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História Itália, prisão de cristal - Família


Escrita por: MrsReddington

Notas do Autor


Olar, como estão? Espero que bem <3
Só quero avisar que não me responsabilizo pelos surtos após esse capítulo e não, eu não tive a intenção de escrever para me banhar nas lágrimas de tristeza ou ódio de vocês para hidratar minhas escamas reptilianas. Para que não sabe alguns por aqui me chamam de reptiliana. Vê se pode HAHAHAHAHA.
Espero que curtam a leitura.

Capítulo 42 - Família


Viena, Áustria.

06h20min da manhã.

Norma ouviu um membro muito conhecido da realeza da Inglaterra se defender na sala ao lado da sua. A presença dele foi exigida pelo governo austríaco, governo esse que estava dentro mas já não tinha a força de antes. Henry Pierpont lhe olhava com apatia, como sempre fazia. Não havia grandes emoções para serem analisadas. Ele não costumava expor nada.

A advogada para acompanhar o processo desde o terceiro depoimento esfregava as mãos, demonstrando algum grau de ansiedade diante das perguntas.

— Não deveria se envolver tanto.

— A minha imagem não interessa tanto assim, Norma.  — Respondeu no mesmo segundo que acabou a frase.

A persistência do Pierpont naquele caso o fazia praticamente um investigador. Ele se ocupava ativamente do caso. Ativamente demais para os gostos de Norma.

— Eu me lembro da sua mulher, trabalhando conosco. Soube que está adotando uma criança... Meus parabéns.

Henry conhecia aquele olhar cínico. Quase tremulou, mas sabia que Aninha e Rafaela estavam seguras com Miguel. O pai de Rafaela deixou a Itália para supervisionar diretamente a segurança da filha e da neta. Era a primeira visita dela em casa e não queria que aquele circo dos horrores interferisse na paz que a situação merecia.

A agente responsável pelo caso entrou com a papelada na mão.

— A juíza entendeu que sua cliente representa um risco a investigação.  — Apresentou o documento nas mãos da advogada.

A situação era caótica. A corte austríaca acatou as investigações inglesas e mesmo com salto do processo entre as casas de justiça, o senado instaurou um processo. Norma passava a ser investigada em seu próprio país por pessoas que ela escolheu, muitas estando dentro do seu próprio gabinete. As provas da ação da rede dentro do país eram muito claras. Milhares de meninas, adolescentes e jovens pobres eram aliciadas dentro de seu próprio país por quem julgava protegê-las.

— O que isso quer dizer? — Norma sabia o que significava, estava indignada demais para admitir, mas certamente sabia.

— Vai ficar detida.

— Presa... — Suspirou, mexendo nos cabelos curtos.

O ministro de interiores da Áustria a olhava com pesar. Tomando coragem para comunicar o óbvio.

— Em algumas horas a destituição do gabinete acontecerá Norma. É inevitável. Todos nós cairemos juntos.

Norma precisava do dossiê contra Giuliano. Precisava utilizar o que estivesse lá para forjar sua inocência e ser restaurada no poder. Olhou para o espelho falso, buscando intimidar quem quer que esteja lá dentro.

Pierre de maneira alguma sentiu medo.

Olhou para uma mulher a beira de sua própria ruína e não sentiu compaixão. Norma não era do tipo que tinha algum tipo de autopiedade. Ele sabia o que ela queria, tinha ciência de onde ela buscaria e ainda tinha muitos aliados. Esses mesmos que asseguraram minutos depois por outra decisão judicial que ela poderia responder, por enquanto, em liberdade, mas sem poder sair do país.

Como se ela precisasse.

Norma estava com a corda no pescoço, mas ainda tinha aliados, influência e segurança para agir.

Qualquer Glaskov servia. Giuliano já sabia disso. Mandou-lhe ali para confirmar quem seria. Plantou escutas na casa e no gabinete dela. Henry Pierpont sabia desse jogo ilegal, mas pela proteção de sua família ele faria qualquer coisa, mesmo que burlar as regras do sistema.  Coordenou a operação enquanto os agentes do próprio Henry executavam as ações.

Ela saiu da sala de maneira superior, acreditando, ou ao menos fingindo, ter controle da situação. Seu séquito de advogados foi interrompido pelo marido de Norma. O homem tinha o rosto um pouco choroso. Apaixonado demais para acreditar que ela não era o anjo que ele cria.

Pierre viu, ao sair da sala, num canto mais escuro do local, quando ele a abraçou. O secretário pessoal dela recebeu somente um olhar. Ele já tinha uma ordem.

— Norma deve ter instruído ele antes de plantarmos as escutas. — Henry falou no fone em seu ouvido.

— Ela vai procurar pelo Glaskov mais fraco. Nikolai está no reduto familiar, Hanna está na Califórnia, trabalhando honestamente.

— Ela já sabe que Nikolai pode ser um melhor parceiro?

Pierre não tinha certeza, mas acreditava que sim.

— Vamos descobrir quando soubermos para onde o assistente vai.

Henry passou na sua frente, cinicamente como se não estivessem se falando. Ele assinou alguns documentos e mandou mensagens, provavelmente para a esposa. Houve algum alívio nos olhos dele.

— Norma não vai fazer nada com vocês. Ela precisa do dossiê para isso.

Henry não disse nada, mas o que Pierre falou era lógico.

No ponto em seu ouvido escutou quando uma agente inglesa filtrou os dados do secretário. O homem tinha mandado mensagens para alguns conhecidos americanos. A inteligência continuou rastreando a localização dos envolvidos e chegaram a coisas bastante interessantes.

— O que houve? — Henry disse do outro lado da sala. — Que cara é essa?

— Os dados foram combinados e as pessoas a quem o secretário fez contato são políticos e empresários do alto escalão dos Estados Unidos. Preciso confirmar os nomes, mas acredito que ela procurou por inimigos. Ela está formando um exército de interessados na queda de Giuliano para buscar pelo dossiê. São eles quem se encarregarão de Hanna agora.

— Isso era esperado... Que ela fizesse esse jogo.

— Mande seus agentes fazerem uma extração. Hanna precisa sair dos Estados Unidos em segurança.

— Isso é um incidente internacional! Os americanos podem... Giuliano não pode querer que eu faça isso.

— Se não fizer, terá problemas com os russos e com o Giuliano. Não acha que será pior?

Henry ignorou aquela fala para evitar responder no momento. Respirou fundo, apoiando as mãos na mesa, olhando diretamente para Pierre, mesmo a distância.

— Giuliano está usando a minha esposa para me fazer trabalhar para ele. Como se eu fosse seu exército. Como se a Inglaterra fosse seu exército particular!

Pierre foi até ele, dessa vez sem mais distâncias.

— Sua esposa está em risco e a família que tem está em risco. Se Norma ganhar ela vai trucidar a investigação de vocês, vai jogar a reputação do seu sogro, cunhadas, da sua esposa e até a sua e da sua amada Inglaterra no lixo. E não se trata somente da Inglaterra e dos Bocarelli e sua influência! Se essa mulher não parar e conseguir o que quer muitas vítimas vão continuar sofrendo e as que ousaram ir contra ela serão descreditadas e até assassinadas. O mundo não gira em torno da Inglaterra, Pierpont.

— Nem gira em torno dos Bocarelli e das suas ambições.

— Honestamente, eu não me preocupo com os Bocarelli, não tenho razões para isso. Você deveria se preocupar.

Henry baixou o olhar, respirou fundo mais uma vez e autorizou a extração.

— Tirem Hanna dos Estados Unidos, a coloquem longe da influência de Norma.

Algumas horas antes, Trento, Itália.

Já passava em muito a hora do jantar quando Giuliano e Caroline chegaram a casa. Louis foi o primeiro a aparecer na porta e Giuliano agachou para falar com ele. O menino lhe olhava um pouco confuso, mas quando viu Caroline sua expressão se tornou divertida.

Caroline, para evitar o impacto inicial da relação paternal para si mesma, escolheu prestar atenção em outra coisa. Conversando com Susan, pedindo desculpas pelo atraso e explicando a confusão.

— Está quente, tio.

— Eu sei. Mas vai passar em breve. Jantou? — O menino fez que sim. — Já está pronto pra dormir, pelo que vejo. Como foi o dia?

— Foi legal... Um pouco entediante, mas legal. E o seu?

— Animado... Muito animado... — Soou irônico, mas Louis não entenderia a razão de sua ironia porque estava preservado dos problemas que rodeavam sua família.

Louis olhou para Caroline e voltou a prestar atenção no tio. Caroline se aproximou sabendo ser ela o assunto da vez.

—Vocês voltaram? Voltaram a namorar?

Observaram-se um pouco e depois fizeram que não ao mesmo tempo.

— Somos amigos, Louis. Vim pra ajudar...

Ele continuou a deixa dela:

— Ela veio ficar um pouco com você... Conversar sobre o passeio que fizeram.

— Exatamente! — Mexeu um braço exageradamente.

Os dois estranharam e Caroline recolheu os braços atrás das costas. O menino franziu suas pequenas sobrancelhas e mordeu o lábio inferior, desconfiado.

— Você não tem razão para mentir... E o senhor detesta mentiras.

Caroline o olhou de esguelha com uma expressão curiosa.

 O médico chegou acompanhado de um segurança e Giuliano não tardou a tirar Louis de cena, subindo com ele. Caroline foi primeiro para a cozinha preparar um leite quente e isso lhe deu tempo de pensar no que havia acabado de fazer no impulso da situação. Era para manter distância e evitar emoções desgastantes e estava indo literalmente para o olho do furacão. Precisava de foco ou perderia o controle de si mesma. Louis era a razão de estar ali. Não podia deixar ele sozinho, muito menos dar ele a responsabilidade de cuidar do tio adulto.

