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História Jimmy Stuart e o Livro dos Anos - Sem saída.


Escrita por: LBSantana

Notas do Autor


Não há como fugir de você mesmo! ;)

P. S.: O Ebook está em promoção na Amazon (R$ 2,99). O link está nas notas finais do capítulo. Espero que gostem.

Capítulo 5 - Sem saída.


5. Sem saída.

O espelho do banheiro revelava o meu cabelo totalmente armado e, dentro dele, uma pequena folha esverdeada que eu desconhecia a origem. Peguei a folha e fiquei analisando-a, em meus dedos, por alguns segundos. Ela só poderia ter caído de alguma das árvores do quintal, mas será que ela ficara em meu cabelo todo este tempo? Ao menos, acho que ninguém a vira, pois não falaram nada, a não ser Michael. Eu o castigaria, se não tivesse me avisado.

Joguei a folha no lixeiro e entrei no boxe do banheiro. A água, como já era de se esperar, estava, um pouco, gelada. Peguei o sabonete, muito cheiroso por sinal, e comecei a passá-lo em meu corpo. Fiquei espantado, quando passei o sabonete em minha perna direita e percebi uma pequena elevação, não tão alta, em meu tornozelo direito. Levantei o meu pé, de modo, que eu pudesse observar melhor o meu tornozelo e, por incrível que pareça, lá estava a mesma inscrição alienígena que eu visualizei em meu sonho. Passei a mão, novamente, no local, belisquei-me, fortemente, porém o sonho já havia acabado. Fiquei parado, tentando entender como era possível, não podia acreditar que tudo o que aconteceu fora verdade. Duendes não existem, pensei, nem unicórnios, nem... um frio subiu pela minha espinha, só de pensar no que havia corrido atrás de mim. Eu, certamente, estava ficando louco, era, somente, uma alucinação. Como três duendes vieram parar no meu quarto e me levaram para uma floresta, com unicórnios e criaturas esquisitas?

 - Jimmy, eu preciso banhar! – Michael voltou a bater na porta, impaciente.

Terminei o meu banho, estava, totalmente, desvirtuado do que acontecia, como iria explicar aos outros? Talvez, me chamassem de esquizofrênico, diriam que eu ando me cortando - que situação. Vesti o meu roupão, abri a porta e fui expulso do banheiro por Michael, que não percebeu a minha cara de preocupação. Caminhei até o quarto, entrei e vesti a roupa. Na rua, que passava lá embaixo, nada além de pessoas e alguns animais domésticos, nada sobrenaturais. Como era possível que isso estava acontecendo? Passei os dedos, novamente, no tornozelo, a palavra, ainda, estava lá. Sentei na cama e olhei ao meu redor, me senti, como se tivesse sido sequestrado e levado para um lugar desconhecido, tudo era tão inexplicável.

Os gatos já estavam agitados pela casa, alguns corriam ao nosso encontro e desviavam, antes que nos atropelassem. Na mesa, Melanie já nos esperava, impaciente. A Sra. Carmem sorria, discretamente, da agonia da neta. Havia muitos bolos e frutas, Michael não hesitou em sentar-se à mesa e se servir, rapidamente.

 - Vocês dormiram bem, Jimmy? – falou a Sra. Carmem, com um sorriso no canto da boca. – Vocês demoraram a acordar hoje! – disse ela.

As palavras da Sra. Carmem, fizeram-me lembrar do que aconteceu na noite passada. Olhei-a, felinamente, sabia que não tinha visto errado, a inscrição no meu tornozelo, era a prova de que não estava louco ou, ao menos, não tanto quanto aparentava.

 - Foi uma longa noite! – respondi. Se Michael não estivesse tão entretido com a comida, com certeza, ele me faria um interrogatório! – conheci muitas coisas novas, talvez mais do que a razão humana possa explicar!

A Sra. Carmem manteve o seu sorriso malicioso, ela, agora, olhava para a sua xícara, como se soubesse o que estava passando comigo. Melanie a olhou, procurando alguma coisa, que pudesse esclarecer o que eu havia acabado de falar. Continuamos a comer, agora todos estavam em silêncio, apenas os gatos e alguns passarinhos, do lado de fora das janelas, chamavam a atenção. Michael comia, como um leão que acabara de livrar-se de uma jaula.

 - Faltam, apenas, dez minutos. – falou Melanie, olhando no relógio, antigo, da parede. Ela começava a levantar-se, o que significava, que a nossa refeição tinha acabado.

No fundo, eu sabia qual era o, verdadeiro, motivo para Melanie estar apressada. Ela não via a hora de encontrar Adam. Eu não conseguia entender como eles conseguiam ficar tanto tempo agarrados. Levantamos. Michael ainda ousou dar uma última mordida em uma fatia de bolo. Melanie deu um beijo na Sra. Carmem, enquanto eu colocava a mochila nas costas. O céu estava bastante denso, um vento gélido percorria as ruas, as quais, não estavam menos povoadas esta manhã. As casas estavam molhadas, delas, fluía um cheiro de madeira, que não era ruim.

