1. Spirit Fanfics >
  2. Iustitia Dei, Interativa >
  3. Paz efêmera e felicidade duvidosa

História Iustitia Dei, Interativa - Paz efêmera e felicidade duvidosa


Escrita por: pejotas

Notas do Autor


Primeiro capítulo oficial cheiroso pra vocês. Esse aqui não tem nenhum dos aceitos (até porque nem ficha o suficiente eu recebi pra isso) MAss eu pretendo começar a escrever com eles a partir do terceiro, já tenho gente em mente.

Lembrem-se de prestar atenção na narração também! Apesar de ser terceira pessoa, ela ainda fala muito sobre o personagem.

Boa leitura. <3

Capítulo 2 - Paz efêmera e felicidade duvidosa


Fanfic / Fanfiction Iustitia Dei, Interativa - Paz efêmera e felicidade duvidosa

2022, Nova Iorque — NYU, Cidade de Nova Iorque

 

ESSA PROFESSORA É estranha, impossível não comentar sobre ela.

Karin Fang, este é o seu nome. Ao que parece, conhecedora de tudo que se remete a história e passado do nosso mundo. Quando abre a sua boca para exercer sua profissão, a faz com maestria, como se ela mesma tivesse presenciado todos aqueles acontecimentos. Ela é excepcional, aparentemente experiente, e faz com que os olhinhos dos seus alunos brilhem com respeito e admiração.

Em questão de aparência, não nega, ela é uma bela mulher. Realmente alta, maior que Zach na verdade, deve ter um pouco mais que 1.80, mas ela não tem exatamente o rosto da juventude. Não, na verdade parece ser uma mulher madura, que está nos seus trinta e poucos anos de idade. Seus cabelos são de um tom bem acinzentados, Zach, claro, duvida que sejam naturais. Sobre sua aparência, no entanto, o que mais chama atenção são seus belos olhos azuis que, lamentavelmente, estão sempre escondidos por óculos de armação vermelha.

Porém, quando se trata de interagir com outras pessoas, Karin parece… como pode descrever sem ser rude?

Ela é basicamente um robô.

Não demonstra emoções, nem mesmo aparenta sentir empatia ou gostar de algo que não seja seu trabalho. Se não fosse pela estranha bombinha de asma que carrega consigo sempre e que, volta e meia, utiliza em sala de aula, Zach diria que a Srta. Fang nem mesmo respira. Suas respostas são como funções programadas de um computador ainda em fase de teste, pois vez ou outra, principalmente quando pega desprevenida, é possível ouvir alguns gaguejos e murmúrios da mulher antes do programa de comunicação voltar a funcionar normalmente.

Estas coisas, no entanto, não foram o que mais o chamaram a atenção quando pisou pela primeira vez em sua sala de aula.

Diferente de todos os outros professores, ela não o avaliou e tratou de forma especial assim que o viu entrando na NYU. Pelo contrário, ela simplesmente ignorou a sua presença, como se ele nem mesmo estivesse ali. Isso, mesmo que contraditório, acabou despertando um interesse estranho no rapaz, como um sexto sentido.

Se você cresce como ele cresceu, é impossível não se tornar convencido como Zachary.

Tendo nascido prodígio em uma pobre família e se formado aos 14 anos, Zachary cresceu sendo bajulado e glorificado por todos. Quando o homem finalmente decidiu a área que gostaria de seguir, seus pais prontamente o apoiaram em seu desejo de uma carreira na área de arqueologia.

Enfim, o sinal tocou, ele devia parar de ponderar sobre a sua professora de história e sair dali. Pegou sua mochila e se levantou, talvez ela ache que não tenha percebido, mas Karin Fang o seguiu com seus olhos até que Zach estivesse fora do seu campo de visão.

Não que Zachary se incomodasse, estava acostumado com essa estranha sensação de ter sempre alguém lhe observando.

 

— ' —

 

Este definitivamente não é o seu dia.

No caminho de volta para a sua – sigh. – humilde residência, em um específico beco que sempre o dava a sensação de que algo assim aconteceria algum dia, foi abordado por um maltrapilho encapuzado de roupas rasgadas e rosto escondido. Estava tão mal cuidado que, de início, Zach achou que fosse apenas um pedinte, e até mesmo estava disposto a presenteá-lo com algum dinheiro. Quando o maldito teve a audácia de apontar uma arma na sua cabeça e anunciar as seguintes palavras:

— É um assalto, passa tudo.

Ele, ainda que estivesse irritado com a atitude do homem (oras, quem ele pensa que é?), entregou tudo que tinha e se afastou, mesmo que não fosse muito. Ao comprovar isto, o encapuzado o enfrentou furioso, como se estivesse perdendo seu tempo.

— É isso, moleque? Tu estuda em uma das melhores universidades e só tem isso? – Maldita camisa da NYU. Era preciso ter cautela, afinal ele está com uma pistola apontada para Zach, qualquer movimento em falso e ele passaria dessa para melhor.

Infelizmente, seu complexo de superioridade e grandiosidade não deixaram que ele simplesmente ficasse quieto, pois um segundo depois, o americano – magrelo e ossudo como era, – estava dando um soco na boca do assaltante.

— Sai de cima e me devolve, porra! – Gritou o rapaz de pele retinta. O encapuzado recuou surpreso, mas logo, com um ódio enorme, jogou a bolsa para Zach novamente com força, o desequilibrando, e apontou a arma para o ombro do mesmo.

— Fica com essa merda, aproveita e fica com isso aqui também! – E atirou, Zachary caiu no chão com o choque, de todas as possibilidades, esta era a que ele mais temia. Talvez eu tenha duvidado demais desse cara, eu não achei que a arma estivesse realmente carregada! Pensou o americano, rangendo os dentes enquanto apertava o ombro acertado, tentando, em vão, parar o sangramento.

O homem pegou a bolsa novamente e tirou o que tinha pelo menos algum preço, como o pouco de dinheiro em um bolsinho e o celular batido, e se preparou para fugir. No entanto, antes que pudesse dar dois passos, uma voz o interrompeu:

— Ah, honestamente, não consigo nem mesmo trocar de roupa sem você quase morrer na minha ausência.

