P.O.V Camila
Parecia que eu tinha levado uma surra, me sentia dolorida e com muita preguiça, mas eu também não queria ficar enrolada na cama. Para levantar? Foi um sacrifício, pois o estado entre as minhas pernas não estava nada bom. Eu definitivamente levei uma surra de rola. Lauren já não estava mais ali, provavelmente tinha acordado a tempos e eu, continuei dormindo sem nem perceber. No banheiro, escovei os meus dentes e resolvi tomar um banho, quem sabe essa ardência passasse. Até que melhorou. Após a minha higiene matinal, fui ao closet, escolhi uma calça moletom e um casaco, hoje o dia estava mais fresco. De meias nos pés, desci pela escada, eu escutava alguma coisa vindo da cozinha e um cheiro gostoso reinava no mesmo. Marie provavelmente já tinha chegado. Assim que eu entro no cômodo, achei estranho ver a Lauren ali, ela cozinhava no fogão, preparando um café da manha delicioso. Cadê a senhora? Na mesa está dois pratos, dois copos, talheres e um pequeno vaso com água, contendo apenas uma flor roxa.
Achei aquilo simplesmente adorável, minha namorada é muito fofa mesmo. Em passos silenciosos, vou atrás dela e a abraço, Lauren tremeu, indicando o seu susto e continuou a fritar o bacon, com linguiças. Fico prontamente quentinha só de estar grudada nela, mas eu percebi que a minha namorada está descalça, aquilo não é nada bom. Ela está usando uma calça quentinha e uma camisa de mangas longas, está adorável.
- Bom dia, meu amor – Afasto o cabelo da sua nuca e beijo aquela pele coberta por uma tatuagem.
- Bom dia, princesa – Lauren desligou o fogo e girou em meus braços – Achei que fosse dormir mais.
- Não estou mais com sono – Enlaço os meus braços ao redor do seu pescoço – Cadê a Marie?
- Dispensei ela por hoje, queria deixá-la descansar um pouco e assim, podemos curtir o dia juntinhas – Lauren me roubou um selinho – Dormiu bem?
- Dormi sim, só estou dolorida e com uma ardência, mas é suportável – Dou de ombros.
- Quem mandou ficar me zoando – Lauren sorria vitoriosa – Bem feito.
- Tão romântica você – Mostro a língua – Deveria estar me enchendo de beijos, sabia?
- Pidona – Lauren segurou em meu rosto e começou a lota-lo o mesmo com beijos molhados, e estralados.
- Melhorou – Em meio ao ataque de beijos, acabei roubando um selinho demorado.
- Então vamos comer, precisamos repor as nossas energias – Lauren pegou a frigideira e levou para a mesa – Preparei umas torradas para comermos com bacon e linguiças – Ela informou, enquanto montava.
- Estou morrendo de fome – Me sento e a vejo mexer habilmente nas torradas – Amor, você sabe muito bem cozinhar, deveria fazer isso mais vezes.
- Tudo o que você quiser, pequena – Ela depositou duas torradas, bacons e linguiças em meu prato – Quer café ou suco? Fiz os dois.
- Pode ser o suco mesmo, amor.
- Então eu vou servir a senhorita – Lauren pegou a jarra e encheu o meu corpo – Bom apetite.
Tomamos o café da manha com muitas risadas e comentários sobre a nossa noite, Lauren zombava dizendo que faltou apenas um fio, para que a cama quebrasse. E eu entrei em sua brincadeira, falando que mais um pouco a gente ia parar no hospital, de tanto que o teto tremeu e que podia cair em nossas cabeças. Bom, nem preciso dizer que rimos a maior parte do tempo e que comemos em uma paz imensa, me sentia extremamente bem ali. Após o nosso café da manhã, recolhi as coisas da mesa e depositei dentro da pia, comecei a lavar a louça, enquanto a Lauren secava cada objeto que eu deixava limpo.
- Sabe o que eu ando pensando? – Me peguei falando – Nunca mais vi os meus pais, quer dizer, eles não apareceram mais aqui.
- Camz, não é a primeira vez que você comenta sobre isso – Ela tinha percebido – Está preocupada?
- Não sei dizer, é que só é estranho – Dou de ombros – Talvez os meus pais queiram evitar mais intrigas, após aquele dia.
- Pode ser que seja isso, e bem, a sua mãe te visitou no hospital aquele dia e nunca mais apareceu, né? – Apenas assenti com a cabeça – Provavelmente estão achando que você os odeia e querem longe, e tomaram vergonha na cara.