Nas escadas da escola, já olhando inquieto para o relógio em seu pulso, Adam esperava por nós (para não dizer, só por Melanie). Ele logo abriu um largo sorriso, quando percebeu que nos aproximávamos. Estávamos bem próximo das escadas, mas ele não se segurou, correu até Melanie e a beijou, levantou-a em seus braços e a girou. Uma coisa eu não podia negar: eles se amavam, demasiadamente.

 - Bom dia, rapazes. – Adam, finalmente, nos cumprimentou, após ficar, certo tempo, abraçado à sua namorada – Por que demoraram, tanto, para chegar? – ele olhou para ela.

 - Umm - Melanie hesitou, antes de responder.

 - Eu demorei, um pouco, para acordar, - a interrompi, meio envergonhado – será que você me desculpa? – sorri.

 - Tá bom, mas se fizerem isso novamente, vou acabar morrendo! – ele brincou ou, ao menos, eu achava que brincava.

Entramos na escola. Agora, a minha timidez, em relação ao Kevin, voltara a todo vapor. Comecei a vasculhar todos os cantos do colégio, mas nem sinal dele. Podia sentir o meu coração em minha garganta. Os corredores, que davam acesso às salas, estavam lotados (quer dizer, a maioria dos alunos, uma vez que, não eram tantos) de pessoas conversando, como era de se esperar.  Muitos ficaram olhando Michael e eu.

 - Te vejo no intervalo. – Michael acenou, depois entrou em sua sala.

Olhei para o fim do corredor. Nem sinal de Kevin, será que ele já estava na sala? Meu coração parecia chegar mais perto da boca, à medida que caminhava em direção à porta. Melanie e Adam entraram primeiro. Antes que eu pudesse observar o interior da sala, alguém segurou forte em meu braço. Era Kevin, olhava para mim com seus olhos negros - como eram profundos.

 - Podemos conversar? – perguntou, encarecidamente.

Senti minhas orelhas esquentarem, já nem conseguia sentir meu coração, talvez tenha parado, depois de tanto esforço.

 - E-eu... – a minha voz começou a me trair.

 - Prometo que não vou demorar! – as suas sobrancelhas, quase, se uniram, numa súplica. Seus olhos, lembraram-me os gatos da Sra. Carmem, quando ela lhes colocava ração - como eram convincentes.

Acenei com a cabeça, positivamente, se tentasse falar, provavelmente, não conseguiria.

 - Eu só queria entender, por que você me evitou ontem? – o seu olhar me penetrava. – eu fiz alguma coisa que te ofendeu? Eu não quis me intrometer, com tantas perguntas. Desculpe.

Finalmente, senti o meu coração, estava desesperado, não sabia o que responder, não encontrei nenhuma resposta plausível.

 - N-não... só... - olhei para o chão e respirei fundo, antes de continuar – só prometa que não vai perguntar o porquê as minhas orelhas ficam vermelhas! – pensei que fosse morrer, antes de terminar.

 - Tudo bem. – ele sorriu, revelando os seus dentes perfeitos. Fiquei grato por ele não revelar o quanto aquilo era estranho – Se eu prometer, você não vai mais me ignorar?

 - Esteja certo que não! – respondi.

 - Então, eu prometo, - ele sorriu, novamente, e brincou com a minha orelha esquerda com seus dedos, me fazendo sorrir, junto com ele. – mas não vou desistir de descobrir ao longo do tempo!

 - Por favor, se você descobrir, me explique! – pedi.

 - Não se preocupe, eu irei falar. – ele continuou brincando com a minha orelha.

 - Vamos lá, garotos - um homem alto, que possuía uma protuberância adiposa, bateu em nossas costas, com as suas mãos pesadas, incitando-nos a entrar na sala.

Entramos, apressados. Melanie e o seu namorado, pareciam tentar ler nossas mentes, objetivando descobrir a causa da minha demora em entrar. Novamente, sentei atrás de Melanie e Kevin, ao meu lado. Finalmente, tudo havia se resolvido, em relação a este, mas meu coração, ainda batia desgovernado, podia sentir o sangue irrigando minhas orelhas. O professor deslocou-se até o centro do pequeno piso, o qual, era mais alto onde os professores ficavam. Percebi que ele possuía um cavanhaque, seu rosto tinha traços bem clássicos.

 - Bem, - começou o professor – para quem não me conhece, meu nome é Andrews e eu, ministro aulas de redação. – ele falou, enquanto observava a minha presença na sala. – E você é?

 - James Stuart, - não acredito que ainda precisaria me apresentar! – do colégio interno, São Bartolomeu, em Londres. – felizmente, minha voz não falhou.

 - E você gosta de redigir Sr. Stuart? – perguntou ele, pomposamente.

 - Sim, eu gosto. Até porque, uma das minhas distrações prediletas, é a leitura. – me gabei!

Ele me olhou, indiferentemente, com o queixo erguido, virou-se e começou a escrever no quadro uma teoria sobre a estrutura dos mais diversos textos. O que me pareceu estranho, ele colocar, tal coisa, em pleno mês de junho, provavelmente, era devido à minha presença.

