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História O Comandante (SENDO REESCRITA) - Patronos


Escrita por: littlefairy22

Capítulo 22 - Patronos


"Você tira as roupas das minhas costas 

E eu deixo

Você rouba a comida da minha boca 

E eu vejo você comê-la

E eu ainda não sei por quê 

Por que te amo tanto 

(X)

E, baby,

É incrível que eu estou neste labirinto com você

Eu apenas não consigo decifrar o seu código 

Um dia você está gritando que me ama

No dia seguinte você é tão frio

Um dia você está aqui, um dia você está lá

Um dia você se importa

Você é tão injusto

(X)

Você tira o ar dos meus pulmões sempre que você precisa 

Você tira a lâmina do meu coração 

Só para me ver sangrar

Eu ainda não sei por quê 

Por que te amo tanto

      E você joga este jogo apesar de me deixar louco"

(Holy Grail - Jay Z feat.Justin Timberlake)

— Chanyeol, passe o rádio para o Baek. Jungkook quer falar com ele.

    Todos os pelos dos braços de Chanyeol ficaram eriçados quando ele ouviu aquela frase vinda de Lisa.

  Ele e Baekhyun estavam na cozinha, terminando de fazer o jantar, quando o clima ficou realmente pesado. Eles não podiam acreditar que Jungkook ficou sabendo da relação deles...Como ele poderia? Sempre foram tão discretos, mal saíam de casa e o comandante nem sabia que o Byun morava ali também. As consequências daquele namoro poderiam ser tão severas que Chanyeol nem conseguia imaginar o que faria para tentar consertar tudo.

Baekhyun pegou o rádio com as mãos trêmulas:

— Sim?

— É o seguinte, Baekhyun, preciso que preste muita atenção no que eu vou dizer e quero que me responda com sinceridade – a voz de Jungkook se fez presente na sala, enquanto Chanyeol chegava mais perto para escutar também. Os namorados se encararam, visivelmente apavorados. – Como o Chanyeol já deve ter te contado, daqui a uma semana, o Reino irá lançar uma outra bomba no deserto, onde os Outros estão. Felizmente, eles estão evacuando o lugar pouco a pouco, para que não cause muito alarde, mas...Haverá uma festa de comemoração dada por Chung-Hee na mesma noite, na boate "Inferno". Queremos incendiar o lugar como uma distração para o plano real.

  Baekhyun assentiu. Ele achava que a ligação seria muito pior, mas até que Jungkook era um líder bem razoável.

— Ok, qual seria o plano real e como eu posso ajudar?

— Aí é que está. Nosso plano é causar uma distração na boate, para que as luzes possam ser desligadas pelo centro de controle e os armamentos sejam roubados do arsenal. Lisa mencionou que aí existe um helicóptero com muitos lugares, e sobraria ainda mais espaço para as bombas se os assentos fossem retirados. O que eu quero te pedir é simples, na teoria: entre no arsenal e tire os bancos, sem quem ninguém perceba – Jungkook falou calmamente. – Consegue fazer isso?

— O quê? É claro que não! – Baekhyun disse, perplexo. Era absurdo que ele confiasse uma parte tão importante, se não a mais, do plano em suas mãos. Ele era rápido, sim, mas não achava que conseguiria tirar todos os bancos sem que nenhum soldado visse. Se bem que, como teriam tantas distrações, quem sabe? Parou para pensar. – Quero dizer, talvez. Acho que sim...

   Jungkook demorou um pouco para responder, parecia que ele estava discutindo com Lisa ao fundo. Enquanto esperava, Baekhyun olhou para Chanyeol, esperando que ele lhe desse algum apoio, mas o grandão apenas balançou a cabeça e desviou o olhar.

— Baekhyun, preciso que você tenha certeza. Eu nunca pediria algo aos meus soldados que eu mesmo não faria, mas...Sendo sincero, não sei se eu me arriscaria desse modo. Então tome alguns minutos para pensar, converse com Chanyeol sobre isso e, se realmente quiser, me ligue em meia hora. Se não ligar, eu vou entender que você não vai.
 
    Quando Baekhyun sentiu que Jungkook não estava mais na linha, encarou o chão. Milhões de coisas passavam pela sua cabeça...Por que logo ele tinha sido chamado? Jungkook tinha soldados muito maiores e mais fortes, que poderiam fazer isso tão bem quanto ele. Sabia de sua capacidade, tinha noção que era muito mais rápido e mais esperto que a maioria dos homens do comandante, mas, ainda assim, não sabia se conseguiria realizar a missão com presteza. Em contrapartida, o baixinho estava desesperado para fazer alguma coisa. Passava tanto tempo em casa que já se sentia parte da mobília. Ele sentia muita falta de fazer parte de uma aventura, de correr risco, de presenciar um perigo verdadeiro...Baekhyun costumava viver disso, afinal. Ele se alimentava de adrenalina.

  Sentia que ia enlouquecer.

— Eles estão loucos se acham que eu vou te deixar fazer isso – Chanyeol falou, nervoso.

   Baekhyun pensou naquilo por alguns segundos. A verdade era que nunca teve ninguém que pudesse "mandar" nele, já que nunca deu essa liberdade à nenhuma pessoa, então lhe dava nos nervos a ideia de ter Chanyeol decidindo o que ele poderia ou não fazer. Sabia que o grandão estava preocupado, que era muito protetor, que se tornava um verdadeiro bicho quando o menor estava com problemas, mas isso não significava que ele poderia mandar em suas decisões. Isso era até perigoso em certo ponto, pois as poucas noções de liberdade que Baekhyun tinha se perderiam facilmente se continuassem daquele jeito.

— Você não tem que me autorizar a nada. Eu faço o que eu quiser – Baekhyun falou baixinho, pensando e repensando nas suas palavras. Ele falou tão baixo que Chanyeol não conseguiu ouvir, o que o levou a franzir a testa e pedir que ele repetisse. – Eu vou.

— O quê?

