- Isa? Você está aí?! - a porta do meu quarto abriu subitamente, assustando-me.
Num impulso, cobri o corpo com o lençol e soltei um gritinho agudo. Davi acordou alarmado.
- P-Papi?! O q-que foi?!
- Você! - ele olhou para Davi. - Saia da minha casa. Agora.
Davi ficou boquiaberto e levantou-se rapidamente, saindo do quarto. Meu pai voltou a olhar para mim.
- Estou decepcionado com você, Isabella.
Engoli em seco. Ele nunca me chamava de Isabella.
- Mas... O que aconteceu?
- Você me escondeu tudo. Pensei que confiasse em mim. Eu confiava em você e nele. Mas não confio mais.
- Papi, o que...
- Vista-se. Vou te levar para a aula.
Ele fechou a porta e saiu.
- Não! Davi!
Comecei a chorar. Mesmo assim, pus a farda. Logo depois, saí do quarto. Alojei-me à mesa para comer, mas eu não consegui. Por estar sozinha, voltei para o quarto. Meu pai estava no banheiro, então voltei para o quarto para esperar. Peguei minha boneca de pelúcia que eu ganhara há anos e abracei-a. Ache ridículo, mas eu faço isso para me acalmar. Mas, passando a mão no vestido, achei um papel:
"Te conheço desde o Brasil
Desde que seus olhos eram anil
E ao vê-la, meu coração fica a mil
Quando a vejo, sempre primaveril
Seu olho verde-âmbar vale mais
Do que pedras preciosas abismais
Sua voz mais bela que mil corais
Seus cabelos angelicais"
Um... Poema?
Virei o papel:
"Para a minha Bella,
Minha linda donzela,
Um presente de gratidão
Por expulsar minha solidão
~ Davi S. L. Coelho, 14/11/2016"
Apertei o bilhete contra o peito.
- Isa? Vamos? - meu pai bateu na porta.
- Ok.
Saí do quarto e fui com ele até o carro, onde notei que alguém faltava.
- Papi, cadê Estela?
Ele comprimiu os lábios.
- Não sei.
- Mas... Ela estava em casa! Ontem! Na minha cama! Aonde ela foi?!
- Ela deve ter sido levada por alguém.
Vi que ele tentava esconder a preocupação sob uma máscara e notei o quão abatido ele estava.
- E você acha que o Davi fez isso.
- Filha, ele era o único que não era da família em casa.
- Mas... Ele não faria isso. Eu sei. Foi Paulo.
- Isa, você não pode culpá-lo por tudo.
- Mas foi ele! - choraminguei.
- Assunto encerrado.
Fiquei em silêncio o resto do caminho. Desci do carro e fui para a aula sem me despedir. Assim que eu entrei, todo mundo voou para cima de mim.
- O que aconteceu? - interrogou Danny.
- Onde você foi parar? - perguntou Mari.
- E Davi? Achou? - acrescentou Liv.
- Você está vem? - Cecy.
- Gente, sai de cima! Deixa a menina respirar! - gritou Larissa.
- Porque essa depressão toda? - Gigi.
- Giovana! Aconteceu alguma coisa com o namorado dela e você acha que ela vai estar toda saltitante feito uma princesa da Disney? - repreendeu Rafha.
O resto da turma também me perguntou várias coisas, mas eu precisava de ar. Rodei para perto da sala dos professores, de modo que quando Ribamar, o professor de ético-social que ia dar a primeira aula, saísse, eu poderia subir junto. Comecei a pensar e acabei saindo dos devaneios por causa do toque. Ribamar saiu da sala e eu acompanhei-o.
- Oi, professor!
- Oi! Isabella, não é?
- Sim...
- Você não deveria estar na sala?
- Sim, mas... Eu precisava de ar fresco. E desci para esperá-lo.
- Ah, sim.
