1. Spirit Fanfics >
  2. Irmãos até que o amor nos separe >
  3. O amigo Gildarts é destronado.

História Irmãos até que o amor nos separe - O amigo Gildarts é destronado.


Escrita por: Jeff-Sama

Notas do Autor


Olá, pessoas <3

Estive trabalhando nos últimos capítulos de Irmãos, e o final está quase pronto. Vamos ter bastante informação, tretas resolvidas, mistérios resolvidos, então espero que não se percam em nada kkkk

Boa leitura.

Capítulo 58 - O amigo Gildarts é destronado.


Fanfic / Fanfiction Irmãos até que o amor nos separe - O amigo Gildarts é destronado.

 

Autor

Poucas horas atrás, Gildarts havia encontrado aquela garota abraçada aos joelhos, encostada numa árvore da praça central. Ela chorava baixinho, como se fizesse um tremendo esforço para não ser notada. Como era de seu habitual, ele chegou pacificamente até ela, lhe estendendo a mão, oferecendo uma milagrosa ajuda para seu problema.

Quando Yukino disse seu nome, e falou sobre estar procurando seu amigo, ele não demorou a juntar as peças do pequeno quebra-cabeça. Aquela era uma das meninas de quem Natsu tanto falava no tempo em que esteve sob seu domínio. Tê-la como “convidada” seria muito mais interessante do que ele imaginava. Durante o caminho que fizeram calmamente até seu novo lar, Yukino desabafou para aquele simpático e divertido senhor, sobre como estava sendo difícil fingir felicidade por ter sido adotada por aquelas pessoas. Na verdade, estava arrependida de não ter aceitado a ajuda de Natsu no dia em que estava sendo levada embora. No fundo, queria que ele cumprisse mesmo a promessa que lhe fizera um dia.

 

― Natsu, se não for para Lisanna, você e eu sermos adotados juntos... Que tal esperar até sermos adultos, para vivermos juntos depois que a gente sair do orfanato?

― Vivermos juntos...?

― Sim. ― Ela sorri, as bochechas rosadas como as dele. ― A gente vai ser uma família mesmo fora daqui, né?

― Tá...

― É uma promessa, de dedinho e tudo.

 

Quando Gildarts disse que seu sonho poderia se tornar realidade, Yukino ficou pasma. Não entendia como ele poderia fazer isso, até que começou a explicação. O ruivo falava com gosto sobre como o “lar do amigo Gildarts” era acolhedor e divertido para todos os órfãos que precisavam de ajuda. Falou sobre como cuidou de Natsu numa das vezes em que ele fugiu do orfanato, e que sua pretensão era poder trazê-lo novamente para a família da qual nunca deveria ter saído. Isso fez a garota encher os olhos de brilho, pois sabia que Natsu não queria ter sido adotado também. Graças àquele bondoso homem, teria novamente seu grande amigo por perto, logo.

Ao chegar na rua tão deserta e estranha, não pôde deixar de sentir um frio na barriga. O lar prometido parecia bem diferente daquele lugar enquanto ele narrava os detalhes. Gildarts deu um risinho ao percebê-la tensa, e com leves tapinhas nas costas continuou enfeitando a história.

― A lei não permite que crianças ou adolescentes trabalhem formalmente. Na verdade, em certa idade, até permite... mas as oportunidades passam bem longe da maioria. Esse país é desigual demais. Imagine a sociedade como um navio... enquanto os que têm dinheiro e reconhecimento estão no pico, nós pobres jamais passamos do casco. Eles possuem todo o arsenal de armas, enquanto para nós resta apenas a âncora, que só nos afunda mais e mais.

A menina ouvia atentamente, tentando assimilar todas as informações. Ele ria baixinho, vendo-a levar suas palavras tão a sério. Mas, estava conseguindo fazer sua cabeça, e isso era o importante.

― Yukino, você tem noção de como é difícil para alguém como eu sair andando livremente pela cidade? Eu, que apenas anseio ajudar aos meus amigos da rua, sou visto como um bandido pela lei e pelos riquinhos do topo. Então peço que não estranhe este lugar que tomei como lar... é aqui nessa rua abandonada que temos um pouco de sossego. A lei não alcança aqui. ― Ele ri alto. ― A justiça tem miopia.

