História Janelas de Vidro - Capítulo 13: Desditoso Intermediário

Jimin se sentia exausto. Hoje obtivera um trabalho árduo no escritório. O alfa adentrava em sua casa ao mesmo tempo, que despia o paletó acinzentado. Espreguiçou-se contraindo todos os músculos ao caminhar direto aos aposentos que partilhava com o esposo. Supôs que Min deveria de estar lá; estranhou o fato da mansão aparentar tão silenciosa.

Ao concluir a caminhada, pôde avistar Yoongi deitado de lado na cama. Ele usava aquela, costumeira lingerie, cujo Jimin julgava bastante bonita. A princípio tivera a impressão de que Yoongi dormia, mas ao seguir passos retos a suíte do quarto a voz de Min eclodiu desacelerando os seus passos.

- Teve um dia muito agitado... – Jimin não soube decifrar se aquilo fora uma afirmação ou uma indagação, contudo freou os pés e ficara imóvel ao perceber o timbre mórbido que Yoongi exalava.

- Bastante... – respondeu naturalmente. Ao virar o pescoço pôde vê-lo na mesma posição. O ômega não se movimentava por nenhum instante. Naquela distancia e daquele ângulo Park não podia visualizar o rosto alheio, mas este era mofino, evidentemente infeliz.

- Irei tomar banho, se quiser vir comi-

- Não. – respondeu de imediato calando a boca do marido. – Obrigado. – em sua voz não soava gratidão alguma, pelo contrário, nela havia uma grande quantidade de amargura, mas ainda assim era firme e rígida.

Jimin notou que havia algo errado com Yoongi. Não só pelo modo como ele lhe respondia, mas também pelo comportamento. O ômega não olhara para o rosto do alfa em minuto sequer. No entanto, Park resolveu não questioná-lo, pois acreditou que podia ter a ver com a gravidez. Variações de humor são algo comum durante o período de gestação. Sendo assim ele se dirigiu a suíte, ignorando o diálogo esquisito que tivera com o esposo.

Min apenas se manteve no mesmo lugar. Ele mirava o chão do quarto contemplando o vazio que sentia por dentro. Não tinha provas absolutas da traição do marido, mas aquele desenho erótico já dizia muita coisa. A mente do ômega se encontrava num verdadeiro tumulto; estava muito abalado. Ele não conseguia parar de pensar, e pensar... Entretanto, uma coisa havia decidido. Não iria comentar nada com Jimin até que tomasse total certeza absoluta de sua traição.

*

No dia seguinte Jungkook fora a escola, mas não se sentia totalmente melhor. Sua consciência andava bastante pesada. No intervalo, Taehyung lhe enchia de perguntas quase infinitas enquanto se acomodavam no refeitório da escola, saboreando o lanche da manhã.

- Seu omma não suspeita de nada? – o beta questionava.

- Suspeitar o quê?

- Cara, você anda tendo enjoos esquisitos de um tempo pra cá e ontem desmaiou, é sério que ele nem parou pra pensar naquela possibilidade? Quer dizer, ele também é um ômega afinal, deveria perceber. Até o seu irmão idiota percebeu... – Taehyung dizia enquanto mordiscava vários pedaços de maçã.

- Vocês estão mesmo decididos em me perturbar com essa coisa de gravidez. – Jungkook bufou aborrecido. – Não haveria como o meu omma suspeitar de algo do tipo.

- E por que não?

- Ele não é envolvido na minha vida sexual, Tae... – bufou novamente, revirando os olhos.

- Ah, mas isso não tem nada a ver. – contraditou mordendo outro pedaço de maçã. – Escute, sei que você se nega a acreditar nessa possibilidade, mas pensa comigo... – dizia em pausas encarando o amigo fixamente. – Não pode continuar nesse impasse para sempre, uma hora ou outra a verdade vai aparecer, então do que adianta ficar fugindo dela? – Jungkook suspirou profundamente ao escutá-lo, abaixando os olhos.

- Como pode ter tanta certeza de que estou grávido? – o ômega replicou num tom choroso.

- Não tenho certeza de nada Jungkook. – devolveu. – Eu só penso em evitar o pior... – dizia calmamente. – Se eu estivesse no seu lugar não conseguiria viver nessa dúvida. Você pode não estar grávido, sim, claro que pode. Mas também pode estar...

- E se... – arranhou a garganta pouco antes de continuar. – Eu estiver grávido? – esse era o seu maior medo.

- Está com medo, eu entendo. – Taehyung dizia compreensivo. – Mas uma hora ou outra essa resposta vai chegar, de um jeito bom ou ruim, ela vai chegar... Então porque não procurar exterminar com essa dúvida de uma vez por todas?

