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História Just Another Way - A volta


Escrita por: 4sevendevils

Capítulo 29 - A volta


Fanfic / Fanfiction Just Another Way - A volta

Estou sentada na terceira fileira, em uma das poltronas ao lado da janela. A classe executiva tem amplas cabines de dois acentos reclináveis com apoios confortáveis para as penas e os braços. Há um senhor a minha esquerda, ele bebe a terceira dose de whisky – pediu o mais caro do cardápio – assim como a maioria dos passageiros deste voo. Sobrevoamos a 11 mil metros de altura há cerca de 6 horas seguidas de viagem. Estou entediada. Leio algumas revistas, ouço uma playlist de música clássica e vez ou outra observo a paisagem. O céu está nublado, quase sem nuvens e já está escurecendo, sinal de que estou perto de casa. De cima dá para ver as poucas áreas verdes, os telhados das residenciais e os grandes prédios iluminados dos centros comerciais da Europa.

Os comissários passam no meio do corredor nos oferecendo bebidas e aperitivos dos quais eu rejeito. Não costumo ter fome durante o trajeto sob altitude, sinto-me um pouco enjoada e meus ouvidos tampam de uma maneira ligeiramente estranha, apesar de sempre usar fone. Depois de um tempo observando o anoitecer, a música para inesperadamente. No visor em minha frente uma luz vermelha pisca e eu ouço uma voz masculina vinda de uma autofalante acima de minha cabeça: 

“Dentro de instantes estaremos pousando no Aeroporto internacional de Heathrow. Mantenham os encostos da poltrona na posição vertical e suas mesas fechadas e travadas. Observem os avisos luminosos de apertar cintos.”

Ajeito-me e travo a fivela ao redor da cintura. O avião faz sinal para descer. Fecho os olhos e apoio a cabeça no encosto do acento. Detesto essa sensação, o corpo sofre uma forte pressão do ar durante a queda de altitude e isso em voos longos é ainda pior. Ao aterrissar, o sinal na tela em minha frente passa a ficar verde, algumas pessoas já se levantam, recolhem seus pertencem enquanto o comandante nos dá o último aviso: 

"Bem-vindos à Londres. São nove horas da noite, horário local. Por medidas de segurança queiram permanecer sentados com cintos afivelados até que os sinais luminosos tenham sido apagados. Passageiros que fazem conexão neste aeroporto, e os que se destinam a esta cidade, deverão desembarcar com seus pertences."

Estico os braços, esfrego as mãos no rosto e aguardo até que a luz deixa de piscar. Todos se levantam e deixam a aeronave sentido a área de desembarque para retirada das malas. Está frio, Londres é uma cidade fria. O movimentado aeroporto de Heathrow está cheio, como de costume. Seus cinco terminais de embarque e desembarque transportam milhares de passageiros de todos os cantos do mundo, todos os dias. É o maior da cidade e o maior do reino unido também. Estou no primeiro, o terminal mais antigo, puxo a minha mala da esteiras e caminho para o saguão. O lugar está ainda mais cheio, há um aglomerado de pessoas na portaria, algumas aguardam seus parentes e amigos, outras choram e se abraçam, matam a saudade ou despedem-se, um verdadeiro contraste entre a despedida e o reencontro. Afastado da multidão, um homem parece aguardar ansiosamente por alguém, ele carrega um boque de rosas debaixo do braço e um banjo nas mãos. Timidamente ele canta "Iris" de Goo Goo Dolls.

“E eu desistiria da eternidade para te tocar

Pois eu sei que você me sente de alguma maneira

Você é a mais próxima do paraíso que sempre estarei
E eu não quero ir para casa agora

 

E tudo que posso sentir é este momento
E tudo que posso respirar é a sua vida

E mais cedo ou mais tarde se acaba
Eu só não quero ficar sem você essa noite

 

E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu não acho que eles entenderiam

Quando tudo é feito para ser quebrado

Eu só quero que você saiba quem eu sou " 

Logo ele avista quem tanto esperava e larga o instrumento para abraça-la e lhe entregar as rosas. Parece cena de filme, bonito de se ver. É uma pena que os desfechos da vida real quase nunca são iguais aos da ficção, talvez porque tudo é realmente feito para ser quebrado e mais cedo ou mais tarde se acaba, como diz a música. Também não quero voltar para casa, eu deveria ter ficado um pouco mais em Los Angeles, mas sob qual desculpa? Se eu dissesse estar apaixonada por Gaga ninguém entenderia, talvez nem ela. Pelo menos passamos juntas a última noite, depois de tanta insistência da parte dela. De primeira eu achei que seria uma má ideia, deixar a festa daquele jeito simplesmente por um capricho nosso, mas depois eu acabei gostando de ser o objetivo de sua loucura e ir embora passou a ser a parte mais difícil. 

