IRMÃO
O sol se escondia naquela manhã fria, Sasuke despertou e mesmo antes de abrir os olhos ele a sentiu, deitada em seu peito enquanto passava o dedo em sua pele desenhando algo invisível, como uma criança, o Uchiha então ficou apenas parado sentindo-a, quieto ouvindo a respiração dela... Não demorou muito para ouvir a voz de Naruto de longe e a mulher, antes calma, se levantou rápido, tão rápido que o Uchiha soltou um riso nasalado... Sakura ajudou Naruto a preparar o café da manhã para os outros, e Neji, apesar de melhor, ainda se sentia fraco, decidiram passar o dia na casa descansando e partir no dia seguinte em direção à casa do Imortal Kakashi...
Foi uma boa ideia, ao decorrer das horas todos perceberam o quão cansados estavam, era bom não estar em confusão por um dia... Os quatro homens estavam preparando tudo para jantar, Naruto e Sasuke cortavam lenha para a lareira, o vento estava gelado e certamente a madrugada seria muito fria. Gaara limpava e cortava os peixes e Neji mexia uma panela com outros ingredientes em uma fogueira no centro de onde estavam, esperando o ruivo terminar... A porta da casa se abriu e devagar Sakura desceu os dois degraus de pedra...
— Então Sakura, conseguiu encontrar os cobertores? — Neji havia dado uma missão a ela, e agora Naruto perguntava...
— Sim, estão encima do armário no quarto. Mas está mais alto do que posso alcançar. — Ela levantou os braços curtos em direção a ele, e de fato, não era uma mulher alta, Naruto sorriu e colocou o machado sobre o ombro antes de perguntar...
— Ora, por que não usa seus poderes para alcançar?
— Neji pediu que eu evitasse usá-los. Para que eu me adapte melhor pelos vilarejos que passamos.
— Faz sentido.
O Uzumaki não tinha mais objeções, Sakura então virou-se em direção a Sasuke, que bateu o machado contra a madeira e a cortou em dois, e então, no mesmo tom de voz calmo ela pediu...
— Marido, pode pegá-los para mim?
Os olhos ali se arregalaram, Gaara e Neji que estavam mais afastados viraram a cabeça rapidamente para ela, e todos eles ficaram com seus rostos instantaneamente rubros, mas Sasuke era o mais surpreso, seu rosto ficou quase tão vermelho quanto alguém que foi pintado com sangue, arregalou os olhos negros, e sem perceber deixou o machado cair de suas mãos... Sakura não entendeu o que estava acontecendo ali, não era comum todos se manterem em silêncio por tanto tempo com aqueles olhos surpresos...
— O que vocês fizeram? — Naruto quase gritou encarando o Uchiha como se ele fosse o culpado.
— Nada. — Sasuke se defendeu... — Eu não fiz nada com ela. — O moreno de olhos surpresos se virou então para a mulher... — Do que me chamou?
— Marido.
A Imortal repetiu casualmente, e todos eles se entre olharam novamente, ficando ainda mais surpresos da segunda vez. Sakura se virou para o ruivo, estava prestes a perguntar o que estava acontecendo ali que ela não entendia, mas antes que pudesse fazê-lo voltou sua atenção para Sasuke à sua frente, agora tentando parecer mais sério, mas ainda assim com o rosto completamente rubro...
— Por que está me chamando de marido?
— Você e Indra compartilham a mesma alma... E eu e ele éramos casados... Então eu e você...
— Nós não somos casacos. — Ele a interrompeu abruptamente...
— Então... eu não devo lhe chamar de marido? — Ela ficava linda com os enormes olhos verdes curiosos
— Não deve.
Sakura ainda o encarou por mais três segundos inteiros, e logo, Sasuke pode jurar, os olhos dela murcharam, um ar quase tristonho e manhoso se fez em seu rosto... Sakura ficava incrivelmente excitante e sensual enquanto dava ordens e falava em tom superior, balançando seus quadris volumosos pelo campo de batalha, Sasuke adorava aquele seu jeito... Mas vê-la com aquele olhar inocente no rosto era quase tão excitante quanto... A única coisa que poderia fazer era render-se a ela, mais uma vez, tentou desviar o olhar e disfarçar a vermelhidão em seu rosto...
— Mas você pode... Se quiser...
Os outros ficaram tão surpresos com a resposta de Sasuke quanto ele próprio, não sabia dizer ao certo o que Sakura fazia com ele, mas não se importava mais, desde que ela desfizesse aquele olhar pidonho ele faria qualquer coisa que ela pedisse... E funcionou, ela levantou o rosto novamente e os olhos se encheram de brilho e com a voz suave ela pediu de novo...