 - Ele é sempre assim! – Kevin falou, discretamente, ao meu lado. – eu também passei pelo mesmo, quando cheguei!

 - E você, gosta de redigir? – perguntei, com ironia.

 - Não é a minha matéria preferida, mas as notas não deixam de ser satisfatórias. – ele confessou, aproximando-se mais da minha cadeira. O seu hálito percorria, levemente, a distância entre nós e chegava até o meu olfato, como era agradável, algo entre hortelã e canela.

 - E qual é a sua matéria preferida? – estava curioso.

 - Na verdade, existe um empate técnico, entre História e Geografia! – ele sorriu, abaixando a cabeça. História e Geografia não eram as minhas matérias preferidas, no entanto, ainda sim, gostava delas – E a sua?

 - Eu adoro Biologia, - confessei. – mas preciso mencionar que sou péssimo em exatas! – fiquei envergonhado.

 - Não gosto muito também, mas não tenho muita dificuldade. – falou, pensativo.

Estava gostando de conversar com Kevin, apesar de não saber o motivo de o meu corpo reagir tão, estranhamente, à sua presença, começava a achar que seríamos grandes amigos. Voltei a copiar o que estava escrito no quadro. Às vezes, sem conhecer o motivo, acabava olhando Kevin escrever, parecia um ímã. Quando ele percebia, eu, imediatamente, virava o rosto. Ele sorria e eu fingia não saber de nada, apesar de também tê-lo pego olhando, descontraído, para mim.

 - Você ficou com muita raiva, por eu ter ignorado você ontem? – sussurrei a ele.

 - Um, - seu olhar ficou, um pouco, sério, como alguém que fala de algo que não gosta de lembrar, de certo, era o que acontecia com ele – na verdade, eu fiquei, um pouco, chateado sim, mas não ao ponto de te odiar, se é o que estava pensando. - nós sorrimos – Sabe, esse é um mundo, totalmente, estranho para mim, não costumo me comunicar muito com os outros. Quando entrei na sala e vi você, um novato, como eu, resolvi conversar com você. E o fato de você ter me ignorado, deixaram frustradas as minhas expectativas. – os seus olhos negros, eram fascinantes, parecia que eu poderia me perder na sua escuridão.

 - Por favor, me desculpe, não queria desprezá-lo, eu...

 - Não precisa desculpar-se. – ele me interrompeu, antes que eu continuasse – Fui eu quem acabou sendo indiscreto.

O professor começou a explicar o assunto, interrompendo a nossa conversa. Já no final da aula, o professor nos entregou uma proposta de redação, com o seguinte tema: “Como seria o mundo, se Leonardo Da Vinci fosse vivo?”, era, simplesmente, um assunto meio sem nexo, ainda assim, arrisquei fazê-la nos minutos que restavam. Quando terminei, entreguei a redação pra o professor. Fiquei surpreso, quando vi que tinha alcançado quase a nota máxima, mesmo assim, o professor não demonstrou nenhuma reação de surpresa.

 - Atenção, - pediu o professor com a sua voz grave, já nos minutos finais da aula – amanhã, o colégio irá promover uma aula-passeio, até o museu de Londres, os interessados em ir, devem trazer, amanhã, este bilhete, assinado pelos pais ou responsável. Quem não estiver interessado, terá o dia livre, para estudar em casa, eu presumo.

O barulho dos alunos conversando tomou conta da sala, alguns se demonstravam, totalmente, empolgados, enquanto outros ironizavam a possibilidade de passarem o dia livre, “estudando”.

 - Você vai? – perguntou Kevin. Seus olhos pediam uma resposta positiva – Só irei se você for. Não quero ficar andando à deriva pelo museu, sem conversar com ninguém!

Na verdade, eu também não gostaria de ir sem ele, pois como era somente a nossa turma, Michael não estaria lá para fazer-me companhia e Melanie e Adam não desgrudariam um do outro um, único, momento.

 - Na verdade, eu não sei, preciso falar com a minha avó, Carmem. – tentei evidenciar a minha tristeza na voz, ficou meio estranho.

 - Então, eu vou te dar meu número. – ele escreveu em um pedaço de papel, junto com seu nome. Havia me esquecido como as suas letras eram bonitas – Se você for, não é preciso ligar, eu saberei!

 - Sua casa é no vilarejo? – lembrei que não o havia visto seguindo as outras pessoas na última aula.

 - Eu moro em uma cabana, na floresta, com meus pais e minha irmã! – disse-me.

 - E é muito longe daqui? – fiquei curioso.

 - Mais ou menos, - ele, novamente, aproximou as sobrancelhas, seu rosto ficava ainda mais perfeito – de qualquer forma, eu chego rápido. – ele sorriu.

Não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas decidi não me intrometer. O fato de Kevin morar na floresta, me fez lembrar meu último sonho. Provavelmente, se aquilo era verdade, ele poderia ter visto algo de anormal na floresta. Fiquei um pouco repreensível, no entanto, tomei coragem.

 - Ah... Kevin, eu posso perguntar uma coisa, que está perturbando o meu juízo? – tentei ser tentador.