Assim que o sinal é reestabelecido, meu celular vibra algumas vezes, no visor há várias mensagens e ligações dela: "Chegou bem?", "Como foi de viagem?", "Por que não me responde?", "Pode me ligar quando puder?". Acho graça dessa sua impaciência e curiosidade, ela deve ter esquecido o quão demorado é o trajeto, fora a diferença de fuso horário. Ainda deve ser cedo em L.A... decido respondê-la, mas sou interrompida pelos gritos de Isabella que corre até mim e se joga nos meus braços:

– Florence! Que saudade... 

Chris e Rob caminham logo atrás dela. Ambos me abraçam, perguntam-me da viagem e em seguida me ajudam com as malas carregando-as até o carro. 

– Também senti a sua falta – passo o braço nos ombros de Isa – Como vão as coisas?

– Do mesmo jeito que você deixou – ela ri – E como foi lá? 

– Depois eu te conto – sussurro – Agora não dá.

Os garotos colocam a minha bagagem no porta malas e entramos no veículo. Isabella e eu no banco de trás, Chris no passageiro e Rob no volante, como sempre. 

 – Sobreviveram sem mim? – pergunto-os em tom de brincadeira. 

– Quase morremos! – Chris responde em tom irônico observando-me pelo espelho retrovisor interno. 

– Não ligue para o Chris – Isa segura a minha mão – É sempre ruim ficar sem você.

– Nem me fale! Eu tinha me esquecido como aqueles pesadelos sem você são horríveis – aperto-a com força.

– Ai! – ela resmunga. 

– O que houve com o seu braço? 

Isa se afasta encostando-se na porta ao seu lado. Observo-a com ar de desconfiança. Ela puxa a manga de sua blusa até a altura do punho escondendo-me um curativo de tamanho médio nesta região do braço. 

– O que é isso, Isabella? – indago-a

– Nada, Flo. Eu só...

– Isa caiu no banheiro – Rob ri – Levou sete pontos.

– Como foi isso, Rob? 

– Estávamos bêbados, eu fui tentar dar um banho nela e ela se desequilibrou e caiu por cima do box... Acho que eu nunca vi tanto sangue e...

– Rob não precisa dos detalhes – Isabella o interrompe. 

– Meu Deus, Isa – puxo o seu braço com cuidado afim de ver o ferimento – Por que não me disse isso? 

– Félix quem nos levou para o hospital – Rob continua – Tem sorte Florence, ele é um bom rapaz. 

– Não foi nada! – Isabella se encolhe – Nada de tão sério. 

– Mas poderia ser – encaro-a com uma expressão dura – Precisa para com isso, ok? Chega de exageros com álcool, sabe onde isso pode acabar.

– Adoro quando você se preocupa assim – ela ri.

– É sério, Isa! Precisa saber a hora de parar... Onde vamos, Rob? 

– Para minha casa – Chris responde – Maire quer falar com você. 

Abaixo o vidro e observo o tempo em silêncio. Lembro-me de Félix, preciso decidir o que vou lhe dizer, sei que não é justo enganá-lo desta maneira, mas não será fácil, ainda mais depois de saber que ele cuidou de Isa enquanto eu estive fora. Isabella é outro assunto que preocupa, eu não devia ter ficado tanto tempo sem ligar para ela, sem nem se quer mandar uma mensagem... Ela precisa de mim, assim como eu preciso dela, somos o equilíbrio uma da outra e essa falta de contato não faz bem para nenhuma das duas. 

Chegamos rapidamente na casa de Chris e Maire. Rob estaciona próximo à esquina, destrava as portas e depois buzina aos gritos: 

– Eu vou abastecer o carro e volto para buscar vocês, ok? 

Ele acelera marcando o asfalto. Chris e Isa correm até o portão adentrando na casa, eu vou logo em seguida. Maire está na sala, assistindo TV, com o bebê nos braços. Ao me ver, ela se levanta entrega a criança para o Chris e me abraça, perguntando-me se fiz boa viagem. Eu apenas balanço a cabeça em sinal de sim e sento-me no sofá. 

