Justamente como acontecia agora.
Suspirei frustrado, céus, tudo havia saído do controle à tanto tempo… Eu sabia que aquilo não iria dar certo no momento em que coloquei meus olhos em Jeon Jeongguk.
Porra! Ele era fodidamente mais lindo do que nas fotos que minha irmã me mostrara, isso era um fato. Quando nos conhecemos, aquele dia no restaurante, eu sabia que estava fadado ao fracasso. Estava óbvio que eu iria me apaixonar, no fim; mesmo que eu tenha insistido ao máximo que não.
De começo, os flertes e mensagens eram sim por conta do plano com Minji. Mas era tão gostoso ver o quão abalado ele sempre ficava em minha presença, ou quando era lerdo demais pra perceber que eu flertava com ele tão descaradamente.
Não vou negar, também, que não me sentia mal em ver o quão culpado ele se sentia por conta de minha irmã. Mas, em algum momento, tudo parou de ser uma coisa forçada e eu queria mesmo aquilo. Queria mesmo ter algo com ele.
Mas, outra coisa que eu sabia em meu âmago que aconteceria e tentava negar – ou ignorar – ao máximo era que, do jeito que tudo começou, era certo que nós jamais daríamos certo. Eu passei a constatar isso quando me vi apegado demais ao garoto, desejando demais Jeon Jeongguk. Eu não sabia o que aconteceria com “nós” – se é que posso dizer isso – quando tudo isso acabasse e a verdade fosse à tona.
Porque era óbvio que contarÍamos tudo, mais cedo ou mais tarde.
Mas, ainda assim, eu preferi ignorar as consequências e meus próprios sentimentos, por hora. O essencial era, acima de tudo, ajudar minha irmã naquele momento. Eu estava ali por ela, não por mim, de fato.
Por mais que Minji quisesse isso mesmo, que nos apaixonassemos, aquela relação estava fadada ao fracasso desde o princípio. Afinal, Jeongguk jamais iria querer continuar comigo – isso se ficássemos juntos de verdade – depois que descobrisse a verdade. Quem ficaria, afinal? Não tiraria sua razão.
Mas, se eu sabia e tinha ciência de todas essas coisas, porque doía assim? Por que a imagem de um Jeon em seu estado mais frágil e magoado não saia de minha mente, me martirizando segundo por segundo?
E, tentando ignorar meus sentimentos e preocupado em pensar alguma forma de contatar o mais novo, um estalo se deu em minha mente e, de ímpeto, levantei-me do sofá, indo até o quarto de minha gêmea, adentrando o mesmo sem sequer bater na porta, tendo a visão da garota deitada na cama, pensativa igual a mim.
— Solji! – disse, afoito, ganhando a atenção de Minji na hora.
— Hm? O que tem ela? – uma careta formou-se em seu semblante.
— E se foi ela quem contou tudo? – disse, me sentando em sua cama, observando a mais velha fazer o mesmo e ficar em frente a mim. Os olhos arregalados e uma exclamação de entendimento saindo pelos lábios rosados.
— Ela não faria isso….! – comentou, chocada. Arqueei uma sobrancelha, como se perguntasse “sério?” a fazendo soltar um muxoxo.
— É claro que faria, Min. – respirei fundo, passando as mãos por meus fios loiros — Tudo isso é por culpa dela, afinal. – e então caímos os dois em um silêncio, Minji tinha o rosto abaixado, a expressão pensativa.
— Mas, Jimi… – chamou-me após uns minutos — Ela não sabia do meu plano… – suspirou frustrada — Não poderia ter contado para ele.
E, após confirmar o óbvio, soltei um palavrão baixinho, deitando-me em sua cama e apoiando a cabeça em seu colo.
— Como ele descobriu, Minji? – perguntei em um sussurro, sentindo os dedinhos da garota iniciando um cafuné, mesmo que ela parecesse perdida em pensamentos e preocupações.
— Irmão. – ditou baixinho, após algum tempo naquele silêncio, eu quase dormia em seu colo, minha cabeça parecia que ia explodir e eu me sentia exausto. Resmunguei em resposta. — E se ele nos ouviu conversando? – completou naquele mesmo tom baixo, me fazendo abrir os olhos instantaneamente, retribuindo seu olhar que carregava certo desespero.
— M-mas como? – repentinamente eu me sentia nervoso. Ele não poderia….
— No dia após vocês terem transado, Jimin… Foi o único dia em que conversamos abertamente sobre isso… Você mesmo esperava que ele pudesse aparecer aqui a qualquer momento e… Desde então ele tem me evitado. – terminou seu raciocínio, fechando os olhos em frustração, negando com a cabeça — Como pudemos ser tão descuidados, Jimi? – perguntou, chorosa.
Me sentei na cama ao seu lado, abraçando seu corpo apertado ao que ligava suas palavras em minha mente. Fazia o maior sentido. E aquilo fez meu medo apenas aumentar… Sabe-se-lá que parte ele havia escutado, mas eu tinha certeza que fora o suficiente para deixá-lo transtornado e, céus, os orbes escuros banhados em tristeza prontamente me vieram à mente.
Iria ser pior do que eu imaginava.
Minji ficou abraçada ao meu corpo por um tempo, chorando baixinho. Apesar de tudo, ela se preocupava com ele. Por mais incrível que possa parecer, a mais velha se culpava por toda a situação a cada minuto do seu dia. Mesmo que não pudéssemos controlar por quem nos apaixonamos.