― Eu entendi, Gildarts. Me dói saber sobre todas essas injustiças. Alguém que ajuda tanta gente não deveria ser caçado como um bandido.

― Exato. Tirar dos ricos não é pecado, a maioria deles conseguiu chegar ao topo de forma desonesta... É desse tipo de gente que eu tiro para dar aos meus filhos. Enfim, você logo vai ver de perto como tudo funciona. Logo vai poder estar com o Natsu de novo, eu prometo.

Aquela casa no fim da rua era o destino. Yukino adentrou timidamente, e logo deu de cara com vários garotos e garotas com as mais diversas expressões. Em sua maioria era tangível o medo, e logo atrás vinham aqueles que exalavam perversidade.

― Estou de volta, meus lindos! ― Gildarts explana sorridente, gesticulando para a garota que o seguia. ― Trouxe mais uma irmãzinha para vocês, deem as boas-vindas para a Yukino!

Todos falam algumas palavras legais para ela, que vai respondendo gentilmente, tirando suas primeiras impressões do ambiente e dos novos amigos. Gildarts gesticula para uma garota de cabelos negros e curtos, que aos olhos da albina, era a única que não parecia ter medo ou más intenções.

― Essa é a Tanya. A gente brinca que ela é a administradora da casa na minha ausência.

― Seja bem-vinda, princesinha. ― Tanya sorri de canto, vendo-a assentir num “obrigada” baixinho. ― Eu vou te explicar como funciona o nosso trabalho, e sobre a hierarquia na casa, a distribuição de quartos, funções... tudo que precisa saber para ser uma boa irmã.

O ruivo se vira antes de subir para o primeiro andar.

― Tanya, estou confiando em você para deixar nossa mais nova integrante bem informada. Não me decepcione. ― Ele segue.

A morena chega mais perto da novata, e sua expressão muda para o sério, se mostra antipática:

― Pronto, espero que tenha aproveitado os minutos de flores e arco-íris que o Gildarts te deu. A partir de agora você é uma pilhante dele também, e precisa cooperar para permanecer morando aqui e usufruir da sua liberdade.

― Co-Como assim?

― Aqui nós coletamos coisas valiosas, comida, água, entre outros recursos importantes para sobrevivência. O Gildarts anda pela cidade e analisa diariamente pontos estratégicos para nossos saques noturnos. As vezes podem acontecer pelo dia também, tudo depende da rotina das pessoas que vivem no lugar. ― Ela a leva até a parede onde havia um grande mural. No centro se destacava os nomes dos pilhantes e todos os destinos que deveriam tomar, bem como uma meta de bens a coletarem. ― Depois que nós saqueamos o local, voltamos aqui e deixamos tudo na sala do Gildarts. É importantíssimo saber que nunca deve esconder os bens que conseguiu para você mesma apenas. Tudo tem que ser trazido e deixado aqui para que ele reparta de acordo com o merecimento de cada um.

― Tanya, está dizendo que precisamos roubar das pessoas... todos os dias? Mas, isso está mesmo certo?

― Hunf, já vi que você paga de boazinha. Olha, é bom que não venha dar uma de santa a essa altura, ou vai começar com o pé esquerdo. O Gildarts odeia quem trai sua confiança, e se ele a trouxe é porque viu que tem potencial, que poderá ser uma boa irmã para nós.

― Ele... ele não me disse exatamente isso.

― É que essa é a minha função, geralmente. ― Diz risonha, levando-a até a escada. ― Antes que eu me esqueça, é melhor te deixar ciente que o Gildarts proíbe a entrada no quarto dele. Lá só pisa quem ele quer, tem que ser convidado. ― A encara debochada, vendo-a sem reação. ― Não se preocupe, eu nunca o vi convidar nenhuma menina. Enfim, faça o trabalho que lhe for designado, e vai continuar aqui por muito tempo. Se um dia você cansar, o Gildarts pode dispensá-la dos serviços se achar que foi uma boa “amiga”. Só não queira sair pelo motivo oposto, porque quando ele que cansa da pessoa, por ter sido uma má amiga... a coisa não presta.

