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História Irresistible Desire - O Meu Vizinho


Escrita por: LiihAndrade

Notas do Autor


Olá :)
Você está prestes a começar a ler Irresistible Desire.
Espero que goste da leitura e não se zangue com os muitos parágrafos e palavras, juro que tentei deixar a história o mais corrida e fluida possível!
Boa leitura! :)

Capítulo 1 - O Meu Vizinho


Fanfic / Fanfiction Irresistible Desire - O Meu Vizinho

Estava chovendo quando chegamos.

Minhas roupas molhadas e espirros constantes eram consequência de ter de resgatar meu diário caído na lama, logo que meu pai começou a retirar as bagagens do carro.

Durante o caminho, tentava ao máximo captar imagens e impressões da cidade e, apesar do cansaço físico e mental causado pela viagem atrapalhar minha vista, a paisagem bem que me agradava. 

A nova casa onde moraria também me parecia agradável. Poderia até mesmo dizer simpática, se não fosse pelo seu tamanho enormemente exagerado para acomodar somente à mim e ao meu pai. Sua fachada possuía tons de ocre, indo desde o bege clarinho das paredes até o tom ferrugem que os tijolos, envolta das janelas, conferia à casa algo de rústico. Uma pequena escada — composta por 3 degraus, apenas — levava a uma espaçosa varanda, e seu corrimão se transformava em um tipo de cerca de cor branca, contrastante com o piso de madeira. Ali havia um balanço que era sustentado por correntes presas ao telhado. A porta de entrada era dupla, e, assim como as janelas, grandes e largas, era composta inteiramente por um vidro sem qualquer tipo de desenho ou textura — a única maneira de ter privacidade, parecia-me, seria fechando as cortinas, longas faixas de um tom mais azulado. A casa possuía dois andares: algumas janelas do segundo andar se desprendiam do telhado, que era formado por telhas de cores azuladas, enquanto outras eram rentes à parede, formando uma planta toda quebradiça e cheia de cantos; o que causava a impressão de a casa ser ainda maior por dentro do que poderia imaginar por fora. 

Apesar da imponência que a casa transmitia a mim, as ruas e calçadas espaçosas que a cercavam deixavam-me a vontade, e as árvores e bosques por ali apenas aumentavam este sentimento. Um enorme pinheiro surgia na parte de trás da casa, pelo que podia notar por sua silhueta, e a grama verde tomava o caminho entra a varanda e a calçada. Um estreito caminho ao lado de minha nova casa parecia-me curioso: era formado por pequenas pedrinhas brancas, e parecia interligar as casas, sendo a minha interligada com a do vizinho de trás, e todas conectadas à algo, que suspeitei ser, quem sabe, bosques ou praças. 

Certifiquei-me de explorar o caminho o quanto antes possível.

Subimos à varanda e, chegando à porta de entrada, meu pai descarregou as malas no chão.

— Enfim, aqui estamos. — Murmurou meu pai, olhando para além da varanda.

Olhei-no com um sorrisinho tímido, e cheguei até mesmo a comentar algo sobre um e outro aspecto que havia notado sobre o lugar. Ele apenas assentiu, procurando pelas chaves em seu casaco e, como se não tivesse notado minha tentativa de conversa, comentou:

— Chamei a  faxineira para deixar tudo mais ou menos arrumado quando chegássemos. Não sei se ela já foi embora, então…

Meu pai deixou a frase no ar, não sentindo a necessidade de completá-la. Peguei meus pertences e então entramos na sala. De tão curiosa, não reparei tanto na sala — apenas que possuía um sofá extenso, em frente a um televisor que era quase tão extenso quanto; o piso era de madeira clara e a cozinha ficava logo ao lado, sendo separada do restante da sala apenas por um longo balcão. Vários outros móveis, janelas e portas também foram percebidos, porém estava tão ansiosa por saber como era o meu quarto que mal prestei atenção neles.

Subi apressadamente as escadas, que se dividiam em dois lances e levavam aos cômodos. Um corredor principal podia ser visto do andar de baixo, e vice-versa, porém este se dividia em outros dois corredores, que levavam à extensão traseira da casa. 

No primeiro corredor, havia o quarto em que meu pai transformara em biblioteca e escritório pessoal na reforma que fizera para nos mudarmos; sabia disso porque ele gostava de se gabar da ideia genial que tivera para tal cômodo, que antes, disse, não passava de um simples quarto para depósitos. Ao lado, avistei seu quarto já decorado com seus artefatos, provavelmente entregues dias antes da nossa mudança, já que ainda estavam embrulhados com papel-bolha e jornal.

