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História Just Sex - Trinta e sete - O que cada um esconde.


Escrita por: AnnieParker

Notas do Autor


GENTEEEEE. Voltei depois de exatamente um mês, haha. Hoje é meu aniversário, mas quem ganha o presente são vocês. Eu tava muito inspirada pra escrever então aproveitei <3
Eu quero agradecer A FORÇA DO CARALHO que vocês me deram nos coments do último capítulo! Porra, vocês são fodas demais, eu sou tão grata por isso! Levantaram a minha moral legal, ein. Surgiu gente que nunca comentou, gente que tinha sumido, meu deus, eu chorei de verdade! Até minhas amigas vieram falar que eu tenho que ser mt grata a vcs, pq vcs me dão muita força. E é sério gente, vcs me dão uma força tão grande. Não só em relação à fanfic, mas a nao desistir em outras coisas na minha vida também. Eu comecei a responder os comentários, mas deixei acumular tantos que vai demorar até estar tudo em dias :/ Mas eu chego lá.
Não se foi vocês, mas, eu realmente amei escrever esse capítulo. Vocês vão ver que as coisas vão começar a pegar fogo a partir de agora :v
BOA LEITURA!

Capítulo 38 - Trinta e sete - O que cada um esconde.


Quando eu terminei de falar fiquei impressionada com a quantidade de detalhes que consegui me lembrar, antes esquecidos por algum motivo. Acho que o encontro com Gajeel me fez enxergar coisas que sempre estiveram ali, bem na minha cara, mas eu sempre ignorei me achando a dona da verdade. Há tantas informações na minha cabeça que eu preciso analisar, que nem me dei conta de que Laxus havia parado de acariciar meu cabelo, olhando fixamente para nenhum lugar em especial.

Me levantei, balançando a mão em frente ao seu rosto.

– Ei! – Ele piscou, me olhando. – Eu estou aqui contando toda a desgraça que foi a minha vida e você não diz nada?

Meu irmão nada disse, simplesmente me puxando para um abraço apertado. Inicialmente fiquei parada sem saber o que fazer, mas aos poucos deixei meus braços rodearem seu corpo enorme. Depois de um tempo ele me solta e afaga minha cabeça como se eu tivesse cinco anos.

– Eu só quero te dizer que você é a pessoa mais foda que eu conheço!

Sorri, me sentindo envergonhada por algum motivo.

– Eu te conto esta história de vida trágica e é isso que você tem a dizer? O normal não é chorar e dizer que sente muito que eu tenha passado por tudo isso?

– Eu até faria isso, se você fosse uma pessoa normal.

Cruzei os braços.

– Então eu sou esquisita e fodona?

– Não haveria adjetivos melhores para te descrever, irmãzinha.

Rimos por um momento, talvez aquilo fosse seu jeito de aliviar a tensão diante de tudo o que eu contei. Especialmente de como eu me sentia em relação a eu ser um perigo para outras pessoas.

Você e o Natsu já transaram? – Pergunta ele do nada, depois de um tempo. O olhei pelo canto do olho, roendo a unha em apreensão praticamente já dando a resposta. – Caramba, mana. O que me choca é saber que minha irmãzinha já faz sexo e não o fato de que ela tá fazendo isso com o ex-melhor amigo agora arqui-inimigo.

– Tá falando sério? – Perguntei, aliviada por não haver nenhum tom de sermão na sua voz.

– Para mim era mais que evidente que um dia vocês ficariam juntos de alguma forma, o Natsu sempre foi muito apegado em você. Esse era um dos motivos que eu implicava bastante com ele na adolescência, aquele fedelho com cheiro de fraldas no auge da puberdade já estava pondo os olhos em você de uma forma diferente. Porque acha que o pai e a mãe começaram a proibir ele de vir dormir aqui?

– Eu pensei que isso se tratava de todos os meninos, devido a idade e tal… – Comentei, meio surpresa. Só eu não sabia disso?

– Lerda você sempre foi, mas só sendo muito burra pra não ver isso.

– Vai começar com a agressão verbal? – Ralhei, irritada. Mas ele não ligou.

– Você realmente deveria conversar com ele, Lu. – Disse, mudando de assunto abruptamente. – Tem muita coisa na sua história que não bate. Como o Natsu era, o que ele fez e como ele está hoje em dia. Se parar pra pensar, existem inconsistências bem bizarras.

– Tem razão… – Falei, pensativa.

