Escrita por: Fallen_Moony
⛛
AM 06:22:09
— Connor? — Eu o chamei — Eu pedi só pra lavar a mão, não precisa se arrumar tanto assim.
Ele parou de arrumar a gravata e me olhou através do espelho forçando um sorriso.
— Isso o que fizemos — Ele inclinou a cabeça um pouco para o lado — Me torna mais humano?
— Bom... — Respirei fundo e fiquei ao seu lado — De certa forma, sim.
— Então porque não sinto isso? — Ele desviou o olhar do meu encarando seu reflexo.
Sorri e peguei seu braço o colocando-o em volta dos meus ombros.
— Bom, eu acho que você só está confuso, você ainda está se adaptando ao que é ser divergente, pega leve com você mesmo — Acariciei suas costas — Emoções ainda são novidade pra você.
— Tudo bem... — Ele voltou a me encarar pelo reflexo do espelho — Então se fizermos o que fizemos hoje mais algumas vezes, talvez eu entenda porque os humanos preferem fazer isso mais por prazer do que por procriação como é o esperado.
Eu pisquei repetidamente enquanto processava o que ele falava e dei uma risada leve.
— Connor você é muito fofo, um pouco estranho, mas fofo — Ele virou o rosto me encarando — Sobre hoje... é, bom... digamos que não podemos mais fazer isso aqui, muito menos deixar que alguém nos pegue.
— Gavin vai contar a Fowler?
— Não, ele não vai, mas é melhor não arriscarmos, okay? — Expliquei e ele concordou — Agora vamos, eu tenho muitos arquivos para revisar e você tem que levar o que achamos para Oliver, ele vai colocar a outra parte da memória de Selene — Fiquei na ponta dos pés e o beijei.
— Você vai me encontrar lá? — Perguntou assim que separei nossos lábios.
— Não... — Tirei seu braço do meus ombros e caminhamos juntos até a porta — Tenho muito trabalho.
— Se você quiser eu posso te ajudar — Propôs dando passagem pra mim, passei pela porta e Connor veio logo em seguida — Eu levo a memória para Oliver e volto pra cá.
— Não, eu prefiro fazer isso sozinha, vai ser um trabalho longo e chato — Falei andando ao seu lado, indo em direção a "minha" mesa.
— Tem certeza? Eu posso analisar arquivos muito mais rápido que um humano — Parei de andar e o encarei. Ele fez o mesmo.
— Lembra nas gravações da fita de segurança do caso do Henry Holloway? — Ele concordou — Tivemos que analisar ela com cuidado, até você fez isso, analisou dá maneira "antiga" — Voltei a andar junto de Connor — Tenho que fazer a mesma coisa, tenho que analisar caso por caso, mais precisamente a família das vítimas... — Respirei fundo — Vai ser um dia longo.
— Ei Connor! — Gavin chamou meu namorado assim que ele passou próximo da sua mesa — Seu dedo já chegou lá hoje? — Connor me olhou confuso, mas logo voltou seu olhar a Gavin.
— Eu não entendi, aonde meu dedo deveria chegar? — Gavin começou a rir e eu puxei Connor o segurando pelos ombros.
— Esquece ele — Falei pegando o cubo e colocando as coisas que estavam dentro dele de volta ao interior da caixa — Leva isso e entrega somente para o Oliver.
— Tem certeza que de que não quer que eu fique? — voltou a me perguntar.
— Tenho, além do mais, você e Hank pode tirar o dia de folga — Falei — Não vou precisar de você hoje, pode avisar ao Hank por mim.
— Não acho que Fowler concordaria com isso.
— Tecnicamente o caso é meu então pode tirar o dia de folga.
Connor sorriu e pegou a caixa dourada.
— Até amanhã — Me deu um beijo no rosto e saiu. O observei sair até um assobiar chamar minha atenção.
Olhei na direção que o som veio e quem o fez estava sentado com as pernas por cima da mesa, Gavin fez um sinal discreto de masturbação enquanto me olhava e sorria de maneira divertida, revirei os olhos e mostrei o dedo do meio pra ele. Me sentei na cadeira pegando o tablet, selecionei o primeiro arquivo e comecei a analisa-lo.
⛛
01 de Março de 2040
AM 08:10:53
— Não acho que preciso de um quarto — Falei a Hank enquanto saia do carro.
— Eu acho que você precisa, você está morando no meu sofá a um ano e pouco — O tenente fechou a porta do carro e eu fiz o mesmo.