Pela primeira vez em muito tempo o ômega dará razão ao beta. Como o mesmo disse, não adianta ficar fugindo e se torturando, a dor só aumenta desse jeito. Por isso Jungkook tomara uma decisão; ele iria comprar um teste de gravidez e acabar com sua tortura de uma vez por todas – assim como dissera Taehyung.

Ao fim das aulas, Jeon despediu-se do amigo e caminhou a farmácia mais próxima de Jayuwa. Sem muito escolher pegou o primeiro teste de gravidez que encontrou e pagou pelo mesmo saindo ás pressas do estabelecimento. Naquela tarde Jungkook retornou para casa com os nervos a flor da pele. Sentia-se tão inquieto e ao mesmo tempo sôfrego. O sentimento de que a verdade estava próxima o deixava angustiado.

*

Hoseok trabalhava continuamente operando as máquinas que fabricavam enlatados enquanto conversava com seu amigo Kyusang, que fazia o mesmo. Ambos trocavam piadinhas internas – era costumeiro – descontraindo o serviço pesado que exerciam. Dentro da fábrica todos perdiam a noção do tempo, pois era tanto trabalho para ser feito.

Enquanto trabalhava e dialogava com o outro alfa, passos vinham em direção aos dois. Kyusang fechou a expressão risonha no exato momento em que Hoseok sentiu ser cutucado pelas costas. O alfa franziu o cenho, confuso pela feição do amigo, e ao se virar de costas topou-se com a imagem sólida e viva de Min Yoongi o encarando bem de perto.

- Chefe! – exclamou evidentemente surpreso.

- Não queria lhe interromper, mas poderia me dar alguns minutos? – Yoongi estava tão sério que assustara o alfa mais novo.

- Eu fiz algo errado? – questionou preocupado.

- Ah não... – antecipou despreocupando o maior. – Eu só gostaria de um amigo para desabafar. – disse em voz baixa, não queria chamar a atenção dos outros.

- Ah sim, entendo. – daquele ponto Hoseok deduziu que havia acontecido algo na intimidade de Yoongi. – Mas é que tem tantas coisas para se fazer aqui... Se não se importar-

- Não irei te prejudicar; não se preocupe. – antecipou novamente, sorrindo de canto. – Está liberado do expediente por hoje. – disse em seguida, aproximando-se um pouco mais do alfa. – Me encontre na lanchonete da esquina... – sussurrou para que somente Hoseok o escutasse.

Sendo assim, Yoongi se distanciou do alfa abandonando o setor de modo natural, agindo normalmente para que os olhares curiosos que estiveram os observando se desligassem. Hoseok agiu descomplicadamente ao despedir-se do colega de trabalho e seguir rumo ao lavatório, tomando uma rápida ducha ao tirar o uniforme de operário e recolocar suas vestis casuais.

Fitou o relógio de pulso e constatou que marcava 15h00m. Yoongi havia o adiantado bastante do expediente. Enquanto se encaminhava a lanchonete, cujo era próxima da fábrica, Hoseok apenas mentalizava sobre o que deveria ser de tão importante que Min desejava desabafar consigo.

Chegando a localidade, o alfa pôde ver o ômega de cabelos negros acomodado numa mesa para duas pessoas bem no fundo da lanchonete. Hoseok se encaminhou a Min, sentando-se no banco logo á frente. O maior podia sentir a energia carregada e negativa que emanava do outro, ainda não sabia do que se tratava, mas imaginou que deveria ser algo bastante sério.

- Então... Estou aqui... – anunciou esperando alguma atitude por parte de Min.

- Obrigado por vir. – agradeceu meio seco.

- Deve ter acontecido algo muito sério para estar desse jeito. – comentou analisando o comportamento alheio.

Ao dizer aquilo, de repente Yoongi franziu o cenho apertando os olhos, deixando com que lágrimas – duas ou três – vazassem por sua vista. Apoiou a palma da mão canhota na testa enrugada mordendo os lábios com força, tentou de todas as formas não chorar na frente de Hoseok.

- Eu só queria entender o que as pessoas pensam de mim. – declarou com a voz meio chorosa.

- Acho que isso depende do ponto de vista... – respondeu recebendo uma encarada do outro. – Quer dizer... Não posso saber o que se passa na cabeça de outras pessoas, mas eu te acho uma boa pessoa. – se corrigiu meio aflito.

- Um babaca você quis dizer...