Fiquei com minha irmã até que esta dormisse, saindo de seu quarto em silêncio e direcionando-me até a cozinha, suspirando pela enésima vez naquele dia. Me surpreendi ao olhar para a janela e constatar que o céu já se encontrava escuro. Eu ainda não sabia exatamente o que sentir, me sentia em choque, confuso com tudo, com um fio de esperança de que aquilo não estava acontecendo… Mas, na verdade, eu não queria me permitir sentir tudo que se passava dentro de mim, não ainda. Porque eu tinha certeza que doeria… Principalmente por saber que Jeon não está errado em querer nos evitar.
Avistei meu celular, jogado no sofá e me direcionei até o mesmo, pegando o aparelho em mãos e discando o número já gravado por mim. Nada. Mas isso era óbvio já. Tentei ligar mais algumas vezes e mandei mensagens também, tudo prontamente ignorado.
Era inevitável pensar se ele estaria bem no momento. O que estaria sentindo? Raiva? Mágoa? Dor? Enganado? Tudo junto? Estaria ele chorando agora? Ou quebrando tudo em pura raiva? Teria ele ido para a casa de Taehyung chorar com o amigo ou estava perdido em algum bar qualquer, tomando todo o tipo de bebida alcoólica permitida? E, se fosse essa segunda opção, estaria ele sozinho? Voltaria bem pra casa? Teria alguém para ajudá-lo a não se perder ou causar um acidente de carro? Ou, pior ainda, teria decidido se drogar para simplesmente esquecer tudo? Esquecer à mim?
Apesar da situação, era inevitável que esses pensamentos não passassem por minha cabeça. Eu estava preocupado na maneira em que ele estava extravasando seus sentimentos. Mas, enquanto ligava mais uma vez para seu número e este dava desligado, tentava focar-me que o Kim era um amigo e jamais o deixaria sozinho agora.
Desisti de o ligar, por hora, indo tomar um banho quente e vestindo seguidamente uma calça de moletom preta e uma blusa branca lisa. Em um impulso, vesti meus chinelos e fui até seu apartamento, mesmo tendo certeza de que ele não estaria e, se estivesse, obviamente não me atenderia.
Assim que o elevador parou em seu andar e as portas abriram, respirei fundo, o coração acelerado. Segui em passos lentos até em frente ao seu apartamento, respirando fundo mais uma vez. A mão parada a centímetros da madeira. Eu não tinha a mínima noção de que horas eram mas, quando ouvi uma movimentação por dentro do apartamento, me assustei, afastando-me da porta.
O que eu estava fazendo ali, afinal?
Constatei a luz da sala ser desligada e os passos seguirem apartamento adentro e suspirei frustrado – mais uma vez – sentindo-me extremamente mal. Deixei-me aproximar de sua porta uma vez mais, apenas apoiando as mãos e a testa na madeira de forma silenciosa, me permitindo sentir naquele momento. Sentir a realidade pairando sobre mim, eu estava apaixonado por ele. E isso era, definitivamente, péssimo.
Sequei uma única lágrima que desceu por minhas bochechas e saí dali com pressa, seguindo de volta para a casa de Minji. Jeon precisava de um tempo para ele, para processar tudo e sentir as fortes emoções. Eu respeitaria aquilo – mesmo que ainda fosse tentar ligar, era inevitável, afinal.
Assim que voltei para o conforto da casa de minha irmã, me arrastei até o quarto e joguei-me na cama, deixando o cansaço emocional tomar conta e finalmente calando minha mente, caindo em sono profundo.
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×
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Os dias que se seguiram foram ainda piores, o que já era de se esperar. Eu passava quase o dia todo tentando ligar, mandar mensagem, ter algum contato que fosse com Jeon, mas ele realmente não queria facilitar aquilo. Bloqueou eu e minha irmã de todas as redes sociais possíveis e imagináveis, não atendia nem por reza as ligações.
Perdi as contas de quantas vezes fui para sua casa e fiquei parado em sua porta esperando por horas que ele aparecesse, com alguma esperança de conversar. Ou de quando fui, até mesmo, na sua faculdade e virei o campus inteirinho atrás de si, perguntando para cada alma viva se haviam lhe visto; mais uma vez, nada.
Eu, até mesmo, fui na casa de Taehyung que, assim que abriu a porta e viu quem era, sequer tive tempo de completar um “olá” antes de ter a porta fechada bruscamente em minha cara. É, estava sendo realmente complicado.
A cada dia que se passava eu me sentia pior, a culpa me assolava de uma maneira gritante, a vontade de me explicar, a vontade de pedir desculpas e dizer que não era mentira, que meus sentimentos eram reais, de pedir uma chance para prová-lo disso. De contar tudo, tudo e absolutamente tudo; de poder ouvir a sua voz porque, céus, meu coração se apertava em dor e saudade. Em algum momento desses dias, as lágrimas chegaram e eu me permiti chorar, chorar tudo que meu corpo precisava; mesmo que isso não fosse ajudar em nada, mesmo que o errado da história fosse eu.
Eu não saía mais de casa, não fazia absolutamente nada, passava o dia jogado no sofá apenas tentando ligar para o mais novo, mesmo que fosse inútil. As noites eram mal dormidas, minha cabeça não parava um minuto sequer, o que me deixava cada dia mais indisposto.
Era à tarde e eu estava jogado no sofá da sala, o moletom antigo e desgastado junto com uma blusa branca velha e encardida eram minhas vestes no momento; meus cabelos encontravam-se totalmente desgrenhados e, até mesmo com alguns poucos centímetros da raiz castanha por fazer; as olheiras fundas no meu rosto tinham um destaque que ajudava ainda mais em meu estado deplorável.