No andar de cima Louis falou como foi seu dia e Giuliano ouviu atentamente como Louis contava os detalhes das aulas. Caroline estava certa quanto a tutora. Ele estava envergonhado e não conseguia expressar completamente a frustração com a mudança de rotina. Estava  falando que Caroline logo subiria quando o agente pediu muito discretamente que descesse pois o médico já tinha tudo pronto para a consulta.

Caroline, ao ouvir os passos de Giuliano na escada, sabia que ele seria atendido e agora precisava manter Louis um pouco ocupado. Giuliano pediu para que não contasse nada pra ele, agindo de maneira mais natural possível para evitar que isso o deixasse ansioso ou assustado. Caroline se opôs em partes, mas não o contrariou. Entrou no quarto após pedir licença.

Não sabia o que inventar pra que ele não seguisse o tio onde quer que ele fosse e não encontrasse o tio sendo atendido. Aparentemente, quando Giuliano estava em casa, eles estavam sempre juntos.

Louis, surpreendentemente, parecia muito disposto a ficar consigo e não cabia o próprio sorriso entre os lábios e mostrou alguns livros nas estantes, seus jogos e pediu desculpas por uma pequena bagunça na escrivaninha. Notou que ele já estava de pijamas, pronto para dormir em algumas horas e apesar de animado com sua visita, ele ainda aparentava cansaço. Era possível que dormisse logo.

Conversaram um pouco sobre a exposição e ele tirou algumas dúvidas, questionando se um dia podia lhe acompanhar a universidade de Trento, já que sempre quis a conhecer por dentro. Louis contou animado sobre como foi sair com tanta companhia em meio a algo que gostava tanto.

— Foi muito bom... Eu nunca tinha saído assim. Com tantas pessoas.

Ele falava com os olhos brilhantes. Caroline se questionou o quanto Louis realmente não fazia aquele tipo de programa tão comum. A vida dele era diferente e agora se tornava cada vez mais instável. Certamente estar em casa poderia ter suas vantagens, mas era esperado que ele estivesse tendo dificuldades em se adaptar.

— Fiquei muito curiosa sobre o internato... Enquanto falava de lá para o Filippo. Tem muitos amigos lá?

Estudou as reações dele. Louis baixou a cabeça, pensativo.

— Dois. Às vezes é difícil fazer amigos...

Aquilo doeu. A maneira como ele falava parecia que não estava satisfeito e que conviver com as outras crianças não era tão fácil quando imaginou que fosse. O mundo infantil, por mais inocente, ainda pode ser bastante cruel.

— Lá é muito exaustivo? Os estudos? Eu vi os jardins... Brincam muito?

— É divertido... Lá tem mais atividades no gramado, no bosque... E eu não tenho tantas coisas pra fazer. Gosto muito da biblioteca de lá também. Você tem que conhecer, Carol! É muito grande mesmo!

— Como está sendo aqui? — Louis fechou um pouco sorriso. Assunto delicado. — Quer me contar?

Louis olhou bem para Caroline e suspirou, cansado.

— Susan fala que eu não presto atenção, e eu realmente não consigo. Tenho muitas coisas para pensar, muitas atividades...

Caroline assentiu e Louis nem terminou de falar. Ele se sentia compreendido de certa forma.

— Ela acredita muito no seu potencial e às vezes, quando um professor ver isso, que exigir ao máximo, mas nem sempre estamos prontos para essa maneira de levar as coisas. Eu acredito que podem se dar bem ainda, basta ajustar algumas coisas.

Ele não acreditou muito.

—Você fala assim porque não está com ela nas aulas...

Caroline riu e Louis já se preparava para pedir desculpas quando ela afagou seus ombros, sentando ao seu lado.

—Já tive professores assim e posso imaginar como se sente... Pressionado e insuficiente. Eu também sou professora, já cometi muitos erros e entendo o que a Susan está tentando fazer.

— Você deve ser uma professora legal... Não como ela. — Murmurou.

— A Susan é legal. Ela só está um pouco perdida. Pode parecer estranho... Mas adultos também tem dificuldades. Todo aluno é um mistério que temos que desvendar. Somos Sherlock do conhecimento, Louis. Mas às vezes erramos.  — Apontou para o livro na estante a frente. — Como se sente com essas mudanças?

— Cansado, não consigo... Não consigo fazer tudo o que ela quer. Não quero preocupar tio Giuliano. Ele não precisa de mais um problema... — Deu-se conta de que talvez se sentisse um problema. — Não pode contar essas coisas para ele. Tem que me prometer que não vai contar.

— Eu sei que está triste... Essa mudança de rotina é complicada... — Ele fez que sim, desconfiado. — Que se sente insuficiente e que é muito independente. Independente demais para fazer o seu tio se preocupar. Mas não há nada de mal em conversar sobre isso. Não precisa guardar tudo para si, se sufocando. Está tudo bem não conseguir lidar com tudo ao mesmo tempo.

— Eu sou tão esperto para algumas coisas, mas para outras sou um burro... — Ele murmurou.

— Se sentir cansado não é fraqueza ou burrice... É natural. No inicio, toda experiência nova é difícil, mas a rotina vai ensinando os caminhos mais fáceis. Susan vai melhorar com você, pode tentar conversar com ela. Dizer como se sente... Posso te ajudar com isso.

Louis respirou fundo e deitou a cabeça no ombro dela. Não achava que Susan fosse de tipo que aceita conversas, ela era rígida demais para aquilo.

— Não quero que vá conversar com ela...

— Eu pensei em ensaiarmos como conversar com ela... — Sugeriu. Ele ponderou um pouco e assentiu.

Era lógico que ele estava lhe dizendo aquilo morrendo de medo de realmente ter que fazê-lo. Mas isso era conversa para outro momento. Por agora, fazê-lo reconhecer o que sentia já era um passo grande demais.

— Eu vou conseguir mesmo?

— Tenho toda certeza que vai conseguir. Eu acredito em você e você pode acreditar que consegue também... Você tem muitas qualidades Louis. Você é carinhoso, amoroso, divertido... É encantador. Alguns probleminhas acadêmicos não vão esconder suas outras qualidades. Todos nós temos dificuldades e virtudes.

Caroline não sabia até que ponto ele entenderia o que falava ou se não podia lhe retaliar. Ainda não se sentia no direito de intervir daquele jeito e acreditar que ele não fosse dizer no momento seguinte que não era tão íntima assim para lhe dar conselhos. Todavia, ele ficou reflexivo por alguns segundos.

Abraço-o e Louis correspondeu.

—Tem um filme legal que eu pensei pra vermos hoje. Já assistiu Inside out?

— Aquele que fala das emoções? Eu ainda não vi...

— Quer?

— Acho que quer que eu entenda as minhas emoções, não é? Para eu não dar mais trabalho a ela ou ao meu tio. Eu não odeio a Susan... Ela é só... Irritante e eu me sinto burro o tempo todo.

Caroline assentiu, era difícil realmente esconder as coisas dele.

— Temos que entender nosso coração para resolver os dilemas dele, Louis. E na verdade, o meu objetivo é te ajudar a encontrar um caminho para se sentir melhor... Não quero te controlar. — Riu quando ele fez uma careta. — Vamos pensar num jeito juntos de te ajudar... Pensando nesses termos não pareço tão mau assim, não é?

Ele balançou a cabeça, divertido e sorridente de novo.

— Você não é má, Carol... Sempre sabe o que fazer com as suas emoções?

Caroline mexeu a cabeça e pensou em Giuliano sendo atendido no andar de baixo.

— Nem sempre... Mas é preciso tentar. Ou elas que vão nos dominar.

***

Apesar de realmente animado, Louis apagou depois do leite, dois biscoitos e uma hora de filme no andar de cima. Caroline colocou o cobertor sobre ele e o observou um pouco enquanto dormia, deixando-se finalmente cair em lágrimas.

Antes de se render ao sono, Louis olhou para uma foto na estante ao lado da cama e sorriu, como um cumprimento que parecia rotina. Caroline reconhecia a mulher na imagem. Era Bianca Bocarelli. A mãe dele. Sentiu pesar sobre Bianca e sentiu-se privilegiada demais. Estava tendo a visão que certamente ela sonhou em vida e aquilo lhe angustiou.

O que Bianca pensou quando percebeu que não estaria lá para ele? Era óbvio que ela tinha expectativas. Como lidou em saber que não viveria isso com Louis? Havia como lidar com aquilo? Com aquela separação tão prematura?

Certamente não havia.

Olhou por alguns segundos para aquela imagem e a admirou. Bianca era, sem sombra dúvida, a mulher que mais admirava naquele exato momento. Ela havia posto no mundo aquela criatura carinhosa, divertida e complexa que muito gentilmente aceitou seus pitacos e lhe olhava com tanta admiração que parecia quase irradiar felicidade.

Ele realmente estava feliz do seu lado. Era responsabilidade demais ter tanto afeto e expectativa dirigida a si.

Teve medo de dizer ou fazer qualquer coisa que o decepcionasse. Não sabia como, mas havia conquistado a confiança dele e precisava mantê-lo seguro. Então se deu conta de que ele estava lhe conquistado primeiro. Foram precisos mais alguns minutinhos de contato direto para que ele ocupasse e invadisse seu coração de uma vez por todas.

Louis deveria ter algum tipo de magia, fofura... Não sabia mais. Poderia passar horas brincando e conversando com ele. Era fácil se apaixonar por ele. Então o medo de causar algum tipo de mal lhe abateu.

