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História Jhonny - Capítulo Único


Escrita por: PSKAWA

Notas do Autor


Olá,

Um pouquinho da minha infância e da criação das minhas convicções...

Espero que gostem.

Bjs

Capítulo 1 - Capítulo Único


Jhony

Você já parou pra pensar qual a memoria mais longínqua de que se lembra da sua infância? Eu já, e pra qualquer momento que eu olho eu me lembro dele, na verdade eu não conheço a minha infância sem aquela figura carismática que me idolatrava tanto e eu a ele.

Existem coisas que nos marcam profundamente, ensinamentos e situações em nosso dia a dia que mesmo que os anos passem, que outras pessoas entrem em nossas vidas e nos cresçamos e mudamos ou de filosofia ou de cidade iram sempre nos acompanhar.

Estudos psicológicos, filosóficos e sociológicos dizem que o caráter de uma criança se forma até os sete anos de idade. Eu concordo em partes, em partes porque acredito que já nascemos com algumas fagulhas do nosso caráter, mas concordo que o meio em que vivermos e as experiências que tivermos nessa primeira infância podem sim impactar em nosso caráter e o formar.

Eu tive tantas experiências nessa minha primeira infância... boas e ruins, mas muito marcantes. Acho que se alguém que tivesse me visto crescer até os meus 10 anos e agora me visse, não iria acreditar em quem eu sou agora, eu era o tipo de garota que tinha tudo pra dar errado e ser errada na vida, mas quis o destino que isso não acontecesse, mas eu não acredito no acaso do destino, talvez as fagulhas do meu caráter viram uma opção diferente na vida.

Devo muito de mim ao Jhony, ele era uma tábua de salvação no meu mar da infância esquecida, ele era o meu companheiro de jornada, ele me ensinou o que era o amor incondicional, o respeito, o que era saudade e o que era esperança. Ele foi a maneira que o destino encontrou para me dar uma opção diferente.

O Jhony e eu fazíamos tudo juntos, foi com ele que aprendi a andar de cavalinho, e a comer arroz e feijão, até dividíamos o prato na hora da comida. Eu adorava fazer a barriga dele de travesseiro pra tomar a minha mamadeira e assistir televisão.

Ele morava com os meus avos e adorava correr comigo para todos os cantos, ele sempre me acompanhava nas andanças pelo sitio onde meus avos eram caseiros, brincávamos nas sombras das arvores e ficávamos na piscina da casa grande nos dias de calor. No fim da tarde gostavamos de ficar na varanda olhando as barulhentas andorinhas acompanharem o por do sol e a fazerem a sua dança, era tão lindo, me dava tanta paz e segurança.

Certa vez, estávamos na sala e o idiota do meu tio me pegou no colo e me tacou de volta no sofá, eu devia ter uns seis anos, aquilo me machucou e eu comecei a chorar. O Jhony não pensou duas vezes e foi pra cima do meu tio, meu vô tentou controlar o Jhony, mas ele não quis nem saber e continuou indo pra cima do meu tio até o expulsar de casa.

O Jhony só parou de esbravejar a hora que eu falei – Já chega Jhony, eu estou bem, vem aqui. Ele veio até mim e eu o abracei e me pendurei em seu pescoção, eu o amava, ele era uma babá amorosa pra mim. Naquele dia eu entendi o que era ser leal a alguém, o que era ser amada por alguém e ser importante para alguém, ele me defendeu com unhas e dentes! Nunca ele havia tido uma atitude daquela com alguém que não eu, meu tio nunca mais quis papo com o Jhony ou comigo... coitado, eu era apenas uma criança e ele um adulto sem saber o que era o amor que eu e Jhony partilhávamos.

Eu e o Jhony nos entendíamos apenas com os olhares e assobios, podíamos ficar deitados um ao lado do outro sem dizer nada por horas a fio e ele iria sempre me entender e eu o entendia. Ele sempre sabia quando eu precisava da sua companhia e do seu carinho. Mas eu não ficava atrás, eu sempre tentava agrada-lo e sempre que nos víamos eu o enchia de beijos e abraços e muito carinho.

Todos os problemas e conflitos pareciam serem tão pequenos diante da grandiosidade da gentileza daquele ser comigo, eu sabia que tudo ia passar, e eu não podia perder a oportunidade de ser feliz, nem que por breves momentos ao lado dele, mas eu era feliz e amada.