Eu encarava o teto, sem emoção alguma, a cabeça latejando e os olhos inchados do choro recente. Meu estômago roncava de fome, mas eu não tinha vontade de ingerir nada, por mais que meu corpo implorasse. Minji não estava em casa pois ainda tinha uma faculdade e estágio para se preocupar, mesmo que a mais velha encontrasse tão mal e preocupada quanto eu.
A campainha estridente soou por todo apartamento silencioso, fazendo minha cabeça latejar dolorida e eu fechei os olhos com força, apenas esperando até que a pessoa achasse que não tinha ninguém e fosse embora, me deixando sozinho com minha melancolia e martírio próprio.
— Eu sei que você está aí, Jimin. – a voz de Yoongi soou através das paredes e eu suspirei frustrado, eu teria que abrir a porta para ele.
Em movimentos preguiçosos e lentos ao extremo, me levantei do sofá – que mais parecia um ninho com meu travesseiro e coberta todos desarrumados – me arrastando e até a porta, abrindo-a sem emoção alguma, não fazendo questão de tentar ser simpático ou qualquer coisa do gênero.
— Uau, sua aparência está péssima. – foi a primeira coisa que o mais velho disse quando eu abri a porta. Apenas revirei os olhos, virando-me e voltando até o sofá, me jogando no mesmo e bufando alto. Yoongi fechou a porta e me acompanhou, sentando-se no sofá ao lado. — Você não conseguiu falar com ele ainda? – o olhei sério, com uma cara de “é sério?”
— Não não, hyung, consegui sim. Eu estou no fundo do poço porque realmente é muito bom aqui. – respondi ácido, revirando os olhos em seguida, vendo-o franzir o cenho.
— Mas também não precisa ofender, amigo. – respondeu, arqueando as sobrancelhas.
— Desculpe. – murmurei desanimado, abaixando o olhar e respirando fundo, ouvindo o mais velho fazer o mesmo.
— Você não conseguiu falar com ele mesmo? Nem no apartamento dele, nada? – meu hyung perguntou, realmente preocupado.
— Não. – suspirei — Ele não está lá, hyung. Está passando os dias em algum outro lugar. – bufei, fechando os olhos que ardiam levemente — Aposto que Taehyung sabe onde ele está, mas esse é outro que não fala comigo e só falta me bater. – resmunguei e ouvi o mais velho respirar fundo.
— Eu vou ver se consigo algo com ele. – disse, baixo. Antes que eu pudesse responder, minha barriga roncou, faminta, e Yoongi olhou-me repreendedor. — Park Jimin, você se alimentou hoje? – perguntou sério, mesmo que ele já soubesse a resposta.
Ele então levantou-se do sofá e me puxou junto de si para a cozinha, me deixando sentado na cadeira em frente a mesa antes de começar a tirar coisas da geladeira, armários e preparar alguma refeição. Olhei aquela cena, incrédulo, soltando uma risada.
— Uau! Temos um Min Yoongi cozinhando aqui, é isso ou estou delirando já? – perguntei, levemente zombateiro, recebendo um bufar e um dedo do meio.
— O que não faço por você, criança? – resmungou e apenas sorri, sentindo, dentre dias, um sentimento bom, agradecendo mentalmente pela amizade do mais velho.
Me levantei, abraçando o corpo centímetros maior e murmurando um obrigado sincero para o mais velho, recebendo um pequeno sorriso antes de ir até a sala atrás do meu celular, voltando para a cozinha em seguida. Liguei para Jeon uma, duas vezes e nada. Entretanto, na terceira tentativa, sou pego de surpresa ao ter minha ligação atendida.
— Você pode, por favor, parar de ligar para o oppa? Ele não quer saber de você, caramba! – uma voz feminina disse essas palavras bruscamente antes que a chamada fosse finalizada, me deixando de olhos arregalados e boca aberta por uns minutos, olhando a tela do aparelho surpreso.
— Mas o que… – disse, ainda um tanto chocado.
— O que foi? – Yoongi perguntou, concentrado na comida que fazia, olhando de relance para meu rosto embasbacado.
— E-u… Liguei pro Jeon e uma garota atendeu, disse para parar de ligar e desligou na minha vara! – disse, exasperado e um tanto revoltado.
— Nossa, parece que alguém está mesmo disposto a esquecer você, hm? – Min alfinetou, voltando a atenção para a comida enquanto ria. Revirei os olhos, jogando um pano de prato no outro.
Permaneci pensando naquelas palavras, intrigado, quem ela aquela garota? Não consegui evitar sentir um leve ciúme mas, por enquanto, decidi não ligar mais.
O resto da tarde se passou calma, comigo um pouco mais distraído com a presença do mais velho, que fez questão de ficar o máximo que pode e não deixar que eu pensasse muito sobre esse assunto. Até mesmo me fez sair de casa para comprar tinta e fazer a raiz do meu cabelo.
Quando Minji chegou de noite parecia cansada, conversamos um pouco sobre o dia da mais velha antes que ela fosse tomar seu banho e se deitar. Não demorei para fazer o mesmo, sentindo que conseguiria dormir um pouco melhor dentre tantos dias.
Entretanto, sou desperto do meu sono tão almejado pelo som do celular tocando alto, por volta de três ou quatro da manhã. Atendi o aparelho, ainda meio dormindo, ouvindo a voz de meu hyung em seguida.
— Jimin-ah. – Yoongi ditou assim que murmurei um “alô” após atender a chamada.
— Diga. – meu tom era totalmente sonolento.
— Eu sei onde Jeongguk está…
Aquelas foram as palavras necessárias para me fazer acordar de vez, acordar Minji alguns minutos depois, arrumar uma mochila com algumas roupas apressado, fazer uma bela garrafa de café e seguir, naquele momento mesmo, de carro junto com minha irmã para Busan, atrás de Jeongguk, atrás da minha chance de conversar.