   Os dois se encararam no mais completo silêncio da noite e, para tentar amenizar a troca vacilante de olhares, Baekhyun caminhou até a grande janela do quarto, cruzando os braços. Ele sentia que uma briga estava por vir e simplesmente odiava aquilo, pois eram raras as vezes em que os dois discutiam E, quando acontecia, eles não conseguiam ficar nem uma hora sem se falar, logo pedindo desculpas e voltando a ficar juntos.

— Sabe que o Jungkook só te escolheu porque você é completamente descartável para ele, certo? Ele não colocaria a Lisa, a Keana, o Taehyung, Namjoon, e especialmente o Jimin, para fazer uma coisa dessas...Provavelmente ele te chamou porque você foi a primeira pessoa que ele pensou, que não significa absolutamente nada para ele – Chanyeol disparou, se colocando um pouco afastado do menor. Estava tão tenso que o seu maxilar estava cerrado inconscientemente, ele estremecia só de pensar no que ia acontecer se Baekhyun fosse pego pelos guardas enquanto cumpria aquela missão kamikaze. – E talvez porque ele quer que eu fique mais focado, agora que sabe sobre nós. Para ele, não vai fazer nenhuma diferença se você morrer, mas, para mim...Por favor, Baek, apenas pense melhor.

Baekhyun retrucou, um pouco irritado pelo modo que ele estava falando.

— Sabe, talvez nem tudo tenha a ver com você. Talvez ele me chamou porque sabe que eu sou bom nisso e, de alguma forma, posso ajudar.

  Chanyeol suspirou audivelmente. Vendo que o clima estava infinitamente mais pesado do que deveria, Baekhyun se aproximou dele e segurou em seus ombros.

— Vamos lá, grandão, veja pelo lado bom. Pelo menos eu finalmente vou poder me acertar com o seu povo.

— Eu não quero que você faça isso – falou, bagunçando os cabelos de um jeito nervoso. – Baekhyun​, as chances disso dar certo são mínimas. Os guardas daqui vão te torturar até a morte, ou pior.

— Só se me pegarem, e você mesmo sabe que isso é quase impossível. Além disso, seus amigos não vão durar nem meia hora sem ajuda de alguém que conhece o lugar...Eu conheço isso aqui como a palma da minha mão e sei me guiar pelos túneis. Se eu consegui entrar e sair daqui várias vezes, posso conseguir colocar todos para dentro também.

— Você não entende. Eu não vou poder fazer nada por vocês – agora Chanyeol parecia desesperado. – Pelo contrário, muito provavelmente serei enviado para conter a revolta.

— Então você pode ir até lá e colocar as minhas algemas – o mais novo brincou, sorrindo. Quando viu que Chanyeol não fazia o mesmo, que ele estavam realmente em uma discussão independente da vontade do menor, Baekhyun franziu a testa. – Qual é, Chanyeol, você vive dizendo que a sua vida inteira é voltada ao seu povo, que fez e ainda faz de tudo por eles. Me deixe te ajudar também.

— Fala sério, desde quando você se importa com isso? Até ontem você não dava a mínima para salvar outras pessoas.

— Olha, posso não ser o melhor exemplo sobre como agir, mas eu certamente não dou as costas quando alguém me chama para lutar. Passar por uma situação onde eu quase perdi a vida me fez abrir os olhos e perceber que eu estava vivendo de um jeito extremamente egoísta, então, se eu puder ajudar, irei fazer isso. Estar nessa casa por tanto tempo só me deixa com mais vontade de fazer alguma coisa.

— Qual é o problema de estar nessa casa por um tempo? Pelo menos você está seguro. Na verdade, está seguro porque eu te coloquei aqui.

— Ok, deixa eu ver se eu entendi. Só porque você me colocou aqui e me salvou, automaticamente eu tenho que aceitar tudo que você diz e te obedecer? Olha, Chanyeol, serei eternamente grato a você, pois eu literalmente só estou vivo por sua causa. Nenhum outro cara faria o que você fez por mim, eu sei disso, mas eu nunca vou abaixar a cabeça para ninguém.

  Chanyeol revirou os olhos.

— Agora você está colocando palavras na minha boca, ótimo. Você é mais inteligente que isso, Baekhyun, sabe que eu não disse essas coisas.

— Embora tenha pensado – Baekhyun estreitou os olhos, respirando fundo. Sempre soube que uma hora ou outra Chanyeol ia esfregar aquilo em sua cara, aquela era apenas a natureza humana agindo. Ele começou a caminhar para fora do quarto. – Olha, eu não quero discutir, muito menos agora que estamos de cabeça quente. Vou ligar para o Jungkook e conversamos de novo quando estivermos mais calmos.

    Ele pegou o rádio e passou pelo batente da sala, mas não pôde deixar de dar atenção quando Chanyeol continuou lhe fazendo perguntas.

— Já parou para pensar que o rei pode me mandar torturar você? Aposto que não, porque você continua achando que pode fazer o que quiser a qualquer hora! Me irrita muito o jeito que você acha que sempre está certo sobre tudo – Chanyeol falou, aumentando cada vez mais o seu tom de voz e fazendo o outro estranhar, já que odiava quando ele ficava desse jeito. Encarava Baekhyun como no primeiro dia que esteve ali, como se fosse uma criaturinha desconhecida. – Às vezes parece que você gostou do que aconteceu da última vez que fugiu assim.

   Chanyeol se arrependeu assim que as palavras deixaram os seus lábios, fechando os olhos com força.

   Desde o primeiro momento em que conversaram, o Park estava habituado a lidar com todos os danos que o abuso deixou na mente e no corpo de Baekhyun. Em algumas noites, ele ainda acordava gritando e chorando, se debatendo. E pelas próximas horas, o menor ficava repetindo que foi sua culpa, que ele poderia ter evitado a situação, que não merecia tudo que Chanyeol fez por ele porque era um nojento. As vezes, enquanto eles se beijavam, Chanyeol ficava por cima de seu corpo e era evidente o seu desconforto, o nervosismo, o quase pânico.

Eles demoraram dias para finalmente conversar sobre o trágico acontecido e o mais velho lutou muito para quebrar aquela barreira de medo dentro dele, agora parecia que tinha jogado todo o progresso no lixo com apenas uma frase.