— Meu Deus...Eu não sei se fiz alguma coisa certa agora. Ele está sofrendo e eu tentei ajudar, e eu não sei se disse o que o que era melhor. Talvez ela soubesse mais... Acho que ela saberia o que dizer, não é? Ele sente falta dela... E nada vai suprir essa falta, nunca.

Quando era criança via filmes ou novelas e em alguns deles crianças acabavam perdendo a mãe e aquilo lhe deixava de olhos marejados. Era aquele momento que olhava para Lúcia e refletia que não podia fazer nada sem ela. Não conseguia se imaginar sem uma mãe, era impossível, totalmente desesperador.

Quando começou a pensar sobre a maternidade a ideia de não ver o próprio filho crescer era angustiante. Como viver toda aquela expectativa para ter que deixa-lo sozinho? Sem ter ideia se teria amor ou amparo? Ele tinha Giuliano, que era claro que o amava e fazia qualquer coisa por ele, mas e se não. Doeu só de pensar em vê-lo sozinho.

Acariciou as bochechas dele por alguns minutos. Os cabelos enrolados e escuros se espalhavam no travesseiro branco.

— Parece uma pintura de tão lindo... — Beijou-o na testa e depois ele resmungou um pouco algumas coisas e relaxou. Sorriu um pouco com a expressão emburrada dele enquanto dormia. — Acho que eu vou te roubar do seu tio por umas horas depois de hoje.

Desceu as escadas com cuidado para não fazer barulho e voltou para o térreo secando as lágrimas.

Giuliano tinha deixado a porta do quarto um pouco aberta, então quando passou pelo corredor para deixar os pratos sujos na cozinha, o viu deitado de olhos fechados. O médico colocava algumas coisas na mesa de cabeceira.

— Obrigada por vir... — Ele disse abrindo os olhos e vendo-a na soleira. — E Louis?

Caroline se assustou realmente, sem qualquer efeito romântico, e colocou a mão no peito. Aparou-se na porta.

— Ele dormiu... Vimos um pouco de filme antes. Escovou os dentes, lembrei-me disso antes que ele capotasse. Precisa de algo? — Giuliano negou. Atentou-se ao médico. — O que o senhor diz?

— Vou deixar o meu número para que me deixem informado. Ele precisa fazer alguns exames para poder ver a necessidade real de internação... Mas só conseguirá realiza-los amanhã. Deixei as receitas e os remédios ali. Deixe-me informada, senhorita...

— Martins. Caroline Martins.  Sabe o que ele tem?

Giuliano se intrometeu antes que ele falasse demais:

— Deve ser uma gripe. Deixamos o senhor informado. O agente vai leva-lo até a saída.

O médico saiu e Caroline continuou na soleira da porta, observando o estado de Giuliano. Ele não parecia muito melhor.

— Louis não costuma acordar durante a noite. Acho que posso cuidar de tudo a partir de agora... Pierre e Sarah são fatalistas.

Caroline piscou várias vezes, envergonhada por ele notar a sua intenção de ficar. Explicou-se em seguida para que ela não entendesse aquilo como uma atitude ingrata de expulsão.

— Não quero abusar da sua boa vontade... Não precisa cuidar de mim.

— Ah... Não se preocupe. Seu agente, o francês legal, me pediu para ficar de olho em você.

— Vou ficar bem.

Caroline cruzou os braços, compreensiva.

— Você precisa de alguém para te observar. Eu sei que é chato que seja eu, mas não tenho qualquer outra intenção que não ajudar. Isso não é uma gripe normal... Está com febre ainda, mesmo com o remédio que eu dei e com o que o médico já passou. Só uma infecção bem grave faria isso com um homem desse tamanho.

Seus modos tão sinceros o fizeram rir.

— Eu agradeço a preocupação, por mais que eu não concorde com ela.

— Tem alguma toalha por aqui? Não sei se ajuda, mas vou tentar o que sei.

Giuliano apontou para o banheiro e Caroline imaginou que estariam em algumas das gavetas. Molhou a toalha com á agua fria e voltou pra o quarto. Ele estava dormindo. Estranhamente dormindo. Deveras estranho para um sujeito que até então parecia bastante acordado. Testou sua pulsação por desconfiança e colocou mais uma vez a tolha em sua testa.

Estava cansada, sabia que estava. Emocionalmente, psicologicamente e fisicamente cansada. Resguardar seu coração de reações inesperadas e conter seus atos de maneira tão racional pesava.

Sentou na cadeira da mesa de escritório que havia há alguns metros da cama e o observou dormir por minutos a fio. Atenta a cada estranheza daquele sono. A tosse continuava do mesmo jeito. Mas ele dormia.

Giuliano era um homem corpulento, grande, realmente elegante e com ares aristocráticos. E, é claro, saudável. Com uma rotina rígida de treinos e uma alimentação que beirava ao minimalismo. Uma coisa boba como um resfriado não o deixaria tão decaído. Ele não tinha razões para morrer, ainda mais tão jovem.

Nem sabia a razão de estar tão apavorada e menos ainda de estar pensando em algo tão grave, todavia, estava temendo por aquela febre que não cedia de jeito nenhum. Giuliano parecia esconder algo mais, e talvez, escondeu até do médico.

Sabia que ele iria acordar em pouco tempo porque seu sono febril começara a se agitar então foi até a cozinha e preparou um sanduíche. Não o viu comer desde que chegou e ele precisaria de algo um pouco mais nutritivo.

Quando voltou ao quarto ele estava acordado. Sua respiração era ruidosa e a tosse extremamente grosseira. Seus instintos lhe traíram quando ele tentava sentar na cama para respirar e quando deu por si já estava com as mãos nas costas dele, o ajudando a completar o ato de levantar.

— Giuliano, eu vou te levar para um hospital, queira você ou não.

— O que é isso?

— Um lanche. Coma alguma coisa.

— Não estou com fome.

— Vou ligar pra o número de médico!

— Está exagerando.

— Quando comeu pela última vez?

— Todos esses remédios me deixaram sem apetite.

— Quando?

Ele suspirou derrotado.

— Acho que comi algo era dez ou onze da manhã.

— Coma. — Apontou de novo para o sanduiche. — Por favor. Por você, pelo Louis, por qualquer coisa que considere na sua vida. Mas coma alguma coisa. Nunca imaginei que estaria te obrigando a comer. Logo você!

Giuliano obedeceu. Teimoso, resmungou, mas comeu, agradecendo mais uma vez. Caroline pegou a louça suja e colocou na estante. Estava desconfortável com o silêncio, mais ainda com ambos olhando para o teto. Então ela se atentou as manchas roxas no rosto dele, estavam fracas, como se cobertas por maquiagem.

Mexeu na toalha e esfregou com mais força nas bochechas. Giuliano segurou no seu braço, mas era nítido que as maças do rosto estavam machucadas.

— Entrou numa briga...

— Não.

— Não foi uma pergunta, isso foi uma afirmação. Quem te bateu desse jeito? — Giuliano segurou seu braço novamente quando esfregou mais o tecido por seu rosto. — O que foi isso?

— Nada que eu não tivesse merecido, desafortunadamente.

— Por que? — Esfregou os cabelos, assustada. Giuliano parecia calmo demais, mais irritado com as suas perguntas do que com os prováveis socos. — Você não é das pessoas mais pacíficas, mas certamente não entraria numa briga!

— Você não deveria se preocupar tanto comigo. — Fez uma careta quando ela tocou a curva da mandíbula. — Podemos arranjar outro assunto para falar que não seja isso.

A expressão dele a fez concordar, mesmo que contra vontade. Respirou fundo para começar o primeiro assunto que veio na sua cabeça, a continuação da conversa sobre Anita. Olhou para o lado e ele ainda estava acordando. Não era sinônimo de atenção, mas ao menos tentou o distrair e se distrair. 

— Minha mãe nunca me deixou ter animais de estimação...  Lembrei-me disso quando falou da sua égua.

— Por quê?

— Ela dizia que a decepção de perder um animal de estimação é muito grande, achava que eu me apegaria demais e não queria que eu passasse por essa dor. Então, nunca me permitiu ter. Eu sempre chegava com algum bicho, mas ela sempre entregava a algum amigo da família, a tios... Arranjávamos um lar, mas nunca o nosso.

Giuliano refletiu um pouco e virou completamente para olhá-la. Caroline tinha os olhos brilhantes perdidos nas lembranças pessoais naquela penumbra da pouca iluminação do quarto. Seu corpo pequeno era quase engolido pela cadeira.

Não era confortável, mas ela estava ali.

— Ter um animal ensina sobre a finitude da vida, geralmente vivem menos do que nós. Talvez isso tenha te privado desse ensinamento. Essa atitude da sua mãe, digo.

Giuliano notou no fim do próprio comentário que também não respeitava a finitude da vida. O fim, o adeus. Não aceitava tanto quanto Caroline, ou qualquer pessoa, deveria não aceitar. Nada preparava uma pessoa para dizer adeus.

— Nunca tinha pensado por esse lado...  Talvez eu tenha dificuldade de encerrar ciclos, mais do que outras pessoas.

— É irônico... Mas creio que eu também não. Giovana... Giovana era a pessoa mais forte que eu conheci... Eu gostaria de ter tido mais um dia com ela... Se a morte era o realmente o único destino possível, inevitável, que eu tivesse mais um dia. Bianca... É egoísta se pensar no quanto eu queria e precisava que ela estivesse aqui.

Os olhos dele estavam foscos novamente. Como no dia que o viu em Siena. Giuliano não conversava isso para ninguém, era nítido pela forma como as palavras saíram. Nem ele acreditava que estava se permitindo sentir vulnerável.