 - É claro. – respondeu, rápido. Ele se aproximou mais. Podia sentir o seu hálito, novamente – prometo responder tudo o que eu saiba.

 - Hum, você já viu alguma criatura estranha andando pela floresta?  - depois que perguntei, fiquei, incrivelmente, envergonhado. Minhas orelhas estavam latejando. Ele me olhou, seriamente, como se eu tivesse feito uma acusação gravíssima ou então, ele estava me achando maluco. Que ótimo, talvez agora, ele que passe a me ignorar. Eu não devia ter pago esse mico.

 - Já sim, - ele soltou um sorriso discreto – a minha irmã é um exemplo.

Ele era fantástico, conseguia me fazer rir frequentemente, encontrou uma resposta que não deixou evidenciar a sua provável impressão da minha pergunta. Percebi que Melanie olhava-me. Quando percebeu que eu a notava, desviou o olhar.

 - Ah, claro, - falei chamando a atenção do casal – por favor, desculpem os meus modos. Melanie, Adam, esse é Kevin. – eles viraram e cumprimentaram Kevin, que ficou feliz por ter apresentado mais pessoas a ele. – Kevin, essa é Melanie, minha prima e este, é Adam, o namorado dela.

 - Nós já trocamos algumas palavras nos jogos de futebol! – falou Adam – você joga muito bem. – imediatamente, associei este quesito, ao fato de Kevin vir do Brasil.

Conseguia ver a felicidade estampada nos olhos de Kevin. Logo depois das apresentações, a loira, de cabelos cacheados, voltou a conversar, ou melhor, namorar Adam.

 - Você gosta de futebol? – perguntou Kevin.

 - Ah, ah, - sorri - sei que é vergonhoso, mas na hora de jogar, a bola parece que cria dentes para me morder. – não seguramos o riso. Geralmente, no internato, Michael precisava jogar por mim e por ele. Como eu detestava jogar futebol.

 - Bom, sinto muito em informar que, hoje, a última aula é de educação física. – fiz uma careta quando ele disse isso.

As outras aulas não foram em nada piores que a primeira. Kevin continuou conversando comigo nos intervalos. O meu dia estava começando bem melhor do que o anterior, pelo menos, até a hora da educação física.

A campainha tocou, anunciando o início do recreio, Melanie e Adam levantaram-se. Antes que eu os acompanhasse, me dirigi a Kevin.

 - Por favor, venha sentar conosco. – pedi.

Ele levantou-se e saiu, junto comigo.

 - Sabia que não estava errado quanto a você! – ele confessou. Fiquei ainda mais envergonhado.

Do lado de fora da sala, Melanie nos esperava, com Adam. Eles não demonstraram espanto quando viram Kevin ao meu lado. Percorremos o corredor. Michael nos aguardava, em frente à porta de sua sala, ele logo percebeu que não estávamos sós.

 - Michael, este é Kevin, ele é brasileiro, está morando aqui com a família, - Michael mostrou-se receptível – Kevin, este é meu irmão, Michael.

Eles se cumprimentaram com um aperto de mãos. Subimos até o andar de cima. Felizmente, havia uma mesa com lugares suficientes para nós. Kevin parecia feliz por estar conosco, ele e, principalmente, Adam, conversaram bastante.

 - Michael, - falei - amanhã a minha classe irá à um passeio para o museu de Londres!

 - Poxa, - ele lamentou – queria ver Londres, novamente!

 - Mas antes, eu preciso pedir permissão para a Sra. Carmem. – avisei.

 - Não se preocupe, ela, com certeza, vai deixar, - Melanie manifestou-se – ela não deixaria você perder esse passeio! – as palavras de Melanie fizeram Kevin e eu trocarmos olhares, alegres.

 - Você já foi à Londres, Kevin? – perguntou Michael.

 - Algumas vezes. É uma cidade belíssima. – comentou.

Kevin ficava me olhando comer, quando ele percebia que eu o notava, ele virava o rosto, mas não conseguia disfarçar o sorriso, ele estava radiante. Eu sentia o meu corpo mais leve e uma forte sensação de conforto. Kevin então, fez um sinal para Michael, convidando-o a se aproximar mais dele, ele começou a falar no ouvido de meu irmão, escondendo a boca com a mão, para que eu não fizesse uma leitura labial. Fiquei impaciente com a sua atitude.  Comecei a pensar em todas as coisas que ele poderia estar dizendo, até que deduzi, que pudesse ser sobre as minhas orelhas. Minhas orelhas enrubesceram, instantaneamente, não pude evitar. Eles param de conspirar contra mim e começaram a sorrir da minha reação, após Michael dizer algumas palavras a Kevin. Eu mataria Michael em casa.

A campainha bateu, era hora de voltar para sala. Melanie, Adam e Michael dirigiram-se à ela, enquanto Kevin e eu, fomos ao banheiro. Entrei no banheiro, sem olhar para ele, em nenhum momento. Quando saí, ele estava me esperando na porta do banheiro. Ao vê-lo, ergui o queixo e saí na sua frente, sem falar nada. Ele vinha zoando com minha orelha e quando eu virava para espantá-lo, ele se esquivava ou segurava minha mão. Eu estava em desvantagem contra àqueles braços fortes.