— Eu achava que não tinha problema, você mesmo me garantiu que não ia ter problema — Falei o acompanhando até a saída do estacionamento e entrada do DPD.
— Sim, mas se nos mudarmos para uma casa maior você poderá ter um quarto só seu — Ele abiu a porta.
— Mas androides não dormem, não vejo necessidade de uma casa nova ou um quarto novo.
— Bom dia rapazes — Alisson, uma androide ST300 que fica na recepção nos saudou — Chegaram cedo, suponho que devem estar indo bem com a sua investigação.
— Bom dia — Respondi de volta — Sim, estamos evoluindo bem.
— Bom dia, Alisson — Hank a cumprimentou — Sabe me dizer se Valerie já chegou?
— Sinto muito, não fiquei no turno da noite — Respondeu — Talvez o detetive Reed saiba que horas ela saiu ontem.
— Ele já está aqui? — Perguntei.
— Sim, aparentemente ele virou a noite trabalhando.
— Okay, obrigado Alisson, até depois — Hank se despediu e foi em direção ao interior do DPD.
Era cedo ainda, não passava das 6:30 da manhã, alguns policiais estavam do lado de fora ou na recepção esperando seu colega para a troca de turno, o detetive Reed estava debruçado na sua mesa em um sono profundo, o lugar estava quieto e alguns androides da faxina circulavam. Fui até a mesa de Hank aonde Valerie usava, o tablet emprestado pelo Gavin estava no meio da mesa descarregado e havia um copo de café ao seu lado, o café estava frio e pela metade.
— Aparentemente ela já chegou — Hank apontou com a cabeça para o celular e bolsa da minha namorada, eles estavam em cima da minha mesa, longe da confusão que a mesa de Hank se encontrava.
— Ela deve estar na sala de descaço — Me virei para ir até o local e escutei Hank resmungar algo — O que disse?
Ele sorriu e me encarou — Eu disse que você está todo bobo.
— Não estou não — Retruquei.
— Está sim, quando estamos apaixonados ficamos assim, bobos.
Sorri para Hank e fui em direção a sala de descanso me deparando com uma sala vazia.
"Ela deve estar no banheiro" — Pensei e fui em direção ao banheiro, abri a porta e pude ver todas as cabines abertas e ninguém lá além Haniel, um dos androides da limpeza, passando pano no chão.
— Olá Connor, bom dia, precisa de algo?
— Não, eu achei que... você viu a agente Valerie? — Perguntei e ele negou.
— Desde que iniciei meu turno ninguém entrou aqui além de você.
Concordei e sorri — Obrigado, Haniel, tenha um bom dia — Ele acenou e eu sai do local indo em direção a Hank que estava na mesa do policial Miller, conversando em grupo com Chris e um policial do turno da noite.
— Eu avisei que o time ia perder de dois a um — Falou Chris.
— Não, você disse de um a zero, eu lembro muito bem — O policial com a identificação de Alvin garantiu — Eu tenho certeza que você disse de um a zero.
— De qualquer forma, eles perderam — Disse o policial.
— E aí? Ela já está vindo? — Hank me perguntou assim que me aproximei.
— Ela não está, acho que deve ter saído pra comprar algo ou tomar um ar.
O tenente se despediu de seus colegas e fomos juntos até nossas mesas.
— Então? O que faremos? — Perguntou. Dei de ombros enquanto me sentava em minha cadeira.
— Acho que a esperamos, precisamos dela para ir até Oliver e ligar Selene.
— Bom, então vamos esperar — Hank bufou — Não gosto muito dessa ideia, acho ela bem entediante, mas é o que temos pra hoje.
Hank abriu seu computador e começou a ler as notícias, esperamos por cerca de quarenta minutos, vez e outra eu e meu amigo conversamos sobre diferentes assuntos, então Fowler chegou e todo o ambiente calmo e silencioso foi inundado por uma discussão entre Gavin e Fowler, o capitão reclamava sobre o detetive estar babando na mesa de trabalho e o detetive reclamava sobre o capitão reclamar de mais por motivos desnecessários.
— Último aviso Reed, aqui não é lugar de sonecas no meio do expediente — Falou bravo indo em direção a sua sala.
— Eu não estava dormindo no expediente, meu expediente nem começou Fowler — Retrucou Gavin.