— O que faria? Por elas duas.

— Eu chamaria a Giovana de mãe... — Umedeceu os lábios, olhando para o teto. — Realizava-a. E eu raramente o fazia. Achava desrespeitoso com ela, comigo, com tantas histórias. Diria que eu a amo e faria qualquer coisa para dar a ela a vida feliz que ela merecia, nem que para isso eu tivesse que sacrificar a mim mesmo. Eu tinha dito tantas coisas para Bianca, mas nada faz mais sentido do que dizer que ela não tinha culpa sozinha e que eu a amava, ainda amo, não do mesmo jeito, mas a amo e isso não mudaria por mais que ela tentasse ou eu mesmo quisesse.

Abriu a boca para respirar mais profundamente e assentiu. Era aterrador. Não conseguia compreender completamente a relação entre ele e Giovana, mas sempre ouviu dele e de todos que era como uma mãe. De Bianca, sabia pouco sobre a relação dos dois, o suficiente para entender que eles eram perfeitos um para o outro e que não foi por muitas vezes o mar de rosas que eles certamente planejaram que seria.

E ele não estava nada confortável com isso, mesmo depois dos anos.

— Você se cobra muito por Giovana... Ela teria orgulho de você por muitas coisas. Não é perfeito e ela sabia disso, sabia das suas potencialidades mesmo reconhecendo suas fraquezas.  Deus sabe disso também. Se prender aos problemas não vai fazê-los desaparecerem Giuliano.

— Não, ela não teria.  Ninguém teria. — Giuliano a olhou, como se passasse para ela a vez. — E você? O que diria para alguém que perdeu?

Caroline esfregou os olhos, atordoada. Ele tinha dividido algo de si, talvez fosse justo doar algo também.

— Meu avô... Eu faria uma visita a ele... — As lágrimas se soltaram tão espontaneamente que mal se deu conta delas. — Diria para não ir naquela casa. Que eu ficaria bem e não importa a dor que tive, se ele tivesse ficado, ele teria me ajudado de uma forma que ninguém mais faria. Mas se ele tinha que ir embora e por minha causa, que fosse pelas maiores alegrias que eu pudesse causar pra ele, não pelas tristezas.

Ele tinha os olhos brilhantes atentos.

— Do que o seu avô morreu?

— Problemas cardíacos... Causa oficial. Mas morreu com sentimentos terríveis de injustiça, raiva e tristeza. Não queria que ele tivesse partido assim.

Giuliano secou uma de suas bochechas.

— Sempre me ouviu falar dela... Precisar dizer sobre você ou vai se sufocar. Arrependo-me de não ter sido um bom ouvinte, mas é justo que eu me esforce.

Não sabia o que tinha, mas não podiam continuar.  Estava indo longe demais.

— Nós dois sabemos que você realmente não é um bom ouvinte... E não é sua culpa. Arrependimento é mudança e nem sempre estamos prontos pra ela... Isso leva tempo e não era o nosso. Desculpe, não consigo confiar em você. Quer ajudar, mas eu não consigo me sentir segura.

Giuliano preferia que ela lhe culpasse de uma vez, mas ela tinha um jeito estranho de esfregar certas verdades na sua cara, um jeito que lhe responsabilizava sem ofender. Caroline levantou atordoada e recolheu o tecido que deixou cair.

— Vou pegar outro cobertor pra você, trocar essa compressa e lavar a louça.

Evitou olhar nos olhos dele enquanto o entregava o cobertor e molhou novamente a toalha e saiu do quarto.  Sentia vergonha e imaginava que ele também. Lavou cada louça com uma vagareza surreal e ainda foi até o andar de cima para verificar Louis, retornou e Giuliano ainda estava acordado.

— Perdeu o sono? — Brincou, completamente sem graça de estar ali.

— Eu não sei mais se estou dormindo ou acordado. — Olhou para os próprios braços.

— Se chama delírio.

Ele não esboçou surpresa.

— Louis perguntou alguma coisa?

— Não. Eu fui vê-lo. Está dormindo como um anjinho. — Sorriu ao lembrar os cachos bagunçados e da expressão emburrada. Se estiver sonhando seria certamente com uma briga, pois estava irritado, como o deixou. — Um anjinho irritado.

Viu alguma dose de animação nele.

— Louis faz umas caras emburrada enquanto dorme. Desde bebê. No primeiro dia que nasceu já esboçava essas reações.

— Passou realmente a primeira noite com ele?

Giuliano fez que sim. Provavelmente sua torcida mental para que ele falasse um pouco mais sobre a primeira infância de Louis deu certo, pois ele começou a falar em seguida:

— Eu o vi nascer... Ele dormiu no meu colo por horas. Eu mal sabia segurar um bebê direito, mas não o soltei. — Sorriu, nostálgico.

“ — Olhe essa boquinha... — Bianca tocou os lábios finos do bebê. O rosto estava ensanguentado mas era óbvio que não havia qualquer preocupação com aquilo naquele momento. — Ele é lindo... Muito mais do que eu imaginava.

Giuliano não sabia o que fazer, se o tocava, se deixava a interação entre os dois prevalecer ou se eximia, mas não queria aquilo completamente, queria tocá-lo também. Bianca pareceu adivinhar seus pensamentos, como sempre, e sorrindo lhe apresentou para o menino. Ele estava desinteressado demais para lhe dar grandes atenções.

— Esse é o Giuliano, Louis. O que acha dele?

 O parto não era uma experiência visualmente agradável, mas sem dúvida era bonito, e as imagens de quando o médico disse: “bem vindo, Louis” ainda se repetiam em sua mente quando abaixou um pouco para olhá-lo de frente.

Os olhares se encontraram e toda a vergonha que sentia esvaiu-se. O coração acelerou e um sorriso espontâneo surgiu em sua boca. Uma onda borbulhante de um sentimento estranho lhe preencheu.

Não importava de onde ele viera e nem o que havia se passado antes dele, aquela criança simplesmente havia lhe roubado qualquer espécie de rancor ainda restante, havia retirado as suas angústias atuais e mesmo com os mais genuínos dos medos de machuca-lo, o tocou. Protegeria aquela criatura de tudo de mal que existia no mundo, em si, em qualquer lugar.

— O que foi? Por que fez essa cara? — Ela riu, fracamente, mas riu da sua cara.

— Ele... Ele... Sente a mesma coisa que eu? — Apertou o peito, sem retirar os olhos do menino. — Você sente isso?

Bianca mexeu um pouco a cabeça para dizer que sim e o seu sorriso amoroso para o menino realmente confirmou o que pensava.

— É amor. Eu o sentia em pequenas doses, que achava que eram muitas. Mas, agora... Agora é muito maior.

— Tem certeza que é amor?

— Completamente. Você sempre o amou, Giuliano. Desde o momento que me viu grávida. Mas é diferente que ele está aqui, tão presente.

— Eu... — Queria dizer que sim, mas não sabia muito bem como formular um raciocínio com aqueles olhos lhe observando tão tranquilos. Ele estava seguro, queria manter aquilo para sempre.  — Ele... Eu nunca pensei em... ter um filho e...Parece que o mundo não fazia tanto sentido antes dele.

Bianca concordou acariciando os cabelos dele.

— Quer segurá-lo?

Olhou para o médico e ele confirmou que podia, uma mulher lhe ajudou a se posicionar para coloca-lo em seu colo. Louis reclamou um pouco, mas Bianca pediu que falasse com ele, que dissesse alguma coisa e ele lhe reconheceria.

— Ela diz que você vai reconhecer minha voz... Espero que ela esteja certa, mesmo sem saber como. Sou eu, o papai... Eu mal sei como te segurar, mas eu aprendo rápido... E eu farei qualquer coisa para te proteger, para cuidar de você... Não sou uma boa pessoa, mas te ajudarei a ser melhor que eu.

Louis parou de resmungar aos poucos, a medida que conversava com ele.

Dizer aquelas palavras fez Bianca soluçar e derramar algumas lágrimas. Toda a discussão sobre ser justo ou não ser pai de um bebê que não tinha seu sangue simplesmente desapareceu. Ele precisava do pai e havia um providencialmente disposto a ser. Não se tratava mais das suas culpas ou erros, mas do futuro do seu menino.

Só notou que ela chorava quando ergueu o rosto ao sentir as mãos geladas dela em seus pulsos, chamando sua atenção.

— Obrigada, Giuliano... Obrigada por sentir amor pelo meu filho. Por dividir isso comigo.”

Louis nunca deveria perder aquele olhar angelical que viera ao mundo e o amor que sentiu naquele momento parecia ter se infiltrado em cada célula de seu corpo. Era como recarregar as energias, mesmo quando ele mesmo as vezes as tirava correndo pelo escritório, pela casa, derrubando cada móvel possível e fazendo perguntas. Ela aprendeu a falar rápido e as perguntas só evoluíam, algumas sequer sabia responder.

— Eu não vejo razão de que ela dissesse obrigada por amar o Louis. Quem não o amaria? Eu seria um tolo muito maior do que sou se não o amasse.

Caroline concordou visivelmente emocionada. Sua mente lhe presenteou pelos relatos tão detalhados de Giuliano com aquela cena. Como se estivesse lá. Sentia atmosfera de amor que houve ali somente pela fala dele. Pensou se Bianca estivesse ali. Certamente a vida seria bastante diferente e completamente melhor. Não haveria alguns vazios que se formaram quando ela partiu. Era a vida dos sonhos dos três, a que certamente os adultos daquele relato sonharam naquela sala do hospital.

— Eu tenho pensando nela esses dias... — Ela se atropelou para se explicar antes que isso gerasse um mal estar. — Como a mãe dele, entende? Como ela se sentiria se estivesse aqui e pudesse ver tudo o que ele é.