O grande “x” da questão é apenas um: por qual motivo ele fez isso tudo? Mas quando paro para pensar nisso, logo lembro das palavras dos estupradores e também do meu tio, John. As informações que faltam na minha história fazem parte de um quebra cabeças complexo e apenas quando todas as peças se encaixarem eu saberei de toda a verdade. Natsu é tão culpado quanto meus pais que parecem saber de algo que nunca me contaram. 

– Você já passou anos da sua vida supondo coisas sobre ele que nunca foram realmente questionadas para serem respondidas. – Laxus falou, absurdamente racional. – Está na hora de ter a coragem para saber a verdade, mesmo que doa.

– O que tinha que doer, já doeu, mano. – Respondi. – Eu não tenho mais nada para sentir.

Ele balançou a cabeça.

– Acredite, maninha. A gente nunca sente algo que doa tanto, até sentir.

Não tive tempo de divagar sobre aquelas palavras, pois minha mãe invadiu a sala, praticamente em desespero. Sorri sem graça e relaxei os ombros, esperando que ela corresse para os meus braços como sempre fez. Entretanto, para o meu espanto, ela apenas suspirou, fez uma expressão de desgosto e disse:

– Ah, minha filha. Porquê você não muda?

Então ela passou direto para a cozinha, a passos pesados. Olhei para Laxus, como numa pergunta muda, mas ele deu de ombros como quem diz “te vira”. Logo em seguida, papai chegou com as chaves do carro na mão.

– Mas o que foi que aconteceu com seu rosto? – Perguntou, vendo logo de cara.

Me levantei de uma vez, para poupar a ladainha.

– Eu estou bem, okay? Quero conversar com todo mundo.

Deixei meu pai surpreso com  meu irmão e fui atrás da minha mãe, que já estava a preparar o jantar. Sua bolsa de mão estava em cima da pequena mala de viagem, encostada no canto da parede, então supus que ela realmente viajou antes de saber do meu sumiço, caso contrário não teria ido. Laxus me contou que tentou, junto com papai, apenas contar para ela que eu simplesmente desapareci do mapa quando realmente não tinha mais como esconder, o que a fez vir correndo de volta para casa.

Peguei os tomates cerejas para cortar no meio, enquanto ela separava as folhas para a salada. Mamãe estava claramente perturbada, mas algo que me dizia que não era apenas sobre minha mais recente rebeldia.

Depois de me remoer de todas as maneiras possíveis, soltei:

– Me desculpa. – Isso a fez parar, voltando seu olhar para mim desde que entrei na cozinha. – Me desculpa pelo jeito que tenho agido ultimamente. É que tenho me sentindo confusa sobre muitas coisas.

Ela cravou a faca na tábua de madeira, o que não me surpreendeu tanto porque mamãe tende a ser agressiva quando está puta.

– Sabe qual o seu problema, filha? Você acha que diálogo não é importante.

E simplesmente saiu, levando a salada pra mesa de jantar. Aquilo não parecia muito racional de se dizer pois quando finalmente tento dialogar ela… não quer!

Mas é o que estou tentando fazer agora!

– Quando estou com raiva? – Colocou os talheres e copos e eu peguei os pratos. – Não é uma boa hora. 

O microondas soou e de lá ela trouxe uma lasanha antes congelada, já que tinha saído e não houve tempo para um jantar mais preparado, apesar de que quando ninguém está afim de cozinhar a lasanha sempre salva.

Não falei mais nada e sentamos à mesa no mais completo silêncio. Quando me servi apenas de salada, mesmo estando com raiva, mamãe lembrou que não estou podendo comer esse tipo de coisa e trouxe uma vasilha de ovos cozidos, que eu e Laxus cozinhamos mais cedo e que era um prato diário dentro de casa. Enquanto peguei apenas dois, meu irmão pegou uns oito.

Quando notei que quase todo mundo tinha acabado de jantar, me pronunciei.

– Eu sei que esse clima de merda é culpa minha.

– Olha a boca, menina. – Papai me repreendeu.

– Eu só queria dizer que sinto muito. – Continuei, pois se eu parasse não seria capaz de dizer o que realmente estava sentindo. – Não posso dizer que a partir de hoje serei uma santa, mas tentarei ser mais honesta, com certeza. Ainda vou errar muito, mas vou errar tentando acertar, porque eu tô cansada desse caralho de vida sem sentido. Desculpa. – Me adiantei pelo palavrão. – Pode não parecer, mas eu… Amo vocês.

Nessa hora, ela finalmente me olhou. Mas ninguém falou nada. Me senti absolutamente exposta e o constrangimento bateu forte.

– Este não é o momento que todos vocês se levantam e vem me abraçar em grupo? – Papai riu, sendo o primeiro a se levantar. Quando todos me abraçaram, meu coração estremeceu. – Por Zeus, façam seu trabalho de família sentimental direito....