— Marido, você pode pegar os cobertores para mim?
Sasuke concordou com a cabeça e viu a mulher se virar, os cabelos cor de rosa balançaram e ela seguiu caminhando de volta para a casa, Sasuke pensou em largar o machado, mas este já havia caído no chão há muito tempo, então ele simplesmente a seguiu, e antes de entrar na casa teve a maldita ideia de olhar para trás... Naruto, Gaara e Neji ainda o encaravam em silêncio, com os olhos arregalados, Gaara riu alto e virou-se novamente se concentrando no peixe em suas mãos, deixando o Uchiha ainda mais envergonhado do que já estava. Sasuke virou-se, entrou na casa e bateu a porta com força... E quando não havia mais ninguém olhando... Sorriu...
A noite fria foi calma, Naruto aconchegou-se perto da lareira quente e os outros se espalharam pela casa, aproveitando o conforto que poderiam demorar a ter novamente, o sol brilhou no horizonte e eles partiram antes que este pudesse alcançar sua total altitude, Naruto e Neji discutiam sobre o trajeto enquanto os outros três permaneceram em silêncio, Naruto e sua teimosia venceram a disputa, cortariam caminho atravessando uma montanha, e Neji tinha que admitir que diminuiria consideravelmente o tempo de viagem, mas não queria entrar no ninho de nenhum outro ser, ainda tinha pesadelos com as harpias. Por sorte, ou talvez porque permaneceram sempre atentos, não encontraram nada indesejado em seu caminho, em um certo momento pararam para descansar e comer algo, mas não foi mais do que alguns minutos e continuaram o trajeto... Sakura parou de caminhar de repente, seus olhos focavam algo distante e ela pareceu confusa com algo, Naruto parou e virou-se para ela, chamando a atenção dos outros...
— O que houve, Sakura? — A mulher ergueu o braço e apontou por entre as arvores...
— Ao pé dessa montanha existe uma casa...
— Nós já descansamos bastante Sakura...
— Não. — Ela insistiu, baixou o braço e ficou parada virada em direção ao local... — Tem uma pessoa lá... Uma pessoa morrendo. — A Imortal virou o rosto e encarou Sasuke... — Ele tem o seu sangue.
O rosto de Itachi pulsou na mente de Sasuke instantaneamente, não deu tempo nem de pensar a respeito, o Uchiha embrenhou-se entre as arvores e correu, correu o máximo que poderia, a descida era íngreme, e seus pés se entrelaçavam entre os galhos, fazendo-o cair, derrapar e rolar, mas ele não parou de avançar, o sorriso de seu irmão não saia de sua cabeça, ou ate mesmo poderia ser sua mãe, uma ultima esperança o dizia que havia a chance de seu pai estar vivo, mas algo em seu interior dizia que era o irmão mais velho, algumas pessoas relataram que ele havia conseguido fugir, era possível, era muito possível, ele só não ficou mais feliz com a informação por causa do complemento na voz dela... “ele está morrendo”...
Não havia como errar, havia um córrego e apenas uma casa no final da descida, e Sasuke soube que era o lugar assim que viu ao redor dela alguns rostos conhecidos, os samurais se levantaram pegos desprevenidos pelo barulho dos galhos de mexendo, mas assim que viram o homem dos cabelos negros correndo em direção a cabana apenas o observaram passar....
Sasuke entrou no local correndo, seus olhos estalados procuravam por ele, e assim que o encontraram o corpo inteiro do homem congelou...
Itachi estava sentado em uma cadeira, haviam alguns homens ao seu redor, o Uchiha mais velho estava com os cotovelos escorados nos joelhos, e a sua frente havia uma enorme vasilha de água, mas o liquido estava vermelho, Itachi tossiu e o sangue espirrou por sua boca, pingando na água a sua frente, ele levantou uma das mãos e esfregou o rosto, tentando limpar o sangue deste, mas tudo o que fez foi espalhar mais... Itachi tinha os cabelos negros e a pele branca, o que já o tornava um homem um tanto pálido, mas agora, era diferente, seus olhos estavam fundos e com grandes olheiras, sua pele tão branca que as veias azuis embaixo da pele começavam a aparecer, estava muito mais magro que o normal, ele respirou o mais fundo que pode e levantou a cabeça, e só então ele percebeu o mais novo parado ali, com os olhos arregalados e assustados... Itachi quis levantar, e suas pernas demoraram uma fração de segundo para responder, o homem deu dois passos em direção ao irmão e os joelhos cederam, estava fraco demais para levantar-se sozinho, mas Sasuke o amparou antes que pudesse chegar ao chão, sentiu os braços do irmão mais novo por debaixo dos seus e apenas suspirou, abraçando-o ternamente...
