Ouvir o sussurro das Estrelas, às vezes, não é muito legal, não.
No início, não vou negar que me deixei cegar pela ambição: me joguei com tudo na infame crença de que iria descobrir alguns mistérios quais me levariam à fama, assim deixando a NASA roxa de inveja. Tipo, novas galáxias, estrelas não identificadas, planetas escondidos...
Contudo, tudo que constantemente ouço são sussurros sobre eu estar indo à direção errada. “Que direção errada seria esta?”, eu debilmente pergunto, então recebo como resposta um sereno: “Yeji, continue trilhando…!”.
Todo dia isso.
Há vezes, incríveis vezes, que orbito num lugar onde tem cinco luas, o Plutão no sentido literal da coisa, e então me esqueço desta tosca habilidade — e, veja só: minha mãe diz que isso é uma bênção maravilhosa!
Oh, como é maravilhosa…! Sem querer, pensei que estavam cochichando comigo hoje cedo lá na Estação Talassa. Ouvi um: “... você está indo para a direção errada, Yeji, seja mais esperta…!”, e aí esbofetei um cara inocente.
Resultado: detida por três horas. “Adolescente rebelde querendo causar”, diziam eles. Realidade: adolescente de saco cheio dessas Estrelas irritantes e do seu fatídico destino esquizofrênico.
— Os meninos do meu colégio, do clube de Caça Fantasmas, estavam atrás de mim essa semana — eu vãmente argumentei, naquela tarde de segunda-feira azul. Eu gosto muito de azul. É uma cor tão… melancólica. — Porque, aparentemente, eu converso sozinha!
— Ora, Sarkany¹ — ela riu pelo nariz enquanto bebericava o chá de lágrima-de-borboleta. — Seja mais discreta da próxima vez!
“Escute à sua mãe”, ouvi alguém murmurar, a voz arrastada quase como um canto místico, “as mães sempre sabem o que dizem!”.
— QUE SACO! — a contestação estrondou pela sala de chá. Mamãe fechou o semblante, e meu âmago se ruiu por completo, e todo o clima se ruiu por completo.
Como se tudo, desde o início, já não tivesse destruído.
Nunca quis ser “cartomante estelar”!
— Yeji, tenha modos! — vovó, tão sofisticada como sempre, censurou. Ela se sentava na ponta da mesa, e até seus movimentos eram opulentos. A cada dia que passava, eu notava que ela continuava cada vez mais nova. Seria essa uma espécie de Elizabeth Bathory celestial? — Peça perdão à sua irmã Umbriel!
Era sempre assim. Sempre.
— Eu. Não. Tenho. Irmã. Alguma.
Com fuga; fuga úmida e inflamada. E tampouco na penumbra do meu quarto eu podia ter um gotejo de privacidade. “Yeji… Yeji…”, ecoava sobre as paredes do meu quarto, sobre as paredes do meu cérebro, “seja menos cabeça dura com as suas irmãs…”.
Tratavam as Estrelas como se fossem pessoas da família; como se fossem, de fato, minhas irmãs — irmãs mais velhas chatíssimas e autoritárias, que roubam os seus discos favoritos e o seu par novinho de Chuck Taylor. De vez em quando, com os fones fincados lá fundo dos ouvidos para abafar aquele blá-blá-blá todo, eu ia novamente ao meu paraíso de cinco luas, Plutão-Imaginário, o Plutão escondido na parte mais macia da minha mente, e me perguntava se não pertenço a este mundo tão ridículo e injusto.
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