- Não, babaca é quem não consegue enxergar a pessoa que você é. – declarou posteriormente, deixando um silêncio aberto entre os dois. Yoongi limpou os resquícios de lágrimas na própria face, fungando em seguida.

- Eu amo o Jimin... – declarou quebrando o silêncio. – E acho que isso me faz fraco, um tolo, um completo babaca.

- Ninguém é babaca por amar alguém. – Hoseok forçava, não era bom com essas coisas. – Ah, olha eu não sei. Não entendo de sentimentos e paixões. – disse sincero. – No seu lugar eu daria um foda-se pra esse tal de Jimin, ele não te merece de qualquer forma.

- Queria ser mais como você. – replicou admirando ás palavras do outro.

- Acho que o seu problema é idealizar uma pessoa que não existe. – disse curto e reto. – Perdoe a minha franqueza, mas o seu marido está longe de ser o que imagina, talvez por isso sofra tanto.

- Você fala como se o conhecesse. – observou fazendo Hoseok se dar conta do que tinha dito.

- Ah bom... Eu... – gaguejou vacilante. – Eu não o conheço, certamente. – riu tentando quebrar a tensão. – Mas posso sentir que ele não te merece. Isso parece óbvio para mim.

- Queria que fosse óbvio pra mim também. – desabafou num profundo suspiro e piscar de olhos.

- Talvez no fundo você saiba, só não quer aceitar. – replicou direto.

- Tem razão. – fungou. – Passei anos da minha vida a dedicando por completo a ele. Foram sete anos me dedicando a um casamento arranjado que em minha cabeça um dia poderia vir a ser recíproco. – piscou engolindo saliva á dentro. – Eu quis tudo isso, quis me iludir... – choramingou. – Conheço Jimin desde a adolescência, éramos bons amigos. – os olhos de Yoongi se infestavam por lágrimas que a qualquer momento iriam escorrer. – Mesmo que ele nunca tenha gostado de mim da mesma forma que eu, o que mais me dói nisso tudo é que a nossa amizade foi destruída pelo casamento forçado de nossos pais.

- Deve ser muito difícil pra você... – Hoseok prestara total atenção ás palavras alheias e consequentemente fora tocado por estas. Ele queria ter coragem para falar sobre o adultério que testemunhou, mas era o seu irmão envolvido no caso, e isso o deixava covarde.

- E agora carrego outra criança dele no meu ventre, mais um vinculo inquebrável que fizemos e que viera a vida... – dizia alisando a barriga, deixando as lágrimas caírem. – E então eu te pergunto... Por quê? – contestou. – Amo os meus filhos, mas sempre que olhar para eles irei me lembrar dele...

- Então pretende se divorciar? – o alfa questionou.

- Divórcio? – retrucou. – Não... – negou em sequência. – Não até eu comprovar a sua traição. – ao escutá-lo, Hoseok sobressaltou o olhar.

- Aah- como assim? – aquela súbita sensação de pavor e dúvida se alastrou por Hoseok.

Sem respondê-lo, Yoongi abriu a sua bolsa e retirou de dentro dela um papel com duas dobras. Logo em seguida o entregou ao alfa, mantendo o silêncio no recinto. Ambos trocavam olhares silenciosos e ao tomar o papel em mãos, Hoseok o desdobrou. Seus olhos se arregalaram ao testemunhar o desenho do próprio irmão nu, completamente pelado. Para si não foi uma paisagem muito agradável de se ver, mas ignorando esse fato, o alfa levantou os olhos a Min, o encarando.

- Nem mesmo soube que Jimin sabe desenhar. – declarou num tom abatido. – Em todos esses anos de casado ele nunca fez isso para mim. Nunca me desenhou dessa forma e de nenhum outro modo. – dizia suspirando intensamente. – É engraçado descobrir segredos de uma pessoa que você acha que já conhece muito. – Hoseok perdera a fala.

- O que pretende fazer sobre isso? – finalmente indagou, devolvendo o papel ao outro.

- Vou segui-lo e ver com os meus próprios olhos. – anunciou em sequência, fazendo o coração do alfa acelerar. – Preciso ver por mim mesmo, preciso sentir o que é real. Só assim poderei tomar uma decisão...

- Não posso questionar a sua razão. – o alfa disse.

Sentia uma certa culpa por saber de tudo e não contar. Uma culpa pelo amante do marido de Yoongi ser o seu irmão. Hoseok pensou que se Min viesse a descobrir tudo, até mesmo o nível de parentesco entre os dois, talvez ele se sentisse traído por si também e não voltasse a olhar em sua cara nunca mais. E isso certamente era algo que Hoseok de longe desejava...

