História It's more than a feeling - Problemas no paraíso

“Filha, você está linda!” – Emma pôde ouvir o sorriso na voz da mãe, e isso foi o suficiente para fazê-la encarar o espelho pela primeira vez naquela noite.

E ela estava mesmo linda. Um vestido vermelho colado no corpo, terminando logo abaixo dos joelhos; a loira suspirou ao relelmbrar as palavras que Regina lhe proferiu na primeira vez em que a viu com ele.

“Vai querer ajuda com os cabelos?” – Snow perguntou, finalmente adentrando o cômodo, tirando Emma de seus pensamentos.

“Vou sim, acho que vou fazer uns cachos...”

“Você vai ficar maravilhosa!”

“Para, mãe. E você é suspeita pra falar!”

“O quê? Não se pode mais elogiar sua filha?” – A mulher perguntou com um sorriso, enquanto tirava o babyliss da gaveta.

“Eu nem sei porque estou me arrumando tanto...”

“Pra encontrar alguém especial, talvez?”

Emma bufou e revirou os olhos.

“Emma, já se passaram mais de dois meses, você não acha que está na hora de seguir em frente? Aliás, como estão as coisas com Regina?”

“Eu tô bem, mãe.”

Snow balançou a cabeça negativamente, podendo ver os olhos marejados de Emma através do espelho.

“Eu só mencionei o nome dela, e suas feições mudaram completamente. Já vi que as coisas entre vocês não andam das melhores...”

“NÃO HÁ NADA ENTRE A GENTE MÃE, CARAMBA!” – Emma levantou-se de forma tão abrupta que Snow quase a queimou com o aparelho.

“EMMA!”

“Ai, desculpa...” – Emma suspirou e sentou-se de volta, sua mãe repousando uma mão consoladora sobre seu ombro.

“Vocês tem se falado?”

“Não, mas não por minha culpa dessa vez, eu juro. Eu já liguei pra mansão 3 vezes, e em 2 a namoradinha da Regina atendeu, dizendo que ela não podia falar. E algumas vezes em que eu tentei o celular, ela também atendeu. Parece que ela anda atrás da Regina 24 horas por dia agora!”

Emma franziu a sobrancelha enquanto pensava sobre algumas atitudes da Regina nos últimos dias, e sobre como Cecília parecia estar sempre ao redor dela, como um urubu atrás da carniça.

“Tenho certeza que isso é coisa da sua cabeça, Emma!” – A mãe dela tentou.

Emma concordou, mas apenas porque queria encerrar o assunto.

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“Uau ma, você está ótima!” – Henry deu  uma pausa no videogame para observar a loira, feliz por vê-la arrumada e pronta para sair; nas últimas semanas tudo o que ele tinha visto era uma Emma apática, desanimada e um pouquinho rabugenta, não querendo sair nem pra tomar sorvete no Granny’s.

“Ei filha, você está uma gata! Vai arrasar vários corações nessa festa!”

“Pai... pare de falar como se estivéssemos em um filme dos anos 80, e essa não é minha intenção indo neste evento..."

David deu de ombros.

“Culpa da sua mãe, que não pára de ver esses filmes estúpidos e me arrasta junto. Não há nada que eu não faça por ela, mas às vezes eu acho que” – ele mudou o tom de voz para um sussurro – “essa tal de Netflix pode ser uma maldição...”

“David, eu ouvi isso!” – Snow sorriu, chegando atrás de Emma – “Mas seu pai está certo, você vai arrasar os corações!”

Emma bufou.

“Eu estou indo à este evento porque sou obrigada, os donos dessa multinacional querem investir na cidade e Regina pediu para que todos os funcionários públicos comprecessem, o que me faz lembrar... David, porque você nõ foi obrigado à comparecer?”

“Diferente de metade dessa cidade, eu não tenho medo das ameaças de Regina” – David deu de ombros e voltou sua atenção à tela da tv, onde seu boneco dava uma surra no avatar de Henry.

“Que mentira, tudo o que minha mãe tem que fazer é ameaçar te acertar com uma bola de fogo e... EI!” – Henry parou de desmentir o avô quando David proferiu um golpe fatal em seu avatar.

“Isso é o que você ganha por contar mentiras, garoto. Eu não tenho medo de absolutamente nada!”

“Exceto baratas...” – Snow murmurou, divertida.

“Ou qualquer outro tipo de inseto...” – Emma completou, e a família caiu na gargalhada.

“Ei, ei ei, chega! E você não está atrasada, Emma?” – David perguntou entre sorrisos.

“Bem, eu não tenho uma hora marcada para chegar, mas é melhor eu ir andando mesmo. Me acompanha até a porta, mãe?”

“Claro meu amor, vamos!”

“Boa noite rapazes, treinem bastante aí que um dia vocês chegam ao meu nível!”

“Divirta-se filha!”

“Boa festa, mãe, e não faça nada do que eu não faria!” – Henry sorriu.

Já na porta, Snow deu um último retoque no rosto da filha.

“Eu espero que você se divirta.”

“Eu também, mãe. Odeio essas festas de negócio, mas não vou negar que eu estava precisando sair um pouco...”

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 A música brega, a iluminação tosca e sombria e os homens velhos com ternos caros e tentados a flertar com qualquer mulher que parecesse ter menos de 30 eram apenas alguns dos motivos para Emma odiar esse tipo de evento. Some à isso o desconfortável sapato alto que ela tanto abominava, e pronto, a noite estava estragada.

“Pelo menos a bebida é de qualidade...” – Emma pensou enquanto virava mais uma taça de champagne cuja garrafa deveria custar mais do que o seu carro.

“Vai com callma aí, moça...” – Ela ouviu uma voz se aproximando e sorriu ao reconhecer a dona.