 

— ' —

 

— Zachary, acorde. – Escutava uma voz de cima. Seria Deus? Pensou o rapaz. Deus realmente tem uma voz muito bonita… Infelizmente, Deus também tem o pezinho duro, pois ele conseguia sentir uma bota chutando leve mas insistentemente a sua costela. Nossa, Deus, como o Senhor é agressivo. — Vamos, garoto, acorde, já passei muito tempo usando a minha energia para curar você.

Okay, definitivamente não é Deus.

Lentamente, o rapaz abriu os olhos, confuso, seu rosto se contorceu com o sol escaldante e seus raios cegantes. Zach colocou a mão na frente dos olhos e se levantou, seu ombro consertado e sem qualquer vestígio de um ferimento, a não ser pelas manchas de sangue na camisa.

— Quem diabos..?! – Não conseguiu terminar, pois assim que recuperou sua visão, suas palavras morreram ao ver um homem de moletom – sim, o mesmo encapuzado que tentou o assaltar. –, só que sem a sua cabeça, apenas com sangue ainda quente escorrendo do pescoço. A pessoa a sua frente se virou, encarando o corpo também, e suspirou.

— Mil perdões, eu deveria limpar isso. – E apenas com um acenar da sua mão, o corpo foi engolido por uma cratera aberta debaixo dele, como um vazio, se fechando quando a mulher acenou novamente. — Okay, Zachary, deixe-me apresentar novamente.

Ainda estático com a cena a sua frente, Zachary se virou, e nossa, se lhe faltavam palavras para dizer o que está sentindo no momento, agora ele deveria já se dar como analfabeto, pois a mulher à sua frente era ninguém mais, ninguém menos que Karin Fang, sua professora estranha de história. Ela limpou a garganta antes de continuar.

— Creio que me conheça por outro nome, mas devo me apresentar de verdade. – A mulher estendeu a mão para Zach, que realmente não fazia ideia do que pensar. Estava estático, tudo estava acontecendo muito rápido e até mesmo o seu "cérebro super desenvolvido" não estava conseguindo lidar com isso. Ele piscou, uma, duas vezes até finalmente aceitar o aperto de mão da mulher, que rapidamente mudou sua expressão facial para uma mais suave. — Meu nome é Mallea Squyer, e eu tenho algo muito sério para falar com você, Carter. Mas primeiro, vamos sair desse lugar fedorento.

Zachary não sabia o que sentir. Sua cabeça estava a mil, a mesma cabecinha que era bem apreciada e exaltada por todos, não conseguia parar de se achar um imbecil por não saber o que estava acontecendo ali. Ele tinha essa extrema sensação de perigo, de que deveria ignorar essa mulher, agradecer por salvá-lo e seguir em frente, vivendo sua vida.

Mas havia algo sobre ela, algo que não existia antes. Talvez fossem as novas roupas que usava, ou simplesmente ser capaz de encarar o céu cortante dos seus olhos, mas ele, realmente, não queria se tornar o seu inimigo.

E apesar dos tantos e tantos alarmes soando na sua cabeça, Zach, você viu o que ela fez com aquele homem. Zach, você em hipótese alguma deveria mexer com alguém assim. Zach, você não tem amor à vida? Ela acabou de matar um homem na sua frente. Zach, dê um passo para trás e suma da vida dessa mulher.

Zachary, você nem mesmo sabe com o que está lidando.

Ele a seguiu.

Ao contrário do que imaginava, Mallea apenas o levou mais a fundo no beco, com uma sensação desagradável através da sua espinha, ele a seguiu, encolhido, com medo mas principalmente, intimidado.

De verdade, ele nunca esteve tão quieto em sua vida.

Mas Mallea realmente exalava essa aura de superioridade, até mesmo para o arrogante homem que não se cansava de cantar elogios para os seus próprios feitos. Alguém com poder o suficiente para te transformar em pó. Alguém que você deveria agradecer apenas por ter a oportunidade de olhar nos olhos. Alguém que, caso você erre, não teria pena de fazer você sumir do mapa. Mas, ao mesmo tempo, alguém preocupado e exausto, que queria apenas colapsar em sua cama e ter um pouco de paz, e talvez essa última parte seja apenas culpa das grandes olheiras que, mesmo com a mulher fazendo de tudo para tapá-las, ainda eram minimamente visíveis.

Ele a seguiu, pois acima de tudo, estava curioso.

— Feche os olhos, por favor, talvez isso acabe sendo um pouco desagradável de experienciar com os olhos abertos. — Ela pediu, se virando, e ele a agradou, fechando os olhos. Zachary podia sentir sua forte presença atrás dele, quando de repente sentiu a mulher mais alta abraçando seu pescoço com um braço e alguns ruídos estranhos em seu ouvido. Pulando de susto em seu lugar com o contato repentino, Zachary fez um som de desagrado. — Apenas espere um pouco mais.

E então, tudo o que Zach pôde sentir foi o vazio por alguns segundos, seus pés saindo do chão por um momento, até que fosse terra firme novamente. Parecia que tinha acabado de correr uma maratona, seu coração batia feito louco, e sua respiração era áspera e escassa, foi difícil respirar por um momento, até que Zach pôde sentir o oxigênio novamente enchendo seus pulmões.

— Pode abrir os olhos, Zachary. – Ele sentiu a mulher misteriosa saindo de seu espaço pessoal, deixando-o abrir os olhos. E quando Zach fez isso, ele percebeu que não estava mais no beco assustador, e sim no telhado de um prédio não muito alto. Como... Como isso aconteceu? — Perdão, eu provavelmente deveria ter te falado para segurar a respiração por um tempo também.

Era noite.

— Como...? O que- Onde estamos? – Havia muitas perguntas circulando em seu cérebro no momento, mas Zach provavelmente deveria se concentrar em uma de cada vez.

— Ah, estamos em Tóquio. Você sempre quis vir aqui, certo? – Mallea foi em direção ao canto do prédio, e suspirou aliviada, sentindo a brisa gélida bater no seu rosto e embaralhar a sua franja. Ela tirou sua bombinha estranha do bolso da calça e levantou um pouco a cabeça, posicionou entre os dentes e respirou profundamente, sentindo o ar voltar para si devagar. Não aguentava mais roupas humanas, vocês têm um gosto questionável. Pensou a mulher em voz alta, e no fundo da cabeça de Zach uma voz riu e disse: Tenho certeza que é culpa da modelo. Mas aquele pequeno momento fez Zachary realmente parar e observar a nova aparência da moça que ele achava ter conhecido antes.