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A viagem foi longa e cansativa e, na maior parte do tempo, Minji ficou atrás do endereço dos Jeon – ela achava que Jeongguk já teria dito, em algum momento, o endereço da mãe dele – e, quando chegamos na cidade, logo pela manhã, mesmo que minha vontade fosse ir direto atrás do mais novo, fomos vencidos pelo cansaço, parando em um hotel qualquer para descansar antes de tomar qualquer atitude.
Era cerca de meio dia quando acordamos e decidimos ir logo atrás de Jeongguk. Eu estava extremamente nervoso, minhas mãos chegavam até mesmo a suar e meu coração batia acelerado. Assim que chegamos, uma mulher contendo seus mais de 40 anos nos atendeu, simpática.
— Olá. – ela disse, sorrindo.
— Olá, hm, o Jeongguk está? – Minji se pronunciou ao meu lado, tão nervosa quanto eu.
— Oh, ele está dormindo. Você é quem? – ela perguntou, seu tom ainda era cordial e simpático.
— Sou a namorada dele… – minha irmã pronunciou, observando se a expressão da mulher mudaria para algum semblante de raiva; entretanto, esta apenas pareceu surpresa, deixando-nos entrar em seguida.
— Mãe? Quem são eles? – uma garota, não aparentando ter mais de 16 anos apareceu na sala assim que entramos, me olhando estranha.
— Ah, essa é a namorada do seu irmão, Eunji. – a senhora Jeon comentou, fazendo o semblante da garota mudar completamente.
— Mamãe! Porque os deixou entrar? – ela pareceu irritada e, de repente, sua voz me pareceu estranhamente familiar, fazendo-me adotar uma careta.
Ela era a garota que atendeu o telefone do Jeon?
— Jeon Eunji! Comporte-se diante as visitas. – a dona da casa ralhou com a filha — Eu vou ir acordar Jeongguk, um minuto. – disse para nós antes de sumir escada a cima.
Permanecemos ali, eu, minha irmã e a garota, um clima tenso pairando no cômodo. Eu sentia meu estômago revirar de nervosismo, as mãos suarem e tremerem levemente, o coração ainda mais acelerado – se é que era possível. A cabeça trabalhava a mil, pensando em todas as coisas que eu queria e precisava dizer, tentando organizar tudo para ser capaz de fazer algo coerente quando o mais novo aparecesse. Respirei fundo, tentando manter a calma, chamando a atenção da garotinha, que ficou o olhar sobre mim, os braços cruzados.
Olhei para Minji ao meu lado, esta que prontamente me olhou de volta e respiramos fundo juntos, nos entendendo apenas por aquele olhar; nós desejávamos a mesma coisa naquele momento, mais que tudo. Que Jeongguk nos ouvisse.
A senhora Jeon logo estava de volta, seu semblante ainda um misto de surpresa e confusão quando ela nos olhou e ditou.
— Ele já está descendo. – e se colocou ao lado da filha, o silêncio constrangedor pairando por nós.
Foi quando passos foram ouvidos pela escada apenas alguns minutos e, então, a visão de um Jeongguk recém desperto tomou nosso campo de visão e eu realmente me segurei para não suspirar ali mesmo. Como ele conseguia ser tão estupidamente bonito desse jeito? Meu coração quase parou de bater no momento em que ele terminou de descer as escadas e nos avistou pela primeira vez, estancando no local.
Eu estava nervoso, sentia minha irmã tensa ao meu lado, Jeongguk estava um misto de nervosismo e surpresa, a senhora Jeon estava confusa. O clima tenso era palpável naquele momento. Eunji foi a primeira a se pronunciar.
— Oppa! Eu tentei avisar a mamãe para não deixá-los entrar, mas… – a voz da garota e a sala voltou a ficar em silêncio.
— O que vocês estão fazendo aqui? – Jeongguk quebrou o silêncio. Sua voz, mesmo que estando levemente rouca por ter acabado de acordar, soou totalmente séria. Um arrepio percorreu por minha espinha, agora se era por ouvir aquela voz depois de tantos dias – ainda mais rouca daquele jeito – ou pelo medo de como seu tom saiu é uma incógnita.
— Jeon, nós– tentei dizer, mas logo fui cortado pela voz de sua progenitora.
— Filho, o que está acontecendo?
— Guk, por favor, nos deix– Minji tentou, sendo cortada igualmente por uma nova voz que soou da escada.
— Jeonggukie? – um garoto alto e de cabelos morenos aparece, todo cheio de intimidades, abraçando Jeongguk por trás, deixando um beijo em seu pescoço. Aquela cena fez meu sangue ferver instantaneamente, me fazendo fechar as mãos em punhos — Por que não me acordou, hum?
Jeongguk não o respondeu prontamente, seu olhar pairava entre eu e Minji, enquanto eu estava preso àquela palhaçada na minha frente.
— Ah, me desculpe sobre isso. – Jeon respondeu, meio sem emoção, o olhar colado entre eu e Minji.
— Quem é você? – não consegui conter minha irritação, jogando a pergunta no ar de repente. Eu não acreditava na cena diante de meus olhos. Eu tava me coçando de ciúme, mesmo que internamente soubesse não ter direito para tal.
— Ahn, desculpe? – o rapaz disse, levantando o olhar pela primeira vez — Falou comigo?
— Sim, com você mesmo. Quem é você e porque está agarrado ao Jeongguk? – eu não sabia de onde estava tirando tanta coragem e cara de pau para questionar algo daquele gênero ali, naquela situação. Mas estava só impossível me conter no momento.