No segundo corredor, paralelo ao primeiro e afastado do resto de tudo o que havia naquele andar — banheiros separados de cômodos e portas fechadas que ainda não sabia o que guardavam — avistei o que deveria ser o meu quarto, segundo os relatos do meu pai, e logo corri curiosa para lá.

De fato, meu pai parecia prezar por sua intimidade, afinal era impossível enxergar seu quarto e escritório do meu quarto, assim como o contrário também era verdade. Talvez fosse uma estratégia para evitar os silêncios constrangedores que se assomavam em nossas “conversas" rotineiras, que, na verdade, não passavam de perguntas como “Será que hoje chove?” ou “O café ainda está quente?”; e, mesmo com perguntas tão simples e ordinárias, às vezes nos enrolávamos com as respostas.

“Talvez seja melhor assim”, pensei comigo mesma.

Joguei minhas malas ao chão, de madeira como o resto da casa, e, com o meu diário e caneta em mãos, sentei-me em um sofá que ficava entre duas paredes que faziam o recorte da janela, e afastei as cortinas para conseguir ver a vista de meu quarto, que dava para os fundos da casa.

“Querido Diário,

Hoje é dia 03 de Setembro, um dia de mudanças — literalmente. 

Acabo de chegar na nova casa, e tudo por aqui parece demais para a minha cabeça… E não sei se escrevo isso num bom sentido.”

Terminei de escrever a frase e parei para refletir sobre algo, que nem mesmo conseguia entender o quê.

Aquele diário ainda era recente para mim, de certa forma. Não sabia como lidar com ele, e nem sequer escrevia nele diariamente, como o próprio nome mandava ser. Talvez este sentimento de desconforto ao escrever sobre minha vida em pedaços de papel fosse porque eu realmente não queria ou sabia escrever sobre a minha vida — apenas o fazia por ser um dever que minha psiquiatra havia estipulado; lembrava, como se fosse ontem, suas palavras de como era importante aquele dever para que a minha vida pudesse voltar ao normal após o acidente: “Um pouquinho a cada dia; não force a sua memória, porém não a deixe às escuras! Verá como será bom para você! Logo, logo sua memória se acostumará e voltará a funcionar.”; porém, não foi bem isso que aconteceu. De fato, aquela história toda de diário funcionou de certa maneira: minha memória voltou a ficar estável, não esquecia o que fazia pós-acidente repentinamente, como tomar banho ou comer tal coisa. Porém a memória pré-acidente e durante o acidente ainda era uma incógnita à minha mente, e aquele diário parecia apenas um reforço para minha memória ignorar o passado, e recordar-se apenas do presente.

De qualquer forma, às vezes era bom contar sobre a minha vida para alguém, mesmo se esse alguém fosse um mero pedaço de papel pautado. 

“Troquei algumas palavras sem fim com o meu pai durante a viagem para cá, mas não acredito que alguma delas tenha sido realmente compreendida. Não o culpo, também: sei que é difícil para ele largar tudo no passado e tentar recomeçar. 

Também é difícil para mim. 

Amanhã vou à escola pela primeira vez em um ano e meio, e isso significa fazer contato com pessoas estranhas pela primeira vez em um ano e meio — Sinto-me como um animal selvagem em um zoológico: todos olham para mim e falam “Olhe só! É ela!”, enquanto eu me escondo com medo e apreensão, tendo a impressão de nunca ter visto aqueles que me reconhecem.

Mas ao menos a vista do meu quarto é espetacular… Isso deve ser um bom sinal.”

Comecei a rabiscar alguns traços da paisagem no meu diário: as montanhas bem ao fundo e as infinitas árvores que dividiam espaço com os telhados das casas; em primeiro plano, o estreito caminho de pedrinhas que interligava as casas do bairro, e a janela bem em frente à minha, pela qual conseguia ver o quarto do meu vizinho.

Estava quase acabando meu desenho quando volto a prestar atenção à janela em frente a minha. Algo sobre ela me incomodava, como se deixasse um borrão em minha mente ao qual não conseguia elucidar. Deixei meu diário de lado, e então, de joelhos para conseguir ver melhor, observei o quarto através da janela. Apesar das gotículas de chuva atrapalharem a minha visão, consegui ver alguns detalhes do quarto: as paredes eram escuras, não conseguia definir a cor, afinal a luz do quarto estava apagada, sendo este iluminado por uma luminária ao lado da janela, fazendo com que o cômodo ficasse em tons de rubro e dourado. Metade de sua cama também podia ser vista através da janela, porém além disso não conseguia mais discernir nada. 