— Último aviso detetive, não testa a minha paciência — Jeffrey fechou a porta e o local voltou ao seu silencio.
— Porra... — Resmungou o detetive. Ele olhou pro seu relógio e para nós, mais especificamente para mim — Cadê a sua namorada? Tô cheio de fome.
Ele veio ao nosso encontro — Suponho que você esteja se referindo a Valerie, bom, não sabemos, esperávamos que ela estivesse aqui, visto que ela deixou a bolsa e o celular.
— Ah, foda-se.
— Se me permite perguntar Reed, eu gostaria de saber o que Valerie tem a ver com sua fome — Perguntei.
— É que eu ia comer ela, sabe, uma foda pela manhã é o recomendado pelo meu médico — Me provocou.
— Ei, olha como fala dela seu babaca — Hank se levantou e ficou próximo dele.
— Pode deixar, eu deixo um pouco pro Connor perder a virgindade — Meu amigo foi para cima do detetive, mas eu entrei no meio.
— Vai embora Gavin — Falei sério. Reed me encarou, mas desviou o olhar assim que escutou Fowler o chamar da porta de sua sala.
— Aqui não — O capitão falou firme nos encarando.
— Pau de plástico sortudo — Resmungou se afastando logo em seguida. Gavin foi em direção a saída do local.
Hank fez um sinal de agradecimento a Fowler que voltou a sua sala.
— Você não devia deixar ele falar assim dela — Falou se encostando na mesa — Ela é sua namorada Connor, não pode deixar gente babaca como Gavin falar assim.
— Ele só queria me provocar — Disse ao tenente — Gavin faz de tudo pra me testar, eu já estou acostumado.
— Eu sei Connor, isso já não é novidade, mas falar da sua namorada não é o tipo de coisa que você tem que permitir...
— Ei, pau de plástico — Gavin praticamente gritou da entrada do escritório.
— Puta que pariu — Resmungou Hank assim que o escutou.
— Liga pra sua namorada e pede pra ela devolver meu carro.
— Ally está com seu carro? — Perguntei vendo ele se aproximar de nós — Porque ela está com seu carro?
— Ela pegou ontem, lata curiosa — Reed me respondeu — Agora liga pra ela e pede pra ela me devolver, ela é gatinha e tudo, mas não quero que ela abuse da minha boa vontade.
— Você emprestando o seu carro sem questionar? Que surpresa, ainda mais vindo de você.
— Ela se aproveitou que eu estava morrendo de sono e pegou as chaves, eu sei que foi ela porque eu senti seu perfume e suas mãos passeando pelo meu corpo, ela ainda sussurrou no meu ouvido.
— Valerie não tocaria em você — Falei ríspido — Ela não encostaria nesse seu corpo nojento.
— Oh, o pau de plástico está desenvolvendo bolas de plástico — Ele encarou Hank — Nosso menininho está crescendo.
— Que horas ela pegou suas chaves? — Hank perguntou o encarando.
— Sei lá, eu estava dormindo, ela começou a falar sobre a porcaria do caso dela e eu acabei pegando no sono, depois demos um tempo nas pesquisas e eu fui pra minha mesa.
— Ally disse que não queria a sua ajuda, por quê ficou até mais tarde?
— Porquê ela pediu com jeitinho — Senti meus batimentos acelerarem — Brincadeira pau de plástico, pode tirar o azul do seu rosto, eu fiquei até mais tarde porque ela precisou de mais uma ajuda minha.
— Você é um babaca Gavin — Hank se manifestou.
— Ei pessoal — O policial Alvin do noturno se manifestou — Desculpa ouvir a conversa de vocês, mas eu vi a Valerie pouco antes dela sair com o carro do Reed.
— Que horas você a viu? — Perguntei.
— Eu fui fumar e deixei Russel no meu lugar, acho que devia ser umas três e pouco dessa madrugada — Falou passando por nós — Oh Russell, que horas a Valerie saiu mesmo? — Ele gritou ao androide que estava auxiliando Chris em algo no computador.
— 3:46 da manhã — Falou o androide — Ela foi ao banheiro as 02:32 e saiu às 03:46.
— Tudo bem, obrigado Alvin — Hank agradeceu e ele saiu.
— Ninguém passa tanto tempo assim no banheiro, a não ser que ela esteja passando mal — Falei.
— Ela deve ter ido pra casa, me dá o endereço dela aí que eu vou — Interrompi Gavin.