Yukino a encara, num gole de saliva:

― Se eu disser que não quero mais ficar aqui, nesse momento... o que acha que vai acontecer comigo?

― Não sei exatamente o que aconteceria, ele não costuma lavar roupa suja na frente de todo mundo. Mas tenho certeza que você iria desejar jamais ter aceitado vir. Muitos dos nossos saíram com ele por aquela porta após confrontá-lo, e nunca mais voltaram. Se foram deixados livres, ninguém sabe. Os inteligentes não arriscariam descobrir por conta própria.

 

~ * ~

Lucy continuava seguindo aquele garoto, quase sem fôlego, se perguntando como ele conseguia correr tanto e parecer esbanjar energia depois do dia cansativo na praia. Ele parecia mesmo um furacão humano, decidido a tragar tudo que estivesse em seu caminho.

― Natsu, por favor, para um pouco! Quero falar com você agora!

― Não dá, fadinha. Já falei para você voltar, o lugar para onde estou indo é bem perigoso!

― É mesmo? ― Diz com ironia, uma pitada de raiva. ― Nós temos a mesma idade, se é perigoso para mim, também é para você! Ou voltamos juntos, ou vou continuar te seguindo até o fim do mundo.

Natsu cessa com a corrida, pegando-a totalmente desprevenida. Ele a segura quando estava a um passo de dar com o nariz em seu peito. Aquele olhar era de preocupação, e ao mesmo tempo transmitia um carinho.

― Esse papo de me seguir até o fim do mundo... cê faria mesmo isso? Digo, não iria cansar de voar com suas asinhas de açúcar, e voltar para casa me xingando de tudo que existe de ruim?

Lucy cora, de olhos arregalados, vendo-o tão sereno.

― O que quer dizer com isso, seu bobão? Eu não me canso fácil... ― Tenta esconder a respiração pesada, tirando uma risadinha dele. ― Só estou me esquentando. E claro que eu faria, sou capaz de segui-lo até onde precisar. Não vou deixar você sozinho, Natsu!

Ele a puxa para mais perto, abraçando-a com carinho, deixando um beijo estalado no topo da cabeça. Lucy não sabia como reagir, era como se estivesse querendo se despedir dela.

― Natsu...

― Não precisa ter vergonha, não tem ninguém passando na rua agora. ― Sussurra, afastando-se, comprovando o rosto vermelho que tinha. ― Lucy, por favor, vai embora. Eu prometo que nada vai acontecer comigo.

― Se vai atrás da sua amiga perdida, eu até faço ideia de com quem ela pode estar agora. Tenho certeza que você juntou as peças bem mais rápido que eu. ― Ela o vê hesitante em confirmar. ― Sua cara já diz tudo. É aquele homem que lhe fez tanto mal, o tal Gildarts. Está indo fazer um acerto de contas, Natsu.

― Eu...

― E está me pedindo para simplesmente deixá-lo sozinho agora? Eu sei o quanto a presença dele te abala, e que tem lembranças que ainda machucam muito. Natsu, eu vou ficar ao seu lado nesse momento tão difícil... quero te ajudar a vencer esse medo.

Ele sorri bobo, balançando a cabeça para cima e para baixo lentamente. Lucy segura sua mão.

― Não precisamos correr tanto, né? Não sou uma força da natureza que nem você... vamos apenas caminhar depressa, é suficiente.

― Tá bem, tá bem. Mas vamos rápido mesmo, fadinha.

― Ain, também não sou nenhuma lesma!

 

~ * ~

Todos ficam chocados quando veem Gildarts descendo a escada enquanto carregava alguém nos braços. Yukino sente o chão abrir abaixo de suas pernas ao reconhecer aquele garoto, era Gajeel, todo ensanguentado, cheio de hematomas por todo o corpo.

Os pilhantes formam um semicírculo quando o ruivo chega ao andar, e então Gajeel é atirado aos pés deles. Ele olhar para um por um dos que estavam a frente.