Prestava tamanha atenção no quarto e estava tão próxima da minha janela, que minhas mãos marcavam o vidro. Estava quase entrando em um estado de hipnose, quando, de repente, levo um susto: mãos femininas se apossaram desesperadamente da janela do meu vizinho, e um rosto coberto por suor parecia exausto.

O que estava acontecendo?

Alguém alto e com braços fortes apareceu atrás da garota, que se virou para poder o beijar, como fazia uma segunda garota atrás dele. Se antes pensava que a garota precisava de ajuda, agora compreendia que ela precisava era de mais do prazer que estava sentindo.

Tímida e envergonhada, decidi sair dali e fechar as cortinas, porém logo que me preparei para fazer isto, os meus olhos encontraram os dele.

Um arrepio atravessou meu corpo.

Apesar das carícias e beijos que as garotas davam em seu corpo, ele permanecia parado, apenas me encarando, enquanto apoiava a palma de sua mão contra o parapeito da janela; como se quisesse me observar melhor.

Nos primeiros instantes, sua expressão era dura, como se tivesse… Raiva. Encarava-me como se eu lhe fizesse mal, e seus olhos, que à meia-luz pareciam de um negro profundo, transmitiam algo terrível.

Tentei sair dali, porém meu corpo simplesmente não obedecia minha mente, que implorava para que aquela cena terminasse o quanto antes começara. Queria gritar, chamar meu pai, quem sabe, ou até mesmo a polícia. O perigo corria pelo meu corpo, enquanto a ameaça atormentava minha mente. 

Senti meu rosto corar, e então minhas mãos e pernas começaram a formigar; o sentimento de invalidez se assomava, e minha respiração se tornava desregulada. 

E então, de repente, ele pareceu se divertir ao me ver encurralada pela situação. Deixando sua cabeça pender um pouco para o lado, olhava-me com curiosidade, abrindo aos poucos um sorriso malicioso. Parecia olhar-me como se pudesse captar cada detalhe de meu corpo, devorando-me com seus olhos e com seu meio-sorriso despojado.

Nesse momento, pude reparar à meia-luz melhor em sua aparência. Seu cabelo era negro, e, talvez por causa das garotas que ainda lhe davam carícias e brincavam com o seu corpo, estava bagunçado, porém incrivelmente e ilogicamente lhe caia perfeitamente no rosto, como uma cascata, até um pouco antes de sua sobrancelha, sendo, dos lados, mais curto. Era alto e esguio. Tinha a pele branca, porém não era pálido, e vestia uma camiseta, pelo que podia perceber, cinza. 

Se tivesse que defini-lo em uma só palavra, seria... Perigoso.

Em minha mente, esse momento congelado parecia ter durado horas, porém, na realidade, não se passou mais que um mero instante.

De repente, levantou, sem pressa, uma de suas mãos, e balançou seus dedos conforme sua boca pronunciava um “olá" inaudível para mim.

Como se apenas este gesto não fosse o suficiente para causar-me mais arrepios, piscou seu olho direito, divertindo-se em me ver contemplá-lo.

Por um momento, senti vontade de ser uma daquelas garotas.

“O que estou falando?!” pensei a contragosto, percebendo que não era mais minha sanidade me controlando, quando de repente sinto alguém atrás de mim.

Gritei como nunca havia gritado antes. 

Afobada, tentei fechar a cortina para esconder a janela tão rapidamente que acabei rasgando-a, e então esta caiu em cima de mim. Nervosa e sem saber quem estava ali por causa da cortina que cobria meus olhos, empurrei o tecido com força para o lado, ficando com a visão clara.

— Oh meu deus! — Falei com a mão no coração — Você! É só… Você!

A faxineira que mais parecia uma anã por causa de sua altura, olhava-me com os olhos arregalados, não entendendo o que estava acontecendo. Enquanto eu nunca havia ficado tão feliz por ver uma faxineira.

— Me desculpe, senhorita, eu só estava…

— Não, não. Foi minha culpa, eu que me assustei… Sem motivos. — Falei me confundindo com as palavras, enquanto tentava me acalmar — Você precisa de alguma coisa?

— Na verdade eu vim para fechar suas cortinas, mas…

— Fechar as cortinas! - Dei uma risada sem graça — Já adiantei seu serviço… - Disse tentando contornar a situação, até que o pedaço de madeira que pendurava a cortina caiu e acertou a minha cabeça.