— Ela não levou as chaves, a bolsa, muito menos o celular, ela pegou suas chaves dizendo que ia comprar comida e não voltou até agora, isso é estranho.
— Eu acho que ela pode estar com problemas — Hank disse.
— Eu não estou com um bom pressentimento sobre isso, tenente.
— Como pode ter pressentimento, Connor? você nem tem uma alma — Gavin me alfinetou.
— Cala a boca Gavin — Hank o repreendeu — Vem, vamos procura-la, vamos ver os lugares que ela frequenta.
— Eu vou também — Reed se manifestou.
— Não, você fica, ninguém quer você enchendo nossa paciência — O tenente foi direto caminhando junto de mim até a saída.
— É, mas é meu carro que ela pegou, eu vou junto quer você queira ou não.
⛛
— Mais que porcaria de carro, em Hank? — Gavin comentou pela sétima vez desde que saímos do DPD — O estado não te paga o suficiente pra comprar um novo?
— Paga, mas eu gasto pagando a sua mãe no final do programa — Hank falou sarcasticamente.
— Claro, somente uma profissional pra fazer seu pau levantar, né vovó, nada como uma dedada no cu pra fazer seu amigo morto ressuscitar.
— Ora seu filho da... — Hank largou o volante e virou seu corpo para trás, tentando pegar Gavin no banco de trás que se protegia segurando os braços de Hank.
Segurei o volante e tentava manter o carro em linha reta, por sorte não estávamos em uma via movimentada, Hank xingava Reed que o xingava de volta, com muito esforço consegui colocar meu pé no freio e o resultado foi imediato, ambos foram para frente, Hank bateu as costas no volante e Gavin acertou o banco da frente com seu rosto.
— PORRA! — Hank praticamente gritou me olhando — Qual o seu problema Connor?
— Androide filho da puta — Gavin resmungou com a mão sobre seu nariz — Filho de uma puta.
— Qual problema de vocês? — Os encarei sério — Você podia ter nos matado Hank! — Me virei para trás e encarei Gavin — E você pode por favor calar essa boca ANTES QUE EU A CALE ELA PRA VOCÊ? — Percebi que tinha gritado, coisa que eu acho que nunca fiz — VALERIE ESTÁ DESAPARECIDA E SABE SEI LÁ AONDE ELA DEVE ESTAR, ENTÃO PELO BEM DA MINHA PACIÊNCIA QUE JÁ ESTÁ SE ESGOTANDO, VOCÊS PODERIAM PELO MENOS CALAR ESSAS BOCAS E FICAREM QUEITOS ATÉ O FINAL DA VIAGEM? — Desabafei para ambos de maneira firme e gritando com eles, tenho certeza de que estava com o olhar bravo e sério. Gavin puxou o ar para me responder, mas desistiu no meio do caminho, voltei meu corpo para frente e cruzei os braços encarando a rua.
Após alguns segundos de silêncio absoluto, Hank ligou o carro e voltamos a andar pela estrada, o ambiente agora estava como eu almejava desde quando saímos do DPD, quieto. Eu só queria achar Ally, só queria saber se ela estava bem e o que tinha acontecido. Alguns longos minutos se passaram e o celular de Gavin tocou, ele o atendeu.
— Sim, é ele, como conseguiu esse número?... meu carro, você sabe aonde ele está? — Perguntou com urgência, depois de um tempo escutando ele voltou a perguntar — O que ele está fazendo aí?... — Ele esperou até a resposta e fez outra pergunta — Tinha alguém no carro? Alguém tipo uma mulher chamada Valerie... — Me virei o encarando e pela primeira vez depois da discussão, eu pude ver o semblante de preocupação no rosto de Gavin — Ela está machucada?... — Senti meus batimentos acelerarem com essa pergunta — Droga, estamos a caminho — O detetive desligou e me encarou.
— Ela está na casa do Elijah Kamski, sabe aonde fica?
— Sim, já fomos lá uma vez — Hank acelerou seguindo até o destino.
— A assistente do riquinho disse que ela não está bem — Reed falou e eu senti meu coração disparar, fazendo avisos no meu sistema aparecer e serem ignorados por mim.
— O que ela tem? — Perguntei — É grave? Devemos ligar pra emergên...
— Calma aí Romeu, a assistente disse que o riquinho já tá cuidando dela — Disse o detetive.
— É Connor, relaxa, daqui a pouco estamos lá, então vamos saber o que realmente aconteceu.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.