— Desculpe, mas acho que não te devo satisfações. – disse em um tom de deboche — E pelo que eu saiba Jeongguk é solteiro. – arqueou uma sobrancelha e senti meu corpo ferver.
— Filho, o que está acontecendo? – a senhora, claramente confusa, perguntou novamente, mas era como se Jeongguk simplesmente não a ouvisse.
— Pois ele não é solteiro, está namorando co– continuei a pseudo discussão, sendo interrompido agora pelo próprio Jeongguk.
— Pra começo de conversa, eu não estou namorando com ninguém. – Jeon iniciou, extremamente sério com suas palavras, frisando o “ninguém” — E, segundo, mesmo se estivesse, não seria com você, não é cunhadinho? – desta vez o mais novo cravou seu olhar em mim e pude sentir o impacto de suas palavras duras. Ele estava certo, afinal. O que eu pretendia dizer? Que ele namorava comigo? A maior mentira do século — Eu achei que não precisaria terminar com todas as palavras com você, Minji. – ele virou-se então para minha gêmea — Devido às circunstâncias, achei que fosse inteligente o suficiente para saber que não queria mais nada com você. Estou te fazendo um favor, não? – mesmo não voltadas para mim, eu sentia a dor e impacto de cada coisa dita. Era minha irmã ali, afinal.
— Jeon, você entendeu as coisas erradas, nos deixe explic– a “mais” velha começou, sendo cortada mais uma vez.
— Eu entendi tudo o que precisava entender, Minji! – Jeongguk disse, o tom de voz alguns quartos mais alto e irritado; ele parecia abatido — Você queria terminar comigo e não teve a capacidade de o fazer, então junto com seu irmão resolveram mentir, me enganar, iludir e brincar com meus sentimentos. – ele fez uma pausa e respirou fundo, como se precisasse tomar coragem. Eu sentia indícios de querer começar a chorar percorrendo meu corpo, mas tratei de respirar fundo e afastar esse sentimento — Me deixe esclarecer as coisas de uma vez por todas agora: Nós não estamos namorando. Eu não quero olhar na cara de vocês nunca mais então, por favor, saiam da minha casa. – completou, suspirando em seguida. Eu sentia como se tivessem me dado um soco no estômago e tentava, ao máximo, não deixar o desespero tomar conta do meu corpo agora. Ele não iria nos ouvir…
— Jeon, por favor, nos escute. – ditei mais uma vez, agarrado ao meu último fio de esperança com todas as minhas forças.
— Vão embora da minha casa antes que eu decida ligar para a polícia. – completou, seguindo ao telefone como se para dar verdade à suas palavras.
Eu ainda o encarava, firme, não querendo aceitar que aquilo estava realmente acontecendo. Eu me sentia incrivelmente despedaçado por dentro, todo o cansaço emocional dos últimos dias me dominando de uma única vez naquele momento enquanto eu tentava, mais que tudo, me agarrar a uma mínima esperança.
— Vamos, Jimi, vamos… – a voz de Minji soou baixa pelo cômodo, ela segurou meu braço e me puxou para porta, mesmo que eu ainda insistisse em olhar para Jeongguk, implorando pelo olhar que ele nos desse uma chance de explicar. – Nós sentimos muito. – foram as últimas palavras da garota antes que saíssemos da casa e eu podia sentir todo o pesar de suas últimas palavras.
Assim que entramos no carro e sentei em frente ao banco de motorista, não sendo mais capaz de guardar todas as emoções para mim, bati as mãos no volante em um misto de raiva, frustração e dor, deixando as lágrimas quentes e salgadas escorrerem por meu rosto, encostando a cabeça no volante e deixando-me chorar. Meu choro era intenso ao ponto de me fazer soluçar ali e não demorou para que eu sentisse os braços de Minji me envolvendo, sua cabeça apoiando-se no meu ombro. Eu conseguia sentir as lágrimas de minha irmã molhando minha camisa e logo me afastei do volante, devolvendo o abraço da mais velha e nos permitimos chorar ali, juntos.
Não sei quantos minutos permanecemos ali, ainda em frente a casa dos Jeon’s, mas assim que pude me recompor de todo o choro, com o rosto inchado e vermelho, a respiração pesada e o rosto coberto pelas lágrimas, dei partida no carro e seguimos para o hotel em que estávamos.
Não dizemos nada um para o outro, nem dentro do carro e nem quando estávamos em nosso quarto já, apenas tomamos nosso banho e deitamos juntos na cama, deixando a tevê em um canal qualquer. Não tínhamos muito o que dizer, na verdade. Sabíamos a situação em que o outro se encontrava e palavras, naquele momento, não eram necessárias. Apenas permanecemos juntos, dando força um ao outro do nosso jeitinho especial.
~
O dia seguinte amanheceu bonito e ensolarado e eu me sentia minimamente melhor, depois de todo o desânimo e choro acumulado do dia anterior. Eu não iria desistir de conversar com Jeongguk ainda, claro, mas Minji e eu aceitamos que precisávamos dar um tempinho por agora. Por isso, para acalmar os ânimos e ocupar a cabeça, decidi sair pelas ruas de Busan que eu tão bem conhecia, fazia algum tempo que eu havia ido embora de minha cidade natal, sentia falta dali.
Caminhei por vários lugares que sentia falta e gostava, passeando pelas ruas a maior parte do dia. Quando a tarde chegou e com ele o calor permanecia, decidi ir até uma sorveteria que gostava bastante. Depois de um dia de caminhada, um sorvete me parecia mais do que ótimo.
