História Jikook ABO - Um Ômega de Presente - Alfa e Ômega

— Vaaaamos Jungkook!!! — Já era a quinta vez que eu o chamava.

— Só mais cinco minutinhos... — Ele murmurou novamente, virando-se para o outro lado na cama.

— Eu já te dei VINTE minutinhos! — Enfatizei, falando bem mais alto que o normal. De algum jeito ele acorda! — Anda logo, se não vão tirar o café da manhã da mesa. Já são mais de nove horas da manhã!

Eu estava sentado na poltrona do quarto, em frente ao espelho, terminando de pentear meu cabelo. E pelo reflexo eu podia ver que o Jungkook não movia NEM UM MÚSCULO. Aaaff... Jungkook sempre foi uma pessoa difícil de lidar, não ia ser diferente comigo. Yoongi é um dos poucos casos em que o ômega parece ter mais moral que o alfa na relação. Bom... então eu bem que podia me inspirar nele para ver se resolvo pelo menos nessa situação aqui.

Vejamos... Como o Yoongi agiria se ele estivesse tentando acordar o Tae... Hum... Já sei!

Logo ao lado da cama, na mesa de cabeceira, deixamos uma jarra de água com alguns copos, caso fiquemos com sede durante noite. Casualmente... enchi um dos copos até o topo... e virei em cima do Jungook.

— Q-QUE?! QUE PORRA É ESSA, JIMIN?! — Ele acordou em um pulo desesperado, sem entender nada que estava acontecendo.

Usei todas as minhas forças para não rir e manter a pose de durão.

— Eu vou batizar esse copo de “Cinco minutinhos”. — Lhe falei, colocando o copo de volta no lugar. — Entendeu o que eu quis dizer?

— Você tá andando demais com o Yoongi. — Resmungou, tentado secar a água em seu rosto.

— E isso pra mim é só vantagem. Agora se veste, vamos descer pro café da manhã. A não ser... que você queira mais cinco minutinhos.

— Tá... tá, eu já tô indo.

Foi mais eficiente do que eu pensei. Em poucos minutos já estávamos tomando nosso café da manhã no andar de baixo.

— A mansão parece silenciosa. — Comentei.

Havíamos apenas nós dois na sala de jantar, o que era esperado já que Jungkook fez o favor de demorar para levantar da cama. Mas ainda assim... eu estava sentindo algo estranho.

— Bom... meus pais já devem ter saído pra trabalhar.

— Em pleno domingo?

— Você claramente não conhece aqueles dois.

— Se você diz... E O Hyuki e o Baek?

— Devem estar descansando depois da viagem.

— Hum... — Algo me parecia errado... Não sei explicar, apenas sentia isso. — Que tal ligarmos a TV?

— Você tá realmente incomodado, hein? — Constatou com um olhar desconfiado, mas acatou o meu pedido, estendendo o braço para alcançar o controle remoto.

Raramente a TV da sala de jantar era ligada, na verdade acho que nunca vi alguém assistindo alguma coisa nela. Mas... é como eu falei, tem algo me dizendo que há alguma cosia errada. Meu lobo está inquieto, eu consigo sentir.

Quando o Jungkook ligou a TV, estava passando um noticiário e lá mesmo ele deixou, voltando a atenção para o seu café da manhã. Mas eu fiquei atento ao que o repórter estava falando:

“As chances de um defeito assim acontecer com esse tipo de meio de transporte são baixíssimas, mas ainda assim existem. De acordo com especialistas, o defeito principal surgiu no motor e isso fez com que todos os outros problemas fossem acarretados.”

— Acidente? — Jungkook perguntou, vendo meu interesse na notícia.

— Parece que sim.

“O acidente aconteceu na noite de ontem, o jato caiu em uma área sem moradores, sem resultar em ainda mais vítimas. Mas quanto aos passageiros e o piloto, infelizmente não houveram sobreviventes.”

— Meu Deus, que tragédia. — Jungkook comentou, agora prestando atenção também.

— Pois é... Não gosto de ver essas coisas, é tão triste.

—  Quer que eu mude de canal?

— Não. — Eu realmente não gosto de ver esse tipo de coisa. Mas parecia que era sobre isso que meu lobo queria me avisar, sinto como se tivesse acabado de encontrar o que havia de errado. — Por favor, deixa aí.

Jungkook atendeu meu pedido, deixando o controle de lado. E nós dois continuamos ouvindo:

“O jato pertencia a Jeon Yejun, o alfa chefe da renomada família Jeon.”