— Eu penso nisso todos os dias. — Tossiu mais uma vez. — Eu nunca tinha pensado com clareza em ter filhos antes e eu sabia que ela tinha esse plano a longo prazo... Enfim — Ele balançou a cabeça para manter algumas coisas somente para si mesmo. — Mas quando a vi com ele nos braços eu soube que ele não poderia ter uma mulher melhor como mãe... Então tempos depois eu me vi sozinho com ele, eu tinha medo... Não podia oferecer pra ele tudo o que eu queria e menos ainda o que ela sonhava.

— E um ótimo pai. Ele te ama e você é dedicado. É o pai ideal pra ele, independente de outros problemas que tenha. Você se esforça pra superar os seus erros e cuidar dele.

Ele agradeceu quieto, sentindo certo torpor enquanto ela falava. Caroline tinha um jeito de falar que as vezes que lhe causava um efeito hipnótico.

— Me dói um pouco vê-lo me chamando de pai só as vezes... Eu passei a entender um pouco... — Parou de falar. Já tinha falado muito sobre sua relação com Giovana. Uma hora ou outra ela teria dúvidas demais e se poria em risco por elas. Estava um pouco grogue, mas não o suficiente para incorrer nesse erro. — Mas eu o entendo. Aprendi a apreciar o “tio” com uma satisfação semelhante.

— Sabe o que eu não entendo Giuliano? — Ela mudou de assunto de repente e o ar se modificou. Giuliano sentiu, pois se ajeitou na cama, sério. — Quando namorávamos uma conversa dessa nunca seria possível. Acho que nosso ideal é ser amigos, mais do que qualquer outra coisa.

— Acho que sou eu. Aqui eu te vejo mais como você... Não como uma obrigação...

— Obrigação? — Vincou a testa e se virou completamente. Giuliano tendia para dormir novamente. — Fala pelo relacionamento? Se sentia pressionado?

E mais uma vez ele dormiu, lhe deixando sem respostas claras. Talvez fosse ser exigente demais esperar coerência demais de um sujeito com uma febre tão alta. Caroline trocou a toalha e sentou na beirada da cama para colocar o termômetro só para ter certeza das suas suspeitas.

39,0 °c.

Mandou mensagem para o médico, que retornou avisando que provavelmente o antibiótico não teria um efeito tão rápido e que continuasse monitorando. Voltou para a cadeira e esperou que ele acordasse e falasse qualquer coisa, todavia isso não aconteceu.

Ouviu-o falar seu nome algumas vezes, achou que ele estivesse acordando, todavia não passava de sonhos febris.

Perguntou-se o porquê daquelas falas, mas cessou suas teorias para que elas não alcançassem partes da sua mente que não deveriam ouvir aquilo e caiu no sono de maneira improvisada naquela cadeira.

***

— Caroline...

Acordou um pouco desorientada. Seu corpo pesava e os ombros doíam.  A princípio achou que fosse mais um dos delírios, mas os olhos dele estavam abertos. Ele parecia angustiado com algo e se esticava na cama para lhe tocar, mas não se erguia completamente. Parecia fraco demais para aquilo.

— Está sentindo mais alguma coisa?

— Vem aqui... — Colocou a mão livre na beirada da cama, com pressa. —Por favor, Caroline.

Obedeceu somente para que ele parasse de causar mais a dor a si mesmo se esforçando tanto.

Os olhos dele estavam vermelhos pela febre e por algumas lágrimas que não sabia se era de tristeza ou de dor.

Ele não se permitia sofrer mais do que aqueles a que causou sofrimento. Sua culpa não poderia ser maior que a dor deles.

— O que quer me contar? — Olhou-o com alguma dose de ternura. — Você é um sujeito engraçado quando está doente. Fala mais doente do que quando está bom.

A expressão de Giuliano carecia de algum nível de compreensão.

— Você ainda não foi? É um sonho? Ou morri?

Riu um pouco com a expressão suplicante dele. Julgava-se a pior das criaturas por caçoar do nível delirante que a voz dele soava.

— Não morreu. Estamos conversando, então eu teria morrido também.

— Você não pode morrer... Você tem tanta coisa pra viver, ter... Merece tudo de bom que puder... Não pode morrer... E nem eu. Não agora. — Apertou um pouco os olhos. — Eu não posso morrer com tanta angústia em mim. Se há algum prazer na morte é que ela dê liberdade, mas não serei livre penalizando os outros... Eu causei mal  em toda a minha vida. Se eu morrer...  — Hesitou. — Se eu morrer eu não quero deixar um mal com você. Não merece viver presa a dor que eu causei.

— Eu já te perdoei. Se isso assombra a sua consciência, você está livre.  — Ele precisava de paz para descansar a mente ou seria muito mais difícil que ele se restabelecesse.

Não o pouparia desse alívio.

— Eu tenho muitas contas em aberto na minha vida...

 Recusava-se a pensar no que ele inferia, aterrorizada.

— Graças a Deus que não é de dinheiro porque eu realmente não posso pagar para te ajudar.

Falou espontaneamente, uma tentativa de brincar para pará-lo, mas suas próprias lágrimas saltaram dos olhos. Não estava funcionando. Não como queria. Giuliano falando de morte, daquele jeito, com uma mistura de angústia e alívio. Era assustador. Ele não deveria pensar assim. Viver para ele parecia pesar absurdamente e se dava conta ali das razões para tantos de seus comportamentos distantes.

Giuliano talvez não se esforçasse para se doar para as pessoas porque não considerava ninguém bom o suficiente, ou pior, ele mesmo não se considerava bom o suficiente em nada. O que era absurdamente estranho em um homem com tantas qualidades. Ele tinha tudo e ao mesmo tempo não tinha nada.

As muitas tempestades que encontrava nele eram as muitas tentativas de salvar a si mesmo com as próprias forças.

Giuliano ameaçou rir da sua intromissão impertinente, mas não o fez, só parou um pouco para respirar e continuou:

— Eu estava cego pela raiva... Eu queria te culpar por coisas que estão longe de serem culpa sua. Era o meu filho e eu sequer o vi ou sabia de sua existência. Eu não estava lá e nunca estive e queria culpar alguém... Estava cego pelas minhas próprias obrigações. Perdoe-me por atingir suas feridas da maneira mais cruel possível, eu queria... Mas isso não faz sentido nenhum agora... E eu errei. Não tenho esse poder de consertar... Nada me justifica... — Parou para tossir de novo. — Quão baixo eu fui para te infligir dor e esquecer a minha... Eu te culpei por dores que eram minhas... Eu era o responsável por lidar com elas, ninguém mais.

Apertou um pouco as mãos dela e cobriu o rosto ao virá-lo para travesseiro em mais tosse. Durou pouco, o desespero para falar era maior. Caroline não sabia se tinha fôlego emocional para ouvir tudo, mas não podia ignorá-lo.

— Eu sabia que poderia acontecer. Eu ignorei o que o serviço secreto falou... Eu achava que nada aconteceria, eu estava tão ocupado comigo mesmo que quase as matei... Eu quase as matei. — Mexeu nos cabelos, atordoado e delirante. — Enquanto todo aquele inferno acontecia aqui, eu sabia, de algum jeito eu já sabia. Entende o que é sentir algo que não acontece na frente dos seus olhos? Eu sabia... Eu sabia... Mas algum de nós merece algum tipo de paz... Merece realizar esse sonho maternal que sinto existir... 

— Meu Deus, essa culpa não foi sua! Pare de carregar o peso do mundo sobre as costas! Pare de falar, está piorando!

Afagava as costas dele com uma veemência desesperada.

Ele divagava algumas coisas que não faziam grande sentido, e se fizessem, serviriam somente para ele mesmo porque para si não significavam nada. Giuliano deixou o rosto cair em seu colo e sentia a dificuldade que ele tinha de continuar a respirar.

Ele negou de novo. Convencido da própria responsabilidade.

— Eu achava que se saísse da minha vida eu ficaria feliz... Eu acreditava nisso... Mas você criou um espaço e o ocupou e ele vai ser sempre seu... Arranjou um jeito de tomar a minha vida deprimente... Virou ela de cabeça para baixo. Eu quero que vá, mas se você for... Eu vou me culpar por ter feito tudo o que era possível para a desgraça acontecer. Não é culpa sua... Eu estraguei tudo... E eu nem deveria sentir culpa se eu fiz isso o tempo todo, se eu te machuquei de propósito.

A voz falhava e as palavras se embolavam em mais coisas sem nexo depois daquilo, se é que era possível ficar pior. Ele gastou todas as forças, esgotando-se. Então dormiu novamente.

Caroline achou que ele tivesse morrido e o sacudiu. Giuliano não respondia a suas batidinhas, mas a respiração dele finalmente se acalmava. O rosto dele dessa vez parecia tranquilo. Ele falou tanto e no final lhe explicou tão pouco. Ajeitou-o no travesseiro e só quando saía da cama notou que ele segurava sua mão de maneira firme, impedindo que saísse.  Como uma espécie de reflexo.

Olhou para frente e depois para ele.

Queria gritar com ele, mas honestamente, não tinha ideia do que dizer. Giuliano lhe deixou sem palavras quando ele mesmo não conseguia expressar as suas. Era tudo o que o seu coração ferido precisava para ver em Giuliano alguém que sentia muito mais do que expressava, para encontrar nele as expectativas que definhavam para morrer.