― Onde... onde está aquela anã inútil que sempre está grudada nesse pirralho? ― Mal fez a pergunta, dois dos garotos chegam trazendo Levy, que já mostrava pelo rosto marcas de violência. ― Hmm... então estava mesmo pelas redondezas, pronta para fugir com ele depois que me desse o bote.

― Gajeeeel, não!! ― Levy chora, a garganta embargada.

― Gildarts, o que aconteceu? ― Pergunta Tanya, incrédula com o corte que ele tinha na bochecha. ― O que o Gajeel fazia lá no andar de cima? Eu mandei ele conseguir comida hoje cedo, como você tinha pedido.

Ele olha para Gajeel, que respirava com dificuldade, sua expressão era de puro ódio. Ainda queria entender como ele tinha conseguido se esconder dentro de seu guarda-roupas para tentar esfaqueá-lo. Mas já conseguia respostas com simples olhares para os mais desconfiados.

― Esse ingrato tentou me matar há dois minutos. Estava escondido dentro do meu guarda-roupas, esperando pacientemente que eu o abrisse para me dar um golpe letal com a faca. ― Sorria agora, olhando para cada um ali. ― Quem mais está envolvido nisso? Vamos, respondam... O amigo Gildarts promete que vai poupá-los do castigo caso admitam.

Os olhares trocados eram de puro medo, e um silêncio perturbador se instala no local. Gildarts vai seguindo lentamente pela passarela formada a medida em que avançava. Ele segura o rosto de Levy, fitando-a profundamente.

― Tampa de garrafa, que não serve para nada... Maldito seja o dia em que salvei sua pele daquele mauricinho. Maldito seja o dia em que dei lar e comida para você e aquele ali no chão. ― Ele cospe para Gajeel, voltando para ela. ― Mas o amigo Gildarts sabe reconhecer seus erros, e depois que ele faz isso, sempre vem a correção. Observe o plano de vocês indo por água abaixo.

Ele a solta, deixando-a em pânico enquanto regressava pela passarela calmamente. Aquela presença assustadora fazia cada por qual passava abaixar a cabeça. Num piscar de olhos, desfere um soco em Tanya, que bate as costas contra a parede e cai imediatamente.

Além da baixinha azulada, mais pessoas começam a chorar baixinho. Tinha quem cogitasse sair correndo por aquela porta, sem se importar com as chances de ser capturado. Gildarts analisava os rostos mais uma vez.

― Minha querida Tanya... sempre tão obediente. Quem diria que estava tramando contra mim, se unindo a meia dúzia de loucos? ― Gesticula para a garota ao chão. ― Foi ela que permitiu a entrada do Gajeel no meu santo quarto. Somente ela sabia a que horas eu voltaria hoje. Esperta, né?

O choro aumenta, e então dois garotos se destacam indo até sua frente, ambos jogam suas facas aos pés dele. O ruivo sorri com os lábios, batendo palmas.

― Muito bem, é disso que eu gosto: que se arrependam quando pensam em fazer mal para o amigo que os acolheu. Então o plano “B” era: quando o Gildarts sair cambaleando ferido, fraco, o Yuri e o Zero vão dar o golpe de misericórdia. Não deixem ele sair vivo por aquela porta!

― Perdão, Gildarts!!

― O Gajeel e a Tanya nos convenceram a participar...

― Ajoelhem-se.

Ambos o fazem imediatamente, e então são nocauteados com chutes no estômago. A tensão aumenta ainda mais. Gildarts recolhe as duas facas do chão, e então vai deslizando as lâminas uma na outra.

Yukino, com a cabeça prestes a explodir por ter presenciado tanta violência de uma só vez, corre até sua frente, os braços abertos em proteção aos garotos.

― Gildarts, não faz isso... você não é uma pessoa ruim, lembra?! A caminho daqui, nós conversamos. Pelo que ouvi sobre seu senso de justiça, sei que no fundo você sabe que isso é desnecessário! Há formas melhores de resolver um problema. Se esses garotos querem ir embora, porque apenas não os deixa ir?