Adentrei o local de forma distraída, tão calmo e sereno. Entretanto, assim que adentrei o local tão aconchegante, meu olhar direcionou, como algum tipo de ímã, até um Jeongguk sentado algumas cadeiras para o lado com aquele mesmo garoto moreno. Eu não conseguia acreditar naquilo, na verdade. O quão fodidos nós éramos? Nos encontrando quando eu, realmente, estava querendo um tempo pra mim. Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa e ir falar com ele, escuto uma voz chamando-me e logo direciono meu olhar atrás da pessoa.
— Jiminnie? – meu olhar captou, então, uma aparência tão conhecida por mim, não evitei uma feição surpresa e um sorriso abrir. Taemin parou em minha frente, logo me puxando para um abraço saudoso — Caramba! Quanto tempo. – ele dizia, animado.
Retribui seu abraço apertado, afinal, realmente sentia falta do meu melhor amigo. Faziam quantos anos que eu não via ele mesmo?
Sentia o olhar de Jeongguk queimando sobre meu corpo e, de relance, vi sua expressão fechada para a cena seguinte e não pude evitar aproveitar um pouco da situação. O que? O tal garoto do dia anterior estava sentado na frente dele agora mesmo.
— Taemin! Quanto tempo… Que saudade eu estava de você… – disse propositalmente mais alto e o abraço logo se desfaz, me fazendo olhar para meu amigo e sorrir, realmente sentia falta dele.
— Vem, sente-se comigo, céus Chim, faz quanto tempo que não nos vemos? – Taemin era só felicidade, me puxando para sentar junto a si e me enchendo de perguntas.
Naquele momento, me permiti esquecer um pouco de Jeon, dando total atenção para meu amigo e engatando em uma conversa longa e duradoura. Tínhamos tanta coisa para contar! Taemin esteve fora da Coréia por bons anos e acabávamos nos falando pouco, devido ao fuso horário e essas coisas. Eu mal percebi quando fiz meu pedido, quando este chegou e quando eu terminei de tomar todo o sorvete.
— Ei, vai fazer alguma coisa hoje? – Tae perguntou, repentinamente.
— Não vou não, porque?
— Vamos lá pra casa! É aniversário do meu irmão e, céus, tenho tanto para te contar ainda. – ele ditou animado e eu soltei uma risada, concordando com a cabeça.
— Mas é claro que sim! – e então nos levantamos da mesa e fomos pagar por nossos pedindo, saindo da sorveteria em seguida. Jeongguk já não se encontrava mais lá.
Seguimos então para a casa do meu hyung, sempre em conversas e risadas animadas. Eu agradecia mentalmente por ter encontrado Taemin aqui, afinal, fazia algum tempo que não o via e ele estava me ajudando, também, a esquecer todo o emaranhado que me cercava ultimamente.
O fim de tarde em sua casa foi igualmente recheado de conversas, brincadeiras, risadas e jogos de videogame, até mesmo seu irmão se juntou a nós em toda a conversa e jogos. Estava tudo tão bom que sequer notei quando a noite caiu.
— Em, hyungs, eu vou ir tomar um banho. Daqui a pouco meu amigo chega aqui em casa. – Taeyong comentou, levantando-se do sofá e seguindo para a escada — Se o Mingyu chegar, hyung, atenda-o para mim por favor. – pediu ao irmão mais velho antes de seguir para seu quarto.
Soltei uma risada, sentindo-me mais leve e feliz do que quando acordei, espreguiçando meu corpo no sofá macio.
— Ai ai, hyung, estou com fome. – disse, com um falso bico manhoso nos lábios, me jogando em cima do mais velho — Faça algo para mim comer. – pedi, olhando-o pidão.
— Aish, Jiminnie. – Taemin disse, rindo e me empurrando — Sai, seu folgado. A cozinha é bem ali, se vira! – ele ditou rindo da minha expressão emburrada.
— Hyung mal! – resmunguei, enquanto me levantava e ia para a cozinha, ouvindo sua risada e acabando por rir junto de si.
Entrei na cozinha, levemente familiarizado com a casa, e passei a dar uma olhada em toda as coisas que tinham, vendo algo rápido que pudesse fazer. Havia decidido fazer um sanduíche, então fui para a geladeira pegar o que seria interessante em se ter em um sanduíche. Enquanto montava tudo, passei a procurar pelo sal para colocar na salada, não achando o bendito em canto nenhum. Fui para a sala, afim de perguntar para o mais velho onde o sal se encontrava.
— Taemin, eu não tô achando a merda do– Ah, não sabia que tinha gente aqui… – falei ao notar duas pessoas a mais presentes no cômodo, a voz morrendo ao perceber quem eram. Aquilo era obra do destino ou o que?
— Jimin! São uns amigos do Taeyong. – meu amigo falou simplista — Estes são Mingyu e Jeongguk. – nos “apresentou” ao passo que eu seguia até si, me sentando ao seu lado, a expressão séria.
Jeongguk então levantou o olhar de seu celular, encarando a mim de forma séria. O clima tornou-se tenso, um silêncio constrangedor pairando entre nós. Taemin, sem saber de toda a situação, nos encarou confusos quando sentiu toda a tensão pairando entre nós.
— Vocês se conhecem? – perguntou claramente confuso, não obtendo nenhuma resposta. Me ajeitei nos sofá, direcionando o olhar para si e, assim que fui lhe responder, Taeyong se fez presente no recinto.
— Mingyu! E não é que você veio mesmo? – o Lee mais novo disse animado, logo saudando o amigo com sorrisos e abraços, sendo apresentado para Jeon em seguida, fazendo algumas perguntas ao mesmo.
— O que aconteceu aqui? – Taemin sussurrou em meu ouvido, intrigado ainda com a situação. O olhei, negando com a cabeça e balançando as mãos no ar, como se dissesse para que esquecesse aquilo por hora.