A faxineira apenas ficou me encarando, sem achar a mínima graça, e então se retirou do meu quarto sem mais nenhuma palavra.

— “Fechar as cortinas!”, “Bem, já adiantei seu serviço!”— Eu ficava me imitando como boba, sem ter dúvidas de que a minha reação não poderia ter sido pior.

Parei de andar de um lado para o outro me ridicularizando e tirei a cortina por completo de cima de mim. Voltei-me curiosa para a janela do meu vizinho misterioso — e possível psicopata pelo jeito que me olhara, por que não? — mas infelizmente ele já não estava mais lá.

“Infelizmente? In…Felizmente?!” Pensava comigo mesma: "Em um hora, sinto medo por apenas encará-lo, e em outra, tristeza por não mais o ver?! Essa cidade… Deve estar me deixando maluca.”

Peguei a cortina jogada ao chão e a coloquei dentro do armário; senti que incomodar meu pai com problemas como este talvez fosse desgastante, e, afinal, como contaria como havia rasgado a cortina?

“Então pai, acontece que tinha esse cara, realmente muito atraente na casa vizinha com outras duas garotas que queriam tirar sua roupa — tipo um pornô ao vivo — e quando me dei conta, a cortina caiu porque a faxineira me pegou por trás.” Murmurava a cena em uma voz engraçada: “Ótima ideia…”

Parei de zombar da situação para pegar meu diário do sofá, e observei meu desenho feito sobre a janela vizinha. Peguei uma caneta e pensei em riscá-lo, porém ao invés disso, optei por deixar um recado para mim mesma colado à parede:

“Nunca mais abrir a janela do meu quarto.”

Depois de algum tempo refletindo acerca do assunto, percebi que fora meio infantil, e então escrevi outro recado:

“Nunca mais abrir a janela do meu quarto… À noite.”

Tranquei a janela e, verificando mais de uma vez se esta estava realmente fechada, fui tomar um banho para relaxar.

XXX

Após secar meu cabelo e sair do banheiro, vesti uma roupa quente. O verão não estava tão quente naquele ano, chovia quase todos os dias — e, quando não chovia, o cheiro de terra úmida e o sol em cores aquarelas deixavam claro que logo iria voltar a chover.

Sentei na minha nova cama, espaçosa e bem mais macia que a minha antiga. Tateei com as pontas dos meus dedos embaixo do travesseiro, onde guardara meu diário e meu celular, porém meu celular não estava ali. 

Olhei desconfiada ao meu redor; podia jurar que havia colocado o meu celular debaixo do travesseiro. Levantei da cama e o achei na mesa. Quando fui pegá-lo, uma rajada forte de vento entrou no quarto e bagunçou todos os meus objetos. Um papel colado à parede saiu voando, indo parar debaixo da porta do quarto. 

— O meu recado… — Falei pensativa, até perceber que o vento só poderia ter entrado através da… — Janela!

Voltei meu corpo para a janela: ela estava escancarada! 

Fiquei paralisada. 

A janela com certeza estava trancada antes de eu ter ido tomar banho, e o celular… Não havia motivos para estar na mesa. Não havia chances de eu ter me esquecido disso!

    Com cuidado, aproximei-me da janela aberta, que corria de cima para baixo. Aproximei meu rosto perto do limite do parapeito. Àquele momento, a chuva havia passado e um silêncio mortal pairava no ar. Não sentia coragem de colocar meu rosto para fora e de repente encontrar quem abrira a janela, porém não sentia que era certo apenas me afastar e nunca matar minha curiosidade.

Coloquei meu rosto próximo à fachada. De repente, ouvi algo. Um leve arfar que as vezes se confundia com o vento podia ser sentido.

    Foi quando percebi: era o respirar de alguém.

    Ele estava… Ali.

    Corri a janela para baixo e tranquei-na. Peguei uma tesoura do meu estojo na mesa e pulei na cama com ela em mãos — Se bem que uma tesoura sem pontas talvez não fosse o melhor objeto para machucar alguém. 

    Ouvi algumas telhas se mexerem, e logo depois o silêncio absoluto reinou.

    Fui pegar no sono apenas horas depois, e com o celular em mãos. O episódio realmente havia me assustado.

    Afinal, será que era realmente ele que havia invadido o meu quarto?


Notas Finais


Críticas, elogios ou reclamações serão muito bem aceitos e amados! :D


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