*

Jungkook passara a tarde e o restante da noite trancado em seu quarto, encarando o teste de gravidez que ainda não tivera coragem de usar. A cada minuto, cada segundo, cada instante passado o ômega se frustrava mais e mais. Talvez no fundo gostasse de sofrer...

Jeon encarou o relógio em cima da cabeceira ao lado de sua cama e constatou as horas. O relógio marcava 23h00m, restavam apenas 60 minutos para a meia-noite e o ômega ainda se encontrava ali, inerente a sua teimosia, completamente incapaz de tomar alguma atitude. No entanto, após cinco minutos fitando o relógio em pura frustração, Jungkook acabou cedendo.

- É agora, ou nunca. – disse para si mesmo, pegando o teste e correndo ao banheiro do segundo piso, próximo ao seu quarto.

Kook retirou a embalagem do teste, arriou as calças e sentou-se na privada, urinando por cima do recipiente assim como indicava nas instruções. Após realizado o ato, Jeon levantou as calças e se sentou por cima da tampa da privada, esperando o resultado aparecer na tira medidora. Jungkook mordia os lábios em aflição enquanto fitava aquele teste até testemunhar duas linhas coloridas se formando na medidora, fazendo o seu coração pulsar forte e muito rapidamente.

Sua mão vaga foi automaticamente trazida á boca, cujo estava entreaberta. Aquilo era apenas a confirmação do seu choque, do que no fundo já sabia. O ômega tentou não entrar em pânico. Suspirou intensamente quatros vezes seguidas, inflando o peito e soltando ar pelas narinas. Estava grávido, de fato estava grávido...

Jeon deixou que o corpo caísse no chão, dobrando os joelhos e os abraçando ao deixar o teste jogado em qualquer canto. Encostava o corpo na parede enquanto escondia o rosto entre os joelhos, chorando aos prantos. Sentia-se perdido, completamente perdido. O que iria fazer agora? Carregava um filho de Jimin no ventre, o filho de um alfa casado. Pela primeira vez Jungkook desejou nunca tê-lo conhecido de verdade. Mas ainda assim não poderia colocar toda a culpa no Park, pois ambos haviam sido inconsequentes...

Durante aquele meio tempo, Hoseok retornava da faculdade. Não havia conseguido se concentrar bem hoje por causa da última conversa que tivera com Yoongi na lanchonete. O alfa se sentia sobrecarregado, contudo, ele subia ao segundo piso pelos degraus da escadaria se direcionando ao banheiro. Por trás da porta pôde escutar choramingos vindo de dentro do aposento. Pelo timbre supôs que deveria ser Jungkook, e sem pensar muito o alfa girou a maçaneta abrindo a porta, visualizando um Jeon esparramado ao chão aos prantos.

- Jungkook? – chamou observando o quão desolado o irmão se encontrava.

Hoseok passou os olhos pelo aposento e avistou o teste de gravidez cujo estava jogado ao chão. Ele pegou o objeto em mãos e avistou duas linhas coloridas na medidora. Entendeu logo o que aquilo significava. Esta era a confirmação de que seu irmão está mesmo grávido. Ambos os olhos se encontraram em meio aquele tempo, a vista de Kook se encontrava vermelha e inchada assim como todo o resto de sua face.

Hoseok agachou-se ao chão para encontro do irmão que fungava chorando infinitamente.

- Jimin... – pronunciou-se roubando novamente a atenção do caçula. – Eu os vi juntos... – revelou. Jungkook que se encontrava com a aparência débil e fragilizada de tanto chorar, não obtivera forças para contestá-lo. Aquilo já nem importava mais considerando a situação atual. – Não se preocupe, não irei contar pro omma.

De repente Hoseok estava sendo legal consigo, e sem entender direito o porquê disso, Kook apenas o agradeceu em silêncio.

- Estou perdido... – chorou enrugando a testa e apertando os olhos vermelhos. – Estou perdido, estou perdido... – repetia aquilo recebendo um abraço afável e fraternal do mais velho, que de certa forma fez o caçula se sentir acolhido.

- Vamos dar um jeito de contar pro omma... – disse em voz baixa enquanto trocava abraços com o irmão no chão do banheiro. 

O sentia molhar sua camisa com lágrimas, mas não se importou. Sabia que aquela situação era difícil tanto para seu irmão quanto para Yoongi. O fato de está testemunhando ambos os lados o fazia se sentir no centro, no meio de tudo. Era doloroso ver as pessoas que ama e se importa sofrerem. Pela primeira vez Hoseok estava amadurecendo nesse sentido.