– Não se sente, querida – Maire diz – Preciso falar com você... A sós. 

– Tudo bem.

Acompanho-a até o quarto. Mairead entra no cômodo e fecha a porta observando-me com um ar de desconfiança. 

– Está cansada? – ela pergunta.

– Um pouco... O que houve? 

– Florence eu vou direto ao assunto. Você gastou dois mil dólares em um petshop em Hollywood? 

Não sei o que lhe responder, permaneço estática olhando para Maire. Acabei me esquecendo que além de ter acesso livre a minha conta bancária, ela também recebe notificações das movimentações do meu cartão de crédito. E agora? O que lhe digo? Minto mais uma vez? Não sei nem o que inventar. Eu devia ter desconfiado dessa conversa quando Chris disse no carro, mas achei que se tratasse de algo sobre a banda, ou alguma entrevista. Ela repete a pergunta e se aproxima de mim, opto então por lhe dizer a verdade:

– Eu quis mandar um presente para Gaga.

– Presente? De dois mil dólares? O que deu a ela?

– Um cachorro – sorrio – Estava indo para o aeroporto, passei na frente da loja e quando vi o animal achei que ela fosse gostar. 

– E por que isso? – ela me indaga.

– Eu só quis agradecê-la pelo convite, pela estadia e por...

– Não podia sei lá, só dizer "obrigado"? – ela parece ainda mais desconfiada. 

– Maire, eu só quis agradecer – sento-me na cama – Que mal há nisso? Você nunca foi de ligar para dinheiro. 

– E não ligo, dinheiro não é o problema... Bobby Campbell me ligou e ele está muito preocupado. Eu deveria me preocupar também? 

– Não... é que... eu... – gagueijo – O que ele disse? 

– Que você e Gaga estão íntimas demais e que dormiram juntas essa noite. 

– Mas que bobagem! – solto uma gargalhada alta – De onde ele tirou isso? Passamos a noite juntas sim, mas somente bebemos e falamos sobre o álbum e coisas do tipo, nada de íntimo.

– Isso é estranho – ela se aproxima.

– Por que? – disfarço – Maire, só discutimos os nossos interesses profissionais em conjunto, e além do mais eu nem devo ser o tipo dela porque...

– Mas ela faz o seu – ela me interrompe – Não faz? Loira, baixa estatura, corpo bonito... Florence, sabe que isso é loucura, não sabe?

– Óbvio! – levanto-me – Ela é linda, mas nunca aconteceria, isso deve ser paranoia de Bobby.

– Eu realmente espero que seja isso. 

Mairead não parece acreditar muito em minhas palavras, pelo menos não dessa vez. Perdi as contas de quantas vezes já menti para ela, principalmente sobre Gaga, mas não posso lhe dizer a verdade, ainda mais depois de saber que Bobby tem ligado para ela, o que ele pretende com isso? Aposto que quer me manter longe. Os empresários do cenário pop americano tendem a zelar pela imagem de seus respectivos artistas, e vinculá-la amorosamente com outra mulher nas vésperas do lançamento de um novo álbum não seria uma boa ideia, tendo em vista o sensacionalismo midiático, possivelmente geraria um marketing negativo irreparável para a sua carreira.

 Maire deixa o quarto após me lançar um daqueles olhares de reprovação e eu a sigo de volta para sala. Isa está no corredor, com o celular em mãos. Maire a observa e em seguida lhe questiona: 

– Como está o seu braço? Está conseguindo tocar? Precisa que cancele sua apresentação no clube?

 – Não precisa, eu estou bem, não foi nada demais. 

– Eu vou lá para fora – passo por elas – Preciso tomar um ar. 

Atravesso a garagem, passo novamente pelo portão e sento-me na calçada. Isabella vem longo atrás de mim e senta ao meu lado, perguntando-me: 

– Deu mesmo um cachorro para ela? 

– Estava ouvindo por detrás da porta? – olho para ela – E qual o problema de vocês com um cachorro? 

– Florence – ela ri – Na linguagem das lésbicas isso significa muita coisa. 

– Tipo o que? – solto uma gargalhada – O que sabe sobre isso?

– Te garanto que sei mais do que você. Olha, não se dá um bichinho de estimação com um mês de relacionamento, as mulheres são intensas, isso é quase que formar uma família.  

– Quanto exagero! Nem se quer temos um relacionamento. E eu acho que ela gostou, já me mandou até uma foto, olha – lhe mostro a imagem no celular – Gustav é uma graça, não? 