Na sua humilde opinião, ela parecia muito melhor agora, mesmo com as roupas estranhas que ele nunca tinha visto antes. Mallea, pela primeira vez, não estava escondendo seus lindos olhos azuis com uns óculos vermelhos esquisitos, em vez disso, o cabelo que não estava preso no longo e alto rabo de cavalo caía em cima do seu olho direito, dando-lhe uma aparência mais moderna e jovial. Em vez das estranhas e velhas roupas de professora de história que costumava usar nas aulas, ela vestia roupas que pareciam ser couro completamente pretas, com apenas algumas listras futuristas neon azul na sua jaqueta.

Ele reconhecia, era a mesma mulher, mas uau, ela parecia uma pessoa completamente diferente. Não vou mentiria e pensou que, talvez, ela realmente fosse.

— Hm, como viemos parar aqui? – Perguntou com cautela, estava mais do que intrigado para conhecer mais sobre Squyer, e ao mesmo tempo, tinha medo do que poderia descobrir. De repente, tudo virou uma incerteza, no momento em que esta mulher o salvou num beco escuro. Mallea suspirou, e sentou-se no canto do prédio, encarando as luzes em baixo. Ela apontou o cantinho ao seu lado, pedindo para que Zach sentasse ali, e assim ele o fez.

— Zachary, existem muitas coisas que você não sabe sobre este mundo. – Ela suspirou, olhando para os céus, parecia cansada, como se tivesse repetido aquele mesmo discurso milhares de vezes. — Não faz muito bem para o seu ceticismo, mas preciso te contar que deuses são reais, e estão muito mais perto do que imagina.

Zachary riu pelo nariz, incrédulo, e revirou os olhos. Ah sim, eles são definitivamente reais, pensou o jovem.

— O que mais, você vai dizer que ele tem um filho e você é a mensageira sagrada enviada por ele para me converter? – Ele esperou por uma reação escandalizada ou, no cenário mais improvável em sua cabeça, uma risadinha da mulher. Em vez disso, Mallea apenas encarou-o com uma sobrancelha arqueada, e Zach percebeu que sim, é basicamente isso. — É… É sério?

— Há seiscentos anos atrás, a minha dimensão e o meu mundo, Divina Terra, entrou em uma crise irreparável. Nós fomos mal-agradecidos e soberbos o suficiente para que a nossa maior divindade, conhecida por Sua paciência, se cansasse do mundo criado por suas próprias mãos e dispusesse uma praga matadora em Divina Terra. – Zachary realmente estava dando o seu máximo para acompanhar as falas da mais velha, mas realmente, quanto mais ela falava, mais absurdo parecia. — Nós, não, eu preciso do máximo de pessoas com energia possível para lidar com isso, estou há séculos procurando e fazendo o que a Sua Excelência me manda fazer, e quando você nasceu, eu finalmente recuperei as minhas esperanças de que, talvez, o meu mundo não estivesse fadado a sucumbir.

Mallea virou-se para encarar o confuso e desacreditado rapaz nos olhos, os seus próprios azuis celestes brilhavam como se a mulher estivesse prestes a chorar.

— Zachary, meu povo está sofrendo uma dor agonizante, e a sua energia supera a dos semideuses, eu preciso de você, nós precisamos. Não é isso que queria? Um propósito e um destino heróico para sua vida? Você tem a oportunidade de salvar milhões de pessoas, e a única coisa que precisa fazer é vir comigo.

Bem, adivinhe, ele não consegue acreditar nessa loucura.

— É isso, eu quero ir pra casa. Muito legal conversar com você, professora, mas eu sabia que tinha alguma coisa estranha e eu estava certo. Digo, energia? Dimensão? Não tinha um pouco mais de criatividade nessa sua cabecinha lunática? Vamos, levante-se e me leve de volta para casa. – Ordenou o rapaz, levantando o seu queixo e se virando para se distanciar da mulher.

Mallea suspirou, antes de levantar e segurar o seu antebraço, puxando o rapaz para mais perto de si.

— Me acompanhe, feche os olhos, vou te levar num lugar melhor. – Não é como se ele tivesse escolha, mesmo, porque Mallea estava segurando seu braço com tanta força que Zachary jurava, se fizesse qualquer movimento ele partiria ao meio. Então, apenas bufou irritado e fechou os olhos, dessa vez decidiu prender a respiração também.

 

— ' —

 

2022, Emirados Árabes Unidos — Burj Khalifa, Dubai

 

Que Porra de Caralho é Esse© escrito por Zachary Ambrose Carter, produzido por Karin Fang. Digo, Mallea Squyer ou seja lá o que for.

Quando Zach percebeu, eles estavam no topo do edifício mais alto do mundo. Zachary só não gritou seus órgãos para fora porque ele estava simplesmente estático, imóvel, segurando sua preciosa vida na ponta dos dedos, com medo de cair.

— Que porra!? Você é louca?! – Gritou, mas a mulher ao seu lado, mesmo que estivesse parada, cautelosamente tomando cuidado para não cair, simplesmente fingiu não ter escutado.

Ou ela realmente não escutou, com esse vento infernal que talvez taque os dois de uma torre enorme em Dubai.

— Relaxa, você não vai cair. – Mallea deve realmente gostar de contato físico, pois, novamente, puxou-o para si, envolvendo Zach em um abraço super desconfortável e nervoso. No entanto, foi o suficiente para acalmar os nervos do rapaz.

Diferente da sua primeira impressão da mais velha, dessa vez, ela realmente transmitia… alívio para o rapaz. Ele não conseguia entender, nem mesmo expressar esse sentimento confuso, mas Squyer lhe dava uma sensação bizarramente confortável, segura. O mundo pode acabar ao seu redor, mas enquanto esta mulher estiver o apoiando, ele estará seguro.

Esta é a sensação de estar no seu lado bom?