— Que?? — Jungkook ficou em choque assim que ouviu o nome do pai, assim como eu. E a partir dali tanto ele como eu, não ouvimos mais nada daquele noticiário. O mundo parecia que tinha dado uma estremecida. — O... O jato era nosso? Como assim??

— Jungkook... seus pais...? — Perguntei, já pensando no pior.

— Não, o acidente aconteceu ontem a noite. Eles estavam aqui nesse horário. — Afirmou, consciente do que estava dizendo, porém ainda assim perturbado. — Eu até passei por eles quando fui com os meninos até a saída.

— Então... A família de vocês tem mais de um jato particular? — Perguntei, tentando entender aquele caos.

— Não, só o do meu pai.

— Ué... então...

Ah não... me diz que a minha memória está me traindo... por favor, me diz que eu ouvi errado naquele dia. Estávamos exatamente nesse jato... voltando do resort... Quando Hyuki disse ao Baek:

“Seja lá para onde você for, eu peço o jato emprestado ao meu pai e vou atrás de você. Vamos passar esse dia juntinhos como sempre.”

— Jungkook... o Hyuki e o Baek voltaram de viagem?

— Claro. — Disse, parecendo tentar convencer a mim e a ele mesmo. — Eu não os vi ainda, mas eles iriam voltar ontem a... — Jungkook arregalou os olhos em um instante, ele sabia como era o final daquela frase tanto quanto eu. Meu coração gelou, nunca senti uma sensação tão ruim na minha vida. — HYUKI!!

Jungkook saiu correndo desesperado pela mansão, gritando o nome do seu irmão sem parar. Tentei acompanha-lo, senti que ele precisaria de mim ao seu lado. Quando chegou até o quarto do alfa mais velho, começou a bater na porta quase a esmurrando.

— HYUKI!! RESPONDE HYUKI!! — Gritava enquanto esmurrava a porta. — PELO AMOR DE DEUS, RESPONDE! POR FAVOR! HYUKII!!

Quando não obteve resposta, Jungkook tentou girar a maçaneta, e a porta abriu-se facilmente, revelando um quarto totalmente vazio. Ainda assim Jungkook entrou lá chamando pelo seu irmão, com sua voz já começando a vacilar. Andei a passos calmos até o banheiro, vendo que a porta se encontrava entreaberta e tudo lá dentro estava escuro.

— Baek...? Hyuki? — Chamei por eles na vã esperança. Nem sinal dos dois.

— Não... isso só pode ser brincadeira... — Jungkook começou a dizer a si mesmo. — É mentira... é um engano, só pode ser! — Pegou seu celular, e com a mão tremendo, buscou o contato do seu irmão. Levando o aparelho até o ouvido logo em seguida. — Vamos, Hyuki... atende, por favor...

Enquanto isso, voltei até o corredor, chamando um dos empregados que passava por ali.

— Com licença... Sabe dizer se Hyuki e Baekhyun voltaram para a mansão ontem a noite?

— Perdão, senhor, mas eu não os vejo desde que saíram de viagem.

Como eu esperava... Nunca senti meu coração tão apertado, sentia como se eu estivesse suando frio. Jungkook já estava tentando ligar para o seu irmão pela terceira vez, sem sucesso. Enquanto isso, segui meus instintos, voltando até a sala de jantar para conseguir mais informações. Saímos a pressas de lá, então a TV ficou ligada, e a mesma noticia ainda estava na tela, com o repórter falando:

“Já tentamos contato com o alfa chefe da família Jeon, o qual não quis se manifestar ainda. O que é totalmente compreensível. Desejamos os nossos mais sinceros sentimentos a família Jeon”.

— Por favor... não...

“Entre as vitimas do acidente estava o filho mais velho da família, Jeon Hyuki, assim como seu ômega, Jeon Baekhyun”.

— NÃO! — Escutei Jungkook gritar logo atrás de mim, nem o ouvi chegar. — NÃO É JUSTO!!

Jungkook arremessou seu próprio celular na TV, com tanta força que rachou a tela e já nem ouvi mais o repórter falando.

— Jungkook, meu amor... Fica calmo, tá? — Eu nem sabia como agir ou o que sentir, mas uma coisa que eu tinha certeza era que Jungkook estava prestes a explodir.

— Calmo? Não, Jimin... Não, não é... NÃO É JUSTO!! NÃO ELES!

E o que eu estava sentindo que ia acontecer, aconteceu. Jungkook parecia ter perdido totalmente a consciência, ele começou a literalmente surtar, gritando e destruindo tudo o que tinha pela frente. Quebrava pratos, copos, jarros, parecia que o próprio Jungkook tinha acabado de quebrar.