— Eu não acredito que você disse isso.

   Baekhyun sussurrou, cruzando os braços e abaixando a cabeça. Sua voz estava baixa, soando pequena. Chanyel preferia que ele estivesse falando muito, gritando, como ele sempre fazia quando ficava muito nervoso. Na verdade, preferia qualquer coisa no lugar daquele tom de "você realmente​ me machucou, seu imbecil".

— Baek, eu não quis...Me desculpa, eu sou um imbecil...

  Baekhyun realmente não conseguia acreditar que logo Chanyeol, que acompanhou todo aquele inferno de perto, estava dizendo que ele gostou. O mais baixo acordava tremendo de medo só de pensar em passar por aquela experiência novamente, só voltando a dormir horas depois. A verdade é que ele não tinha a menor noção de como era ter o seu corpo machucado dessa forma. Não sabia a humilhação de se sentir apenas um objeto, como se o seu corpo e a sua saúde mental não valessem nada. Felizmente, poucas pessoas realmente sabiam o que era isso.

— Você não sabe de porra nenhuma! – o mais novo gritou de repente, realmente afetado com o que ouviu. As mãos finas e trêmulas de Baekhyun empurraram os seus ombros largos e o seu peitoral – embora não machucasse realmente, como se estivesse procurando algum jeito de atingir o mais velho, assim como ele fez consigo. Não conseguiria falar algo tão pesado e baixo para ele, pois realmente não era de seu feitio.

   Ele fez uma pausa, agora sem conseguir olhar nos olhos do namorado por voltar a sentir vergonha e repulsa do que aconteceu. Chanyeol o encarou, sem saber o que dizer depois daquilo, cheio de vontade de ir até ele e tê-lo em seus braços, ajoelhar e implorar pelo seu perdão. Sabia que Baekhyun não conseguia nem falar a palavra "estupro", sempre usando outros termos mascarados, o que já dizia muito sobre as marcas que ficaram em seu psicológico. É como quando algo é quebrado e tem seus pedaços juntos para serem colados novamente, com a esperança de que volte a ser como era, mas nunca fica igual. As pessoas eram assim também. E Baekhyun foi tão quebrado que nem de longe pareceria o mesmo vaso.

Chanyeol o acolheu em seus braços quando ele cansou de o empurrar e bater nele, logo fazendo um carinho delicado em seus cabelos enquanto ele chorava baixinho. Deus, desde o primeiro dia ele odiou as pessoas que machucaram Baekhyun, então como é que foi se tornar uma dessas? Como foi capaz de fazer o seu garoto chorar com algo que o feria tanto?

— Eu sinto muito mesmo. Eu não devia ter dito isso, realmente não sei como é passar por algo assim, me desculpe. É-É que eu te amo tanto e você é tão pequeno...As vezes eu quero te proteger demais e esqueço que você já faz isso muito bem sozinho.

— Preciso de um tempo para esfriar a cabeça  – ele falou, engolindo em seco. Se afastou do corpo do namorado e foi em direção as escadas. – Apenas passe o recado para o seu comandante.

Baekhyun saiu do cômodo, ainda sem conseguir olhar para ele, parecia aéreo a tudo. Fazia tempo que o Park não o via daquele jeito.




De noite, Chanyeol não pôde evitar de ir até o quarto onde Baekhyun dormia, só para ver se ele estava bem.

Como estava muito frio e o menor estava deitado na cama com poucas roupas, pegou um cobertor grosso no armário deles e colocou sobre o seu corpo pequeno. Viu os seus olhinhos abrirem lentamente e se afastou um pouco, envergonhado por estar ali. Ele não conseguia fazer nada direito mesmo, Baekhyun teria toda a razão se realmente quisesse ir embora e nunca mais falar com ele.

— E-Eu já estava descendo. Só vim ver se você estava dormindo bem – rapidamente se explicou, enquanto o outro ainda o olhava. Ele tentou se apoiar no móvel ao seu lado de forma casual, mas, desastrado como era, acabou derrubando algumas coisas que estavam em cima dele. Como se precisasse passar mais vergonha na frente do namorado... – Hã, então eu vou indo. Boa noite.

— Obrigado por... – Baekhyun murmurou, os olhos fixos no tenente enquanto gesticulava para o cobertor que estava em cima de si. Isso o lembrou de quando se conheceram e, para mostrar que era confiável, Chanyeol tirou seu casaco estupidamente grande e o colocou sobre os ombros do outro. O mais novo amava todo o cuidado e o carinho que o grandão tinha com ele. – Boa noite para você também.

(X)

  Jimin não poderia estar mais nervoso, enquanto carregava um dos carros que daqui a alguns minutos os levariam para o território dos Outros. Havia um bloqueio entre os dois povos, que era completamente proibido ser cruzado e, mesmo que tivessem comunicado que estavam indo, ainda tinha medo de algum imprevisto. Iriam Jimin, Yoongi, Taehyung, Hoseok, Lisa, Namjoon, Taemin e Keana, já que essas eram as opiniões que o comandante mais precisava ouvir.

— Jimin, nós já podemos entrar. Nós dois vamos sozinhos no último carro, seguiremos o resto – Jimin ouviu a voz de Jungkook atrás de si e rapidamente se virou. O comandante havia colocado a sua roupa e sua pintura no rosto, o que parecia dar mais vida ao seu ser.

  Jimin apenas assentiu e entrou no carro, hesitante. Ainda não sabia o que dizer depois que Jungkook o viu beijando Taemin...Será que ele ainda estava bravo? Ou estavam bem? O ruivo balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos e pegou no volante, logo seguindo a carreata.

— Levei duas mudas extras de roupas para nós. Quero te levar na praia – o comandante falou repentinamente, encarando o Park. Percebeu como o ruivo ficou feliz por ouvir sua voz, por ter a confirmação de que eles não estavam brigados...Se sentiu um imbecil pela décima vez no dia.