O resto das aulas, não foi tão legal. Tivemos Gramática e Filosofia.  Sempre me dava bem nessas matérias, mas não costumava ter muita afinidade com as mesmas. Fiz jus ao título de orgulhoso, que Michael me dera. Fui intransigente, em relação ao Kevin. Apesar de tudo, eu sabia, tanto quanto ele, que eu logo voltaria a conversar e que tudo não passava de uma brincadeira boba. Quando bateu a campainha, no término da segunda aula, todos começaram a levantar-se. Por um momento, não compreendi, será que era para fazer alguma coisa que eu não sabia?

 - Jimmy, - falou Adam – você não vem para a aula de educação física?

As suas palavras me provocaram um choque. Havia esquecido este triste infortúnio, - estava na hora de passar um mico diante de todos da minha sala. Ótima maneira de deixar uma “boa” impressão, ironizei em silêncio. Levantei, vagarosamente, esperava que o tempo passasse logo, no entanto, os ponteiros do relógio, em cima da porta, pareciam ter parado. Os meus passos estavam pesados.

Kevin caminhava ao meu lado, rumo ao pequeno ginásio. Saímos por uma porta, nos fundos do colégio, a qual eu ainda não conhecia. Lá fora, algumas árvores, com bancos espalhados por todo o gramado. Vi, não muito distante, o ginásio, que na verdade, era um pequeno estádio, feito de uma madeira bem escura. Chequei a questionar a sua segurança, porém não podia negar que era lindo, tanto que jamais imaginei encontrar algo parecido em um vilarejo como Riverplace. Ao lado do estádio, tinha algo que parecia com um casarão, bem mais novo que o estádio. Arriscaria dizer que era mais novo que boa parte das casas. Deve ter sido construído há pouco tempo.

 - Este é o nosso pátio. - Adam disse, apontando para a construção na nossa frente. Seu sorriso era contagiante.

 - E ali, é onde as meninas têm aulas de ginástica. – Melanie apontava para o casarão ao lado.

À medida que nos aproximávamos, pude perceber pequenas bandeiras em cima do estádio. As suas portas eram meio rústicas, o que, por incrível que pareça, deixava-o mais bonito. Melanie deu um último beijo em Adam, despediu-se de nós e, logo depois, entrou no casarão com outras meninas. Entramos dentro do estádio. Alguns alunos já se alongavam com o uniforme de educação física. Havia uma arquibancada alta, cercando toda a área de esportes, onde nela, conversavam alguns jovens, provavelmente, ali, estavam alguns alunos que matavam aulas. Fiquei mais nervoso, ao perceber a pequena platéia que nos assistiria - o meu dia perfeito acabava aqui. Minhas mãos já estavam lutando entre si, sempre fazia isso para disfarçar a minha inquietude.  Até preferiria dançar balé com as meninas, pensei. Kevin olhou para mim, com uma cara que mesclava preocupação e divertimento.

 - Fique calmo, - ele pegou na minha mão direita e deu um breve apertão de leve.  Senti um reflexo na minha espinha. Sua mão estava quente ou era a minha que já estava gelada? De qualquer forma, senti o sangue voltando à minha cabeça – vai dar tudo certo.

 - Obrigado, - agradeci. Minhas feições gritavam por socorro, não poderia ficar sem falar nada depois disso.

Continuei seguindo Adam e Kevin, eles entraram em um corredor estreito, entre as arquibancadas. Garotos saíam de uma porta no corredor, percebi que era um vestuário. Muitos trocavam de roupa. O aquecedor estava ligado.  Alguns garotos, lutavam nus uns com os outros, armados apenas das toalhas.  Fiquei envergonhado em vê-los, afinal, eu não tinha visto mais que Michael e alguns amigos de infância pelados. Caminhei até alguns bancos mais afastados daquela confusão. Kevin parece ter percebido a minha timidez, ele sorriu, levemente, para mim e me seguiu. Joguei minha mochila no assento e fiquei olhando os meninos brincando. Kevin olhou para mim, novamente pedi-lhe socorro, facialmente.

 - Se você quiser, pode virar de costas que eu me troco atrás de você, para que ninguém te veja! – ele falou tão suavemente. Percebia a sua preocupação em me ajudar.

Simplesmente concordei com um gesto, me virei e comecei a abaixar as calças. O som dos meninos era desconfortante, pareciam animais no cio. Quando já tinha colocado a calça e estava tirando a camisa, olhei para frente e percebi que havia um pequeno espelho na parede. Nele, refletia a imagem de Kevin, de costas, estava sem blusa. Suas costas eram bem definidas. Conseguia ver o contorno perfeito de seus braços, sua pele era, profundamente, convidativa. Não sabia explicar a minha reação, fiquei imóvel, olhando para a escultura que se trocava no espelho, até os meninos pareciam ter parado de bagunçar, parecia que estava hipnotizado.

 - Jimmy, - Adam despertou-me, rapidamente terminei de me vestir, com o susto – está tudo bem?

 - Oh sim, - falei meio nervoso – está tudo bem, não se preocupe.

