História Jogos - Vingt-huitième

Acordei com o sol brilhando forte e iluminando todo o quarto. Tentei me sentar, tombei de volta na cama com uma pontada na cabeça e um leve enjoo. Aos poucos eu me lembrava completamente da noite anterior.

Não havia bebido muito e nem voltado muito tarde. Fiquei com meu pai no bar até umas 2 horas da manhã, então pegamos um táxi e meu pai mandou alguém pegar as motos.

Quanto ao vídeo de Chloé, me desesperei no começo, mas ela não parecia estar com medo e nem sendo levada contra a vontade. Me lembrei do diálogo de Harry e Filomena no hospital, quando ele a impediu de dar um choque e matar Chloé. Talvez ele a tivesse tirado de Paris para protegê-la. Eu gostava desse pensamento.

Agora Alya estava cuidando disso de maneira profissional e eu tinha de estar bem até às 6 horas da tarde. Quando teria de estar no altar esperando por Marinette. Peguei meu celular, já passava do meio dia, meu pai deve ter alertado Nathalie para que não me acordasse.

Ignorei todas as mensagens e ligações perdidas indo direto até o número de meu irmão. Mais uma vez caixa postal. Toquei sobre o nome dela e fiquei olhando o número sem saber de onde tirar coragem para o que eu queria fazer. Fechei o olhos, respirei fundo e finalmente liguei para ela. Assim como o de Félix caiu na caixa postal.

Desisti de tentar mudar o meu destino, levantei da cama e já ia em direção ao banheiro quando o celular vibrou algumas vezes. Peguei o aparelho com toda a esperança que ainda existia em mim, mas eram mensagens de Juleika e Rose dizendo que iam me encontrar por volta das 5:30 da tarde na igreja para ajudar a me arrumar, já que Filomena havia transformado algumas das salas da igreja em verdadeiros quartos. Caso houvesse alguma emergência.

Respondi um ok para elas junto com um bom dia e passei para a próxima mensagem e ela sim era de garota de cabelos azulados com a qual eu sonhava. “Não esqueça o envelope”. Foi tudo o que ela mandou para mim.

“Eu não quero fazer isso, não quero me casar com essa mulher, eu nunca quis. Tudo o que eu quero é você Marinette, então pelo menos uma vez me escuta e vem ficar comigo. Por favor.”

Foi a mensagem que escrevi e que logo em seguida eu apaguei. “Nunca”, foi o que eu mandei na verdade. Eu não poderia dizer pra ela largar 5 anos de faculdade e abandonasse toda a vida por mim. Marinette não era assim, ela era independente e especial.

Tirei aquilo da mente, o melhor que eu poderia fazer era enfrentar isso de cabeça erguida, do jeito que ela enfrentou todos os desafios do passado, e um dia arranjar um jeito de voltar para ela.

Tomei um banho quente e demorado, queria terminar de acordar e me preparar para o dia nada fácil que teria. Além da dor de cabeça que ainda insistia em me atormentar.

Sai do banheiro e tive tempo apenas de colocar uma roupa antes que Nathalie batesse à porta e já fosse entrando. Me lembrei da conversa que tive na noite anterior com meu pai.

Por muito tempo eu suspeitei que Nathalie e ele pudessem ter alguma coisa, mas por conta da supervalorizada ética e imagem de meu pai nunca assumissem isso. Conforme fui crescendo eu percebi que eles não tinham nenhum relacionamento amoroso, meu pai ainda era completamente apaixonado por minha mãe, apesar de todos os anos que se passaram, e acho que ainda demoraria um pouco para que seu coração estivesse aberto a um novo amor.

Apesar disso, eu já havia percebido a maneira como a devota secretaria observava meu pai. E sabia que havia muito mais que admiração e respeito ali.

— Toma isso, — me entregou um copo cheio d’água é um comprimido, — remédio para a cabeça e enjoo. Pela maneira como seu pai estava, imaginei que falou fosse precisar.

— Obrigada Nathalie. — Agradeci engolindo o comprimido e toda a água.

Ela respondeu com um aceno de cabeça, já pegando o tablet.

— Tem a tarde livre, não se esqueça de que, como a cerimônia começa às 18:30, deve estar na igreja no máximo 17:30 para começar a se arrumar. É uma exigência de Filomena.

— Pode deixar Nath… — Ela me abraçou. Largou o tablet com tudo sobre minha mesa do computador e me abraçou. — Ei, o que foi? — Perguntei preocupado, retribuindo seu abraço.

— Você vai se casar! Eu vi você crescer, quando foi que o tempo passou? — Senti as lágrimas dela quando molharam minha camiseta e afaguei suas costas.

— Eu ainda vou estar aqui dando trabalho pra você todos os dias, prometo. — Ela afastou-se de mim e senti suas lágrimas. Nathalie cuida de mim a quase vinte anos, não sei se eu aguentaria perder mais uma mãe.

— Espero que faça a coisa certa Adrien. — Acariciou minha bochecha e então ela saiu do quarto e me deixou só com meus pensamentos.