― Yukino... não é assim que as coisas funcionam. Eles cometeram um grande erro quando se revoltaram contra mim, só estou aplicando os devidos castigos para garantir que nunca mais vai acontecer outra vez. Eu sou o pilar dessa família, sem mim esses pirralhos não seriam nada. Aqui eles têm um teto, comida garantida quando retornam, têm água, roupas novas, e até uns mimos vez ou outra. Ainda assim não aprenderam a dar valor ao amigo que faz tanto por eles... então quando não se aprende pelo amor, tem que ser pela dor.

― Os deixe ir embora, você não vai perder nada!

― Tem razão, não vou perder. Traidores são lixo, e devem ser descartados. Mas deixá-los ir, assim impunes, é pedir para que aconteça de novo. Geralmente sou bem discreto quando estou castigando alguém, mas dessa vez foram longe demais... que o que vai acontecer agora sirva de lição para todos vocês, nunca mais ousem tramar contra mim!

Ele se agacha, erguendo os braços com as lâminas voltadas para os dois caídos. Yukino age impulsivamente, chutando seu rosto.

― Corram, todos vocês!! Quem quiser ser livre, vá embora agora!

Dois segundos depois, acontece o efeito manada pela porta. Levy é libertada pelos dois garotos que decidem fugir também, e corre até Gajeel.

― Gajeeel!! Meu Deus, ele apanhou muito... Gajeel, fala comigo, por favor!

― Levy... vá em-bora.

― Não vou sair sem você! ― Ela olha para Yukino, que ajudava Tanya a escapar também. ― Não podemos deixar o Gajeel aqui, ele vai morrer, está perdendo muito sangue!

A albina retorna após ter deixado Tanya com outras duas garotas lá fora, ajudando-a a carregá-lo. Lá fora, os poucos que ainda acreditavam estarem melhor com Gildarts, tentavam impedir a fuga massiva.

O ruivo havia se recuperado um pouco do tombo, embora ainda estivesse com dificuldade para enxergar com um dos olhos afetados pelo chute. Ele puxa as duas garotas pelos cabelos quando estavam para cruzar a porta, fazendo-as soltar Gajeel.

― Yukino, sua peste... como você teve coragem de fazer tudo isso... mal pisou aqui e plantou todo esse caos!! ― Yukino tentava sair da prisão na qual estava pelo pescoço. Levy, que já estava machucada, não conseguia levantar para ajudá-la. ― Vou acabar com sua vida de merda agora... você queria ver o Natsu? Vai poder vê-lo no inferno, porque também vou matá-lo, é só uma questão de tempo!

Larga ela, seu desgraçado!!

Gildarts trava com a faca à poucos centímetros de fazer um corte no pescoço da garota. Há dois metros em sua frente estava o garoto que tanto lhe tirava a paz desde que entrou em seu caminho pela primeira vez. Natsu o encarava com extrema raiva, e dessa vez não tremia. Algo em sua postura havia mudado, parecia confiante e capaz de fazer qualquer coisa.

― Natsu... ― Yukino murmura com o que lhe resta de voz, seus olhos brilhantes em lágrimas.

― Se fizer um único arranhão nela, não vou ser piedoso enquanto estiver acabando com a sua cara, Gildarts. Vou fazer você ficar irreconhecível, para que não seja capaz de sorrir enquanto engana outras pessoas com suas falsas palavras.

Aquele tom de voz, o olhar imperativo, o gole de saliva em sinal de preparação para avançar, as gotas de suor descendo pela testa, cada pequeno detalhe era capturado com facilidade pelos olhos rápidos do ruivo. Natsu finalmente havia conseguido chegar onde ele queria.

― Ahh... isso é um sonho? O meu garoto está pronto para me desafiar, sem mijar nas calças dessa vez? ― Ele solta Yukino, que corre para atrás do rosado. Seu rosto fica levemente corado, enquanto não consegue se desprender do olhar mortal que recebia. ― Ahh... Natsu, isso é excitante demais. Tem noção do que acaba de despertar? Eu esperei muitos anos por esse momento: o dia em que não me olhasse com medo.

― Todos os seus pilhantes foram embora. Mesmo que queira, não vai conseguir dar conta de ir atrás de todo mundo. Ninguém precisa de você, do seu lar sustentado por medo e chantagem. Ser morador de rua pode ser difícil, mas é bem mais perigoso estar no mesmo lugar que você.

