Acordei com a luz fraca que entrava pelas persianas. Senti o vento frio me envolver e abri os olhos procurando minha namorada. Marinette não estava ali. Acendi o abajur, prateado como o relógio, que ficava sobre o criado mudo e percebi que minha mochila encontrava-se sobre a poltrona. Vesti uma roupa leve e fui atrás dos outros moradores do apartamento.
O cheiro de panquecas invadia o lugar e fez meu estômago roncar, fui guiado por ele até a cozinha e encontrei todo mundo ali. Meu irmão e Mari discutiam sobre alguma coisa em frente a pia, vi que eram ele que estavam sendo os responsáveis por aquele cheiro maravilhoso. A noiva de meu irmão, Harry e Chloé estavam sentados à mesa, conversando animadamente sobre preparativos de casamento.
Pelo jeito alguém finalmente havia conseguido fisgar Queen Bee.
— Bom dia, — eu disse indo até Mari e lhe dando um selar de lábios, — bom dia meu amor. — Disse em seu ouvido.
Ela sorriu para mim.
— Bom dia gatinho. Vai sentar com o pessoal, já estamos terminando aqui. — Ela olhou brava para meu irmão. — Não é, Felix?
— Sim… — Disse com uma expressão séria. — Tampinha. — Sussurrou logo em seguida.
— O que foi que você disse? — Mari perguntou brava, apontando a colher de pu para ele.
Eu ri, e resolvi deixá-los discutindo enquanto cuidavam do café da manhã.
— Poderíamos nos casar na Irlanda, — Chloé disse assim que sentei à mesa, provavelmente respondendo a uma pergunta de Harry que eu não ouvi, — não é nem Inglaterra e nem França, podemos dizer que é democrático.
Harry sacudiu a cabeça.
— Não sei se minha mãe aceitaria que não usássemos o palacete da família. — Respondeu colocando a mão sobre a dela. — Além de que ele está está a nossa disposição, e sei que você não quer demorar com a data.
— Ok o lugar da está certo, agora, — falou apontando para Mari, que colocava nosso café na mesa junto a Félix, — a senhorita aí fazer o meu vestido!
— Clô, você sabe que eu não desenho mais. — Respondeu a azulada, servindo-se de duas panquecas de uma vez.
— Não me venha com essa Mari, eu sei que você tem um acervo inteiro de croquis de vestidos, e sei também que você é a melhor para pensar com carinho e não deixar a minha barriga aparecer. — Mari a olhou com uma sobrancelha erguida.
— É verdade, — interrompeu meu irmão, — tendo em vista que a maioria dos estilistas do mundo a considera mimada.
— Félix! — Repreendeu Brigh, dando um tapinha ao pé do ouvido do noivo, — Clô se você quiser eu posso falar com alguns estilistas amigos meus…
— E eu com meu pai, sei que ele não recusaria fazer seu vestido. — Me envolvi na conversa, mas ela ignorou a todos nós e continuou observando Marinette.
— Mas, é que a Mari tem ideias incríveis, e eu gosto tanto do estilo dela… e ela é minha melhor amiga, então...
Marinette respirou fundo, olhou para cada um de nós, talvez buscando uma saída, cortou lentamente e enfiou um pedaço de panqueca caramelada na boca, só então ela limpou os lábios e respondeu:
— Bom, — começou, — acho que tenho um vestido de noiva para desenhar. — Chloé soltou um grito de felicidade, declarando seu amor a Marinette, enquanto o resto continuava a comer e eu tentava imaginar se Mari demonstraria tanta felicidade e empolgação na hora de organizar o nosso casamento. — Eu tenho alguns modelos prontos, — a morena falou, me tirando de meus devaneios e eu pude perceber que ela nunca deixou de amar a moda.
— Tudo bem, eu aceito vê-los, mas antes, — Chloé olhou para mim, — nós dois precisamos dar uma volta.
˜*˜
Quando Chloé falou que precisava falar a sós comigo, e juntando o útil ao agradável queria que eu fosse fazer compras com ela, a última coisa que eu imaginei é que ela quisesse colocar o papo em dia sobre os últimos cinco anos de nossas vidas.
Ela passou horas me contando como conheceu Harry, que foi graças a Mari que ela finalmente conheceu um cara que preste, e que ela ainda não havia contado para ninguém, afinal, namorar um Lord Inglês não era uma coisa muito fácil, de acordo com ela.
Mas Chloé ainda sabia ser uma boa amiga quando queria e ela ouviu pacientemente todos os meus tormentos quando me fez desabafar sobre tudo o que eu havia passado com Filomena.
— Eu me senti… usado, — comentei, quando ela perguntou como eu me sentia, afinal. — Sinto como se eu me não passasse de um brinquedo para ela, com o qual ela pudesse se divertir. Eu a beijava quando ela queria e transava quando ela queria. Não podia dizer não, ou ela ameaçava Marinette com alguma coisa.
Chloé não disse nada, ela apenas passou o braço por meus ombros e afagou ali, como um abraço desajeitado.