— ELES NÃO MERECIAM ISSO! O HYUKI ERA UMA PESSOA MARAVILHOSA, ELE SEMPRE FOI UM EXEMPLO!! O EXEMPLO QUE EU NUNCA IA CONSEGUIR ALCANÇAR, MAS ELE ERA UM ALFA PERFEITO! LOGO QUANDO... QUANDO EU E ELE FINALMENTE ESTÁVAMOS COMEÇANDO A NOS APROXIMAR DE VERDADE... NÃO É JUSTOOO!!! — Sempre que ele gritava, destruía algo que estava a sua frente. Eu até tentei me aproximar, mas parecia perigoso. Foi preciso uns cinco empregados para contê-lo, mas não conseguiram fazê-lo parar de gritar. — ELE DISSE... ELE DISSE QUE ESTAVA ORGULHOSO DE MIM! E EU NUNCA PUDE DIZER QUE EU TINHA ORGULHO DELE TAMBÉM! — Ai meu coração. — EU NUNCA PUDE FALAR “EU TE AMO” PRO MEU IRMÃO! NUNCA... ELE NÃO MERECIA TERMINAR ASSIM!! NENHUM DOS DOIS MERECIA! NÃO É JUSTOO!!

Vê-lo assim me deixava tão quebrado quanto ele... Mas eu sou seu ômega, eu o amo, preciso fazer alguma coisa.

— Kookie... — Com minhas lágrimas já caindo pelo meu rosto, me ajoelhei bem diante dele, ficando na altura do seu rosto, com todos os empregados o segurando. — Você não precisava dizer isso pra ele, o Hyuki sabia. Vocês são irmãos, a conexão que vocês tinham não era qualquer uma. Ontem a noite... Aquilo que você sentiu... você já entendeu, não é? — Em resposta, Jungkook apenas soluçou, chorando ainda mais. — Se você conseguiu sentir algo assim... Acha que o Hyuki não sabia que você o amava? A gente não precisa falar as coisas pra que sejam verdade, nós podemos só sentir. O Hyuki tinha orgulho de você, e a última coisa que ele iria querer ver é você nesse estado.

— Mas, Jimin... Não dá... dói demais, você não entende.

— Jungkook... Você perdeu seu irmão... E eu perdi o meu primeiro amigo nessa casa. — Finalmente falei as palavras, parecendo ficar evidente pra mim agora, fazendo a ficha cair e junto com ela uma imensidão de lágrimas dos meus olhos. — O Baek me ensinou tanta coisa... tanta coisa que eu nunca vou poder retribuir. Ele foi o primeiro amigo a me acolher de verdade aqui... Eu te garanto que pelo menos metade da dor que você está sentindo agora, eu também estou. — Eu já estava chorando tanto, que quase não conseguia falar mais. — Então por favor... por favor, se acalma.

Daí em diante eu desabei. Tentei manter a postura pra consolar o Jungkook enquanto pude, mas quando eu falei foi que me dei conta... O Baek morreu... Eu não aguentei mais, caí de joelhos no chão, e comecei a chorar igual a criança. Eu que tinha quebrado agora, e não fazia ideia de quando eu ia conseguir me levantar ou quando aquela sensação horrível ia passar.

Foi quando senti o toque familiar dos braços do Jungkook me envolvendo. Os empregados não precisavam mais segura-lo, e ele também não estava mais gritando, estávamos apenas sentindo o calor um do outro em um abraço que nós dois precisávamos.

— Os dois se amavam. — Ouvi Jungkook dizer ao meu ouvido, sua voz agora bem mais calma. — Talvez fosse o destino... que eles partissem juntos. — Jungkook ajoelhou-se também, agora ficando quase na mesma altura que eu, levando minha cabeça a se apoiar em seu ombro. — Você mesmo disse, que o Hyuki não iria querer me ver assim. Agora pensa no Baek, você o conhece... Ele iria ficar puto se soubesse que partiu e você ficou assim. — Sua voz estava calma, mas eu ainda sentia uma lágrima ou outra dele pingando em mim. — Estamos juntos... vamos ficar bem enquanto estivermos assim. Assim como eles também estão juntos... em um lugar melhor agora. Vamos honrar a memória deles, tá bom?

— U-uhum. — Respondi com um soluço.

Essa foi a minha maior prova de que eu e Jungkook precisamos um do outro. Eu me mantive firme enquanto ele precisava de ajuda, e ele conseguiu se recompor quando viu que eu desmoronei... Isso que é ser alfa e ômega. E também nunca vou esquecer do grande exemplo de alfa que Hyuki era, assim como o Baek era uma inspiração para tantos outros ômegas.