Com o coração batendo mais calmo, Zachary abriu vagarosamente os olhos, encarando a abismal altitude em que se encontrava. Mas também, a beleza de uma cidade brilhante, com pessoas ocupadas saindo dos seus trabalhos ou até mesmo começando seus expedientes. Estudantes noturnos atrasados e crianças correndo pra lá e pra cá. Gente sem muitos planos para a vida, mas que alegram-se na simplicidade da sua existência, e alguns até mesmo vivem cada dia como se fosse o último.

Zachary odiava a ideia de se tornar um deles.

— Ainda é a maior possibilidade, você sabe, não é? – Quase  como se lesse seus pensamentos (talvez seja apenas mais uma das suas grandes habilidades interdimensionais também), Mallea o indagou. Zach apenas continuou encarando as luzes, caindo em sua própria consciência. — Você é um rapaz inteligente, e cresceu com os outros lhe dizendo que era especial. Eu vi, eu estava lá. Cuidando de você, garantindo que esteja vivo, bem e saudável. Eu sei que, de todas as possibilidades da sua vida, se tornar uma pessoa comum é o que mais o frustraria.

Então a sensação de estar sendo observado é sua culpa? Ele quis perguntar, no entanto, estava quase hipnotizado. Se não pelo brilho da cidade, pelas palavras de Mallea.

— Eu te digo, Zachary, você pode ser um rei e muito mais. – A mulher sussurrava como um pequeno diabinho em seu ouvido. Zach queria pedir pra que ela parasse, que o deixasse em paz e o levasse de volta para casa, mas ele sabia que, no fundo da sua subconsciência, havia algo pedindo para que continuasse. — Você pode ser a grande esperança de um povo em lamentações, um herói, uma lenda que viveu por mil anos. Você terá tempo o suficiente para ter a riqueza que quiser, o prestígio que quiser, se tornar a pessoa mais importante do mundo.

Zachary se virou para olhá-la nos olhos, e estava tão absorto neles, que mal percebeu o sorriso enigmático e – cof, nada suspeito crescendo em seu rosto.

É impressão minha, ou suas pupilas estão avermelhadas?

— Tudo que você tem que fazer, jovem, – Mallea acenou com a mão e um papel, levemente amarelado, velho, apareceu na frente dos dois, levitando sobre a sua palma. — é assinar este contrato.

Um contrato? Isso estava ficando cada vez mais sombrio com o passar do tempo. Ele sabia, ele era mais esperto do que isso, mais astuto do que isso. Zach, leia o contrato! Disse seu cérebro. Zach, as palavras minúsculas! Lembre-se delas! Ele simplesmente passou os olhos pelo papel, mas não realmente absorvendo qualquer coisa que estava lendo. Sim, o contrato era suspeito, e essa mulher lhe protegendo mais ainda, no entanto, Zachary não podia simplesmente recusar esta oportunidade. Então, sussurrando, ele disse:

— Você tem uma caneta?

 

— ' —

 

— Então, o que é essa tal energia? – De volta ao seu apartamento acabado, abrigando uma mulher estranha, Zach havia finalmente saído de seu transe, agora lendo o contrato com atenção. Enquanto isso, Mallea brincava com os peixes que, se Zachary realmente assinasse, ele nunca mais veria vivos na sua vida.

— Você é o que os humanos chamam de "prodígio", certo? Um gênio. – Ela se virou, depois de praticamente esvaziar o pequeno compartimento de ração de peixe no aquário. — Afinal, não é qualquer um que se forma com 14 anos.

— Hm. É, eu sou. – Esta mulher está prestes a me insultar? Pensou, tentando concentrar-se no documento novamente. Mallea soltou um risinho, quase como se estivesse debochando do rapaz. A audácia dessa filha da mãe.

— Não, você não é. – Squyer deixou os peixes em paz, sentando-se desleixada em uma das poltronas em frente ao rapaz. Ela tirou sua jaqueta de couro, deixando seus ombros respirarem um pouco, e suspirou aliviada, antes de continuar. — Prodígios humanos são crianças precoces em áreas determinadas, que dominam ditas áreas com maestria. No seu caso, seus estudos e pesquisas, certo? Sinto lhe informar, Zachary, você não é prodígio algum, apenas escolhido por Sua Excelência. Você nasceu com uma certa porcentagem da sua energia ativa, e não sabe como desligar. Essa energia está sendo diretamente concentrada no seu cérebro e intelecto, super capacitando-o mentalmente, o deixando mais esperto e apto ao aprendizado que os humanos comuns.

Seu cérebro simplesmente parou de funcionar. O brilho dos seus olhos havia sumido, sua vida foi uma mentira, ele apenas conseguia encarar Mallea boquiaberto. A mulher de olhos celestiais franziu seu cenho, fazendo bico.

— Não me olhe assim. Mesmo que seja verdade, seu nível de energia é imenso. Você até mesmo supera a mais forte filha de Sua Excelência. De certa forma, você é um super prodígio, pelo menos no meu mundo. Em Communis Terra, se falasse algo assim para qualquer um, seria apenas considerado louco. – Por um lado, Zachary se sentia bem sabendo que, pelo menos nessa tal Divina Terra, seus esforços e gênio eram reconhecidos verdadeiramente pelo que são. Por outro lado, ter vivido falsamente achando que era um pequeno prodígio, junto com a pressão absurda que havia colocado sobre si mesmo ao afirmar que assinaria o contrato realmente o deixaram meio para baixo.

— Err, Mal, posso te chamar assim, certo? – Ela revirou os olhos, mas acenou com a cabeça, permitindo. — Hm, eu preciso me acostumar um pouco com a ideia, sabe. Já que você disse que iríamos assim que eu assinasse, e tipo, eu tenho família e tal, preciso me despedir deles, ajeitar minhas malas, botar comida pros meus peixes, etc. Será que eu posso assinar isto, sabe… uma outra hora?

Os lábios da mulher se transformaram em uma linha fina, era claro seu desagrado com a proposta. No entanto, depois de um suspiro, ela simplesmente pegou o papel e a caneta nas mãos, concordando.

— Certo, você tem algum dia em mente? – Sua voz era calma, mas os seus belos olhos perigosamente gritavam "O mais rápido possível".