Conversei um pouco com o professor no caminho, já que ele era ótimo em ouvir e aconselhar. Nesse ritmo, chegamos rapidamente à sala, e fui logo para o meu lugar do mapa. Davi estava lá, mas manteve o olhar baixo. Pus minha mão na sua ao passar, e ele a apertou de leve.
- Então, pessoal, eu tenho uma triste notícia. - começou o professor. - Esta é a minha última aula com vocês este ano.
- Nããããooooo - fez coro a turma toda.
- Calma, galera! Vamos fazer o círculo de carteiras para discutir como foi o ano, refletir sobre as coisas boas e o que pode-se melhorar próximo ano.
Rapidamente, o círculo de carteiras foi formado, as líderes de frente para o professor. Acabei ficando ao lado de Davi e Danny. Notei que Paulo estava distante de nós.
- Assim, pessoal, o que eu notei foi que, no início do ano, eram todos bem separados, teve o caso de Lanna - ela balançou a cabeça assentindo e abriu um sorriso. -, o de Victor, que queria sair - Victor fez um aceno. -, mas acho que todos foram resolvidos, certo?
Ambos assentiram.
- Mas será que tem mais alguma coisa de errado? O que pode ser feito?
Comprimi os lábios, lembrando meus problemas com Paulo.
- Isa? Tudo bem se eu falar seu problema? - perguntou Danny.
- Sem citar nomes.
Não sei porque eu disse aquilo, mas escapou de minha boca. Poderia ser o melhor.
- Professor! Aqui! - ele lhe deu a palavra. - O problema não é exatamente meu, mas de uma amiga - começou. -, que desde sempre, ou pelo menos desde que eu entrei na turma, é excluída. Este ano, fiquei próxima dela e sei que ela sofreu, mesmo escondendo. Este ano especificamente foi difícil para ela, principalmente neste semestre. Não é por causa de nenhum novato, mas de um veterano. Ele a beijou à força, na escola mesmo. Ele tentou desmanchar seu namoro. Ele a sequestrou na viagem de campo. Sequestrou o namorado dela...
- Sequestrou Estela... E Papi acha que foi Davi... - sussurrei baixinho para ela.
- E sua irmã mais nova, e fez o pai dela acreditar que era o namorado dela. Ele diz que é porque ele a ama. Não acho. Sabe porque? Vou citar Cassandra Clare: Demônios não amam: Eles desejam.
A turma toda ficou em choque e um burburinho preencheu a sala. A cada coisa que Danny falava, duas lágrimas caíam de meus olhos ao lembrar. Davi discretamente me abraçou e acalmou.
- Ele está nesta sala, neste exato momento. Por questões de moral e a pedido de minha amiga, não citarei seu nome. Ele sabe quem é.
- Isso é um problema sério. - falou Ribamar. - Diga à sua amiga para falar comigo depois. Isso pode ser bastante perturbador.
O resto da aula seguiu rapidamente. Afinal, aquela levara metade da aula. Como de praxe, ofereci ajuda para levar o material de Ribamar. Aproveitei para realmente conversar com ele.
- Professor... Você disse para a amiga de Danny ir conversar com você depois... Pois bem, estou aqui. Davi é o meu namorado e Paulo fez tudo aquilo comigo. - desabafei. - Minha irmã ainda está sumida desde que amanheceu. Estou preocupada com ela. Davi estava desaparecido e fui atrás dele. Paulo o sequestrou e me prendeu junto.
Ele pareceu estar em choque por um momento.
- Eu nem suspeitava. Venha falar comigo quando puder.
- Obrigada, professor.
Deixei o material e voltei para a aula. Assim que eu me posicionei na carteira, Paulo se aproxima.
- Você falou, não foi?! - sua voz continha ódio. - Você falou para ele?! - ele me suspendeu pela gola da blusa.
- Agora chega, Paulo. - Davi interferiu. - Saia. Não tem nada para você aqui. - ele me puxou para si, por mais que Paulo não soltasse a gola. - Deixe-a em paz. - notei que os olhares da turma estavam focados em nós, o silêncio era total.