— Jeon, quando vai pedir meu amigo em namoro? – pude ouvir Taeyong perguntar e direcionei meu olhar para estes, incomodado com aquele assunto. Eles eram realmente íntimos, então.
— É… Complicado. – Jeongguk respondeu e pude notar seu desconforto no assunto, não escondendo o sorriso satisfeito nos lábios.
— Tudo bem, acho que deveríamos fazer um mini campeonato de videogame, o que me dizem? – o mais velho ali ditou e todos apenas assentimos.
Agradeci mentalmente meu amigo por isso. Durante toda a noite eu tentei, de todas as formas, algum contato mínimo que fosse com Jeongguk, sendo todos falhos. Até quando tínhamos que jogar um contra o outro, Jeon fazia questão de matar meu personagem em tempos recordes, apenas para não ter que ter qualquer contato comigo. Céus, ele estava realmente irredutível. Mas, ainda assim, eu me recusava a desistir de si. Afinal, se a vida tinha nos juntado, totalmente por acaso, duas vezes em um mesmo dia, era porque tínhamos que ter aquela conversa. Eu não estava convencido do contrário.
Em algum momento da noite, Jeongguk chamou pelo Mingyu, levantando-se e seguindo para a cozinha. Encarei os dois, sem disfarçar muito meu interesse, um tanto incomodados com o que poderiam estar fazendo a sós no outro cômodo. Dando uns beijos, talvez? Bufei com meu próprio pensamento.
Antes que eu decidisse ir beber um copo de água, Jeon saiu da cozinha, despedindo-se de todos e seguindo para a saída, com um Mingyu atrás de si, parecendo um tanto desesperado, sem sucesso ao evitar que o outro fosse embora. Assim que o Kim estava de volta na sala, me lançou um olhar feio que eu ignorei completamente, sentindo a adrenalina percorrer meu corpo no mesmo momento que eu seguia para fora da casa, atrás de Jeon, ignorando também os chamados de Taemin. Assim que abri a porta, Jeongguk estava em frente ao seu carro e gritei seu nome desesperado, correndo até si o mais rápido que conseguia.
— Jeon! Por favor, vamos conversar. – disse assim que me aproximei de si, respirando ofegante pela corrida — Por favor. – supliquei.
— Jimin, entenda que não quero conversar com você. – ele respondeu frio e seco, ainda de costas para mim.
— Mas nós precisamos! As coisas não podem acabar assim entre nós. – respondi, meu tom saindo totalmente frustrado.
— Nós? – ele riu sarcástico, virando-se para me olhar — Algum momento existiu nós, Jimin? – seu tom transbordava sarcasmo e mágoa e arregalei os olhos, um tanto incrédulo. Meu coração batia acelerado, minhas mãos suavam e tremiam pelo nervosismo.
— É claro que sim! – exclamei, exasperado, recebendo como resposta uma risada desacreditada e um negar de cabeça. Cada ação alheia me machucava mais, apesar de saber que merecia em partes aquilo.
— Não precisa mais mentir, Park. Eu ouvi a conversa sua e de Minji, eu sei que foi tudo uma armação de vocês. Pode parar com o teatrinho já. – suas palavras eram duras e era claro que ele queria me magoar, eu já sentia meus olhos começando a marejar, mas não me permitiria chorar, não ainda.
— Por favor, me deixe explicar as coisas. – pedi com a voz baixa — Não é o que você está pensando.
— Ah, não é não? – o sarcasmo estava presente e ele parecia extremamente perturbado; um misto de raiva e mágoa brilhava em seus olhos bonitos — É claro que não. Porque você ter tentado algo com seu cunhado por vontade própria é uma coisa extremamente certa e que todo mundo realmente far– ele começa a dizer mas, em um impulso de coragem e extrema saudade, aproximo meu corpo do seu, puxando seu rosto para mais perto e o calando com um beijo.
Sentir seus lábios mais uma vez depois de todo aquele tempo era como ser levado ao paraíso em segundos, eu sentia saudades dele mais do que tudo, o que mais desejava era uma chance para contar-lhe a verdade e tentar reconquistá-lo mais uma vez, de verdade desta vez. Ali, aquele beijo, aquele contato, estava sendo meu último fio de esperança que eu me agarrava com todas as minhas forças, negando-me a aceitar o contrário. Por um momento eu realmente achei que Jeongguk iria retribuir o beijos, eu realmente achei.
Mas não foi isso que aconteceu.
Jeon afastou-me de seu corpo, o olhar tomado pela tristeza, os olhos marejados e uma única lágrima solitária desceu por seu rosto tão bonito. Eu senti, naquele momento, toda a tristeza tomar meu corpo. Ele não iria me ouvir. Mal senti quando as lágrimas finalmente deixaram meus olhos, molhando todo o meu rosto mais uma vez, eu ainda repetia, sem querer realmente acreditar que tudo havia acabado, “por favor” em um tom extremamente baixo, deixando todo o sentimento transparecer em minha voz; o soluço do choro me atingindo uma vez mais. Eu não aguentava mais aquilo, toda aquela situação. Eu era apaixonado por Jeongguk, mas tudo entre nós tinha acontecido da maneira errada e aquilo me machucava profundamente. Eu sentia que ter levado uma surra doeria menos do que as palavras que Jeongguk proferiu a seguir.