— Amanhã! Amanhã volte aqui, eu prometo assinar assim que me entregar o papel e a caneta novamente. – Sorriu amarelo, mas pelo menos, a mulher se contentou com a resposta. Mallea guardou os objetos no lugar estranho que ela vive colocando e tirando coisas aleatórias, e vestiu sua jaqueta novamente. Quando se virou para encarar Zach, não somente suas pupilas estavam amareladas, mas os seus lindos olhos azuis tinham um leve tom rubro assustador.

— Certo, vejo você amanhã, Carter. – Honestamente, parecia mais uma ameaça silenciosa do que um adeus. E caramba, isso fez Zachary se sentir mais do que nervoso. Ele rapidamente ignorou o sentimento, dando-lhe adeus, enquanto observava a mulher se teletransportar para fora de sua casa. Zach suspirou, sentindo o estranho peso de estar sendo observado sair de suas costas, e assim, ele sabia que estava só.

— Sim... Adeus.


—'—


Seria mentira dizer que o rosto contorcido e o "amanhã" incerto de Zachary não tinham mexido consigo. Muito pelo contrário, Mallea estava uma pilha de nervos, tudo que ela não precisa agora, é que o HM se recuse a fazer o que ele tem que fazer. Afinal, não somente ela seria pega nessa inconveniência, mas todo o seu precioso mundo e seus amados homodios também sofreriam gravemente com isso. Ela havia prometido e sido prometida um futuro próspero, sem dor, sem lágrimas, sem homodictos nojentos, e por isso, a pequena possibilidade de tudo dar errado nos últimos momentos lhe deixava mais que nervosa.

De verdade, ela não fazia ideia do que faria se Zachary recusasse. Sentia pena do pobre rapaz só pela possibilidade de tal coisa, dele, e dos vários humanos que chegaram a assinar um contrato durante suas vidas. Afinal, Mallea não confiava em si mesma e no seu auto-controle tanto assim.

Tenha paciência, Lea, tudo vai dar certo. Uma voz disse suavemente em sua cabeça, apenas esse amável e calmo som era capaz de fazê-la suspirar de alívio, e sussurrar doces preces de graças e bênçãos.

Sentindo-se mais segura, Mallea rapidamente desapareceu do apartamento desgastado, nem mesmo uma sombra ou evidência de sua presença. Ela podia sentir a brisa suave da noite de Nova Iorque, as luzes ardentes a cegando momentaneamente, antes de seus olhos se acostumarem e a mulher partir para algum lugar mais calmo e pouco movimentado.

Um sorriso constante presente em seu rosto, Mallea sentia-se leve, como um grande peso finalmente caindo de suas costas. Ah, como era boa essa sensação de estar perto do fim de sua jornada, uma sensação de dever quase cumprido. Apenas mais alguns passos, e ela achou um prédio não muito alto, com um terraço desértico, onde decidiu passar a noite.

Ela não se sentia bem assim há muito, muito tempo.

Mallea havia desistido de arranjar casas realmente moráveis nos 1800's, tanto pela grande burocracia, quanto pela quantidade de vezes que ela teve de fazer isso. Aparentemente, tudo estava mais fácil e rápido desde a época em que parou, no entanto, já estava acostumada a viver em cima dos prédios, mesmo que não seja exatamente muito honroso, era muito melhor que ter que interagir com os humanos mais que o necessário.

Respirou fundo, antes de perceber que não conseguiria se sustentar por muito tempo apenas com oxigênio. Tomou o seu respirador em mãos e inalou o gás nullan, suspirando de alívio. Que saudades imensa sentia de casa, faziam quatrocentos anos que não pisava em Divina Terra. De longe, conseguia sentir o gritante NE de um humano que ainda não havia assinado ou recusado o contrato, mas Mallea estava tão na paz no momento, que realmente não queria ter que lidar com a ideia de se forçar na vida dos outros novamente.

Ela queria apenas fechar os olhos e descansar.

— Oh, Vossa Excelência, criadora do mundo e soberana sobre tudo e todos. – Começou a sua oração, preparando-se para descansar. — Que a Senhora tenha misericórdia de nossas pobres almas, escute nossas preces e proteja-nos do perigo constante. – Estou ouvindo, querida. Sussurrava a voz em seu ouvido. — Dá a mim e meus irmãos um bom descanso, e que o amanhã venha como uma radiante chuva de bençãos sobre as suas criações. – Eu não tenho essa capacidade no momento, Lea, mas o fim de suas lamentações está cada dia mais próximo. — Sou grata por tudo que tens feito em minha vida, por ter me guiado e escolhido para seguir o Seu direto caminho. – Eu estou mais que orgulhosa de você. Disse, docemente, e Mallea não pôde deixar de sorrir. Terminou as suas preces e preparou-se para dormir. Fechando os olhos, caiu em sono profundo.

 

— ' —

 

Sicut propheta dixit: Tempus novum venit. Tempestas magna erit, sed in fine, qui perseveraverint victores erunt. Crescite, filii iustitiae, et estote sicut aves pulchrae, liberae et securae.

Mas aqueles que não conseguirem, pagarão pelos seus pais e os pais dos seus pais. Não por escolha de uma força maior, mas por uma simples e infeliz consequência.

Justi salvabuntur, et qui in miserationibus mortui sunt, in domo divinae excellentiae collocabuntur. Sed qui blasphemaverint, et nomen creatoris obtrectare perseverent, morte acerbissima morientur, et fato gravius.

O final da jornada está por vir, e com sorte, vocês conseguirão viver no novo mundo preparado para ti. Não haverá predadores cruéis em todo lugar, em busca da sua carne e esmagar os seus sonhos, mas uma certa paz virá, próspera e preparada com delicadeza para aqueles que sobreviverem ao julgamento divino.

Mas se ajudem e apoiem sempre, para uma maior chance de vitória, afinal…

Corvus oculum corvi non eruit.

Um corvo não arranca o olho de outro corvo.

 

— ' —

 

Acordava de mais um daqueles sonhos estranhos, onde ela apenas ficava estática em uma cadeira, de cabeça baixa, e uma voz familiar murmurava a profecia que lhe foi dada, sempre em latim e em outro idioma humano. Mallea levantou-se relativamente cedo naquele dia, talvez por estar ansiosa, afinal – esperançosamente. – finalmente teria o contrato assinado pelo HM, ou talvez ela já estivesse descansada o suficiente, e não precisava dormir muito mais.