“Tinker, o que você está fazendo aqui?”

“Tô aqui pela bebida, e pelo que mais?” – Ela disse, erguendo o copo do uísque. Emma notou que um dos homens de negócio encarava as duas – “E se eu acabar saindo daqui acompanhada, que mal tem?”

“Não sabia que esses caras faziam o seu tipo...”

“O meu tipo é uma noite de diversão, passou disso eu descarto. E acho que nesse ponto somos bem parecidas, não é? Por falar em diversão, cadê a Regina?”

Emma tomou o uísque da mão da outra loira e virou em uma golada só.

“Ih, acho que eu toquei em um ponto que não devia...”

“Eu não tô mais saindo com a Regina, há bastante tempo...”

“E não sabe dela?”

“Eu tô justamente tentando NÃO pensar nela...” – Emma revirou os olhos.

“Então olha pra esquerda, porque ela tá vindo ali pelo outro lado...”

            Emma não poderia desviar o olhar, nem que quisesse; era como seu coração e olhos estivessem intimamente ligados, era só sentir a presença de Regina que seu olhar já se direcionava à ela.

Regina estava linda, em um vestido preto que abraçava seu corpo nos lugares certos, sua pele estava bronzeada, e os cabelos levemente cacheados, lhe conferindo um ar natural porém ainda exuberante. O que estragava a cena era a loira de 1,80 ao seu lado, com um sorriso tão largo que parecia que iria rachar-lhe a face.

“Prefeita Mills chegando atrasada à própria festa, isso sim é um evento...” – Archie comentou o que todos estavam pensando.

“Olha bem pra mim, Archie...” – Cecília disse, gestificando para o próprio corpo - “Quando eu quero, eu posso tornar um pouco difícil para alguém sair de casa...”

O restante dos convidados riu da piadinha de cunho sexual, porém os olhos de Emma, treinados em Regina, notaram o rubor em seu rosto e como ela baixou levemente a cabeça.

Emma também viou quando Cecília notou que elas as observava e chamou a atenção de Regina, e segurando-a pelo queixo, roubou-lhe um beijo. A pequena multidão que estava ao redor do casal aplaudiu a cena, e a Xerife sentiu seu sangue ferver.

O sorriso doce de Regina no final do beijo fez o coração de Emma acelerar e ela pôde sentir as lágrimas queimando seus olhos.

“Eu preciso... eu...” – Ela empurrou com força o copo que segurava nas mãos de Tinker e correu para o banheiro, onde entrou soluçando e batendo a porta.

O que Emma não notou foi um par de olhos castanhos acompanhando todos os seus movimentos.

            Emma estava debruçada sobre a pia, os soluços vindo em ondas, e tudo o que ela podia fazer era evitar esfregar o rosto, para não arruinar ainda mais a sua maquiagem.

O que doía mais, talvez, era saber que no fim isso era tudo culpa dela; ela tinha aberto mão de ter um relacionamento com Regina, e agora...

Seus pensamentos foram interrompidos por um som de saltos adentrando o banheiro.

“Xerife Swan?”

A loira abaixou a cabeça.

“Emma...?”

A preocupação evidente na voz de Regina a fez soltar um soluço involuntário.

Emma suspirou ao perceber os passos se aproximando e sentir uma leve mão acariciando suas costas.

As carícias que tinham acabado de começar pararam, mas Emma viu de relance algo branco – era um lenço, oferecido por Regina.

“O que houve?”

“Nada demais, Regina..” – Emma disse, finalmente aceitando o lenço.

“Eu acho que eu nunca vi você chorar...”

“E não deveria mesmo, então se você puder me dar licença...” – Emma apontou para a porta de saída.

“É que...”

“É que o quê, Regina?”

“É que eu realmente preciso fazer xixi!” – Regina deu um sorriso lindo e dvertido, que fez Emma derreter; por um segundo ela se esqueceu de onde estava, e pensou que Regina tivesse ido até lá apenas por preocupação.

“Mas é claro...” – Emma sorriu de volta e Regina entrou um uma das cabines.

‘E você achando que ela entrou aqui apenas pra ver como você estava, que imbecil, Swan...’ – Emma pensou consigo mesma enquanto tirava os traços gorotescos da maquiagem borrada com o lenço oferecido por Regina.

A morena saiu de sua cabine e foi lavar as mãos na pia ao lado de Emma, e seus olhos se encontraram no espelho.

“Você está péssima, Emma.”

“Hm?’

“Sua maquiagem, quero dizer... você precisa de ajuda com isso?”

            Emma sabia que deveria ter negado a ajuda de Regina. A morena falava enquanto retocava seu rosto, e a respiração de Regina tão próxima estava fazendo Emma sentir coisas.

“Agora só uma camada fresca de batom, e...”

Assim que os dedos de Regina aproximaram-se dos lábios de Emma, a porta principal do banheiro foi aberta.

“Regina?”

A voz de Cecília fez Regina dar um pequeno salto, e ela acabou por borrar os lábios de Emma. Olhos castanhos se arregalaram, e isso não passou despercebido por Emma.

  “O que está acontecendo aqui?”

“Emma borrou sua maquiagem, e eu estou ajudando, só isso...”

“E por isso você me deixa lá no salão, sozinha?” – Cecília cruzou os braços, um tom sério em sua voz.

‘Cristo, fazem o que, 10 minutos que Regina esteve fora? Tudo bem, se ela tivese Regina ela iria querer ficar perto da morena o máximo possível, mas essa Cecília já está exagerando...’ – Ela já estava indo.

“Tô vendo... Vamos, Regina.”

Isso não foi uma pergunta, e Emma não gostou daquele tom, porém quando Regina se afastou e entrelaçou os dedos nos da mulher mais alta, não houve nada que Emma pudesse fazer.