— Que legal. Eu nunca estive na praia – comentou, sorrindo. Eles estavam estranhos, distantes, mas se olhavam o tempo inteiro. Só depois de quase um quilômetro de silêncio Jimin conseguiu juntar coragem para dizer outra coisa. – Olha, eu sei o que está pensando. Me desculpa por ontem, eu não sabia que aquilo ia acontecer. Nunca ia imaginar que o Taemin ia me beijar daquele jeito, mas você sabe que não vai acontecer de novo.

Jungkook mordeu o lábio inferior, suspirando alto.

— Na verdade, não era nisso que eu estava pensando. Eu...Depois de ter visto aquilo, eu bebi um pouco e fiquei muito nervoso, então eu chamei a Lisa e começamos a conversar sobre o plano.

Jungkook tinha a mais completa atenção de Jimin enquanto contava a história. O ruivo até mesmo desacelerou para ouvir com mais atenção. O comandante olhava em seus olhos, sem querer demonstrar fraqueza ou esconder seus atos errados.

— Nós dormimos juntos. Na verdade, eu nem sei porque fiz isso, não sinto absolutamente nada por ela, eu só estava tão desesperado para tirar aquele sentimento ruim de dentro de mim que fiz a primeira coisa imbecil que passou pela minha mente. Eu ainda não entendo todo esse efeito que você me causa, Jimin, me desculpa por continuar te machucando desse jeito enquanto ainda tento descobrir.

   Jimin abaixou a cabeça, depois riu. Não era a sua risada normal, aquela gostosa, que Jungkook amava ouvir. Era uma de deboche, de pura descrença.

— Eu poderia esconder isso de você, mas não seria justo. Eu realmente quero consertar essa merda e te compensar por isso – Jungkook adicionou, hesitante.

— E você acha que isso conserta as coisas? Meu Deus, eu sou tão idiota.

A atmosfera mudou completamente. Jimin e Jungkook eram intensos em tudo o que faziam um com o outro, então, na maioria das vezes, eles nem precisavam falar para mostrar algumas coisa. Os seus olhares e os gestos diziam tudo antes que eles precisassem. Desde o começo, aquela estranha ligação funcionou daquele jeito e o ruivo acreditava que iria continuar assim para sempre.

— Não, não é. Por favor, não diga isso.

— Eu passei quase a noite inteira acordado, achando que tinha te magoado! Fiquei me culpando por aquilo ter acontecido, com medo de ter te machucado, enquanto você...Enquanto você fodia com outra pessoa! – o ruivo passou as mãos pelo rosto, como se estivesse querendo despertar de um sonho ruim. Jungkook tentou segurar em seu ombro, mas Jimin o afastou, furioso. Ele se esforçava para continuar seguindo os carros, mesmo que suas mãos estivessem quase tremendo de raiva. – Quer saber? Eu não me importo, não somos namorados e certamente não devemos explicações um para o outro.

  Jungkook estava desesperado. Ele queria poder colocar em palavras o seu amor por aquele rapaz, dizer que não conseguia mais viver a vida que levava antes de conhecê-lo, que ele era a única coisa que o fazia querer continuar lutando, que daria tudo por ele...Que faria de tudo para voltar no tempo e desfazer aquela besteira. Acima de tudo, ele era jovem, por isso era tão confuso e inexperiente, ainda não conseguia entender realmente os pilares de um relacionamento, qual era o conceito de fidelidade e tudo aquilo que acompanhava um "namoro". Ele cresceu aprendendo que amor era fraqueza, que todos deveriam ser de todos, que se entregar a alguém era perigoso, como poderia se adaptar a uma nova realidade completamente diferente sem cometer nenhum erro? 

Ele só queria que Jimin entendesse isso.

— Jimin, por favor. Eu sinto muito.

— Nem tente me tocar, porque, sinceramente, eu não suporto nem ouvir a sua voz agora. Se vamos ter que dividir esse carro até chegarmos lá, vou fingir que você não está aqui – Jimin disse, sem tirar os olhos lacrimejantes da estrada. O ruivo balançou a cabeça. – Só queria nunca ter te conhecido.

(X)

  Quando chegaram ao Clã, os Rebeldes ficaram completamente embasbacados. Eles estavam no meio de um tipo de deserto, cercado por montanhas, mas que ainda conseguia ser muito bonito e imponente. Não tinham grades, cercas ou muros, era como se realmente estivessem abertos para qualquer um.

  Quando eles chegaram, os Outros se reuniram para olhar e fizeram um cerco ao redor, curiosos. Era estranho estar no meio daquela multidão...Aliás, eles eram estranhos. As roupas que usavam, as pinturas no corpo, os cabelos tingidos, a pele castigada pelo sol, tudo isso era perfeitamente somado àquele clima apocalíptico. Eles conseguiam ser muito assustadores, principalmente pelas máscaras e pelas motos que usavam.

   Jungkook estava olhando as estruturas do Clã. O grande campo arenoso se estendia até onde a sua vista não alcançava, mas ele já se encontrava impressionado antes mesmo de terminar de ver tudo.

Um lince apareceu na frente deles, como se estivesse estranhando a presente dos forasteiros em seu território. Era um felino grande, quase do tamanho deles e tinha um olhar ameaçador, o que já entregava que aquela espécie havia sido modificada. Sua cor era acinzentada, com os lados cobertos por manchas pretas e as garras estavam muito afiadas. Tudo no animal indicava uma aura desconfiada e arteira, por isso o primeiro instinto de Jungkook foi se colocar na frente de Jimin e manter a mão em sua espada, caso precisasse usar.

Set dau – uma voz grossa chamou a atenção do animal e o mesmo logo saiu do campo de visão dos Rebeldes, obediente. Jungkook percebeu que o dono da voz era Kris Wu, um antigo soldado Rebelde, que desertou depois que um de seus filhos morreu lutando em uma missão dada pelo antigo comandante. Do seu lado, Tao, que também era do seu exército, mas saiu quando não aguentou a pressão. Os dois fugiram juntos. – Desculpe por isso, comandante, os linces de Yezi não estão acostumados a visitas, mas garanto que eles são bem dóceis quando conhecem a pessoa. Vamos, vou escoltar vocês até lá.