Olhei, mais uma vez, para o espelho. Kevin já tinha terminado de se vestir e agora, guardava a outra roupa na mochila.

 - Tudo bem? – Kevin perguntou-me, ansioso.

 - Sem problemas. Valeu. – respondi com um sorriso.

 - Não há de que. – ele puxou, levemente, a minha orelha. Desta vez, consegui bater em sua mão.

Saímos para o pátio. Nele, um homenzinho, barrigudo, dava ordens incontestáveis aos meninos, que já corriam, vigorosamente, ao redor da quadra.  Adam antecipou-se e começou a correr, antes que o professor o ordenasse.

 - Aquele é o nosso professor de educação física, Simon, - Kevin falou, discretamente, segurando um sorriso – ele é do tipo que prefere matar a gente, antes de liberar o futebol. Se você quiser se dar bem com ele, é só gostar de esforço físico!

 - Devo admitir que, a imagem dele, é um paradoxo. – sorrimos.

Estávamos caminhando em direção ao professor. Ele usava óculos arredondados, possuía uma barba grisalha e muitas rugas no rosto, que por esses e outros motivos, lhe davam um ar de severidade. O professor nos notara. Ele, agora, nos esperava, sua cara parecia, bastante, zangada.

 - Você é o aluno novo? – perguntou, com sua barriga autoritária.

 - Sim, senhor, - pareceu que estava no exército. Kevin segurou o riso – meu nome é James Stuart, de Londres.

 - Bem, eu sou o professor Simon. - ele estendeu a sua mão. Apertei-a, timidamente. Sua mão era forte, parecia que ia quebrar os ossos da minha, seu aperto pareceu durar uma eternidade – E você, o que faz aqui? Veio matar a saudade com um abraço? – ele falou com Kevin, que começou a correr, junto dos outros – Nós vamos começar fazendo cinquenta voltas ao redor da quadra! – bem, professor, eu tenho certeza que isso lhe deixará melhor. Obviamente, falei apenas em minha mente, pois estava com medo de seu olhar penetrante.

Comecei a correr. Kevin e Adam se aproximaram, ambos seguravam o riso. Cinquenta voltas me pareceram ser muito, mas, de qualquer forma, eu acho que preferia fazê-las, a jogar futebol - quem sabe, quando eu terminar de correr, minhas pernas caiam do meu corpo! Alguns garotos paravam de correr e começavam a andar, quando o professor desviava a atenção. Outros reiniciavam a briga, formando, verdadeiros, aglomerados humanos. O professor gritava, até seu rosto ficar vermelho de raiva. Apesar de ser mortificante, Adam, Kevin e eu corríamos, verdadeiramente. Já estava começando a gostar de correr, sentia a minha garganta esquentar com o efeito da atividade aeróbica, contudo, achava que não conseguiria continuar por muito tempo.

Ao final da corrida, Kevin mostrava-se bastante disposto para os exercícios, seu porte físico comprovava isso. O professor mandou fazer abdominais e atividades com os braços (acho que não vou sobreviver ao final do dia). Quando os exercícios terminaram, Simon anunciou que iríamos jogar futebol.  Ele me escolhera, por ocasião da minha chegada, para formar um dos times.  Como eu estava feliz, com tal fato (pensei, ironicamente), tanto que poderia fingir um ataque epilético, só para escapar deste transtorno.

O primeiro que escolhi foi Kevin, como já era de esperar, depois veio Adam, que me aconselhava quem escolher para participar do time. Mal eles sabiam que, o destino deles, estava fadado à derrota, por minha causa. Depois que os times já estavam formados, os representantes, os quais eu era um, tiraram a sorte para ver quem começava. Felizmente, o meu time, foi o último dos três times a ser selecionado. Sentamos nos bancos e ficamos esperando o nosso julgamento, ou melhor, a nossa vez. Sentia o suor frio pelo meu corpo, os outros times jogavam, freneticamente, eu, com certeza, morreria.

 - Tente acalmar-se, - Kevin, novamente, puxava a minha orelha de leve – vai ser somente um jogo rápido, quando você mal perceber, já haverá acabado!

 - É fácil dizer isso, ainda mais, se você for brasileiro. – ironizei.

 - Olha, - ele falou, seus olhos negros estavam fixos nos meus, seu rosto e seus cabelos estavam suados de tanto correr, seu olhar sério, tentava me acalmar. De novo senti a possibilidade de me perder na escuridão. – se chegar à bola, é só passá-la para alguém do nosso time, se não tiver ninguém por perto, simplesmente, chute em direção ao gol.

 - Como se fosse tão previsível. – sorri.

Ele segurou a minha mão, sem que ninguém visse, e a apertou, fortemente, querendo me tranquilizar. Funcionou um pouco, todavia, aqueles brutamontes correndo e atropelando-se me assustavam. Percebi que ele costumava tocar nas pessoas com mais frequência do que o comum. Talvez, seja um hábito brasileiro, - pensei. Se bem que, na verdade, ele tocava, somente, em mim. Bem, não que eu estivesse desconfortável com aquilo...