Tentou não alimentá-las, fez o que podia por minutos a fio para não dar alimentos para seus devaneios. Mas elas estavam lá, lhe comiserando por dentro, lhe fazendo chorar mais uma vez lágrimas que prometeu não entregar mais pela mesma coisa. Deixar as esperanças morrerem era um trabalho árduo e ali, contra a sua própria vontade uma parte de si já as tinha ressuscitado, aliviando a dor.

Queria odiá-lo.

Talvez fosse mais fácil de deixar de querê-lo se assim fosse, mas não conseguia. Ele não fazia de propósito, era nítido que ele lutava para evitar lhe causar mais dano, e isso era o pior de tudo.  

Ele era vítima de si mesmo e nenhum ser humano poderia ajuda-lo.

Estava diante de uma fraqueza que não podia lidar muito mais que a dele, a sua própria.

Deitou ao lado dele, no espaço vazio que ele sempre deixava, numa certa distância, sem opção emocional para fazer mais esforço.  Adormeceu também, apática demais para resistir ao cansaço e ao sufocamento de tantas emoções que extravasavam ao mesmo tempo.

***

“Giuliano olhou para os lados se questionando em que lembrança estaria de novo, entretanto não conseguia reconhecer o local. Ali podia respirar profundamente sem aquela perfuração desgastante nas costas. Poderia ser sonho. Entretanto, tudo era claro, não havia névoa alguma, as cores vívidas e podia tocar nos móveis se quisesse.

E o fez. Apertou um aparador no corredor e pegou em um vaso cinza.

Era real? Podia ser?

Atentou-se aos barulhos de onde estava, havia sons de possíveis de diálogos mais longe, todavia, ali estava vazio. Começou a andar no corredor, procurando uma saída ou algum som que lhe indicasse alguma coisa, entretanto, só conseguia perceber o silêncio.

De dentro de um cômodo ouviu algo que parecia claramente choque entre plásticos. Parou na porta, perdendo um pouco da educação e o barulho se repetiu, dessa vez com uma derrubada desses ditos plásticos no chão.

Aquilo chamou mais sua atenção do que normalmente chamaria.

Abriu um pouco da porta e colocou uma parte da cabeça para dentro do cômodo. Seus olhos focaram imediatamente na criança sentada. Uma bebê que em sua experiência deveria ter na faixa do primeiro ano de vida.

Ela parecia muito curiosa com sua presença, exibindo uma emoção que mais parecia admiração. Ela tinha os olhos escuros grandes, direcionados para si e os lábios entreabertos com um suave sorrisinho.

Olhou ao redor e viu uma cama de solteiro e uma estante com espelho na frente dela. O cômodo parecia grande demais para tão poucos móveis. Não havia nada infantil, além dos brinquedos de montar que ela tinha entre suas perninhas.

Quem deixava uma criança daquela idade sozinha era no mínimo irresponsável.

A menina continuava lhe observando admirada e retribuiu com um sorriso um pouco daquela tamanha atenção.

— Qual é o seu nome?

Ela sorriu mais e seus dois dentinhos de cima se mostraram, mas não houve resposta. Tinha que tentar outra abordagem. Ela era pequena demais para sua aspereza.

Analisou-a um pouco mais e se atentou aos traços delicados de seu rosto. Havia algo de conhecido, mas não conseguia identificar exatamente o que era. Afinal ainda era muito pequena para isso.

Os cabelos eram levemente cacheados e havia duas ligas dividindo-os na parte de cima da cabeça. Estava de short verde e uma blusa com elástico na cintura de cor creme e detalhes da mesma cor do short. Estava com uma sandália com elástico que já se soltava de seus pezinhos.

As bochechas eram gordinhas e as pernas e braços faziam dobrinhas. A boca demonstrou ter mais dois dentes na parte inferior quando ela sorriu mais abertamente ao chegar perto.

— Meu nome é Giuliano. Por que está sozinha aqui? — Abaixou para se aproximar.

Ela murmurou algo e soltou o ar com os lábios, apertando os olhinhos ao se concentrar nos blocos de somente um encaixe. Ela estava trabalhando duro em erguer sua torre de blocos, todavia ela desabou.

A menina pegou um bloco azul e colocou em suas mãos.

— Quer que eu brinque com você?

— Papa...Papa

Colocou o bloco acima do que ela havia começado e ela gargalhou. Interpretou aquilo como sim. Ela queria que brincasse. Estava intrigado com ela, mas a menina estava distraída demais lhe dando blocos e continuando a torre com a sua ajuda, não quis atrapalhar seu trabalho árduo.

A persistência era o caminho do êxito, e ela sabia disso, pois por duas vezes ela derrubou a torre descoordenando suas mãozinhas no momento de colocar o próximo da fila. Via uma ruga na testa se formar quando a queda acontecia, mas ela seguia. Não ousou sair de onde estava e quando conseguiu colocar a última peça das oito, ela comemorou com palminhas desajeitadas e gritinhos satisfeitos.

-- Parabéns! — Acompanhou sua animação contagiante.

Aquela menina tinha o dom de lhe fazer esquecer onde estava e que precisava encontrar alguém para cuidar dela. Era bom estar ali. Recordou Louis naquela idade diversas vezes enquanto brincava com ela. Então se deu conta que a festinha e a concentração fizeram uma dívida de sono, e ela piscava demoradamente.

Achou por um segundo que as pestanas longas enganchariam uma na outro e ela cairia para trás. Colocou-a sobre as pernas e ela se aconchegou completamente adaptada em seu peito.

— Eu realmente preciso saber quem são seus pais...

Ela começou a alisar seu braço, passando os pelos de um lado para o outro, como se aquilo a relaxasse de algum jeito. Por um minuto pensou em não tirar ela do seu colo, não devolvê-la a ninguém. Ela estava tão placidamente aconchegada que pensou no desconforto de entrega-la.

Além de simpática ela deveria ser carente de atenção, pois só assim para um pouco de aconchego lhe causasse tamanha adaptação. Encostou os lábios na testa da menina e o cheiro de shampoo infantil lhe preencheu.

Apreciava dar colo a Louis quando ele tinha aquela idade, ou qualquer outra, e sentia falta daquela pequeneza em seus braços. A menina começou a colocar mãozinha agora em sua camisa de moletom de algodão e a passa-las nessa nova textura.

Olhou-a nos olhos, mais atentamente e a conexão imediata que sentiu lhe deu um choque interno. Um arrepio, susto. Não soube definir com clareza. Sentia o coração bater intensamente junto com uma sensação transbordante de afeto. Ela começou a resmungar tranquila em seu peito, esfregando o rosto na camisa e lhe olhando depois.

— Não consegue dormir querida?

— Papa... — Choramingou.

— Quer o seu pai?

— Papa! — Balançou a cabeça e fez um biquinho marrento.

Estava dando o melhor de si e ela ainda buscava o pai que havia a abandonado. Instintivamente não gostava da ideia de que ela procurasse por um suposto pai. Caiu na racionalidade que sentir ciúme era ridículo. Principalmente de uma bebê que não era sua e acabara de conhecer.

—Papa! — Insistiu o olhando um pouco chorosa.

A maior prova da negligência que ela sofria era chamar um desconhecido de pai. Aquilo o colocou no limite. Apertou-a com mais força, decidido a levantar e leva-la dali independente de qualquer coisa.

E a voz aguda e carinhosa dela instigava mais ainda o seu afeto. Se ela dormisse naquela posição não seria capaz de acordá-la. Vê-la chorar deveria ser uma coisa tenebrosa. Ver Louis chorar o partia em dois e com ela sentia que chegaria a mesma sensação.

— Seus pais são monstros... Como podem deixar você sozinha? — Acariciou o rostinho emburrado.

— Papa...

Ela tinha um biquinho de choro. Estava amuada.

— Por favor, não chore. — Beijou os cabelos dela repetidamente.  — Vou ficar com você. Eu infelizmente não sou o seu papai... Mas eu não vou te deixar sozinha.

Segurou a mãozinha dela por alguns segundos e a agitação dela diminuiu. Os olhinhos se fechavam em intervalos maiores. Observou, ansioso, a batalha contra o sono acabar quando tudo mentalmente se encaixou.

O olhar admirado, a facilidade em se aconchegar, e o papa quando chegou ao cômodo. Apertou-a um pouco mais desesperado por manter aquela sensação ali. Ela e tudo ao seu redor estavam desaparecendo e só tinha o escuro e barulhos que pareciam ser de Sarah. Não queria ir, não queria deixar que ela fosse embora.

—Espere, só mais um pouco... — Implorou sem nem saber a quem. — Como demorei tanto... Você é minha. Meu Deus. Eu sou o seu pai.

Os sons ficavam mais claros e sabia que acabaria. Não podia deixa-la. Queria-a na vida real que o esperava. Uns minutos com aquela criança lhe mostraram que precisava dela. Beijou-a, abraçou com mais força.

Sua imaginação não podia lhe pregar mais uma peça tão audaz. Não podia deixa-la e resistiu o máximo que podia em não retornar a realidade, mas isso não durou.

Tudo escureceu.”

Uma massa barulhenta composta pela assistente e mais pessoas que caminhava pelo corredor como uma manada de elefantes barulhentos. Abriu um pouco os olhos ao sentir que o calor próximo ao seu corpo sumiu. Tinha dificuldade de focar a visão então demorou a compreender que Caroline com uma expressão urgente, quase desesperada, andava de um lado a outro pegando coisas no chão e em cima dos móveis.

— Por quê?

Em sua mente aquela pergunta fazia mais sentido. Mas na prática ela nada significava.

Caroline o olhou por breves segundos e com os olhos ardidos sacudiu a cabeça de um lado para o outro e continuo seu trabalho mesmo enquanto o questionava:

— Como está?