— É bom ver vocês de novo. Vivos – Jungkook admitiu, legitimamente feliz por ver que os dois homens conseguiram se manter a salvo. Kris e Tao sorriram com o que foi dito, logo começando a levar o grupo até o local designado e dissipando a multidão de curiosos que se formou para encará-los.

   Os Rebeldes continuaram a reparar nas estruturas deles. Centenas de tendas se espalhavam pela terra, algumas fechadas, outras abertas e revelando olhares curiosos e expressões ansiosas. Haviam pessoas de todo o tipo naquele lugar, exceto idosos. Crianças, jovens, adultos, bebês, grávidas, homens, casais, solteiros, gays, héteros, imigrantes, guerreiros, músicos, atiradores...Todos estavam convivendo e lutando juntos, com a mesma marca do sol nas mangas, fazendo parte de um só grupo.
 
   E, claro, os motoqueiros. Como se fosse um show preparado, um grupo de dez deles irrompeu em uma descida radical de uma das montanhas de terra mais próximas, com faíscas e fumaça vermelha saindo de algumas motos, cruzando o campo na frente deles e parando próximo a uma tenda.

— Acho que gostam de se exibir – Namjoon comentou ironicamente, balançando a cabeça e odiando completamente aquela interação entre os povos. Sentia que aquela era uma péssima ideia.

— É o que fazemos de melhor – Kris comentou, e pôde ver de relance que Yoongi revirava os olhos pelo modo que ele se incluiu ao Clã. O mestre odiava desertores e, sem se importar com os motivos que o levaram a sair, os considerava traidores.

   Conforme andavam, o que mais chamava a atenção dos Rebeldes era uma gigantesca fortaleza que se ergueram perto das tendas, o prédio deveria ter uns dez andares e todo o seu exterior parecia indestrutível, como se fosse construído justamente para manter o povo a salvo. Quando Tao percebeu que isso os tinha intrigado, resolveu explicar.

— Essa fortaleza foi construída pelo último ditador da Coréia do Norte, na época da Terceira Guerra Mundial. Ele usava essa grande lata de sardinha para guardar armas e tinha planos de se abrigar aqui, caso houvesse um ataque inesperado de um país inimigo e não tivesse tempo suficiente de fugir. Porém, nunca foi usado com esse propósito, já que...Como todos sabemos, os Estados Unidos e seus aliados acabaram com as duas Coréias antes mesmo de poder ser utilizado como abrigo – Tao dizia, mantendo os outros interessados na história. Decidiu que também seria legal deixá-los sabendo como o prédio era por dentro. – Além dos dez fora da terra, temos mais quinze andares para baixo. As armas e coisas necessárias para a guerra se localizam nos andares superiores. Os dormitórios, banheiros, e espaços de convivência ficam no subterrâneo...Embora raramente os usemos, já que preferimos as tendas e dormimos do lado de fora. Só entramos quando está muito frio ou há alguma ameaça.

Lisa franziu a testa, olhando ao redor.

— Imagino que não seja fácil caçar por aqui. Esse lugar é quase um deserto.

— É, esse é um dos problemas que nós enfrentamos. Geralmente nos viramos com o que os caçadores conseguem na floresta, mas, como temos que respeitar o bloqueio de vocês, também optamos pelo roubo de cargas do Reino – Kris respondeu, continuando a andar. Ele apontou para algo que os Rebeldes até então não tinham visto: Era uma construção grande, parecida com uma casa em condições ruins e, diferente das inúmeras tendas e da fortaleza, essa não carregava um ar de liberdade. – Aqui vivem os escravos. Também os mandamos para as caçadas, ou para testar campos minados.

— Perdão? Escravos? – Jimin estava boquiaberto pela naturalidade que Kris usou para falar aquilo. O ruivo e Jungkook se entreolharam, extremamente desconfiados.

  Diferente do que esperavam, Kris assentiu.

— Sim, são ex-soldados de Chung-Hee ou inimigos declarados do Clã. Desde que as regras daqui mudaram, usamos a escravidão como pena para alguns crimes, como o estupro, traição, e outros delitos graves entre os nossos.

    Aquilo parecia absurdo demais para os Rebeldes, afinal a sua essência era lutar pela liberdade individual de todos os seres. Agora iriam se aliar a um povo que tinha escravos? Algo não estava certo, mas eles não tiveram tempo para questionar novamente, afinal haviam chegado em seu destino. Foram levados a uma tenda, mas essa era diferente das outras, era maior e mais alta, a lona que a cobria era azul escuro e tinha todo um ar de superioridade.

— Melhor não entrarem todos juntos É coisa nossa – Kris avisou, dando de ombros. – Dois podem ir.

Jungkook não deu tempo para ninguém se oferecer a acompanhá-lo e tocou o braço de Jimin, pedindo silenciosamente para que fosse com ele. Ele sabia que o ruivo queria ser independente e conquistar sua própria força, então seria bom que fizesse parte de uma discussão tão importante como aquela. E ele viu como o Park pareceu entusiasmado com a liberdade que lhe foi dada, embora não tivesse proferido uma palavra.

Quando os dois entraram, entenderam o porquê da tenda parecer tão diferente das outras.

  Todo o Conselho estava ali e, para a surpresa de todos os Rebeldes, eram quase todas mulheres – inclusive, Rosé já estava posicionada no meio delas. Eles se colocavam ao lado do que parecia ser um trono de madeira, ocupado pela líder, que era, sem dúvidas, a mulher mais bonita que Jungkook havia visto na vida. Era uma mulher negra, seus olhos tinham uma cor acinzentada, os cabelos caíam em cascatas pelo seus ombros e todo o seu corpo era desenhado por tatuagens e pinturas brancas, além do símbolo do sol que estava pintado um pouco acima do seu peito. Por falar em sol, eram diversas versões dele que estavam desenhadas pelo teto e pelas "paredes" da tenda, fazendo parecer que eles estavam no céu.  – ao redor do lugar, as seis cadeiras para os membros do Conselho e armas, muitas armas. Atrás do trono, havia uma espécie de porta, que parecia ser uma extensão da tenda.

