Florence
Eu guardo os matérias na mochila e me levanto sendo acompanhada pela Alana. Felizmente ela não conversou com o rapaz, mas conseguiu descobrir o nome dele, Mário. Ela disse que ele é filho de um empresário bastante renomado e tem uma vida regada a festas e mulheres, o que não me surpreendeu já que foi o que imaginei.
__ Eu vou ao banheiro – Alana avisa quando entramos no corredor e eu espero no sofá perto da porta de entrada. Escuto as altas conversas das meninas sobre os alunos novos e vice versa, recebo alguns olhares, mas nada fora do comum. Os meus olhos estão cravados na tela do meu celular e escuto um suave barulho de assobio, ignoro imaginando que não seja comigo, mas quando se torna insistente me faz levantar a cabeça e vejo o rapaz de mais cedo, o Mário. Ele sorri de canto quando tem a minha atenção e faz sinal para eu me aproximar, mas estou confusa e assustada demais para me movimentar.
__ Você é surda? - ele pergunta se aproximando e sinto um cheiro forte, mas gostoso de perfume masculino.
__ Não - respondo baixo e o vejo se sentar ao meu lado. Ele me olha sem pudor algum e parece não saber que somos desconhecidos, não temos intimidade.
__ Eu sou o Mário - ele diz olhando para cada parte do meu rosto e algumas vezes para a minha boca.
__ Eu sou a Florence – digo me levantando e me encosto no pilar.
__ Nome legal – ele diz ainda me analisando e desvio o olhar procurando Alana que parece nunca chegar – Eu posso te dar uma carona pra casa, ou se quiser conhecer a minha cobertura... – ele diz se levantando e para em minha frente.
__ Não, obrigada – respondo simples e o vejo arquear a sobrancelha.
__ Você disse não? - Mário me olha como se eu fosse uma maluca e respiro fundo criando coragem para olhar em seus olhos.
__ Eu disse não - repito e ele dá passos em minha direção me fazendo recuar.
__ Você não namora – ele diz olhando para as minhas mãos e desvio quando ele tenta tocar em meu rosto.
__ Você pode sair? Está me incomodando – as minhas palavras parecem o trazer para a realidade e o vejo rir de forma sarcástica.
__ Valeu, a gente se tromba por aí - ele diz me olhando intensamente e abraço o meu corpo sentindo sensações diferentes dentro de mim. Penso ser pelo o motivo de homem nenhum ter me abordado antes desta maneira então tento não me importar.
__ Ai meu Deus, vocês estavam conversando – Alana diz aparecendo de repente e a olho assustada – O que ele te disse? Te chamou pra sair? – a minha amiga pergunta com um largo sorriso e suspiro cruzando os braços.
__ Ele perguntou se eu queria uma carona e também comentou sobre eu conhecer a cobertura dele.
__ Por que estas coisas não acontecem comigo? – Alana resmunga passando a mão no rosto e me olha com expectativa – Eu imagino que você não tenha aceitado, então qual foi a desculpa?
__ Eu não dei uma desculpa, apenas disse não e pedi para ele se retirar – respondo simples e Alana me empurra levemente e segura em meus braços.
__ Florence não é assim que se trata um cara como ele, como pode dispensá-lo desta...
__ Eu quero nada com ele e deixei isto claro, simples assim – respondo breve e Alana revira os olhos. Eu começo a caminhar em direção a saída e vejo Mário prestes a entrar em seu carro luxuoso, há três mulheres caminhando na direção dele e somente sorrio para Alana – Eu tenho os meus motivos para ter recusado.
__ Ele estaria com você se tivesse aceitado - Alana resmunga e vamos o caminho todo desta maneira – Acho que ele está nos seguindo – olho assustada para trás e vejo o carro de Mário se aproximar. Percebo que ele está sozinha, mas não dou importância e somente aperto os passos em direção da minha casa – Eu não acredito que vou presenciar uma linda história de amor – Alana diz sorridente e eu a deixo pra trás para evitar algum constrangimento. Eu a conheço tempo o suficiente para saber de sua coragem e loucura – Florence, me espera! – eu a escuto gritar fazendo com que as pessoas ao redor nos olhem e me encolho.
__ Pare de chamar atenção, Alana – eu paro de caminhar e a espero se aproximar.
__ Eu estava cuidando da nossa segurança – ela diz olhando para trás – Ele parou no posto para abastecer, talvez seja caminho para ele ir embora.
__ Podemos mudar de assunto? – pergunto me sentindo desconfortável com tantas sensações novas dentro de mim e minha amiga ri assentindo.
__ Eu estava falando sério sobre irmos na casa do Jorge mais tarde – Alana diz quando paro em frente da minha casa.
__ Eu te dou a resposta depois – murmuro a abraçando e entro em minha casa. Rapidamente vou até a cozinha preparar o almoço já que a Joana chegará dentro de poucos minutos e como sempre estará faminta.
Eu preparo um almoço rápido que consiste em uma macarronada com almôndega e salada verde, eu também preparo uma limonada e para a sobremesa pico algumas frutas.
__ Florence! – escuto a voz de Joana e rapidamente abro a porta a vendo vermelha devido o calor – Estou com fome – a minha irmã diz me dando um rápido abraço e entra em casa, eu aceno para o motorista da Van e fecho a porta.
__ Não se esqueça de lavar as mãos – digo caminhando até a cozinha e Joana sorri forçado, ela então lava as mãos e se serve – Como foi a aula?
__ Chata. Eu tive prova de matemática e joguei água na mochila do Heitor.
__ Joana, o que eu disse sobre se meter em confusão? – eu a questiono de uma maneira séria e a vejo cruzar os braços.
__ Ele falou que o meu cabelo serve de pano de chão então eu molhei a mochila dele e a esfreguei no piso do banheiro – Joana diz relaxada e suspiro sabendo deste detalhe desagradável sobre as crianças criticar o tamanho de seu cabelo que bate em suas pernas. A minha irmã não permite que ninguém o corte já que as poucas lembranças que ela tem dos nossos pais são elogiando o cabelo longo dela. Penso ser uma maneira de ela lidar com a perda que tivemos então respeito a sua decisão de não cortar o cabelo. Eu já escutei muitas críticas dizendo que estou sendo radical com a minha irmã por sermos cristãs, mas somente eu e ela sabemos que não é por isso, na verdade as pessoas julgam o que não conhecem e se sentam donos da verdade sobre um assunto que não dominam.
__ Eu vou precisar ir novamente na sua escola? – pergunto e ela nega se sentando na cadeira.
__ A minha professora falou que eu apenas me defendi – ela diz sorrindo e ora baixinho antes de comer enquanto me sinto confusa sobre como agir. Eu tenho em meus ombros uma enorme responsabilidade que é cuidar de uma criança de oito anos, eu dou o meu melhor para educar Joana da maneira que os meus pais me educaram.
__ Apenas se comporte – digo me sentando ao seu lado – Eu amo você – beijo sua bochecha e acaricio o seu cabelo longo, negro e liso.
__ Se você me ama vai me levar tomar sorvete no shopping.
__ Você não começa, mocinha! – aperto o seu nariz a fazendo rir e sorrio sentindo uma paz dentro de mim sempre que estou ao lado dela.
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