...

Eu e Jungkook passamos o restante do dia quase em silêncio absoluto. Afinal, estávamos em nossos momentos de luto. Confesso que não segurei minhas lágrimas, e chorei bastante durante o banho. Assim como sei que Jungkook foi fazer o mesmo nas várias saídas do quarto que ele deu durante o dia. Não é como se não pudéssemos chorar um na frente do outro, é nós dois já estávamos tão fragilizados... que parecíamos ter medo de nos quebrar ainda mais. Eu particularmente, não aguento ver o Jungkook derramando uma lágrima, meu coração fica destruído. Imagino que ele sinta o mesmo.

Ao anoitecer, Jungkook foi ao encontro de seus pais quando eles chegaram. Eu não quis me meter, fiquei no quarto, aquele momento era deles. Mais tarde durante o jantar, o clima na mesa estava pesadíssimo. Não esperava menos. Porém o que eu não esperava de verdade... era o que ia acontecer ali.

— Teremos bastante trabalho essa semana. — O senhor Jeon comentou, quase no fim do jantar.

— Não dá pra tirar uma semana de luto? — Jungkook perguntou. — Ou sei lá, pelo menos maneirar nos próximos dias. Seria respeitoso com o Hyuki.

— Não temos tempo pra isso, principalmente depois do que aconteceu.

— Bom, feche a empresa pelo menos durante um dia em homenagem a ele. — Jungkook continuou sugerindo.

—  Que tipo de homenagem é essa onde as pessoas param de trabalhar? — A senhora Jeon falou com um olhar desdenhoso. — Uma das coisas que Hyuki mais fazia na vida era trabalhar, não faz sentido dar uma folga sem sentido só por causa dele.

— Ele só fazia isso pra agradar vocês... — Jungkook resmungou baixinho, só ouvi porque estava ao seu lado.

— Além do mais, se você pensa em ficar de folga por causa disso, pode esquecer. — O senhor Jeon disse para o filho. — Com... a morte do Hyuki... Você agora é o nosso herdeiro legitimo.

Jungkook arregalou os olhos em uma expressão de choque, acho que ele não tinha se dado conta disso ainda, nem eu. Ele olhou para seus pais como alguém que tinha sido atordoado por aquele fato.

— Vamos ter muito o que fazer durante essa semana. — Disse a senhora Jeon, como se nada a abalasse. — Transferir o posto de herdeiro... consegue ser ainda mais complicado do que estabelece-lo. Temos que lhe apresentar várias coisas, haverá vários documentos para assinar e...

— Semana que vem, por favor... — Jungkook pediu, quase se tivesse medo de pedir aquilo.

— Não temos tempo pra ficar lamentando, Jungkook. — Seu pai disse, ríspido. — A vida não vai parar, precisamos agir.

— Só uma semana... ou pelo menos alguns dias. — Insistiu. — Só por favor, me dá um tempo.

Poxa... Aquilo era triste. Nunca vi Jungkook tão submisso aos seus pais, ele estava praticamente implorando. Não era como se ele estivesse fugindo da responsabilidade, apenas queria um tempo para lidar com a morte do irmão. E sinceramente... era o filho deles, esses dois não tem coração não??

— Não adianta adiar o inevitável. — O senhor Jeon se mostrou irredutível. — Ainda mais agora. A merda desse acidente tinha que acontecer logo agora... Hyuki era um ótimo rosto para a empresa, isso tudo vai fazer as nossas ações caírem com certeza...

Ao meu lado... bem onde Jungkook estava, eu escutei um rosnado claramente. E tudo aconteceu apenas em um segundo. Jungkook se levantou, empurrando a própria cadeira com tanta força que ela quase foi arremessada na parede. E em uma fração de segundo, ele já estava bem diante de seu pai, dando um soco tão forte no rosto do alfa mais velho que o fez tombar para trás, caindo com cadeira e tudo no chão.

— O SEU FILHO ACABOU DE MORRER, SEU VELHO IDIOTA!! — Jungkook gritou, tomado em fúria. —  E É COM ISSO QUE VOCÊ ESTÁ PREOCUPADO?! COM DINHEIRO?!

— Seu moleque DESGRAÇADO! — Seu pai respondeu com quase a mesma quantidade de raiva na voz. — VOCÊ NUNCA VAI SER NEM METADE DO QUE SEU IRMÃO UM DIA FOI! DESAPAREÇA DAQUI!!