- Ou achou alguma riqueza e fugiram – Solto uma risada baixa – Alguma coisa aconteceu.
- Seria a cara deles se achassem uma riqueza e fugissem – Lauren riu junto comigo – O que eu acho bem difícil de acontecer, achar alguma riqueza.
- É, para isso, tem que se esforçar.
- Exatamente e os meus lindos sogros são preguiçosos, então...vamos descartar essa possibilidade.
- Vamos.
Terminamos de arrumar toda a louça e decidimos ir para a quadra, Lauren queria fazer alguns exercícios para continuar em forma e eu ficaria apenas na bancada, olhando tudo e tomando o sol fraco daquela manhã. E foi exatamente isso que eu fiz, enquanto a minha namorada corria pela grande quadra, eu fiquei sentada e viajando em pensamentos. Eu não conseguia parar de pensar em meus pais, alguma coisa tinha acontecido? Eu sei que temos uma briga toda e que eles não valem nada, mas algo dentro de mim me cutucava, como se eu tivesse que conferir, eu precisava ver com os meus próprios olhos. Vejo a Lauren vindo em minha direção, ela está vermelha e com os pés descalços.
- Lauren! – A repreendo prontamente – Você é louca ou se faz?
- Me faço.
- É bem a sua cara – Me levanto e bato o pé no chão – Como é que você corre descalça? Vai machucar os seus pés e outra, hoje o dia está fresco, vai pegar gripe.
- Tá bom, mamãe – Lauren levantou os braços em rendição – Eu já parei por hoje, e vou calçar algo.
- Eu tomei uma decisão – Pego em sua mão e a puxo para mais perto de mim – Eu preciso ver os meus pais, só assim eu vou ficar sossegada.
- Eu sabia que isso ia acontecer uma hora ou outra – Lauren levou a minha mão até aos seus lábios e deu um beijo – Eu vou com você amor.
- Não precisa ir, se não quiser.
- Eu quero, eu disse que queria ficar coladinha em você – Ela bicou os nossos lábios – Vou por algo.
No quarto, eu calcei meus tênis e ela resolveu tomar um rápido banho, só para tirar o suor da pequena corrida matinal. Assim que ficou devidamente trocada e com coturnos nos pés, fomos para o seu carro e eu fui dando as coordenadas, levando para onde os meus pais moram. O caminho foi até que longo, mas os sinais verdes ajudaram bastante e bem, não tinha tantos carros nas ruas, tinha mais motos. Quando o Audi A3 foi estacionado em frente a uma casa mal pintada, por fazer anos que não pintavam, eu desci do veiculo e dei a volta, pegando na mão da minha namorada. Toco a campainha de casa, esperando que alguém esteja em casa. Nem o carro dos meus pais não estava ali, será que tinham saído? A porta se abriu, revelando a minha mãe ali.
- Oi – A minha boca foi parar no chão, eu não sabia mais o que dizer.
- Oi hija – Sinu parecia envergonhada pela situação. Cabelo bagunçado, olhos inchados, a roupa desorganizada e parecia até suja.
- Cadê o pai? – Olho por cima do seu ombro e vejo que na sala, não tinha a pequena TV que eles tinham – Mãe, o que está acontecendo?
- Ah querida... – Ela abaixou a cabeça – S-seu pai está na cozinha...lendo o jornal.
- Mãe?
- Entre – Ela deu espaço e encarou a minha namorada – Oi Lauren.
- Bom dia, Sinu – Lauren a cumprimentou com um sorriso.
Assim que entramos, eu achei tudo muito esquisito, não tinha mais quadros na parede e faltava um sofá. Conforme andávamos pela casa, eu fui percebendo a falta das coisas, o que me deixava com uma pulga atrás da orelha. Na cozinha, encontrei o meu pai sentado, ele parecia acabado, não tinha mais aquele sorriso insuportável de antes e segurava o jornal com força. O que está acontecendo? Alejandro ergueu a cabeça e fez um leve aceno, como se estivesse nos cumprimentando, mas nem fez questão de se levantar.
- Ok, definitivamente tem algo acontecendo – Olho para ambos – Podem me explicar?
- Não é nada querida – Sinu gesticulou com a mão, como se pedisse para que eu não me importasse – Está tudo bem.
- Se estivesse tudo bem, não estaríamos nessa situação – Meu pai disse com rancor.
- Da para me explicar? – Me sento do lado dele, querendo escutar mais.
- Perdi o emprego, tive que vender o meu carro e algumas coisas de casa – Alejandro soltou o jornal na mesa – Ando procurando por um emprego e não aparece nada.