— Entenda de uma vez por todas que eu não quero você na minha vida! – ele gritou, me assustando e me fazendo estremecer, as lágrimas ainda escorriam por meu rosto — Eu não quero olhar na sua cara, não quero ouvir sua voz e as porras das suas desculpas esfarrapadas! Não quero saber mais de você. – cada palavra sua me atingia em cheio, fazendo-me encolher contra meu próprio corpo, soluçando alto pelo choro. Eu podia ver em seus olhos que, no fundo, não era verdade e que ele estava tão magoado quanto poderia. — Entenda, Park, eu quero esquecer o dia que te conheci. – as lágrimas já desciam por seu rosto também e eu me sentia a cada palavra pior. Levar uma surra de meu pai doeria mais do que as palavras alheias — Faça um favor para nós dois, huh? Pega suas coisas e vai embora daqui. Me deixa seguir minha vida sem você que vai ser melhor. – foram suas últimas palavras.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Jeongguk virou-se de costas e seguiu para seu carro, entrando no mesmo e dando partida. Em um ato ainda de desespero, gritei seu nome o mais alto que conseguia, correndo para o meio da rua, observando seu carro afastar-se cada vez mais. A fraqueza tomou conta do meu corpo e me permiti cair de joelhos ali mesmo, no meio do asfalto naquela noite vazia e fria. Abaixei o rosto, tampando-o com as mãos e deixando as lágrimas virem mais intensas do que nunca, a cabeça parecia que ia explodir de tanto que doía, parecia querer competir com meu coração em qual dor era mais insuportável.
Eu havia o perdido, verdadeiramente. Talvez não fosse para ser, no fim.
Não demorou muito para Taemin aparecer para fora de casa, correndo até mim e me abraçando, totalmente desesperado com meu estado.
— Jimin! O que aconteceu? Pelos céus. – ele estava claramente sem saber o que fazer, me ajudou a levantar do asfalto e me levou de volta para sua casa. Meu choro não diminuiu e eu não conseguia formular frases coerentes.
Dentro da casa, Taeyong me olhava igualmente confuso e desesperado e, até mesmo, Mingyu se chocou com o meu estado deplorável. Taemin me sentou em seu sofá e permaneci chorando por mais alguns minutos, nenhum dos três ali presente tendo coragem de dizer alguma coisa.
— O-ond-de está… – tentei dizer, fungando e passando as mãos pelo rosto em uma tentativa falha de secar as lágrimas.
— O que, Chim? – meu amigo perguntou em um tom baixo, me olhando preocupado.
— Onde está meu celular? – sussurrei, fungando mais uma vez e tentando regularizar minha respiração. O mais velho se afastou-me um pouco e logo me entregou o aparelho telefônico — Obrigado. – sussurrei antes de discar, inutilmente, o número de Jeongguk, lágrimas finas ainda desciam por meu rosto.
Todas as chamadas, obviamente, caíram na caixa postal. Não desisti de o ligar por longas horas, mesmo quando fui embora da casa de Taemin, mesmo com os protestos destes sobre eu não poder dirigir no estado em que me encontrava. Apenas ignorei e fui embora, pedindo desculpas por tudo enquanto tentava ligar para Jeon inutilmente.
Mas, em algum momento, eu finalmente desisti. Desisti de tentar ligar para o mais novo e decidi fazer o que ele tanto desejava no momento. Iria sair de sua vida. Eu tinha feito tudo que podia para tentar conversar com o mais novo, explicar, qualquer coisa. Mas aquilo não iria dar certo se Jeongguk não quisesse e eu não poderia travar aquela batalha sozinho. Estava fazendo isso por tempo demais. E, por mais que doesse muito, por mais que eu já sentisse novas lágrimas tomando conta de mim, enviei aquela última mensagem para o mais novo.
“Tudo bem, eu já entendi. Não se preocupe, Jeon, eu farei o que você me pediu. Estou indo embora e essa foi a última vez que você me viu. Eu espero, sinceramente, que você seja feliz, mesmo que não seja comigo. Adeus.”
E, diante as minhas mais novas lágrimas, joguei o celular de qualquer jeito no banco do passageiro, o que o fez cair, mesmo que eu não ligasse no momento. Segui, em alta velocidade, para a saída da cidade, não me importando no momento com Minji ou qualquer outra coisa.
Eu mal conseguia enxergar a estrada à minha frente, tanto pelo breu da noite tanto quanto por minha visão turva pelas lágrimas incessantes. Permaneci dirigindo e chorando por longos minutos, tentando prestar o máximo de atenção possível na estrada, mesmo que fosse uma coisa complicada. Entretanto, em algum momento, o meu celular começou a tocar por todo o carro e tateei a mão no banco ao meu lado, onde o tinha jogado anteriormente, não o encontrando.
Tomado por uma esperança idiota de que talvez, talvez, pudesse ser Jeongguk, passei a procurar pelo aparelho de forma desesperada, me curvando no banco passageiro para pegar o celular que havia caído abaixo do banco. Eu não prestava atenção na estrada no momento, era noite, tudo esteve vazio até agora… Assim que alcancei o aparelho, este parou e tocar, me fazendo suspirar frustrado. Sentei corretamente no banco, observando de quem era a última chamada; “Minji”.
Suspirei pesaroso, Taemin deve ter ligado para ela. Enquanto eu discava o número da mais velha para retomar a ligação, eu não tinha percebido que havia entrado na contramão, mesmo que a velocidade do carro já estivesse baixa. Esse detalhe foi percebido por mim apenas quando, em uma curva mais acentuada.
Faróis iluminaram meu rosto, cegando-me na hora; uma buzina soou alta, o barulho da roda do carro arrastando no asfalto indicando a tentativa de freio ao mesmo tempo que eu tentava desviar, jogando o carro para o lado tarde demais e, logo depois, um impacto mr acertando em cheio até que tudo ficasse preto.
O que tinha acontecido? Eu queria sumir, afinal…
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