Nossa amizade era muda e silenciosa, mas não menos cheia de sentimentos e cumplicidade. Mas nem tudo que é bom dura pra sempre...

Um dia o meu pai recebeu uma ligação dos meus avos e ele me disse – Filha, o Jhony morreu. - Eu estava indo pra escola e me lembro de dizer pro meu pai – Tudo bem, eu vou poder levar flores pra ele. -  E fui pra aula.

O destino já sabia que eu tinha aprendido tudo que precisava com ele e o levou de mim, me deixando aquela última lição para a vida: a morte.

Naquela noite eu chorei na minha cama, eu tinha 11 anos e me sentia arrasada, nunca mais iria ter aquele companheiro na minha vida, nunca mais poderia abraçar o seu corpanzil ou beijar a sua cabeçona.

Eu nunca mais iria ver aqueles olhos caramelos me olharem com tanto amor, devoção e esperança, nunca mais eu iria ver aqueles olhos brilharem de felicidade... eu sempre me lembrava daquele olhar quando me sentia sem forças, ou triste, pois sabia que era importante para alguém, e eu sempre poderia ter esperanças de encontra-lo e ser amada por ele, só que isso não mais iria acontecer, eu não ia ter ele me esperando na varanda do sítio para vermos o por do sol juntos.

Jhony foi o melhor cachorro que poderia ter existido na minha infância, ele não era meu, mas ele era como um amigo que eu não tinha, ele era um porto seguro para os meus momentos tristes e solitários, ele me entendia e me amava e o meu coração pertencia a ele. Ele me deu o seu melhor e eu aprendi que eu tinha algo bom dentro de mim, tudo porque ele enxergava isso e me fazia, a seu modo sentir isso.

Nunca mais eu iria encher a minha boca de pelos de tanto beijar aquela cabeça penungenta, e nem ia ter mais aquele corpanzil pra me aquecer quando assistíamos tv juntos. Talvez não nessa vida, talvez do outro lado eu possa rever a alma daquele ser peludo que tanto amei.

Ele era um vira-lata, mistura de pastor capa preta e collie, ele era grande e peludo, quando ele pulava ele tinha o tamanho de um homem. Quando brincávamos de dançar eu colocava as suas patas da frente em meus ombros e a cabeça dele ainda ficava acima da minha. As suas patas eram muito maiores que as minhas mãos de criança, e ele tinha o sorriso mais lindo, pelo menos pra mim.

Muitos tinham medo daquele ser imenso com cara de mau, mas eu não, eu só via a bondade que tinha dentro dele, ele transbordava paz com o seu olhar meigo e terno.

Ele foi o meu primeiro amor, meu primeiro companheiro, foi a minha salvação, e é com ele que tenho as minhas melhores memorias de infância, é ao lado dele que me lembro do meu primeiro tombo de uma arvore, dele sempre me socorrendo com suas lambidas, e era ao lado dele que aprendi a andar de bicicleta sem rodinha e foi com a perda dele que aprendi o significado da saudade e do luto.

Nunca mais os passeios no sitio foram iguais. Colocava sempre flores na sua cova, mas eu cresci e não brincava mais, fui amadurecendo, forte, e apesar das atribulações que vivi após isso eu já tinha o meu caráter e força moldado, e eu sabia que podia encontrar a beleza nas pessoas, porque ele me ensinou a enxergar isso em mim mesma.

Ele foi a peça do destino que me fortaleceu para as mudanças que eu precisaria enfrentar na minha vida, se eu não tivesse ele para alegrar a minha infância eu não teria aprendido a ser importante para alguém, e ser responsável por essa devoção.

Mais de vinte anos se passaram e nunca me esqueci dele, outros cachorros vieram e foram, mas ele foi único, especial e providencial em minha vida, ele me salvou... eu sou o que sou pelo que ele enxergou em mim quando ninguém mais via. A existência daquele ser foi o diferencial em minha vida, a ele sou eternamente grata.

O que eu faço para agradecer e honrar a sua memória? Dou o meu melhor em tudo que faço, com amor e um sorriso no rosto, sem esperar nada em troca.

Minha recompensa? Sou agraciada com a felicidade... e você?


Notas Finais


Surpresos?

Bjs


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