– Gustav? – ela solta uma gargalhada – Flo, tem noção de que isso é um laço irreparável entre vocês, não?

– Do que está falando? Eu só quis deixar uma lembrança e ela não é assim... 

– As mulheres são assim, Florence, você que não entende nada sobre elas. Imagine, toda vez que ela olhar para o animal vai lembrar de você... Mas mudando de assunto, como é que vocês fizeram...

– Isabella, não começa... – interrompo-a.

– Eu só quero saber como foi. Transaram quantas vezes? – ela me indaga em tom de malícia. 

– Talvez duas, ou três vezes, não me lembro. Para que quer saber? Já sabe como eu faço as...

– Ah não seja boba! – ela ri – Não quero saber de você, quero saber dela. Como ela é na cama?  

– Normal – respondo sem jeito – Não fizemos nada além das coisas que eu e você... Que a gente já fez. E depois nós...

– Detesto quando você faz isso – Isa diz em tom rude – Não se abre comigo. 

Ficamos em silêncio por um tempo. Isabella tem razão, inventei tantas histórias para esconder isso e agora que tenho para quem desabafar parece tão complicado dizer. Encosto-me no braço dela, deitando-me em seu ombro, ela ameaça se afastar, mas acaba cedendo aos meus carinhos. 

– Foi lindo, Isa – acaricio os seus cabelos – Ela é linda. Todo tempo que passamos juntas foi mágico. Fomos a praia, ao estúdio, cantamos juntas...

– Gravaram em L.A?

– Sim, num estúdio de um amigo de Mark. A casa dela é enorme, tem um piano branco na sala, você iria gostar.

– Uau! E o que mais vocês fizeram?

– Um monte de coisas. Andamos a cavalo, ela tem uma fazenda enorme em Malibu, com um jardim três vezes maior do que o de casa.

– E o sexo? – ela ri.

– Muito bom – sorrio sem graça – Incrível.

– Gosta dela? O quanto de zero a dez?

– Não sei, talvez onze – solto uma gargalhada alta – Ela é realmente linda em todos os aspectos.

– Jesus, Florence! Está apaixonada!

Isa cai na gargalhada enquanto eu lhe conto os detalhes dos meus encontros com Gaga e de nossa música. É tão bom poder falar abertamente sobre ela e sobre os meus sentimentos, eu realmente estava enlouquecendo guardando isso dentro de mim e contar para Isa me deixa aliviada porque ela me entende como ninguém. 

– Dorme comigo essa noite? – lhe peço – podemos assistir Gilmore Girls enquanto eu dou uma olhada nesse corte no seu braço.

– Hoje não, Flo. Felix... ele está te esperando em casa com a sua mãe. Já sabe o que vai dizer a ele? Vai dizer, não vai? 

– Sim, claro. Eu só preciso de...

O carro de Rob se aproxima e a buzina interrompe a nossa conversa. Despedimos de Chris e Maire e voltamos para o carro. Isa e Rob falam de uma festa no centro da cidade, mas eu permaneço calada. Estou pensativa. Voltar para casa é sempre difícil porque eu sou do tipo que se acostuma fácil em qualquer ambiente. E dessa vez, voltar também implica em ter de encarar Felix. Tento pensar nas coisas que irei dizer, mas eu sou péssima com as palavras, prefiro escrever. No entanto, terminar um relacionamento por carta não seria uma boa coisa a se fazer, tendo em vista a nossa história e o temperamento de Felix. 

Chegamos antes das onze da noite. Rob me ajuda com as malas colocando-as na porta de casa e nos despedimos. Isa abaixa o vidro e me joga um beijo dizendo-me em voz baixa: 

– Se quiser me ligar depois de tudo, estarei acordada...

– Obrigado! – aceno para ela – Cuide desse braço.

Observo o carro se distanciar na avenida e toco a campainha – nunca levo as minhas chaves durante as viagens, é mais seguro deixá-las –, mamãe logo aparece na garagem. Ela abre o portão e me puxa para um longo abraço:

– Querida, quanto tempo. Por que não me disse que iria viajar? 

– Eu não tive tempo, mãe. Sabe como são as coisas...

– Claro! – ela sorri apertando as minhas bochechas – Eu estou acostumada com essas suas fugas. Vá almoçar amanhã em casa, quero saber da viagem. Farei sua comida favorita.

– Você já vai? 