O homem maltrapilho respira fundo, como se estivesse se segurando para não avançar logo nele:

― Venha, Natsu... me entretenha. Mas já aviso que vou com tudo. Espero que não esteja blefando com essa postura tão altiva.

Esse homem é desprezível! ― Yukino o encara. ― Foi ele que tentou lhe fazer mal quando éramos crianças, não foi, Natsu? Meu Deus... como não percebi isso de cara?!

Lucy chega ali, chamando a atenção. A loira se agacha imediatamente para ajudar Levy, mas a baixinha não conseguia se levantar, gritava de dor. Lucy sobe o olhar, encontrando o ruivo a encarando atentamente.

― Então você é o monstro chamado Gildarts... saiba que tudo o que fez ao Natsu e tantos outros inocentes não vai ficar impune!

― Ora, ora, se não é a irmãzinha do Natsu. Ou deveria te chamar de namoradinha? ― Yukino fica confusa com as palavras. ― Estava nos meus planos me livrar logo de você. Eu esperei por tanto tempo até ele crescer... e de um dia para o outro uma patricinha magricela o rouba de mim.

Natsu fecha os olhos, tentando não se deixar levar por aquelas palavras. Lucy não consegue se controlar de mesma forma:

― Você é baixo demais... merece apodrecer na cadeia pelo resto de sua vida!

Sirenes podiam ser ouvidas dali. Gildarts fica nervoso, a ficha de que poderia ser a polícia chegando não caia.

― Vocês... chamaram a polícia aqui, seus miseráveis! ― Ele saca uma arma escondida em meio ao manto, e vai recuando até a escada, apontando para os jovens. ― Quem se mexer morre!

Todos ficam parados, certos de que ele iria mesmo disparar caso não obedecessem. O ruivo corre até o andar de cima, e assim que isso acontece, Natsu sai da casa com pressa.

― Natsu, aonde está indo?! Vamos aproveitar que ele foi lá para cima e tirar o Gajeel e a Levy daqui! ― Yukino diz aflita.

― Essa garota tem razão, Natsu! A polícia vai invadir a casa em alguns instantes, é só questão de tempo até aquele cara ser preso! ― Lucy tenta ir atrás dele. O rosado balança a cabeça para os lados, deixando-a confusa. ― O que vai fazer?

― Ele não subiu à toa. Há uma janela no quarto dele que dá para os telhados das casas... Está fugindo! Vou dar a volta e impedir que escape.

― Aquele homem está armado!!

― É uma arma de brinquedo, ele me mostrou uma vez. Fadinha, ajuda a Yukino com a nanica e o Gajeel, por favor!

 

~ * ~

Natsu perseguia Gildarts pelos becos sem tentar chamar sua atenção, mas em determinado momento o ruivo o avistou. Aquele beco, perto do viaduto escuro, era agora o lugar onde ambos iriam resolver suas diferenças. O ruivo o encara risonho, olhando para a saída há alguns metros vez ou outra, atento à possível aproximação da polícia.

― Natsu, meus parabéns por ter previsto minha fuga pelo quarto. Você sempre teve essa sagacidade invejável... eu botei fé que seria meu melhor pilhante desde a primeira vez em que o vi. ― Respira fundo, coçando a cabeça. ― É uma pena que não soube aproveitar a oportunidade que lhe dei. Hoje, poderia ter tudo que quisesse ao meu lado.

― Cala essa boca suja. Já chega de tentar cobrir o sol com a peneira, Gildarts. Cê nunca dá nada para ninguém... só empresta, depois pega de volta e em dobro. ― Natsu cerra os punhos, aproximando-se cautelosamente, vendo-o parado ali como se não pretendesse recuar. ― O seu reinado já era, agora chegou a hora de você pagar pelo que me fez naquele dia.

O mais velho sorri de canto, o deboche transbordando.

― Está se referindo ao dia em que te levei ao meu quarto pela primeira vez?