O que importa é que precisa se arrumar para seu – ugh – atual trabalho. Tirou algumas roupas limpas do vazio que havia comprado e vestiu, ali mesmo no terraço de um prédio. Mallea odiava aquelas roupas, mas foi o que o Google mostrou quando pesquisou por "Professora de História", então era o que ela iria usar, mesmo que desprezasse com todas as suas forças aqueles óculos idiotas que ela nem mesmo precisava, mas complementavam o look, então só usava mesmo.

Dois minutos com a roupa e ela já queria arrancar da sua pele novamente, graças à mãe, pensou, essa será a última vez que terei de usar isso. Suspirou e teleportou-se para um lugar mais recluso da universidade, tendo certeza que ninguém a tinha visto, estava muito acostumada a só ir andando até o lugar.

Ainda bem que era o seu último dia lecionando, Mallea não sabia se teria paciência para sequer mais uma semana agindo como um ser humano comum. Karin Fang meu ovo esquerdo. Pensou, quando havia aprendido a usar esse tipo de linguajar? Ela nem mesmo tinha testículos.

Talvez aquele fosse o dia que ela menos havia prestado atenção no que ela mesma estava falando em suas aulas, sua cabeça a mil com milhares e milhares de cenários rodando pelo seu cérebro. O que a deixava mais contente, era da mulher voltando à sua terra, limpa de seres mortais e cheio de vida novamente, que deixava lentamente de ser um cenário irreal para se tornar cada vez mais concreto.

Squyer não havia visto Zachary em suas aulas naquele dia, claro, o rapaz não tinha aulas consigo na quarta. No entanto, nem mesmo havia o visto de longe no prédio principal da universidade, o que, claro, achou estranho. Muito tempo convivendo (sem que o rapaz soubesse) com ele para saber que Zachary não perdia sequer um único dia de aula. Isso é estranho. Já era quase noite, e sem sinais do rapaz.

Suspirando, usou o seu NE para conseguir localizar o homem retinto, vendo que realmente, ele não estava nem perto da NYU. Há 45 minutos de distância, lá estava Zachary no bairro do Brooklyn, provavelmente na casa dos seus pais. Logo após finalizar o seu último dia de trabalho, correu para um canto recluso e trocou de roupa, logo teleportando-se para o lugar, e, de trás de um poste, pode ver o homem remexer-se nervosamente na frente da casa de seus pais. Ele respirou fundo e bateu.

Zachary foi recebido por um abraço apertado do seu pai e um beijo na testa da sua mãe, logo entrando na casa após ser convidado para dentro. Eu sinto falta disso. Algo no subconsciente de Mallea disse, mas a mulher rapidamente expulsou esses pensamentos da sua mente, voltando a se concentrar na sua tarefa.

De longe, era possível apenas desenhar a forma de um vulto de cabelos curtos cacheados e mais duas pessoas à sua frente, fazia um bom tempo que Zachary não voltava para visitar os seus pais, e como consequência, fazia tempo que Mallea não via os seus rostos, portanto foi um pouco difícil de atribuir rostos às sombras escuras em frente ao jovem.

Ela pensou consigo mesma: Existe algum motivo para Zachary não ter vindo visitá-los antes? No entanto, antes que pudesse continuar com o seu brainstorm sobre a vida pessoal do garoto, o comunicador fincado em seu pulso direito apitou, uma quase silenciosa notificação de um remetente sem nome.

Somente os filhos de Imperatrix Dexia conseguiam ligar diretamente para a moça, e ainda sim, apenas Perantia a ligava de forma constante, como pedido pela mais nova, de alguma forma, a voz rouca e ríspida da general lhe confortava. Escusado será dizer que a ligação era bastante suspeita, mas confiante como sempre, Mallea aceitou.

— De todos os rostos que eu esperava ver, – A mulher de cabelos azuis cinzentos iniciou a conversa, embasbacada com a imagem à sua frente. — O seu era o último que eu havia considerado.

— Hehe~ – As íris rubras da mulher brilhavam, mesmo sendo apenas uma imagem holográfica, fazendo contraste com as escleras negras como a noite. — Apresento-me como Sua Majestade Alyna Tueritia. É mais que um prazer finalmente conhecer a, oh, redentora de Divina Terra. – A ironia em sua voz era palpável, até mesmo com os tremores da ligação, mas Mallea não esperava menos vindo da mulher. A mais velha limpou a garganta, franzindo o cenho.

— Igualmente. – Isso era, obviamente, uma mentira. Afinal, sua hostilidade com certeza era maior com aqueles que se recusavam a reconhecer o divino, mesmo que a mulher tentasse incessantemente esconder, em respeito às opiniões de todos os homodios. Portanto, conversar com a monarca do país de Chaed era algo que estava completamente fora da sua zona de conforto.

Para toda Divina Terra, até mesmo para os vocatianos, Chaed era nada mais que uma lenda, poucos ainda acreditam na existência da cidade de Scutam, com toda a crise e os predadores a solta, a maioria dos que sobraram acreditam que a cidade recém levantada foi abaixo em alguns poucos meses da Ira Divina, mesmo com algumas tentativas de Generalis Igentia em estabelecer uma negociação com o povo, que logo foi recusado. Mallea, claro, sabia que não era verdade. Ela podia ir para onde bem quisesse, logo, Scutam foi uma das suas primeiras paradas, e lá, pode observar um povo, em sua maior parte sofrido, no entanto, se mantendo de pé e reerguendo-se pouco a pouco. De longe, pode observar a "Sua Majestade" Rodericus Tueritia fazendo o possível para manter o lugar de pé.

Que bom saber que a monarquia continuava a prevalecer naquela urbe.

Mesmo que nunca tenha visto Alyna Laish pessoalmente, era possível reconhecê-la de longe, pela grande similaridade com quem lhe colocou no mundo, os olhos eram a principal prova de que seu sangue também era parte semideus. A família Tueritia fazia questão de dizer que Generalis Igentia não fazia o mínimo pelo seu continente, e colocar suas vidas e despesas nas mãos de semideuses era loucura e, atualmente, suicídio. Os causadores de uma rebelião, que conseguiram tomar proveito o bastante da bondade de Igentia a ponto de serem presenteados o seu próprio país, sem a ajuda de divindades, vivendo por si mesmos. Esse foi o mesmo povo que, após terem conseguido o seu tão sonhado "lugar próprio", colocou toda a terra de Chaed nas mãos dos descendentes diretos da principal divindade de Iusvocatus.