- Já fui para várias entrevistas e ninguém quis me contratar – Sinu suspirou pesadamente, ela parecia extremamente cansada.
- E desde quando estão assim?
- Ah...dias, meses...sei lá – Meu pai abaixou a cabeça – Contas estão atrasadas, essa semana cortaram a luz de casa, mas eu tinha resto do dinheiro do carro e consegui pagar. Só não sei como vai ser mês que vem.
- Situação complicada – Lauren assoviou baixinho – Mas vocês vão conseguir, sempre aparece uma oportunidade.
- Temos a fé que sim – Meu pai se levantou e foi até a geladeira, pegando uma garrafa de água. Eu senti a minha pressão abaixando só de ver que na geladeira não tinha quase nada, eles estão passando fome?
- Mama...papa – Engulo um bolo de choro que queria se formar em minha garganta – V-vocês estão vivendo como? E...os alimentos?
- As vezes ganhamos algumas cestas da prefeitura ou alguns conhecidos, doam alimentos para nós – Sinu explicava abaladamente.
- E-eu...vou ao banheiro.
Sai dali o mais rápido possível e encontrei o banheiro, me fechando no mesmo. Meus pais estão passando necessidade e isso me fez lembrar de quando eu estava desse jeito, batalhei para conseguir emprego que pudesse me sustentar, dependi das minhas amigas para que pudessem cuidar de mim e emprestar dinheiro. Quantas vezes o senhor do aluguel veio me cobrar? Ele me humilhava, dizia coisas horríveis e chegava ao ponto de quase me por para fora daquela casa, mesmo atrasada, eu conseguia arranjar um dinheiro para paga-lo e evitava de comer muitas coisas, para que os alimentos dessem para o mês inteiro. Escutei batidas na porta e abri a mesma, vendo a minha namorada ali.
- Lolo! – Me jogo em seus braços, não segurando mais aquela onda de choro. Chorei ali, naquele abraço apertado.
- Oh meu amor, não fica assim – Lauren acariciava as minhas costas.
- E-eu...não d-desejo para ninguém o q-que eu passei – Afundo o meu rosto em seu ombro, molhando o mesmo com as minhas lagrimas – N-nem para os meus pais.
- Eu sinto muito, minha pequena – Ela me apertava cada vez mais, como se quisesse tirar a minha dor – Isso é muito ruim, ninguém merece passar por isso.
- E-eu não sei o que f-fazer... – Tento limpar as minhas lagrimas, mas quanto mais eu fazia isso, mais elas apareciam.
- Olha para mim – Lauren segurou em meu rosto e começou a acariciar as laterais – Que tal eu ir comprar um almoço gostoso para eles, e assim, aproveitamos para almoçar com os seus pais – Sorriu, tentando me tranquilizar – E então, veremos o que faremos para ajuda-los, ok?
- T-tudo bem... – Aceno com a cabeça – Você é perfeita demais.
- Não, você que é e tem um lindo coração – Ela tocou em meu peito, onde está localizado o meu coração – E eu te amo, amo muito.
- Eu te amo, Lauren – Me desmanchei ali entre as lagrimas.
Ela bicou os meus lábios varias vezes, dando-me uma sequência de selinhos e não se importando com as minhas lagrimas no meio. Então se afastou, anunciando que compraria comida para o almoço. Tratei de lavar o meu rosto e tirar aquele ar de choro, então voltei para a cozinha, vendo que o meu pai ainda focava no jornal e a minha mão acariciava o ombro dele, como se tentasse acalma-lo. Me acomodo de volta em uma cadeira, queria ser mais firme naquele momento, não quero deixar a situação pior, eles não precisam saber que eu estava chorando.
- Cadê a Lauren? – Meu pai perguntou, não notando a presença dela.
- Foi comprar comida para almoçarmos com vocês – Sorrio para os dois – O que acham?
- Jura? – Vi os olhos da minha mãe marejando – Que maravilha, hija.
- Ótimo – Volto a minha atenção para o Alejandro – Papa, o que você anda olhando no jornal?
- Vendo se tem vagas de emprego, as vezes aparece algumas, mas hoje não é o meu dia de sorte – Largou o jornal com certa raiva – Não sei mais onde procurar.
- Deveriam ter me contado sobre isso.
- Não queríamos encher o seu saco – Minha mãe deixou os ombros caírem – Ok, você pode esfregar na nossa cara, que o mundo deu a volta e que agora você está por cima.