O professor, finalmente, assoprou o apito, anunciando que a primeira partida havia terminado. O time que ganhara, parecia ser formado por psicopatas. Todos do meu time levantaram-se. Eu ficaria sentado, se Adam e Kevin não tivessem me impulsionado para a quadra.

Na minha frente, um menino do time adversário me olhava, maliciosamente.  Ele sorria, provavelmente percebera o meu desespero e agora, estava aproveitando-se dele. Kevin percebeu o seu olhar e logo o encarou, bravamente. O rapaz parou com aquilo, era difícil contrariar alguém do porte de Kevin. Kevin me salvara, mas será que ele conseguiria fazer isso durante todo o jogo? O professor assoprou de novo e a bola foi chutada. Os alunos corriam de um lado para o outro, esbarravam-se, alguns até se machucavam, nada muito sério. O professor faltava ficar louco, gritando.

A bola ia de um lado para o outro da quadra e com ela, os jogadores. Eu apenas caminhava, de um lado para o outro, vagarosamente, como uma alma que se perdera do túmulo, observando o jogo. O professor ainda não havia brigado comigo. Instantaneamente, a bola veio parar nos meus pés. Fiz nada, apenas a olhei. Todos começaram a gritar, para que eu reagisse, mas tudo o que vi, foi alguém me empurrando. Acho que voei dois metros de distância. O que vi depois disso, foram Kevin e Adam correndo para me ajudar. O menino que me encarou, no começo da partida, fizera aquilo e agora, a sua cara estampava um sorriso bem grande de satisfação. Muitos outros alunos sorriam, outros se aproximaram, para ver se eu estava bem.

 - Jimmy, - Kevin estava preocupado – você está bem, está machucado?

 - Não, - eles me levantaram. – está tudo bem, eu só me descontraí. – aparentemente, nada muito grave, pelo menos, ainda não.

 - Você pode continuar? – Adam perguntou.

 - Claro. – não queria desapontá-lo, apesar de eu não jogar, absolutamente, nada.

 - Você consegue andar? – o rosto de Kevin estava aflito, seus olhos estavam tristes pelo  ocorrido, sua boca vermelha, como se ele a tivesse mordido.

 - Sim, eu consigo. – respondi.

 - Se você tivesse se machucado, eu iria quebrar a cara dele. – Kevin estava furioso, seus olhos atiravam no jovem que me derrubara.

 - Por favor, - eu pedi, discretamente – não faça isso. Se o fizer, só vai incentivá-lo ainda mais. Prometa!

 - Ok, eu prometo, mas…

 - Podemos continuar o jogo? – o professor gritava – você se machucou, James?

 - Não. Está tudo bem, podemos continuar. – respondi, meio sem jeito. Fiquei, ainda mais, envergonhado por receber atenção.

 - Alan, a próxima vez que fizer isso, está fora do jogo. – o professor avisou, mas o rapaz não parecia, nem um pouco, intimidado.

Durante todo o jogo, Kevin ficou perto de mim. Sempre que alguém se aproximava com a bola, ele tomava a iniciativa e jogava por mim. Outra vez, eu ficava apenas de um lado para o outro. Adam acabou fazendo um gol. Impressionantemente, o nosso time estava ganhando (mesmo com um jogador como eu. Acho que eu era um mascote da sorte ou algo do tipo, pensei). O garoto que me derrubara tentou, mais uma vez, repetir o seu feito. Ele correra com a bola em minha direção, provavelmente, me derrubaria de novo. Antes que ele se chocasse comigo, outra vez, Kevin tentou empurrá-lo com o peso de seu corpo e quase conseguiu, se nós três não tivéssemos caído dessa vez.

Alan levantou-se. Sua cara não era nem um pouco com a de alguém que ganha na loteria. Soou o apito, a aula havia acabado. Para a minha surpresa, nós ganhamos, com pouca vantagem. Kevin e eu ficamos sentados no chão. Ele estava bem próximo. Conseguia sentir a sua respiração quente no meu rosto. Olhamo-nos, sem falar nada. Minhas orelhas começaram a queimar, meu coração estava louco. Algo em Kevin prendia a minha atenção, não conseguia parar de olhá-lo, queria ficar perto dele, não conseguia explicar, mas a sua boca parecia queimar.

 - Vencemos, vencemos. – Adam comemorava, eufórico, ele corria e dava socos no ar.

Kevin e eu começamos a sorrir. O seu sorriso era perfeito, seus dentes brancos contrastavam com sua boca corada, seus olhos, novamente, me prendiam. Kevin levantou-se, e me ajudou a fazer o mesmo.

 - Obrigado, por tudo - disse-lhe, encarecidamente.

 - Você não precisa agradecer. Senti-me na obrigação de ajudá-lo - ele sorriu.

 - Você jogou muito bem, - ele já ia falar algo, quando eu o interrompi. – e não ouse dizer o mesmo de mim. – sorrimos.

 - Você sabe por que Alan fez aquilo? Não consegui entender a atitude dele!

 - Sabe Jimmy, Alan é um garoto metido, que gosta de perturbar a todos e você, se tornou o novo alvo dele, uma vez, que você é novo na escola! Acho que ele, apenas, gosta de ser o centro das atenções.