Ah, um brinde às contradições de sua adorada segunda dimensão.

— Vamos direto ao ponto, senhorita Squyer? – Ter seu nome de família saindo da boca dessa mulher com um tom cheio de sarcasmo faz seu sangue ferver, enfurecido. — Um passarinho me contou que você achou o garoto maravilha há alguns poucos anos e, consequentemente, vai voltar para casa logo. Correto? Afinal, você ainda precisa achar as tais relíquias de Dexia. – Faziam mais de 20 anos que tinha avisado aos semideuses que Zachary havia finalmente nascido, ainda sim, só agora essa pequena cobra veio ter uma "conversa" sobre? Monarca suspicaz.

— Sim. – Respondeu, curta e grossa. Por mais que não quisesse ter uma conversa dessas agora, principalmente por estar escondida na frente da casa do principal assunto dela, também não havia motivos para mentir, afinal, Alyna já parecia saber de tudo. — Posso saber o que tem de tão interessante nisso?

— Ser grossa é o seu mecanismo de defesa? – Nossa, que vontade de explodir uma cidade. — Não se preocupe, Vossa Excelência, eu não mordo. Claro, só se você me pedir.

Agora, tudo só começou a ficar meio desconfortável.

— Não me trate como uma divindade. – Quantas vezes teve que repetir isso? — Sou apenas uma serva fazendo o que foi atribuído a mim.

— Como quiser, vida. Enfim, voltando ao que importa... – O holograma falhava alguma vezes, e Mallea suspeitava que era porque este aparelho não foi feito para ser utilizado por Alyna. — E se eu disser que o meu povo achou uma das suas preciosas relíquias, uma balança, em uma excursão para fora da cidade. Sua deusa não quis facilitar para ti, hm? – Os olhos de Mallea quase caíram de seu rosto, ela audivelmente exclamou, sem palavras.

— Vera Libra… – Sussurrou para si mesma, o equilíbrio verdadeiro. Seu rápido momento de surpresa deu lugar a um olhar determinado, com fogo nos olhos. A mulher estreitou as costas, dando total atenção à vibrante imagem à sua frente. — Prepare o objeto para viagem agora mesmo, assim que voltar à Divina Terra, irei direto para Chaed.

— Ah-ah, não tão rápido, pequena felina. – A voz sensual e sedutora de Alyna, e ao mesmo tempo irônica e sarcástica, era mais que o suficiente para fazer Mallea cerrar os punhos, irritada. — Eu tenho uma proposta.

A imagem de Laish, no entanto, parecia distraída com algo à sua frente, além do comunicador, mas logo sua atenção voltou à Squyer, que esperava pacientemente a proposta da mulher, com um "não" já na ponta da língua. A expressão da mais nova havia mudado consideravelmente assim que voltou a sua completa atenção à Mallea, enquanto antes Alyna parecia no controle de tudo, agora ela guardava certo desprazer por trás de um sorriso contido.

— E eu irei falar sobre assim que cumprir os meus deveres como rainha. Fique atenta, gatinha, eu vou ligar novamente. – E com um ousado piscar do seu olho direito, desligou subitamente. Mallea, pega de surpresa, ficou encarando o nada por alguns minutos, antes de suspirar e salvar o contato de Alyna como "Rainha Serpente". Se a mulher realmente tinha achado Vera Libra, deveria ao menos ouvir o que tinha para falar, antes de negar e usar força bruta para entrar no país.

Mallea pulou de susto quando, após alguns minutos pensando na estranha conversa que acabou de ter, uma voz grossa mais do que familiar falou consigo. Ela, contudo, soava triste, quebrada, e desiludida.

Óbvio que o rapaz tinha lhe percebido ali.

— Mal, você está com o contrato? – Zachary soava como um cachorrinho chutado. Com apenas uma rápida avaliação da sua aparência, era possível perceber o que havia acontecido lá dentro: seu cabelo estava bagunçado, seus olhos vermelhos e a sua bochecha esquerda estava visivelmente inchada. Os lábios de Squyer formaram uma linha fina, sem saber como consolar o menino.

— Então, ah, eu acho que eles não aceitaram tão bem? – Afinal, ela sabia que seus pais eram pessoas bastante religiosas, dizer que seu Deus é na verdade uma deusa e ela está atualmente incapaz de ouvir suas orações provavelmente não foi uma boa experiência. No entanto, essa reação foi muito explosiva se for realmente apenas por isso, e isso fez Mallea pensar. — Você disse a eles-

— Não quero falar sobre com você. – Claro, fazia sentido. Zachary tinha lhe conhecido oficialmente há um dia, é mais que óbvio que ele não iria se abrir imediatamente. — Só me dá a merda do contrato.

Suspirando, ela tirou o contrato do vazio, junto com a caneta e um pequeno frasco. Mallea deu a ele o contrato, e Zachary teve pouca ou nenhuma hesitação enquanto assinava a folha.

Zachary Ambrose Carter brilhava com a tinta escura da caneta. Acabou, finalmente acabou. Seus olhos começaram a lacrimejar, mas Mallea rapidamente enxugou as lágrimas do seu campo de visão, respirando fundo antes de ir ao próximo passo.

— Sua mão, por favor, Zachary. – Revirando os olhos, ele cedeu, oferecendo sua mão. Zachary deixou um grito agudo escapar quando a caneta se transformou em uma lâmina e Mallea fez um pequeno, mas profundo corte em seu dedo médio.

Ela rapidamente pegou o pequeno frasco aberto e colocou sobre o referido corte, virando-o para baixo e pressionando com força para que o sangue saísse mais rápido.

— Zachary Ambrose Carter, seu sangue agora é meu. – Seus olhos brilharam em um vermelho brilhante assustador enquanto finalizava a assinatura do contrato. Era uma língua diferente, talvez latim? Mesmo assim, Zachary conseguia entender o que era dito. Ela continuou: — Que suas contribuições à primeira e segunda dimensão sejam reconhecidas pelo divino. O contrato foi assinado.