- Paulo, me solte. - falei calmamente. - E devolva a minha irmã.
Seus lábios se contorceram em um leve sorriso que só eu e Davi pudemos ver. Em seguida, fez cara de susto.
- Eu?! O que eu tenho a ver com sua irmã?
- Não se faça de desentendido! Onde está Estela?
- Chega! - o professor Jonathan de Educação Física interrompeu. - Cada um em seu lugar. A aula é teórica.
Davi me soltou, pousando-me na cadeira delicadamente e indo para seu lugar. No entanto, Paulo se inclinou e sussurrou:
- Você acha mesmo que vai recuperar sua irmã tão fácil?
Meu coração acelerou de raiva e minhas mãos tremeram, ávidas por dar um tapa nele. Mas me contive. Eu precisava me conter. Paulo voltou para o lugar e o professor continuou a aula. Tomei notas numa tentativa falha de espantar as preocupações. Mas Estela voltava o tempo todo para a minha mente. Minha pobre irmã, pelo que estaria passando? Eu estava tão mal que tive que sair para o banheiro lavar o rosto e clarear a mente. De volta à sala, vi que o professor havia saído. O horário acabara. Aula de Joanna, português. Mas, olhando ao redor, tudo parecia caótico. Aparentemente, todos discutiam sobre a aula de formação ético-social e a briga com Paulo em seguida. Algumas pessoas davam bronca em Paulo, que furiosamente rebatia. As meninas (exceto Carol e companhia) se exaltavam e chegavam a dar-lhe tapas na cara. Davi parecia paralisado no lugar, assim como eu me sentia. Uma voz ecoou pela sala.
- PAREM!!!!!
Trêmula, notei que viera de mim.
- Parem. - repeti. - Eu sei que ele está errado. E que ele está com minha irmã. Mas ele não deve receber isso. Ao fazer isso, estão se rebaixando ao nível dele. "Quem não tem pecado, atire a primeira pedra".
Aos poucos, dissiparam-se de volta aos lugares. Notei que Joanna havia chegado e assentia de seu lugar, apenas prestando atenção.
- Muito bem, Isabella. Você pode, por favor, me explicar o que aconteceu?
- Eu tive alguns... problemas... quanto a Paulo neste semestre. E as pessoas descobriram hoje, e quiseram dar-lhe uma lição, acho.
- Professora, ele a beijou à força, tentou desmanchar seu namoro, sequestrou-a, ao namorado dela e está com a irmãzinha dela! - falou Larissa, justificando.
Joanna pareceu em choque.
- Isso é sério?!
Tristemente assenti. Com o canto do olho pude ver Paulo se mexer desconfortavelmente. Joanna lançou-lhe um olhar.
- Paulo. Vá falar com Danúbia. - a coordenadora. Acho que Joanna ficou bem revoltada. - Isabella - olhou para mim. -, acompanhe-o e certifique-se de que ele não vai mentir.
Assenti lentamente enquanto seguíamos para a coordenação. No meio do corredor, Paulo deu um escândalo.
- Você falou! - ele me ergueu pela gola da camisa até meus olhos estarem na altura dos dele. - Sua... Você não sabe o que fez, nem as consequências que você vai ter.
- Me solta! - gritei.
- Não. Eu não vou te soltar.
Adoraria ter minhas pernas em perfeito funcionamento para dar-lhe uma joelhada. No entanto, tudo o que pude fazer foi gritar.
- Socorro!!!!
- Pare de gritar, Isa!
- Não!! Socorro!!! Alguém me ajude!!
Paulo me jogou no chão e minha cabeça bateu fortemente em uma quina. Senti o sangue quente escorrer por minha nuca. Minha força rapidamente se esvaiu e comecei a tremer. Fechei os olhos e meu cérebro apagou.
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