– Sim, meu bem. Você e Felix devem ter muito o que conversar, não? Ele fez uma surpresa linda para você.

Mamãe se despede e me entrega as chaves. Moramos a dez minutos uma da outra, foi uma exigência dela. Por conta desse meu jeito de gostar da solidão e da minha mania de fugir quando dá vontade, ela temia que eu me distanciasse, coisa de mãe.

Fecho o portão e puxo as minhas malas para dentro de casa. A sala está repleta de flores: pétalas de rosas amarelas sobre o chão, tulipas e orquídeas no sofá, quase um jardim inteiro. O cômodo tem um leve cheiro de incenso de lavanda, exatamente o que eu gosto de passar quanto estou em casa. Sobre a mesa de centro há um papel meio queimado com a frase: "bem-vinda de volta". Felix está apoiado na estante, ele sorri e se aproxima, dando-me um abraço apertado.

– Senti tanto a sua falta – ele diz enquanto desliza as mãos em meu rosto – Você está ainda mais linda.

Ele me beija na boca e eu o retribuo, mesmo sem jeito. Tinha me esquecido do gosto de sua boca e da lentidão com que sua língua se esfrega na minha. Diferente. Acostumei-me com aqueles beijos sufocantes e de tirar o fôlego que me causavam arrepios... De fato, os beijos dele não são como os dela. Os meus olhos permanecem abertos e observando o cômodo. Felix é tão previsível que até mesmo as suas surpresas não são capazes de me surpreender mais, mas gosto da maneira como ele tenta me agradar. Interrompo-o de maneira inesperada soltando-me de seus braços:

– Eu adorei a surpresa! – sorrio – Deve ter dado trabalho.

– Vem, vamos até a cozinha – ele me puxa pelo braço – Eu fiz o seu chá preferido. 

Sentamos sobre a mesa e eu lhe conto sobre a viagem, sobre o Chateau Marnont. Ele parece prestar atenção no que eu falo e eu passo a observá-lo melhor enquanto conversamos. Felix é um homem bonito, tem traços delicados, olhos azuis e uma barba por fazer que o deixa mais sério do que ele realmente é. Ele segura a minha mão e aproxima novamente o rosto na tentativa de me dar outro beijo, mas eu me esquivo: 

– Fe, precisamos conversar.

– Claro! – ele ri – O que houve?

– Eu vou tomar um banho – levanto-me – Depois falamos. 

Corro para o banheiro, ando de um lado para o outro no pouco espaço e esfrego os punhos. Estou nervosa. Nunca sei como terminar com alguém, prefiro provocar motivos para que terminem comigo, parece estranho, mas acho melhor deixar que os outros tomem a decisão para essas coisas, não gosto de magoar ninguém e os términos são sempre dolorosos, ainda mais quando o outro é alguém como Felix, tão gentil e amável. 

Após o banho vou para o meu quarto. Ele está deitado na cama, mexendo em uma sacola de supermercado. Sento-me ao lado dele e o indago: 

– O que é isso?

– Um remédio para Isa – ele me mostra – Achei que ela fosse passar aqui. Sei que vocês não gostam de usar essas coisas, mas é ótimo para cicatriz... O que queria me dizer?

Não tenho coragem de dizer realmente o que devo. É difícil porque não quero machucá-lo. Não é justo com ele e nem com tudo o que vivemos. Talvez agora não seja o melhor momento, melhor esperar uma hora mais propicia, amanhã ou depois, quando esse clima de reencontro se esvair. 

– Obrigado por cuidar dela – abraço-o – Eu fiquei um tempo sem ligar e não me perdoaria se...

– Está tudo bem agora. Isabella é como uma irmã, eu fiz de coração, não precisa me agradecer. 

– Quando foi isso? 

– Há uma semana mais ou menos. Rob me ligou desesperado, eu achei que fosse algo grave. 

– Ainda bem que não era – deito-me – Tenho medo dessas coisas.

Felix se levanta, apaga as luzes deixando apenas o abajur acesso, tira a camiseta e se deita ao meu lado. Viro-me de costas. Ele se achega, desliza as mãos em meus braços até chegar em minhas coxas e me beija no pescoço.

– Não, Fe – seguro a sua mão – Eu estou muito cansada. 

– Tudo bem, me desculpa – ele se afasta – É que eu viajo amanhã para a Irlanda e...

– Para que? 

– Um projeto novo. 

– Legal! – viro-me para ele – E quando volta? 