O sangue do rapaz, assim como os olhos de Mallea, brilhavam rubros, e quando a mulher disse as palavras finais, o brilho morreu aos poucos, deixando apenas um frasco de sangue comum. Squyer guardou o contrato e o frasco no vazio, limpando a garganta em seguida.

— Como se sente, Carter? – Era necessário perguntar, afinal, foi retirado de si uma quantidade considerável de sangue. Mas quando Mallea olhou nos olhos de Zachary, tudo que podia ver era uma mistura de temor, surpresa e curiosidade. O rapaz rapidamente balançou a cabeça, saindo de seu transe, ele tinha o olhar fixado em seus olhos.

— Eu estou bem, eu acho. – Ele deixou escapar uma grande lufada de ar, antes de juntar as mãos causando um alto som. Sentia-se aliviado, mas sem saber o que fazer. — Então, hm, o que a gente faz agora?

Mallea abriu o vazio novamente, pegando todos os contratos que ainda não queimaram, vendo um monte de nomes que ela não conseguia lembrar, mesmo que tentasse muito.

— Você escolhe, eu posso ou não ter alguns contratos para fazer ainda. Ou… – Ela mostrou os papeis para Zachary, e o rapaz viu a grande quantidade de nomes que Mallea provavelmente conseguiu arrastar consigo. — A gente pode ir atrás desse pessoal, e falar que estamos prontos para começar a viagem, qual você escolhe?

— Tanto faz. – Zachary nunca teve um poker face - é assim que chamam? - tão forte em sua vida. Mallea, então, escolheu um contrato em específico e entortou os lábios, contorcendo o rosto.

— Nossa, esse aqui está velhinho já, hein? – A mulher tentou o seu máximo para tentar lembrar o rosto dessa pessoa, mas ela duvida que algum dos que passaram na sua cabeça realmente era ele. Zachary acenou com a cabeça, de repente agitado com a possibilidade de conhecer novas pessoas. — Okay, então, vamos lá.

Com isso, os dois sumiram da frente da casa dos Carter, e não sabiam se sequer iriam voltar algum dia.

 

— ' —

 

3048, Iusvocatus — País de Chaed, Scutam

 

A mulher suspirou assim que terminou a chamada. Conseguia sentir as veias do seu pescoço pulando em animosidade. A vontade era de jogar o primeiro objeto pesado que visse no mordomo à sua frente, por ter interrompido algo que finalmente havia conseguido tempo para fazer, desde que encontraram a estúpida balança da deusa hipócrita.

Felizmente, Alyna tinha mais autocontrole e pensamento crítico que isso. Todavia, não foi o suficiente para que a monarca deixasse de pronunciar o seu desgosto com a situação.

— Sanctorum, seu completo idiota. – Começou, seu rosto apresentava um sorriso tranquilo, mas o moreno sabia que não deveria baixar sua guarda. — Eu tive a incrível oportunidade de falar com a cópia mal feita da deusa diretamente, mas fui interrompida pois o mordomo do palácio simplesmente não sabe como trabalhar corretamente, e apenas se joga na sala privada de sua rainha sem se pronunciar primeiro. Posso saber por que caralhos estou vendo seu rosto quando me lembro de ter pedido, com todas as letras, para me deixar em paz?

Eram palavras afiadas, que poderiam cortar um forte soldado de dois metros de altura e fazê-lo implorar por misericórdia. No entanto, Servius estava bastante acostumado com o temperamento intimidador e imprevisível da sua prima. Ele simplesmente abaixou a cabeça, fechando os olhos, enquanto se ajoelhava.

— Peço perdão pelo meu mau comportamento, Vossa Majestade. Por favor, tenha piedade de mim e da minha família. – Servius rapidamente adotou a atitude de cachorrinho treinado que Laish adorava ver nele. Estava funcionando, seu sorriso cresceu, e seus olhos incomuns brilhavam prazerosamente. — No entanto, o que tenho a dizer é de grande importância, Vossa Majestade mesma pediu notícias imediatas sobre a missão.

— Bem, já que você infelizmente está aqui, pode prosseguir. – A pequena mulher se levantou da cadeira, sinalizando com a mão para Servius se levantar novamente. E assim o mais velho fez, encarando-a.

— Finalmente conseguimos contornar a barreira. Os primeiros de nossos infiltrados já estão bem longe em território igentiano. Não demorará muito para que os nossos homens cheguem em Gladian. – Em seguida, Giss pôde ouvir um som de exclamação feliz de sua majestade, e sorriu, sabendo que tinha feito bem.

— Ótimo... Isso é ótimo... Obrigado, querido, prossiga como planejado anteriormente. Agora seja um bom cachorro e saia, certo? Você está absolvido de seus erros anteriores. – Ela estava feliz, ah, como estava feliz. Afinal, a felicidade de seu povo era a dela e, finalmente, depois de algum tempo tentando tirar vantagem sobre Stipula, seus homens finalmente estavam chegando lá. Agora, tudo o que ela precisa é que a pequena gata em Communis Terra aceite sua proposta, e tudo ficará bem mais fácil.

Pode não ser a escolha mais honrosa e ética, mas quando tudo o que fazemos é tentar sobreviver um dia após o outro, um líder deve tomar decisões difíceis para garantir que seu pessoal prospere. E se para que isso aconteça, ela deve perturbar a paz atual com o Semideus Imóvel, então que assim seja.

Ah, mas no fundo, todos sabem como Alyna está realmente se sentindo.

Eufórica, se ela pudesse ordenhar a bondade do deus até que ficasse sem nenhuma, então ela faria isso de bom grado, prazerosamente. Afinal, que bem um semideus imutável e estático está fazendo de bom a esta terra secretamente em queda?


Notas Finais


Lembrando que o pessoal do discord tem aviso prévio de quando sairá o próximo capítulo! Caso estejam interessandos, aqui está o link:

https://discord.gg/SE7c9eGFHB

E obrigada por ler! Aqui está um documento sobre os personagens apresentados:

https://tinyurl.com/adicionais-id

Não se esqueçam de comentar e falar o que acharam.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...