— Eu acabei me afastando de todos, — continuei, — era difícil ver todos tão bem bem e eu sendo manipulado sem poder falar nada. Sabia que se ficasse perto de todo vocês eu não aguentaria.
— Adrien eu…
— Mas finalmente tudo isso acabou, — cortei-a, — e graças a quem? As últimas pessoas que eu achei que pudessem me ajudar.
Ela riu e me deu um tapinha na nuca.
— Nunca dúvide da minha incrível capacidade para resolver problemas. — Falou com um tom convencido, e eu quase completei a frase com “e de se meter em problemas tambem” mas finalmente as coisas estavam dando certo, para todos nós. — Eu eu jamais deixaria Filomena sair impune, — continuou com um olhar feroz, o olhar da abelha rainha. — Ela deu em cima do meu namorado e ninguém apronta isso comigo!
Rimos e finalmente ela parou em frente a uma loja, elegante e com cara de ser extremamente cara. Mas eu sabia que não estávamos ali por causa dela.
— Sério? — Perguntei com a sobrancelha erguida.
— Não acha que já está na hora? — Retrucou.
— Não acha que está meio cedo?
Ela parou na minha frente.
— Não acha que cinco anos é tempo demais? — Acusou com seu melhor tom de deboche.
Respirei fundo e soltei o ar devagar, eu realmente não tinha tempo a perder.
— Tem razão, — falei passando o braço pelos ombros dela e a puxando para a loja. — Vamos comprar umas alianças.
~*~
— Vamos Mari… — Chamei-a novamente com meu melhor tom infantil.
— Calma gatinho, — respondeu ela, rindo, — só vou pegar a minha bolsa, apressadinho.
Fiz um bico e me afundei na poltrona do quarto enquanto a observava colocar a roupa. Eu estava mesmo apressado, havia planejado um passeio maravilhoso e romântico e não queria que nada desse errado.
— Já está tarde… — Comentei batendo o pé no chão repetidamente.
— Adrien, — ela me olhou nervosa, com as mãos na cintura, — ainda são seis horas da tarde, a London eye não vai simplesmente desaparecer e hoje é uma segunda-feira fora de temporada, não vai estar cheio.
Suspirei enquanto a esperava, ela tinha razão.
Não seria a primeira vez que qualquer um de nós iria até a London eye, a “gigante” roda gigante localizada praticamente sobre o rio Tamisa. Mas seria a primeira vez que iríamos juntos, e nessa noite nada podia dar errado.
— Pronto, — falou vindo na minha direção e estendendo-me a mão, — vamos?
Peguei sua mão e a puxei para fora do apartamento com pressa. Os outros também iriam dar uma voltinha pela cidade, mas iriam depois e eu queria aproveitar um tempo a sós com a minha namorada.
Fomos de mãos dadas até as margens do Tamisa. Havia bastante gente considerando o dia e a época do ano, alguns vendedores chamavam atenção com seus carrinhos coloridos e iluminados. Os de algodão doce eram os que mais faziam sucesso, e pude ver o motivo assim que olhei para Mari.
Seus olhos brilhavam ao olhar as variadas formas e cores dos algodões doces vendidos ali.
— Quer um? — Perguntei apontando para os doces.
Ela mordeu o lábio, observou a grande quantidade de crianças que iam pedir o doce.
— Não precisa. — Respondeu simplesmente e eu sabia que ela estava disfarçando.
— Ei Mari? — Chamei sua atenção. — Vai indo pegar um lugar na fila que eu já te encontro lá, tudo bem?
— Tem certeza gatinho?
— Sim, — disse, entregando-lhe o dinheiro das entradas da roda gigante. Ela me olhou desconfiada por um momento, mas me deu um beijo e foi se juntar aos outros que esperavam por uma volta da London Eye.
Comprei um algodão doce rosa, em formato de coração e fui encontrá-la. Já serimos os próximos a entrar na roda gigante, afinal, entravam 20 pessoas de cada vez.
— Você comprou mesmo! — Ela sorriu quando lhe entreguei o algodão doce.
— Claro, você queria. — Ela corou.
— Não me acha infantil? — Acariciei seu rosto.
— Te acho maravilhosa Marinette, bem do jeito que você é. — Juntei nossos lábios, num beijo que se aprofundou.
Fomos interrompidos pela chamada para subir na cápsula da roda gigante. Enlacei sua cintura com o braço e entramos enquanto ela se deliciava com seu “doce de criança”. Ali, com uma visão privilegiada da cidade eu via toda a beleza de Marinette Dupain-Cheng.
Coloquei minha mão em seu queixo e nem me importei com as outras pessoas que estavam ali, puxei-a para um beijo apaixonado. Ela enlaçou meu pescoço com os braços e nós nos esquecemos de sequer prestar atenção à vista, tudo o que nos importava era o brilho da cidade abaixo, refletido em nossos olhares.
O anel que eu havia comprado mais cedo estava muito bem guardado e escondido no apartamento, eu já tinha data e lugar certo para pedir a mão do amor da minha vida em casamento.
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