— Você é a Yezi? – Jungkook perguntou, boquiaberto, e a líder assentiu calmamente. Os seus dois linces permaneciam ao seu lado, como cães de guarda. – Eu achei que...

— Que fosse um cara? Natural – ela deu um sorriso cheio de duplo sentido, enigmático, misterioso. A mulher tinha uma aura diferente, que poderia fazer qualquer um estremecer. O seu sotaque estrangeiro e presente tornava um pouco mais lento o processo de compreender a sua fala, mas não era nada impossível de lidar. – Te incomoda o fato do Conselho ter só um homem?

    Haviam três pessoas de cada lado dela, e a diversidade ali era quase palpável, não era à toa que o Clã era conhecido por aceitar todos os tipos de pessoas. Eram duas negras, dois chineses, uma coreana e Jungkook achava que a última era americana, mas não tinha certeza. O garoto chinês parecia familiar, era como se já tivesse o visto antes...Ele era bonito, seus olhos pequenos e suas feições delicadas faziam um belo conjunto, lhe dando um ar tão angelical que seria impossível de ser esquecido facilmente, o comandante só queria saber de onde o conhecia.

— Não. Me admira, na verdade – o comandante respondeu, sincero. Jungkook sempre preferiu fazer acordos e alianças com mulheres, afinal, na maioria das vezes, elas eram muito mais racionais que os homens. – Principalmente pelos boatos que ouvíamos sobre o Clã.

   Yezi se remexeu no trono, parecendo desconfortável com a última parte de sua fala.

— Peço que não julgue o meu povo pelos erros dos antigos líderes. Essas histórias refletiam as escolhas de um homem louco, que perdeu a esposa e o filho, e mandava em uma terra sem leis. Agora sabemos e colocamos em prática todas as regras necessárias para que haja paz.

— O que houve com esse homem louco? E com o filho? – Jimin perguntou, curioso. Sabia que histórias como aquela eram muito comuns, mas não deixava de se chocar com a maldade humana.

Yezi estalou a língua.

— Bem, para resumir...Depois que a esposa de Khan morreu, ele passou a ficar mais agressivo. Byun Baekhyun, seu filho e um dos maiores alvos de seus surtos violentos, quase nunca ficava aqui e só o víamos em cartazes de "procurado pelo Reino", porque ele era um ladrão excelente. Um dia, Baekhyun desapareceu completamente e o antigo Conselho atribuiu a culpa de sua morte ao nosso líder, que foi punido na frente de todos.

     Jimin balançou a cabeça. Não acreditava que tantas vidas estavam ligadas daquela forma...Era como se todas as histórias fossem tecidos, que eram costurados por ações e exibidos por pessoas.

— Não, Byun Baekhyun ainda está vivo. Ele está escondido no Reino.

  Todos os presentes na sala ficaram boquiabertos e animados com a revelação, mesmo que hesitantes em acreditar, mas o garoto chinês definitivamente superou todos. Ele sorriu tão largamente que Jungkook achava que seu rosto fosse rasgar, e seus olhos se encheram de lágrimas quando ele se virou para a chinesa ao seu lado e sussurrou um "eu sabia, eu sabia!", enquanto era abraçado por ela.

— Como sabe? – Yezi questionou, impassível.

— Ele está com um de nossos soldados – quando viu o espanto no rosto da líder, Jungkook rapidamente se explicou. – Não como refém, ou coisa do tipo, os dois são amigos. Mas, enfim, o que os caras do Conselho fizeram quando o pai do Baekhyun foi morto?

— Eles assumiram o poder. Toda a ideia de incriminar Khan já vinha sendo criada há muito tempo, o problema é que nunca percebemos que a "morte" de Baekhyun foi só uma peça chave para fazê-los consolidar a traição – a líder comentou, finalmente se levantando de seu trono e andando até os dois. Os linces a seguiram, ainda encarando Jungkook e Jimin. – Depois de um tempo, eles começaram a conversar com Chung-Hee, querendo fechar uma aliança, o que foi brutalmente retaliado por todos nós. Uma das únicas exigências para que aceitemos gente aqui é que eles prometam que nunca irão até o Reino sem um propósito de grande importância, muito menos se envolver com gente de lá. Então, concordamos que a pena de morte deveria ser aplicada para todos eles, e eu realizei a execução.

  Jungkook riu de escárnio.

— Ok...Então, agora que eu sei que foi tão fácil matar aqueles que você chamava de líderes, por que deveríamos nos tornar aliados? Por que eu confiaria em você?

— Irei responder a sua pergunta com outra pergunta, Jeon – ela se aproximou do comandante, invadindo o seu espaço pessoal e o encarando com fogo nos olhos, embora tivesse um sorriso de deboche em seus lábios. – Por que eu deveria confiar em um homem que deixou um bombardeio atingir uma vila cheia de pessoas do seu próprio povo, sem sequer tentar uma evacuação? Acho que somos dois loucos.

  Jimin franziu a testa.

— E como você sabe disso?

— Bom, Jungkook deve se lembrar de que, quando ele estava voltando do litoral, uma moto passou por ele. Acho que você estava com a sua namorada no carro...Uma loirinha, certo? Não foi muito difícil descobrir o que aconteceu, principalmente depois que ouvimos os estrondos – ela falou calmamente. O corpo de Jimin se enrijeceu quando ela disse que Lisa era a namorada do comandante e Jungkook percebeu isso, se odiando completamente ao se lembrar do que fez. Estar ali com o ruivo era o seu único porto seguro, então era fácil esquecer dos erros quando estava com ele. – Mas, enfim...Não odeie o jogador, odeie o jogo. Eu preciso de ajuda, você também, por que não nos juntarmos de uma vez?

Os dois líderes se encararam por um longo período de tempo, como se estivessem analisando os pecados um do outro. Era uma aliança arriscada, todos ali sabiam disso, mas Jungkook soou determinado quando disse:

— Nós conversaremos sobre os termos mais tarde. Primeiro quero que me mostre a infraestrutura de vocês.