– Daqui uma semana ou duas talvez...

Ele se ajeita na cama e fecha os olhos, não demora muito para dormir. Pareceu chateado ao me falar da viagem para Irlanda, em outros tempos ele me convidaria para ir junto e eu iria sem pensar duas vezes, como fazíamos na minha última turnê. Talvez ele tenha percebido algo de estranho em mim... os homens não são de reparar nesse tipo de coisa, mas Felix me conhece o suficiente para saber que nós não estamos bem. Acho que ele está evitando falar disso, assim como eu.

Levanto-me devagar, pego o meu celular na bolsa e deixo o quarto. Passo pela cozinha, faço algo para comer e desço as escadas, sentido ao jardim. Tudo está como eu deixei, meus livros, quadros, roupas, senti falta das minhas coisas, não sou materialista, mas me apego emocionalmente aos objetos que acho importantes. Passo pela porta de vidro que da acesso a área externa da casa e sento-me na grama do jardim. Está uma noite bonita, apesar do frio. Observo as poucas estrelas no céu e em seguida volto-me para o celular e releio as mensagens de Gaga. Sinto falta dela. Talvez eu devesse retornar, são quase duas horas da manhã em Londres, mas em Los Angeles provavelmente ainda nem escureceu. Digito o número de seu telefone e aguardo até que ela atende:

– Alô? 

– Oi... 

– Por que demorou tanto? – ela pergunta irritada.

– São sete horas de viagem – sorrio – esqueceu? 

– Chegou bem? 

 – Sim – bocejo – Só estou cansada.

 – O que está fazendo? Que horas são ai?

 – Quase duas da manhã. Estou sentada no meu jardim.

 – E está sozinha? – ela me indaga.

 – Sim, estava pensando em você.

 – Pensando o que?

 – Esse monte de perguntas... Você é engraçada!

 – Não gosta que eu pergunte, não é? Acho que Gustav também não – ela ri – Eu adorei o presente, obrigado.

 – De nada, foi só uma lembrança.

 – Parece que faz tanto tempo... Garota você faz falta.

 – Você também faz – digo em voz baixa – Parece que falta algo... Ninguém reclamou sobre fugirmos da festa de ontem?

 – Não, ninguém além de Bobby, mas ele é um caso à parte.

 – Ele ligou para Maire e contou sobre o que a gente...

  – O que? – ela me interrompe – Bobby enlouqueceu!

  – Mas está tudo bem, eu inventei algo para ela.

  – Quer que eu fale com ele?

  – Não precisa, ele só está preocupado. Melhor que não saiba que eu te contei.

  – Você deixou um livro no hotel – ela muda de assunto – Eu guardei aqui.

  – Por que não vem me entregar pessoalmente?

 – Irei para Alemanha daqui há uma semana, posso tentar, mas não vou prometer nada.

 – Seria ótimo se você... – Ouço o barulho vindo do andar de cima – Eu preciso desligar, vou tentar dormir.

  – Claro. Promete que vai sonhar comigo?

  – Como se isso dependesse de mim – solto uma gargalhada contida – Mas eu vou tentar...

  – Gustav mandou lhe desejar boa noite!

  – Para vocês também...

   Ao ouvir passos vindos da escada, desligo o telefone rapidamente. Encontro Felix no primeiro degrau. Ele ri, me pega no colo e me leva de volta para o quarto.

     – O que estava fazendo lá fora uma hora dessas? – ele pergunta.

     – Perdi o sono e fui no jardim.

    – Eu esqueço dessas suas loucuras.

     Meu celular vibra, é uma nova mensagem: “Gustav disse boa noite outra vez”, seguida de uma foto do filhote. Não consigo conter o riso e Felix percebe. É horrível o que estou fazendo, não? Enganá-lo desse jeito, em sua frente, na cama em que dormimos, mas não sei como lhe dizer algo tão delicado como isso e nem sei esconder o quanto é bom ouvir a voz de Gaga. Ele vira para o outro lado, de costas para mim e fica em silencio.

Há mais uma mensagem na caixa de entrada: “Fez boa viagem? – Edward”. Como ele descobriu meu telefone? Não lembro de ter passado, talvez tenha sido Maire, ou talvez Sophia quando nos encontramos aquele dia no hotel. Respondo-o sem muitos detalhes: “Sim, obrigado x”. Escondo o celular debaixo do travesseiro, apago o abajur ao meu lado e tento pegar no sono.      

          



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