Tentou sentar, mas era quase um sacrifício levantar as costas daquela cama. Sentiu suor nos cabelos, testa e pescoço e a dor no corpo cedia um pouco mais que as apunhaladas nas costas quando respirava. Estava pior. Muito pior.

— Um pouco... Aonde vai?

Não respondeu, continuou procurando o celular que há muito tempo descarregado e não  encontrava em nenhum lugar do quarto. Via o esforço dele, mas não queria mais proximidades. Já bastava ter cedido e acabar uma noite inteira ao seu lado o ouvindo e alimentando suas fantasias. Aquilo precisava parar ou terminariam os dois completamente malucos.

Então ele notou o lado da cama bagunçado e a maneira abarrotada que Caroline se vestia. Arregalou os olhos e a cabeça latejou. Não se lembrava de muita coisa das últimas horas desde que o médico saíra. Recordava de ter falado de Giovana e vagamente algo sobre Bianca... O conteúdo, por mais que tentasse, ainda não era claro.

O que teria falado?

— Por que está saindo assim? — Olhou as horas no relógio da cabeceira. — São 8 manhã... O que está fazendo Caroline? — Parou de falar esfregando a cabeça, tentando que aquilo deixasse tudo mais claro. — Eu fiz algo? Eu disse alguma coisa?

Caroline ficou estática por mais ou menos uns minutos e depois riu, incrédula. Ela parecia tremular para chorar, entretanto sua postura firme tão nova a impedia de concretizar o ato.

Caroline balançou a cabeça negativamente e se virou, pegando algo que sua pergunta interrompeu:

— Nós fizemos alguma coisa?

— Não se lembra de nada?

— Tem algo para ser lembrado?

— Que irônico... Temos que comer mais peixe pra memória! Nossas memórias estão servindo somente para nos trair. — Disse tão de repente que o assustou. — Seu inconsciente em conflito não vai me afetar mais. O meu já tem muito para tratar, sugiro que faça o mesmo. Eu posso ter virado sua vida de cabeça para baixo, mas ironicamente você está ajudando a colocar a minha de volta para o lugar.

— O que eu disse pra você, Caroline? O que fiz?

— Não importa. É tarde demais...  — Complementou mentalmente que aquela era a guerra de consciência dele. — É tarde demais. Você não encontra mais espaço para suas instabilidades em mim... Admiro que repense... Mas isso não vai me envolver mais, não posso ceder, não pode me influenciar. Espero que sirva de lição, mas não comigo. É tarde demais, Giuliano.

— Eu não estou entendendo nada, Caroline! O que eu fiz? O que nós fizemos?

“Eu gosto de você, é esse o problema. E isso está acabando comigo” Caroline pensou, mas não disse.

Ela cedeu os braços, pensou até que ela fosse jogar a bolsa no chão, mas não. Ela baixou o rosto e balançou a cabeça várias vezes. Ela estava cansada. Emocionalmente exausta.

Era tudo o que não queria, mas parecia impossível não magoá-la mais. Conseguiu piorar tudo, e isso já era um trabalho difícil.

Pegou tudo o que faltava e com a bolsa pendurada entre os dedos, parou na porta.

— Te desejo melhoras.

Levantou da cama e desequilibrado tentou alcança-la. Mas suas pernas não obedeciam como antes e a fraqueza lhe impediu de ser mais rápido que ela. Estava humilhantemente sentado na cama, vendo-a sair chorosa do quarto.

Caroline se foi e ele não entendia nada.

Ouviu Sarah questionar coisas, ela respondeu tecnicamente. Não havia carinho ou afeto, um cuidado frio, como se fosse somente uma responsabilidade a mais. Sentiu-se um peso.

Causou aquilo em Milão. E ali, sabe-se lá com o que mais, gerou o sentimento de indiferença que havia ficado maior entre eles.

O que poderia ter feito para piorar ainda mais a relação com ela? Não sabia. Mas precisava descobrir. De que jeito? Também não sabia.

Colocou o rosto entre as mãos. Não aguentava mais pensar, mas precisava dar tempo. Tempo esse que não sabia quanto tinha.

— O que aconteceu? — Sarah questionou na soleira. — O que você fez?

— Eu não sei...

— Vocês... — Ela olhou ao redor.

Giuliano colocou as mãos na cabeça. Não sabia o que tinha dito ou feito e não conseguia lembrar. E se isso significasse ter falado sobre a organização? Olhou ao redor. A cama bagunçada, o jeito que Caroline estava abarrotada junto com ela.

— Você estava quase morrendo e arranjou forças para isso? Eu me atraso algumas horas e é isso que acontece? Se aproveitou da sua doença para transar com ela?! Meu Deus, você não pode ter feito isso. É desumano até para você.

Giuliano colocou a mão na boca. De todas as hipóteses e a pior certamente era ela saber de qualquer coisa relacionada a organização, mas as outras também não eram muito boas.

— Fala alguma coisa! Teve coragem de se aproveitar dela a esse ponto?

— Eu não sei! Se houve alguma coisa eu não me lembro.

Sarah entrou no quarto finalmente, era lógico que ela estava pensando o pior, também estava, para ser sincero.

— Você precisa lembrar, Giuliano!

Levantou, com dificuldade, mas não pediu mais ajuda. Queria um banho. Precisava terminar de resolver os problemas que já tinha e começar a cuidar desse novo ao mesmo tempo.

— Acredite em mim, tenho preocupações muito piores sobre essa madrugada.

Ele tinha um tom sombrio e Sarah compreendeu. Pegou o telefone e havia muitas ligações perdidas. Foi para a lista de chamadas recentes enquanto se afastava para o terraço.

— Laura?

— Que voz é essa? — Ela mal lhe cumprimentou. — Está doente? O que aconteceu?

— Vá até a Caroline. Tente descobrir o que eu fiz ontem à noite e me ajude a consertar o que houve. Sonde-a, faça qualquer coisa, mas descubra. Ela passou a noite aqui e eu estava com febre, delirando, não sei o que falei ou fiz, mas ela foi embora daqui correndo.

— O que houve agora entre vocês?! Vocês nem estavam se falando direito e agora ela dorme na sua casa?

— Caroline acordou na minha cama! E Parece que eu falei e fiz algumas coisas que a magoaram. Não sei o que aconteceu. Eu não me lembro de nada. Absolutamente nada!

— Você disse... Disse sobre eles?

— Não sei. Não sei Laura!

Giuliano respirou o ar gelado com mais força e isso lhe deu uma dor nas costas que parecia uma pancada. Apoiou o corpo no parapeito do terraço.

— Transou com ela?

— Eu não sei Laura! Faça o que eu pedi, por favor.

— Não tenho sequer ideia de como fazer isso Giuliano. Eu e Caroline não nos falamos faz dias. Eu nem sei se ela tem raiva de mim ou não. Não posso fazer isso do nada. Graças a tudo o que houve em Milão nem eu e tão pouco você vão fazer Caroline sair do casulo.

— Dê um jeito. Eu sei que consegue!

Desligou a ligação antes que ela ouvisse o acesso de tosse.

Sentia-se fraco, exausto e dolorido. Voltou para o corredor e caminhar se tornou um pouco difícil, as mãos começaram a tremer à medida que respirar também se tornou pior do que já era. Amparou na parede quando a visão escureceu junto com as batidas do coração, que de repente não eram como quando levantou da cama.

A cabeça rodava e o coração então acelerou. Completamente descompensado. Apoiou a outra mão na parede e tentou se firmar, colocando a testa na superfície, tentando achar equilíbrio. O corpo parecia pesar uma tonelada.

— Tio?

Ouviu a voz de Louis e as pisadas dele na escada, mas não conseguia falar ou vê-lo, o mundo perdeu completamente a nitidez. Era desesperador e angustiante não conseguir respirar ou pensar. Seus ouvidos zumbiam como apitos de todos os lados e o corpo suava, sentia pouco as mãos, mas sabia que elas estavam suando. O coração acelerava e então diminuía num ritmo que não conseguia acompanhar com a respiração que não funcionava.

— Tio, o que o senhor tem?

Precisava falar alguma coisa, Louis não podia lhe ver daquele jeito. Precisava respirar e ele tentou, tentou muito, mas a dor no peito aumentou e então a última a sensação foi de bater com a cabeça em algo, perdendo os sentidos que restavam.

Londres, 11h08min da manhã.

Henry verificou as trancas e as janelas mais próximas a porta principal, não havia sinal de nada errado. A paranoia das últimas horas o estava engolindo vivo, lhe dilacerando. Se Miguel e Giuliano, por meio de seu novo emissário, estivessem certos, a curta e relativa paz da sua família estava por um triz. Não era mais questão de semanas, mas de dias, para que seu reduto familiar preservado fosse irrevogavelmente abalado.

Sempre fez tudo para a posição de ambos na sociedade não os afetasse a ponto de vier uma vida pela metade, mas a cada dia os problemas vinham lhe buscar com mais veemência.

A casa estava em silêncio, um silêncio assustador, ou talvez fosse sua imaginação. Olhou para o chão e finalmente percebeu o caos.

Não era a sua imaginação.

Rafaela era a criatura mais metódica que conhecia. Até entender, se é que isso era realmente possível, o resto da família e perceber que ela era um exemplar com esse traço bem mais fraco se comparado aos outros, principalmente ao do primo Giuliano. 

Ela prezava pela organização em todos os cantos da casa e da vida e detestava qualquer traço de bagunça e aquela situação da sua sala o fez ter absoluta certeza que havia algo errado, que havia falhado e o pior tinha acontecido.