Dessa vez, esperamos os outros garotos trocarem-se. Adam estava muito feliz por ter feito o gol que levou o time à vitória. Quando saímos, Melanie já nos esperava, do lado de fora do estádio. O dia estava meio nublado, mas as nuvens já não estavam tão densas, raios de luz as atravessavam, iluminando o estádio e as árvores. Na hora de ir embora, senti um aperto no coração ao me despedir de Kevin. Ele veio até mim.

 - Não se esqueça de me ligar, - disse ele, puxando, outra vez, minha orelha, sem que ninguém percebesse – até amanhã.

 - Até amanhã. – dei um soco, bem leve, em seu queixo. Ele tentou morder a minha mão, fazendo uma careta engraçada.

O dia, que parecia ser perfeito, começou a ficar meio sem graça na ausência de Kevin. Sentia um aperto no peito por ficar longe dele, algo nele me atraía para perto de si, por um motivo que eu não compreendia. Talvez, fosse a necessidade de fazer novos amigos, de se sentir confortável e tranquilo novamente.

Voltamos para casa. Eu só saia do quarto para comer ou ir ao banheiro, passei o resto do dia pensando em Kevin. Queria entender, por que eu o queria tanto por perto.  Nunca me senti assim por ninguém, sua imagem não saía de minha cabeça, a cor da sua pele, os seus olhos misteriosos, o seu hálito, tão convidativo. E por que ele me defendia tanto assim? Ao ponto de querer bater em Alan! Só Michael era capaz de uma reação dessas, mas Kevin não era meu irmão! Sentia-me tão à vontade com ele, apesar das minhas orelhas continuarem ficando vermelhas em sua presença.

Será que tudo o que sinto, é pelo fato dele também ser de outro lugar? Mas por que um sentimento tão forte? Nunca senti isso por nenhum amigo antes, nem mesmo, os poucos que eu deixei no internato. De uma coisa eu tinha certeza: não via a hora de encontrá-lo amanhã. Quase esqueci que preciso da autorização da Sra. Carmem. Bom, embora eu esteja estranhando ela, teria que procurá-la por motivo de força maior. Levantei da cama, Michael, que estava fazendo as suas lições de casa, notou a minha movimentação.

 - Aonde você vai? – perguntou ele, naturalmente.

 - Pedir a autorização da Sra. Carmem para ir ao passeio, amanhã. – respondi.

 - Não vá aprontar nenhuma gracinha, mocinho. – ele disse, com ar de superior.

 - Muito engraçado. – dei-lhe um tapa na nuca e sai do quarto, antes que ele revidasse.

Os corredores, como sempre, estavam lotados de gatos. Um deles, insistia em espreguiçar-se em minhas pernas. Peguei-lhe e fiz um carinho nas suas orelhas, ele pareceu gostar. Como já era de se esperar, Adam e Melanie namoravam na sala e nem perceberam a minha presença. Quando cheguei à cozinha, a Sra. Carmem não estava. Fiquei frustrado, pois, provavelmente, ela estava em seu quarto. Tomei um copo de água, não tive como não me lembrar do incidente.

Um gato malhado entrou na casa, pela porta de trás e ficou miando, como se quisesse me dizer algo. No começo, fiquei apenas olhando, todavia ele saiu correndo, de volta para o quintal. Por mais que eu achasse loucura, resolvi segui-lo e, para a minha surpresa, ele foi parar num banco do quintal, onde estava a Sra. Carmem, com outros gatos ao seu redor. Ela parecia conversar com eles. Um vento frio corria por entre as árvores, que balançavam, como balões, de um lado para o outro.

 - Olá, Jimmy, - disse, com um sorriso amigável – por favor, sente-se e me faça companhia. Você tem algo a me dizer?

 - Na verdade, tenho, - imaginei que Melanie já tinha contado – amanhã, haverá uma aula-passeio a um museu em Londres e eu gostaria de ir, se a Senhora permitir, é claro.

- É claro que você pode ir, - ela sorriu – não precisa ficar tão apreensivo com isso, ok?

- Obrigado. – respondi.

- Como foi o seu dia no colégio? – ela perguntou – Fez alguma amizade especial? – imaginei se Melanie teria contado sobre Kevin também.

- Fiz, mas ainda não o conheço muito bem. – disse-lhe.

- Com o tempo, você conhecerá. – ela falou, sombriamente.

 - Espero que sim! – comentei – Vou terminar a minha lição de casa.

 - Fique à vontade. – ainda bem que ela não fez nenhuma rejeição, não queria continuar naquele clima.

Levantei-me e fui direto para o quarto.

 - Ela deixou? – ele inquiriu.

 - Sim. Amanhã vou para Londres, mano. – tentei parecer o mais invejável possível.

 - É, estou vendo que você está mais alegre. – ele começou a fazer um cafuné, como só ele sabia fazer. – Fico feliz por você.

Na varanda, era possível ver o céu avermelhado, algumas nuvens se escondiam, por trás das casas antigas. Do outro lado, uma lua, bem grande, subia no céu.


Notas Finais


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