Jungkook deu mais um rosnado e deu as costas, saindo da sala jantar. Acho que saiu de lá mais por desgosto do que pela ordem do pai. Eu estava quase paralisado, chocado com tudo que tinha acabado de acontecer ali. É demais pra um dia. Quando percebi, o olhar dos dois que restaram ali estavam fixos em mim.

— Lamento ter que aguentar isso, querido. — Disse a senhora Jeon. — Mas pelo menos agora terá a posição de um dos ômegas principais da família. — Ela não falou isso né... — Baekhyun nunca... atendeu nossas expectativas de qualquer forma.

Essa vadia tá brincando com a minha cara... Eu não rosnei, mas senti um rugido saindo de dentro de mim. Segurei minha taça de vinho e joguei na cara daquela desnaturada.

— Vão se foder... VOCÊS DOIS! — Falei sem arrependimento nenhum, me levantando da cadeira e indo atrás do Jungkook. Antes que qualquer um dos dois pudesse falar alguma coisa.

Quando cheguei no quarto, Jungkook estava de braços cruzados olhando pro horizonte através da janela. Fechei a porta com cuidado, não queria atrapalha-lo em seus pensamentos. Sei bem que ele precisa de um tempo, e pretendia deixar que ele o tivesse. Mas ao invés disso ele começou a falar:

— Acho que meu pai tem razão...

— Jungkook... Me perdoe, mas seu pai não tem razão em nada.

— Em uma coisa ele tem, eu nunca vou ser como meu irmão.

Ai meu Deus... é com isso que ele está preocupado. Aquele velho imbecil...

— Mas isso é óbvio. — Falei, me aproximando dele. — Você é Jeon Jungkook, não Jeon Hyuki. Vocês eram pessoas diferentes, e não tem nada de errado nisso.

— Hyuki era o alfa perfeito, sempre foi a pessoa certeza pra comandar a empresa. Eu nunca vou ser essa pessoa.

Conforme eu me aproximava, pude ver pelo reflexo na janela que ele estava chorando de novo.

— “Perfeito”... A gente devia tomar mais cuidado ao usar essa palavra. — Comentei, parando bem ao seu lado. — Pra mim... Você é perfeito do jeito que você é. O Hyuki era incrível sim, todo certinho, super hiper mega inteligente, muito gentil e prestativo... Mas eu nunca diria que ele era melhor do que você.

Seu olhar desviou pra mim ao ouvir as últimas palavras, seus olhos brilhando com as lágrimas.

— Todo mundo sempre disse que...

— Disse o que? — O interrompi. — Que ele era uma pessoa melhor que você pra gerir uma empresa? Grande coisa. Isso não faz de você uma pessoa pior. Pessoas são diferentes, cada um tem seu brilho especial.

— Ainda assim... Eu é que vou ter que tomar conta da empresa agora. Eu sempre vivi sem esse peso na minha consciência. Afinal eu não era o herdeiro mesmo, então meus pais estavam cagando pra qualquer coisa que eu fizesse, contanto que não atingisse eles. Mas agora... — Podia sentir nervosismo em sua voz. — Eu... eu não sei se consigo fazer isso.

— O mundo gira... — As palavras saíram de uma forma estranha da minha boca. — As coisas mudam... e a gente evolui.

— Acho que sim... Parece até que você já viveu um monte. — Falou com um risinho forçado.

— Foi o Baek que me disse isso. — Disse com um aperto no meu coração, fazendo seu olhar se voltar pra mim mais uma vez.

Jungkook me envolveu com seu braço, me puxando para um abraço.

— Eu só consigo me manter de pé porque você está aqui comigo. — Ele me confessou, mantendo um abraço apertado.

— Eu também. — Disse, derramando algumas lágrimas em seu peito.

Ficamos nesse abraço por uns longos minutos. Eu não tinha a menor pretensão de sair do conforto dos seus braços, e ele não parecia diferente. Até que Jungkook começou a falar:

— Jimin... posso te pedir uma coisa?

— Claro.

— Eu... Jimin, eu te amo mais do que tudo nesse mundo. — Ao dizer essas palavras, separou minimamente nossos corpos, apenas para poder olhar nos meus olhos. Algo sério parecia estar vindo. — E eu não... Eu não quero que mais nada me separe de você. Eu só me sinto completo quando estou com você. Então... eu quero sentir você comigo o tempo inteiro.

— Jungkook, o que você... — Comecei a falar, confuso com o que ele estava dizendo, mas ele me interrompeu.

— Jimin... você... eu... — Ele estava nervoso com as palavras, na verdade parecia ansioso com a resposta que eu iria dar para seu pedido. — Você sabe que meu cio está perto e... quando ele chegar... e-eu quero... Eu posso te marcar?