Havia sujeira no carpete. Lama, terra seca, areia e os sapatos da esposa na porta. O chão estava repleto de roupas e brinquedos, brinquedos que sabia pertencer a Anna, que deveriam estar no quarto que preparavam para ela. Mas, àquela hora ela já deveria ter voltado com a assistente social para o abrigo. Pôs as mãos no coldre da arma e examinou a casa com a pistola empunhada. Viu então a maquiagem que Rafaela tanto amava jogada pelo chão e havia também uma mancha vermelha fazia uma trilha até a cozinha.

Praguejou e amaldiçoou Giuliano onde quer que ele estivesse por metê-los em seus problemas.

 

Caminhou para lá e quando chegou mais perto ouviu a voz de Rafaela sussurrar alguma coisa. Secou o suor que escorria da têmpora e respirou fundo, recordando por um fio de racionalidade o treinamento e o código de perigo entre eles.

— Querida?  

— Amor!

Rafaela colocou a cabeça na soleira e ele guardou a arma atrás das costas antes mesmo que ela notasse seu estado de nervos completamente. Era lógico que ela notava seu enorme estresse, mas não o pegou com a arma empunhada, pronto a atirar no primeiro que aparecesse. 

Olhou por trás dela e Anna estava sentada na ilha da cozinha, completamente suja de massa de chocolate, vestida e maquiada com as roupas de Rafaela.

 Permitiu-se sorrir da situação até que se deu conta do estado da mulher. Aí sim gargalhou com vontade. Nem parecia a bomba de energia que estava há minutos atrás. Ela estava completamente desajustada. Cabelos desgrenhados, sem maquiagem, camisola manchada e pantufas igualmente sujas.

— A assistente deixou que ela passasse a manhã conosco. Teve um problema e se atrasou.

— O que fizeram?

— Um bolo... — Apertou os olhos um pouco, negando que havia se distraído ao ponto de deixar a sala uma bagunça como estava. — Mas eu a ajudei a se maquiar no jardim.

Ele abaixou pegando os sapatos no chão e os exibindo com um vinco na testa.

— Parece que se divertiram muito sem mim... Anda muito diferente Rafaela Pierpont.

Rafaela sorriu um pouco aliviada com a frase dele. Se estava diferente era porque estava mudando, que a presença de Anna estava modificando a sua vida e isso era um sinal de que estava fazendo  algo de certo.

— Por que achou que eu estivesse em perigo?

— Norma...  Seu primo, na verdade. Obrigando-me a agir como um serviçal de seus interesses. Não gosto de fazer o que fiz, não aprecio essas intrigas.

Rafaela assentiu e agradecida por tudo o que ele estava fazendo, mesmo se contrariando. Permitiu ele passar apontando o bolo já pronto e ainda enformado na mesa. Deu espaço para ele entrar na cozinha e Henry abraçou Anna, perguntou algumas coisas para ela evitando rir da maquiagem exagerada no rosto da menina.

— Eu vou ajudar a sua mãe com a bagunça enquanto toma banho Aninha... Sra. Wilson vai se assustar quando se te ver tão sujinha.

Anna assentiu, olhando para Rafaela e confirmando que usaria o banheiro mais legal que ela já tinha visto na vida. Palavras dela mesma para o banheiro do quarto que estavam terminando de montar. Os dois acompanharam ela correr pela escada até a parte de cima da casa completamente animada em simplesmente tomar banho no seu próprio quarto na casa de uma família que a amava e esperava ansiosamente para chama-la de filha.

— Quando ela for vai ser tudo tão vazio de novo... — Rafaela sussurrou.

— Em breve ela vai estar aqui para sempre.

— Nunca me imaginei correndo na lama com uma criança... É a coisa mais adorável do universo. — Divertiu-se consigo mesma. — Deveria ter me dito antes que ter uma criança em casa é tão bom, cansativo, mas bom.

— Eu disse... — Beijou-a, finalmente a sós. Quando parou, seus olhos foram para o bolo fumegando. — O cheiro não está mal. Aninha é realmente milagrosa, não gostava de cozinhar...

— Eu me esforcei bastante, espero que esteja realmente bom. Se não estiver, minha carreira acaba hoje.

Rafaela cortou um pedaço sorridente demais até e entregou a ele, alertando que esperasse. Henry ao respirar fundo e apreciar as cenas que se tornaria rotina entendeu completamente Giuliano e o que ele estava fazendo.

Faria qualquer coisa para preservar aquilo.

Precisou de segundos achando que sua paz estava perdida para considerar que Giuliano estava fazendo o que ele exatamente faria para proteger quem ele amava. Não podia julgá-lo enquanto ele estava no caos há meses.

Faria tudo para preservar sua família, e ele estava fazendo, mesmo com as auguras entre ele e alguns parentes, mesmo com seus métodos pouco ortodoxos, Giuliano estava fazendo o que qualquer pessoa no lugar dele faria.

Rafaela o abraçou, agradecendo em silêncio o esforço em se meter naquele ninho.

— Eu faria tudo de novo. — Disse antes que ela se sentisse culpada. — Eu casei com você sabendo exatamente quem você era e casaria de novo mesmo sabendo que é pior do que eu imaginava.

Ela gargalhou no seu ouvido.

— Giuliano te disse algo?

— Você sabe que ele não gosta de conversar com nenhum de nós dois.

Ela assentiu, frustrada, mas ainda na pose impenetrável que lhe era característica.

— Não me permito pensar tanto no passado, mas gostaria que Bianca estivesse aqui... Que as coisas não tivessem acontecido do jeito que aconteceram. Isso tem me assombrado mais que antes agora que sou mãe.

— Giuliano não costuma ter muitos afetos, mas quando ele tem... Chega a ser inconsequente para cuidá-los. Acho que não podíamos esperar muito dele com esse comportamento. Não quando eu talvez não fizesse diferente.

Olhou-a significativamente e Rafaela mordeu os lábios. Mexeu a cabeça negativamente, discordando em partes.

— Eu mal peguei Louis no colo... Eu sequer sei como ele está.  Não havia lados completamente errados como ele pensa.

— A realidade é bem diferente quando se está na pele dele...

Rafaela dessa vez concordou pensando em Anna. O silêncio reflexivo continuou por alguns segundos até Miguel aparecer na cozinha. Sua expressão rígida, mesmo ao ver a bagunça, os fez parar e esperar pelo que viria.

— Já vai, pai? — Rafaela engoliu em seco ao ver a mala que ele carregava. Ele tinha dito que ficaria mais uns dias para descansar. Só uma coisa grave o tiraria dali. — O que houve na Itália? Aconteceu mais alguma coisa?

Henry abraçou a mulher pelos ombros ao perceber a expressão desolada de Miguel. Dos irmãos Bocarelli ele era o mais sensível e dado a expressar algum sentimento e amava as filhas, enlouquecidamente. Dos sobrinhos sempre houve um preferido. Para Henry, era bizarro, entretanto, era Giuliano.

Rafaela acompanhou praticamente o mesmo raciocínio. Estava no paraíso e agora descia vertiginosamente por um caminho angustiante.

— É alguma coisa com as minhas irmãs? O que aquela mulher fez agora?! Eu juro que se Norma fazer algo com as minhas irmãs eu mesma a resolvo! Elas são estranhas, mas ainda são minhas irmãs!

Miguem negou veementemente.

—  Suas irmãs estão bem...Giuliano. Giuliano precisa de ajuda.

— O que aconteceu com ele, Miguel? O que ele andou aprontando agora?

— Deu entrada no hospital há duas horas... Eu não sei o quanto há de exagero em Emília para dar notícias... — Divagou.

— No que ele precisa de ajuda pai? O que está acontecendo com ele?!

Por impulso, Henry ligou a televisão da cozinha. Rodou os canais até encontrar um noticiário internacional e então viu o que a imprensa já propagandeava como abutres, esperando uma pior notícia para vender suas propagandas.

O homem, que meteoricamente subiu ao topo do mundo, elevando seu país de uma resseção a patamares de um poderio ninca vistos na história contemporânea da Itália e da Europa, agora caía. Não só politicamente, com a crise generalizada no governo, mas pela doença. Os médicos que o atendiam não falavam nada oficialmente, mas chovia vazamentos que explicavam o quão grave era seu estado.

Se ele não estava morrendo, parecia bem perto disso.

Henry sussurrou, em um estado de confusão:

— Ele está morrendo.

— Emília me disse que ele está morrendo... — Miguel complementou mais seriamente os rumores. — Eu não sei se há exagero nessas afirmações.

As imagens continuavam mostrando os escândalos, os benefícios e os problemas do governo Bocarelli, imagens do hospital em Trento alternavam com vídeos do próprio Giuliano nos últimos anos de vida pública. Pareciam prontos para noticiar sua morte mesmo que qualquer boletim médico fosse confirmado.

— Morrendo... Giuliano não tem sequer uma gripe faz séculos! — Rafaela não conseguia pensar naquela hipótese. Não fazia sentido. — Emília disse o que ele tem?

As imagens se tornaram mais absurdamente midiáticas a cada segundo de reportagem. Milhares de jornalistas do mundo inteiro acampavam na porta do hospital. Notas de autoridades de vários países surgiam na tela ao mesmo tempo. Numa bagunça visual agonizante.

— Ainda não sabem de nada.


Notas Finais


Está tudo bem? Alguém querendo matar algum personagem ou a própria autora? hahahahahaha
Gente, que capítulo... Olha... Eu fiz tudo o que podia para não passar vergonha kkkkkkk. Demorei horrores, passou por várias leituras antes de ser postado, espero realmente que vocês tenham gostado. Aguardo os comentários de vocês com muita, mas muita curiosidade mesmo.
A gente se encontra em breve! Beijos e fiquem com Deus <3


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