- Não, eu não sou assim – Nego prontamente – Passar necessidade é algo sério e preocupante, infelizmente muitas pessoas nesse mundo passam por isso. Eu mesma já passei e foi uma batalha cruel, e eu não quero que vocês passem pelo mesmo.
- Onde foi que eu errei? – E lá estava a Sinu, desabando na mesa, chorando horrores e deixando o meu pai preocupado.
- Querida... – Ele puxou a minha mãe para os seus braços – Calma, nós vamos conseguir.
- E-eu sinto muito... – Disse entre o choro, aquilo cortava o meu coração – E-eu sinto m-muito por t-tudo...
Eu simplesmente não sabia o fazer, a Lauren não chegava logo, eu queria ficar ao lado dela e me distrair de alguma forma. Resolvo me levantar e dar uma andada pela casa, aquele clima pesado estava acabando comigo. Deixei que o meu pai amparasse a minha mãe, e eu sabia que os dois chorariam ali, juntos. Pela janela, vi o carro da minha namorada estacionado, então vou para fora da casa ajuda-la com as sacolas. Lauren sorriu fraquinho e entramos com diversas sacolas, ela ainda teve que voltar para pegar mais.
- Olha o que eu achei – Lauren depositou um peru já assado na mesa – Está quentinho e a cara está ótima.
- Faz tanto tempo que eu não como peru – Meu pai comentou – Só no natal, mas no ano passado, não teve.
- Então você vai matar a sua vontade – Lauren piscou para ele – Trouxe duas garrafas de refrigerante e outras coisas para enchermos a barriga.
- São muitas coisas, Lauren – Minha mãe comentou – Não precisava ter gastado tudo isso.
- Está tudo bem, você conhece muito bem a sua filha, ela é comilona demais.
- Ei! – Protesto – Você também come bastante, amor.
- É verdade, por isso que nos damos bem – Lauren riu e mostrou as outras sacolas – Fiz uma pequena compra, tem bastante carne, frango, peixe e legumes aí.
- Eu nem sei como te agradecer – Meu pai ajuntou as duas mãos, ele olhava maravilhado para tudo.
- Não precisa, vamos comer e pronto.
Lauren me enche de orgulho, ela está ali, do meu lado e me dando todo o apoio para aquele momento. Ela está ajudando os meus pais, esses que já planejaram para que eu desse um golpe na minha namorada. Mas mesmo assim, a Lauren está ali, sorrindo para eles e admirando-os, enquanto os mesmos comiam como se não houvesse amanhã. Meus pais não estavam se alimentando bem a dias, pelo que eu pude perceber, agora eles estão tendo uma mesa farta, para comerem à vontade. Faço o meu prato e adivinhem só? O peru está delicioso, eu quis beijar os pés da minha namorada por ter comprado essa delicia.
- Hum – Lauren pigarreou após engolir a comida – Sinu, enquanto eu estava vindo para cá, eu vi em uma lanchonete, que estão precisando de pessoas para trabalhar – Comentou – Tem um papel grudado em frente ao estabelecimento, parece que precisam de algumas garçonetes.
- Sério? Depois você me explica onde fica, eu vou hoje mesmo entregar o currículo.
- Aposto que vai conseguir – Lauren sorriu grande e eu a olhei mais boba ainda – O que foi amor?
- Você é maravilhosa – Deito a cabeça em seu ombro – Como pode passar uma energia tão positiva assim?
- Muito simples – Lauren abraçou os meus ombros, quando eu ergui a cabeça e encostou os lábios em meu ouvido, cochichando – Entrei lá e conversei com o dono, e como eu sou famosa, tive esse privilégio...ele vai contratar a sua mãe.
- Sério, amor? – Acaricio o seu rosto – Você é demais.
- Eu sei – Ela me roubou um beijo e eu acabei sorrindo contra os seus lábios, não quis solta-la, continuei com a minha boca grudada na dela.
- Lembra Sinu, quando éramos mais jovens, vivíamos sussurrando um no ouvido do outro – Escutei a voz do meu pai – Trocávamos confidencias e safadezas, e você sempre me enchia de beijos depois.
- Ale! – Minha mãe o repreendeu, mas pude escutar a sua risada – Bons tempos.
- Já sei de onde vem toda essa sua safadeza – Lauren murmurou contra os meus lábios – Amo.
E tinha como eu negar? Não tinha. Lauren é o ser mais maravilhoso que eu conheço, ela podia me xingar, que eu ia achar lindo. Ok, eu sou muito cadelinha dela.
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