— Ótimo. Mas permita-me fazer uma coisa antes – ela andou até a "porta" da tenda e chamou o restante dos soldados Rebeldes, convidando-os para dentro e deixando que o seu Conselho, e os seus linces, saíssem (apenas o garoto chinês ficou). Jungkook tinha que admitir que ela estava sendo bem corajosa em ficar numa sala sozinha com tantos soldados de um outro povo. – Antes de fazer qualquer aliança, eu costumo investigar a fundo, saber o que as pessoas têm em sua alma e quais são as suas intenções. Aqui no Clã, a maneira mais eficiente de descobrir isso é mostrando os patronos.

  Ela andou até a porta atrás do trono, logo a abrindo e deixando que os soldados passassem por ela. Agora, estavam em um cômodo completamente diferente. Em seu centro, havia um caldeirão fervente que carregava em si um líquido azul, uma névoa branca e densa que pairava sobre suas cabeças, enquanto todo o lugar era iluminado por uma espécie de claridade fantasiosa. Era como se estivessem em uma sala onde se praticava magia, ou algo do tipo.

— Luhan, faça as honras – Yezi pediu e o garoto chinês a obedeceu, indo até uma mesinha do lado do caldeirão e pegando uma garrafa. Ele bebeu um pouco do conteúdo desta, logo fazendo uma careta depois de abrir e fechar os olhos. Era uma reação estranha...Álcool, talvez? – Para que todos consigam ver com clareza, é necessário beber da garrafa. Não muito, apenas o suficiente para abrir a sua mente e te fazer enxergar além da superfície. É um exercício básico de confiança, onde ambos de nós sairemos ganhando.

  Meio relutante, mas sempre corajoso, Yoongi foi o primeiro a beber. Ele sabia que, se fosse o primeiro é houvesse algo de errado com aquela bebida, Jungkook não correria nenhum risco. Desde o começou, jurou dar a vida pelo comandante e era isso que faria.

  Aos poucos, todos os Rebeldes foram bebendo, deixando Jungkook por último. Quando ele consumiu o líquido, sentiu a sua mente se revirar. Os seus olhos abriam e fechavam, enquanto as imagens rodavam e e confundiam na sua frente. Demorou um tempo até que esse estado novo passasse, mas a sensação de estar "chapado" não saía de seu corpo. Ao ver que seus soldados e Jimin também estavam assim, percebey que aquilo era loucura.

— O meu patrono é o jacaré – a voz de Yezi soou mais calma aos seus ouvidos e o comandante ergueu os olhos para encará-la. Ela estava na frente do caldeirão e mexia no líquido azul, que agora brilhava intensamente. Ela mostrou uma tatuagem branca que tinha feito do animal, que começava em seu pulso e terminava no antebraço. – Ele é um animal noturno. A sua força é imbatível tanto como é inevitável que a noite roube o dia e a morte tome a vida.

  Quando ela disse isso, uma imagem azul do réptil se criou no ar. Era brilhante e chamava a atenção por ser extremamente bonito e fora da realidade dos Rebeldes. Talvez fosse apenas um efeito colateral da bebida que tomaram? Talvez fosse de verdade? Eles só sabiam que o jacaré se foi tão rápido quando chegou, deixando a sala ser iluminada apenas pelo caldeirão.

— Como você sabe qual é o seu? Digo, como você escolhe o seu animal? – Jimin perguntou, a voz baixa e mais lenta, ainda impressionado com o que tinha ouvido e visto. Parecia incrível demais.

— Não é você que escolhe o seu patrono, é ele que escolhe você. Ele se identifica com as suas características pessoais, deixe-me te mostrar  – Yezi o corrigiu rapidamente. Estendeu a mão para ele e ele a pegou depois de um segundo de hesitação, logo o colocando perto do caldeirão. Ela apertou a sua mão por um tempo, fechando os olhos e logo tornando a abrir.

  Assim que ela olhou para ele novamente, a figura de um tigre saiu do caldeirão, de novo com aquela luz azul e brilhante, quase mágica. Ele encarou especificamente Jimin antes de olhar para todo mundo daquela sala. Ele olhava como se quisesse demonstrar que agora seria o guardião de todos eles, não só do ruivo, logo abaixando a cabeça e sumindo. Todos ficaram impressionados com aquilo.

— Oh, o tigre. Senti que esse seria o seu – Yezi avaliou, inclinando a cabeça para a direita como se o avaliasse. Por fim, um sorriso pequeno tomou os seus lábios quando pareceu ter visto alguma coisa nele, mas nenhum deles percebeu aquele ato. – O tigre é extremamente impulsivo, destemido e imprevisível. Porém, também simboliza a generosidade, o equilíbrio, a força e a realeza, mas isso você já deve saber. É um animal muito inteligente, independente, poderoso e livre de quaisquer amarras. Para os coreanos, os tigres​ eram os reis dos animais.

— Eu quero saber o meu – Taehyung levantou a mão timidamente. Estava resistindo a todos os impulsos de pular e gritar "MEU DEUS, ISSO É MUITO LEGAL", pois tinha certeza que Jungkook o faria se arrepender daquilo. Mesmo depois de tudo, o comandante ainda conseguia deixá-lo assustado quando ficava bravo.

   Yezi pegou a sua mão e olhou para ele de um jeito curioso, até mesmo admirado, enquanto Taehyung não entendia nada do que estava acontecendo. Ele arregalou os olhos quando uma águia saiu do caldeirão, batendo as brilhantes asas graciosamente​ enquanto o olhava, logo voltando para o lugar de origem.

— Uma águia. Eu não vejo uma dessas há anos – ela admitiu, surpresa. Taehyung tinha seus olhos brilhando quando viu o seu patrono o encarando tão profundamente. – Essa é extremamente ágil e habilidosa. Essa ave consegue fitar o sol diretamente, uma alusão a clarividência. Seu patrono vê coisas que ninguém mais consegue.

Taehyung se curvou rapidamente para ela, agradecido e também assustado porque, de certa forma, agora todos ali sabiam sobre o seu dom.

  Foi a vez de Keana, que rapidamente se colocou perto do caldeirão e agarrou a mão da mulher, fazendo Yezi sorrir com a sua ousadia. A cabeça de um urso preto apareceu e rosnou para a rebelde, logo desaparecendo em meio a fumaça.