― Seu... Monstro. Como pôde fazer aquilo comigo? Eu era só um menino... isso não se faz com ninguém, Gildarts! Não sabe o quanto aquilo me destruiu... eu tentei ignorar, fingir que não tinha acontecido. Mas a droga daquele dia nunca saiu da minha cabeça!

― A culpa foi sua. ― Diz calmamente, deixando-o ainda mais furioso. ― Se tivesse agido que nem um zé-ninguém, igual os outros garotos, eu não teria criado sentimentos. Me senti um estúpido ao me deixar abalar por um pirralho... Você roubou o meu coração, então eu roubei algo seu também.

― ....

― Eu prometi a mim mesmo que nunca tocaria em você até que alcançasse o momento certo. E enquanto esperava, o tratei feito um rei, com todas as regalias possíveis, coisa que jamais dei para nenhum dos outros. Natsu, eu já enxergava um futuro com você... e então decidiu me abandonar sem mais nem menos, depois de eu ter sido tão bom? Não... isso eu jamais poderia aceitar.

― Percebe os absurdos que está dizendo? Cê não é dono de ninguém, não tem o direito de decidir essas coisas pelas pessoas...

― Pode ser doentio, sim... um absurdo, mas é a verdade. Eu sofri todo santo dia por sua culpa, por não poder tê-lo comigo... então decidi matá-lo, para ver se assim esses sentimentos morriam junto. Tentei fazer isso no dia em que pedi que roubasse de sua mãezinha adotiva, e foi ao meu encontro com porcarias na mochila... mas algo não me deixou fazer isso... Enquanto eu olhava para você, tão frágil, tão apavorado, fiquei incapaz de terminar. Não queria que sentisse medo de mim... ainda buscava por uma esperança, de que mudasse de ideia e se juntasse novamente ao meu mundo.

O rosado para com os passos, encarando-o friamente, enquanto ele se mostrava sereno. Gildarts tenta tocar seu rosto, e tem a mão afastada no mesmo instante.

― Não precisa se segurar dessa vez... eu não vou me controlar nenhum pouco.

― Hun... vai ser uma pena... ― Diz baixinho, jogando seu manto pesado ao chão. ― Parece que esse beco sujo e escuro será o seu túmulo. Muito bem, Natsu... agora que tirou minha última esperança, não tenho mais motivos para poupá-lo.

 

~ * ~

Lucy e Yukino corriam pelas ruas, procurando por Natsu para tentar evitar uma tragédia. A loira tinha chamado uma ambulância para socorrer os feridos do incidente, entre eles Gajeel e Levy. Agora focava-se unicamente em encontrar o furacão humano tão teimoso. Embora tivesse muitas dúvidas, tantas coisas para perguntar àquela garota, Lucy preferiu respeitar o silêncio que o momento exigia.

― Natsuuu!!

― Natsuuu!! ― Yukino vira-se assustada quando vê uma sombra chegando por suas costas. ― Qu-Quem é você?!

Lucy toma o mesmo susto ao vê-la, mas logo reconhece.

― Cana?

― Eu mesma, loirinha. Estava dando uma volta, vi uma pirralhada correndo por todo lugar, e fui seguindo o fluxo para tentar descobrir o que estava acontecendo. ― A morena estava com extrema curiosidade. ― Aí vi duas princesinhas, sozinhas, nessa rua deserta... achei suspeito.

― Cuidado, Cana. Estamos procurando pelo Natsu, ele foi atrás de um bandido perigoso que formava aprendizes marginais.

― S-Sério?

― Sim. ― Yukino responde, preocupada. Olha para Lucy, que tentava falar com a mãe pelo telefone. ― Rápido, Lucy... cada segundo é importante, aquele Gildarts é muito perigoso.

Cana sente-se vibrar internamente ao ouvir o nome daquele homem. Ela puxa Yukino, sua expressão medonha.

― Você disse Gildarts?! É esse homem que o Natsu está perseguindo?!

― Sim, você o conhece?

Gildarts... Se o Natsu conseguir encurralar aquele desgraçado... vou finalmente fazê-lo pagar pelo que me fez!


Notas Finais


Semana que vem eu trago o próximo o/


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...