— Irmão.
Neji e Naruto chegaram ao fim da montanha, vendo ali mesmo que Itachi não era o único que tinha conseguido fugir, haviam seis homens que eles conheciam muito bem, caminharam ansiosos em sua direção... Gaara estendeu a mão e ajudou a mulher a descer, e não demorou para os homens os cercarem cheios de perguntas, o ruivo apresentou a mulher apenas como Sakura, sem mais detalhes, e sem demoras eles entraram na casa para encontrarem-se com Sasuke.
O Uchiha mais novo ajudava o outro a se deitar em uma cama já suja de sangue...
— O que aconteceu? Você se feriu na batalha? — Ele se quer dava a chance do outro responder...
— Não. Eu...
— Tem algum ferimento aberto? Porque tanto sangue?
— Eu estou bem. Vou ficar bem
— Não. Você não vai.
Sasuke virou-se e entre todos os homens ali ele mirou os cabelos cor de rosa, caminhou rápido em direção à mulher e segurou-a pelo braço, e sem se importar com a presença de todos ali pediu...
— Cure-o. Cure os ferimentos dele.
— Eu não posso.
— Você pode. Já fez antes, comigo e com Neji. Basta curá-lo
— Não são ferimentos Sasuke. — Uma voz saltou entre os samurais, o homem loiro com o cabelo cobrindo metade do rosto se pronunciou... — Ele está doente.
Sasuke fixou os olhos em Deidara por um momento, e logo voltou a olhar o irmão sobre a cama, a pele pálida, o corpo magro, ele realmente tinha uma aparência enferma, voltou-se para Sakura com um olhar pedinte, e antes que pudesse dizer algo, a mulher se pronunciou...
— Ele está morrendo, os filhos da morte já cercaram o lugar esperando por ele.
— Quer dizer que você não pode salvá-lo?
— Não se pode brincar de Deus, Sasuke... Jamais poderia tirar uma alma da morte sem entregar outra em seu lugar.
— Eu vou morrer, irmãozinho.
Sasuke virou-se e viu o irmão sorrindo ternamente, a boca suja de sangue e os olhos fracos, ainda assim havia uma calmaria nele...
— Eu já estava doente antes do ataque, o curandeiro da vila estava tentando achar alguma planta ou algum remédio que pudesse me ajudar... Mas nada adiantou muito. Meus pulmões estão morrendo.
As horas foram passando devagar, os homens caminhavam ao redor da casa, limpavam alguns peixes, descascavam algumas batatas, afiavam espadas, e o silencio reinava, Gaara ficou ao lado de Sakura o tempo todo, como um fiel escudeiro, sabia que teriam problemas se eles descobrissem que a mulher não era o que eles imaginavam, Sasuke e Itachi permaneceram conversando horas, Itachi não queria preocupar o irmão ou a mãe, o pai, Fugaku era o único ciente de que o primogênito estava com aquela doença, e alguns poucos amigos mais próximos.
Primeiro Sasuke ficou brabo, depois triste por não ajuda-lo, e novamente brabo por ter permanecido na ignorância quanto à saúde do próprio irmão por tanto tempo, Naruto estava triste, escorado em um tronco de arvore afastado, Itachi sempre o tratou como se fosse da família, e vê-lo definhar daquele jeito era horrível, Neji, de maneira muito sutil e imperceptível, utilizou-se dos poderes que agora tinha para curar feridas nos homens de Itachi enquanto culpava-se por não ser capaz de fazer o mesmo por ele...
Sakura observava o céu, ela permaneceu parada olhando para a grande lua cheia por mais de uma hora, observando as estrelas se moverem lentamente de lugar, e depois de ficar tanto tempo imóvel ela virou-se e seguiu caminhando devagar em direção a casa, Gaara que estava sentado no chão ao lado dela seguiu a mulher, e quando ambos entraram na casa viram Itachi deitado na cama e Sasuke sentado a seu lado, segurando a mão do irmão entre as suas... Sakura podia ver a tristeza dele, ela podia sentir a tristeza dele, quase como se seu próprio coração tivesse sentindo a perda daquele homem...
— Sasuke...
Ela chamou, em seu raro tom de voz suave, o homem levantou a cabeça e olhou-a, os olhos dele estavam inchados e vermelhos, e isso fez com que ela continuasse...