— Ah, o meu é nervosinho – Keana comentou, mas ainda estava admirada com aquilo tudo. Óbvio que não ia deixar transparecer. – O meu patrono me odeia, é isso?

— Não. Ursos têm temperamento forte, exatamente como você também parece ter – Yezi balançou a cabeça, ainda sorrindo. – Simboliza a força. É um animal feroz que demonstra essa característica especialmente quando age para proteger algo que ama. Ele demonstra evolução em sua personalidade, mas também regressão quando fica agressivo, pois não consegue pensar nas consequências.

— É, essa última parte é exatamente como você – Jungkook alfinetou, cruzando os braços. Keana revirou os olhos para o primo.

— Faz comigo! – Hoseok pediu de um jeito animado, já entregando a sua mão para ela. – Tem que ser um animal muito legal!

  Assim que a líder pegou a sua mão, a figura de dois patronos se enxergava em meio a fumaça. Eram duas borboletas, uma sendo completamente colorida e a outra, branca. Elas voavam em harmonia, até mesmo pararam em seu ombro por alguns segundos, mas logo voltaram para o caldeirão. Algumas risadas foram ouvidas pelos outros Rebeldes por causa daquela revelação. Não tinha como ser diferente, certo? Era de Hoseok que estavam falando.

— Ok, todo mundo tem um animal legal. E eu tenho duas borboletas – Hoseok riu de si mesmo, logo cobrindo o rosto de tanta vergonha por sua animação alguns minutos atrás. – Pelo menos são duas.

— Engana-se quem acha que por serem pequenas elas não têm tanto valor. Por serem encontradas em diversas cores tão facilmente se comparada aos outros patronos, o significado delas muda conforme a aparência. A borboleta colorida é portadora de momentos alegres, enquanto a branca simboliza a serenidade. São ambas características muito boas em uma pessoa e extremamente raras de serem encontradas.

Hoseok se alegrou com aquilo e mostrou o dedo do meio para todos que estavam rindo dele antes. Até mesmo Yoongi deu um pequeno sorrisinho com aquilo.

   Logo, ela fez com Namjoon também. No dele, aparecera um polvo mexendo os seus tentáculos lentamente. Ele parecia não acreditar muito naquilo, portanto nem mesmo pediu explicações para seu patrono, diferente de Lisa, que imediatamente quis saber a razão do seu ser um cachorro. Era um filhotinho lindo, que logo mexeu o rabo de um lado para o outro por ver a loira, logo correndo de volta para o caldeirão.

— O cachorro é símbolo de lealdade, pois é guardião e protetor de qualquer um que jura fidelidade, tanto na vida quanto na morte. Ele guia o amigo na escuridão, fazendo um papel de intercessão entre os mundos.

A menina sorriu satisfeita com a sua definição.

  Quando foi a vez de Taemin, Jungkook riu de um jeito disfarçado. O patrono do cara era uma joaninha.

— A joaninha é o símbolo do amor, da felicidade, da proteção e do equilíbrio entre forças. A joaninha representa especialmente a sorte, de modo que se acreditava que, quando uma joaninha subia em uma pessoa, esta teria felicidade e fortuna. E, sobre o amor, diziam que o número de manchas nas costas da joaninha era o número de meses que passariam antes que um grande amor aparecesse na vida dessa pessoa.

  Taemin olhou para Jimin, sorrindo por causa daquela última parte, mas logo se entristeceu ao ver que o mesmo discretamente encarava o comandante.

  Quando Yoongi fez, um tubarão grande surgiu na frente deles, como se estivesse acabado de pular para fora da água para pegar uma presa. O animal abriu a boca e fechou, parecendo se preparar para matar alguma coisa, os seus dentes poderiam ser vistos de longe. Ele se afundou lentamente na fumaça e nem sequer olhou para o seu escolhido.

— Tubarão representa a agressividade, a violência, a morte, o poder e a coragem.  Para algumas culturas, é o rei dos mares.

— Por que isso não me surpreende? – Lisa comentou, dando de ombros. Olhou para o comandante. – Só falta você, Jungkook, faça também.

  O comandante se aproximou receoso do caldeirão e pegou na mão da mulher, ansioso para ver o seu patrono. Ele demorou alguns segundos para vir, mas logo o lobo apareceu sobre uma pedra, encarando todos ao redor dele com um ar imponente, como se fosse tomar conta de todo mundo ali, não só de seu escolhido, assim como o tigre de Jimin fez. Ele abaixou a cabeça e, depois de brilhar mais intensamente, sumiu entre a névoa. Dois líderes natos.

— Lobo. É, esse é um dos meus preferidos. Ele é um guardião, protege um lugar ou alguém de outros animais perigosos. Ele tem força e ardor ao combater, por isso representa uma figura heróica – Yezi sorriu. – Assim como a borboleta, ele muda com a cor. O lobo branco, ou marrom, representa a astúcia e a vitória, e isso dá contraste com o lobo negro, que soma características sombrias e corrompidas pelo mundo. Cada vez que você vai tomar uma decisão, os dois lobos brigam dentro do seu ser para ver qual dos lados prevalece. Pelo que posso ver, quase sempre o branco ganha.

  Eles ficaram conversando sobre aquilo por bastante tempo. O efeito da bebida parecia estar passando, era como se realmente fosse feita só para ver os patronos...Chegava a ser engraçada a quantidade de coisas que os Rebeldes não sabiam sobre o mundo novo, sobre as novas invenções e todos os seus mistérios. Tudo o que conheciam estava dentro de suas fronteiras, talvez os Outros conhecessem aquele cenário tão bem porque transitavam por ele todo.

— Comandante, se não se importa, gostaria de convidá-los para o jantar. É outra de nossas tradições quando fechamos novas alianças. E também gostamos de ir visitar os outros povos depois – Yezi comentou, o seu sotaque tornava tudo mais misterioso. Jungkook simplesmente concordou com a cabeça, sentindo a ansiedade correr por suas veias. – Ótimo, então vamos. Temos muito que conversar sobre novos planos.



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