Verifiquei as horas em meu celular, já eram 14:00h, resolvi descer para comer alguma coisa, me atualizar sobre o que estavam falando da entrevista de ontem com Jean.

A casa estava uma loucura. Chef Vergê e os outros cozinheiros, tanto da casa quanto do Buffet preparavam toda a comida que seria servida hoje. Quanto aos outros, arrumavam a casa para para a festa depois da cerimônia. Me lembrei que também arrumavam uma suíte para a noite de núpcias.

Eu não estava nada ansioso por ela.

Roubei alguns petiscos doces e salgados que seriam servidos mais tarde, um refrigerante — zero — da geladeira e fui em direção a um dos vários quartos de hóspedes na esperança que ninguém me encontra-se.

Comi sentado na cama enquanto verificava o que estavam dizendo sobre mim na internet. Alguns achavam que eu poderia ter algo com Marinette, principalmente os homens, que em sua maioria aprovaram o ato. Eu revirava o olhos sozinho, eles não sabiam de 1/10 da situação.

Se eu não estivesse com Filomena apenas pelo acordo, se não houvesse me chantageado, eu nunca a trairia. Mesmo se Marinette voltasse, mesmo se Marinette me tentasse, eu diria não. Ou terminaria com Filomena para ficar com meu amor de verdade.

Mas as coisas não eram simples assim.

A maioria das pessoas havia acreditado e era isso que me importava no momento.

Finalmente eram 17:00 horas. Tomei um banho rápido, mas eficiente, peguei meu terno e sapatos, o misterioso envelope vermelho e as chaves da Harley.

A igreja estava linda, não exatamente da maneira como estava no dia anterior, agora havia mais flores e laços brancos ligando os bancos da igreja.

Corri para os fundos, para a sala onde me arrumaria. Julika e Rose estavam na sala, arrumando a enorme caixa de maquiagens e “apetrechos”.

— Boa tarde meninas. — Rose deu um pulinho de susto e Juleika apenas riu da cara dela e acenou para mim.

— Boa tarde Adrien, — a loira me respondeu depois de fazer uma careta para a maior, — preparado?

Respirei fundo e soltei a respiração devagar.

— Nem um pouco, — falei sorrindo, de desespero.

Juleika caminhou até mim e me abraçou com força e carinho.

— Vai ficar tudo bem loirinho, sempre estaremos aqui para você. — Sussurrou em meu ouvido. — Agora, já são… — Ela parou para conferir em seu celular, — 17:40, vai trocar de roupa logo para que nós possamos fazer com que você pareça o Príncipe encantado que todos pensam que é.

Ela me deu um tapa na bunda, abraçou Rose e ambas me deixaram sozinho no quarto.

Peguei a caixa onde o terno preto esverdeado estava, junto com os sapatos e a gravata borboleta. Não demorei para me trocar, já estava acostumado àquele tipo de roupa.

“Pode entrar fada madrinha”

Mandei a mensagem para Ju e me encarei no enorme espelho adornado em ouro enquanto esperava. Queria saber o que minha mãe pensaria disso.

Será que eu teria contado para ela sobre a chantagem? Provavelmente. Emile Agreste tinha sua forma peculiar de proteger e convencer as pessoas.

— Oh! Você está mesmo parecendo um príncipe. — Rose falou assim que abriu a porta, me tirando de meus devaneios.

Subi sobre o pufe acolchoado que ela colocou diante de mim enquanto ela verificava se havia alguma falha em minha roupa e a mulher de cabelos arroxeados distribuía várias maquiagens sobre a bancada.

— Tudo perfeito, — a loira concluiu depois de verificar seu trabalho pela terceira vez, — pode descer.

— Minha vez. — Juleika disse esfregando as mãos como se fosse um vilão de filme e me empurrou para sentar de frente ao espelho e suas maquiagens.

Ela não fez muita coisa. Apenas deu uma disfarçada nas olheiras, Filomena me mataria se visse as marcas de dias mal dormidos em seu dia mais importante, e tirou o brilho de suor frio de meu rosto.

— Prontinho, — disse me puxando para que me levantasse. — São 18:10, Filomena vai entrar na igreja 18:30, quando a música começar, tente não estragar nada do que fizemos até lá.

Ambas me deram abraços leves e distantes e mais uma vez me deixaram só para pensar na desgraça da minha vida.

Sentei e “entrei em transe” por um tempo. Até me lembrar da aposta e da promessa.

Peguei o envelope vermelho vinho de dentro de minha mochila e praticamente o rasguei.

Quando terminei a música já estava tocando, provavelmente Filomena já estava entrando na igreja e ia fazer um escândalo por eu não estar no meu lugar.

Não me importei, peguei todo o conteúdo do envelope, minha carteira e as chaves da moto. Corri por entre os corredores até que cheguei ao salão onde aconteceria a cerimônia.

Todos me olharam como se eu fosse louco e meu pai correu até mim. Desviei-me dele e fui em direção a saída.

Alguém deve ter avisado Filomena, pois ela começou a entrar e ir em minha direção de maneira furiosa.

Não me importei com isso, não me importei com mais nada. Tudo que eu pensava era em avisar para aquela loira desgraçada que não haveria mais um casamento...