— O teu desejo, é que ele viva?
— Nada no mundo me deixaria mais feliz.
A resposta de Sasuke saiu seca, Sakura permaneceu olhando-o fixamente por um longo minuto, e só quando estava se virando para sair da casa ela pronunciou...
— Gaara. — O homem parado atrás dela fitou-a... — Traga-o.
Sakura saiu da casa e o ruivo aproximou-se do Uchiha mais velho, colocando o braço do homem sobre seu ombro e levantou-o, caminhou com ele até a rua... A mulher caminhou até a clareira onde esteve parada observando o céu e todos os homens a seguiram em silêncio. Itachi não estava entendendo o que estava acontecendo, mas antes de questionar ouviu o ruivo dizer em voz baixa, “— Confie nela” e ele assim o fez. O ruivo ajudou o homem a sentar-se no chão e depois afastou-se...
A Imortal ainda permaneceu parada por um longo tempo, os homens se entre olhavam sem entender o que estava acontecendo, ela virou-se e olhou o moribundo sentado na terra, os homens faziam um circulo ao redor, curiosos. Sakura tirou os olhos de Itachi enquanto caminhava, ela aproximou-se de Sasuke e os olhos dela estavam frios, ele lembrou-se do olhar que ela tinha dentro da caverna...
— Sua espada.
Ela pediu. Sasuke desembainhou a lâmina feita do próprio sangue da Imortal e entregou a ela, a mulher caminhou de volta arrastando a ponta da espada na areia, com os olhos fechados ela circulou o local três vezes deixando um rastro de suas pegadas e da lamina na terra.
— Você vê a lua? — Ela perguntou, e Itachi não soube o que responder... — Lua cheia... Poderosa...
Sakura parou diante do homem doente e enfim levantou a espada, segurando-a com a ponta pendurada entre os seus pés...
— Você não pode vê-los... Mas este lugar está cercado de almas, boas e ruins, e elas estão sedentas por você. Você tem cheiro de morte.
— Vieram me buscar...
— Sim elas vieram... Mas Sasuke não quer que você morra, isso o deixaria triste, e eu não quero vê-lo triste.
— E você pode me ajudar? — Itachi podia sentir que aquela não era uma simples mulher, ele podia sentir a pressão quando ela o olhava fixamente...
— Honestamente, eu não sei se consigo... Mas eu posso tentar. A pergunta é; Você quer viver Itachi?
— Sim, eu quero viver.
Sakura cravou a espada no chão, um rio de fogo saiu debaixo da saia dela e se espalhou pela areia formando um circulo com símbolos, as chamas altas assustaram a todos ao redor, mas Itachi não desviou os olhos dos dela nem por um instante...
— Monstro.
Um dos homens gritou e empunhou a espada em direção a ela, e os outros todos fizeram o mesmo... Sakura deixou a cabeça cair para o lado e mirou-os enquanto levava as mãos até os próprios ombros...
— Já me chamaram de coisa pior.
Ela tirou as alças do vestido e o tecido negro caiu a seus pés, a pele dela ficava lustrosa com o brilho das chamas a seu redor, os cabelos cor de rosa balançavam conforme a brasa queimava, os olhos verdes brilharam e ela voltou-os novamente ao Uchiha a sua frente... A luz da lua esmaeceu, a lua sumiu do céu e as estrelas esconderam seu brilho, tudo que se enxergava naquela noite eram as chamas ao redor da Imortal...
Os homens de Itachi mantinham suas espadas empunhadas e ao próximo movimento dela eles entrariam nas chamas para tirá-lo de lá. Mas antes que pudessem fazer qualquer movimento um vulto entrou em seu caminho... Gaara estava parado diante deles com a mão na bainha de sua espada, ele fechou os olhos e os abriu novamente, e estes eram negros com as pupilas amarelas... Naruto foi o próximo, parou ao lado dele com seus olhos vermelhos... Os homens tremeram, recuaram, era como estar olhando para duas feras sedentas por sangue...
— Eu não faria isso se fosse vocês.
A voz de Neji soou calma e os homens não souberam como reagir, mas não tiveram muito tempo para pensar. A mulher dentro das chamas chamou a atenção de todos novamente quando de suas costas de abriram enormes asas negras, as asas bateram forte e o fogo se abriu, mas logo voltou a ficar alto, ela empunhou a espada antes cravada no chão e apontou para o homem...
— Vamos ver o quanto os filhos da morte desejam a sua alma...
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