No meio do abraço, Laxus piscou um olho, aprovando minha atitude. Mal sabia ele que isso não era nem um terço do que eu queria falar de verdade.

Depois de um momento com meu pai lavando a louça, subi para o quarto dos meus pais. Ele tinha me perguntado em qual enrascada eu havia me metido dessa vez, mas apenas respondi que saber mais sobre si mesmo pode render uma bela briga, o que o fez ficar intrigado. No quarto, encontrei minha mãe saindo do banheiro, com aquele cheiro maravilhoso que só ela tinha. Laxus já estava roncando no quarto dele, pois teria que viajar bem cedo no dia seguinte.

– Ainda está com raiva de mim? – Perguntei, de uma maneira um pouco mais hostil do que deveria. Força do hábito.

Ela enrolou o cabelo na toalha, dizendo:

– Eu sou como manteiga gelada. Dura, mas não tanto. É só passar um calorzinho que eu derreto.

Me joguei na cama, quase morrendo de rir.

– Isso é brega demais até pra senhora!

– É, pode rir, mas eu sou boa de metáforas, tá?

– Estou vendo. 

Ela sentou na cama, pegando no meu cabelo.

– Você é tão parecida comigo… – Disse, nostálgica. – Mas também se parece tanto com seu pai.

Dizendo esta última parte quase que com desprezo, ela se levantou e foi para a penteadeira, pegando a escova de cabelo. Me levantei, tomando o objeto de suas mãos. Depois do Natsu, o cabelo da minha mãe era o que eu mais amava de mexer. Pena que parei de fazer isso com o tempo.

– Vocês realmente não estão bem?

– Queria que fosse diferente. – Disse ela, emocionada. – Mas, chegamos num impasse.

Eu queria perguntar o motivo, mas era o tipo de intimidade que deixei de lado durante tantos anos, que agora não tinha cara de perguntar uma coisa dessas.

– Com quem você ficaria?

Parei por um segundo, sem acreditar.

– A senhora tá mesmo pedindo pra escolher entre vocês dois?

– Eu sei que você não é mais de menor, mas está longe de sair de casa. Laxus está prestes a casar, mas você ainda vai demorar um tempo para se emancipar da gente.

– Mãe… – Falei, sem reação. Era mais sério do que eu imaginava.

– A gente pode viajar, o que acha? Ir pra perto da sua avó, seus tios… Você estaria perto da Michelle, lá tem ótimas universidades.

– Porque isso de repente? – Perguntei, sem entender. Ela parecia querer fugir.

– Eu só quero te proteger. – Ela se virou, pegando nas minhas mãos. – Proteger meu bebê…

E então ela começou a chorar e eu quase entrei em pânico. Me agachei, me apoiando em suas coxas.

– Mãe, eu não preciso de proteção. – Por algum motivo, isso a fez chorar ainda mais. Ela diz que não sou mais de menor, mas evidentemente está tentando me proteger dos traumas da separação dos pais. – Eu não posso tomar essa decisão, mas eu vou sempre estar aqui por vocês dois, até pro Laxus que logo, logo vai ter umas criar catarrentas e vai me escantear.

Ela riu, me fazendo ficar mais aliviada.

– Desculpa te colocar nessa condição egoísta. Eu só estou cansada…

– Eu faço cafuné em você.

Deitei com ela na cama e passei a acarinhar sua cabeça. Ela era minha mãe, mas parecia tão carente que quase me senti invertida nos papéis. Quando ela estava quase dormindo, me lembrei de uma coisa:

– Mãe, lembra quando eu arrombei o portão da frente da antiga casa do Natsu?

– Hum…

– Eu lembro que deixei uma caixa no quintal com um monte de coisas, depois de um tempo eu perguntei por ela e você me disse que tinha jogado fora. Foi verdade?

Conhecendo minha mãe…

– Claro que não. Eu conheço você e imaginei que um dia você quisesse essas coisas de volta. Só não achava que ia demorar quase cinco anos. – Ela riu, se aninhando ao travesseiro. – Está no meu closet, atrás dos vestidos de festa que não cabem mais em mim.

Ri com esse último comentário, mamãe é bem apegada a vestidos bonitos que antes couberam em seu corpo. Não que ela esteja gorda, mas duas gestações a fizeram ganhar dois números a mais. Papai não apareceu no quarto e eu sabia que não era apenas porque eu estava ali.

Assim que ela pegou no sono, me levantei e fui atrás da caixa, descobrindo que até o panda gigante estava lá, envolto cuidadosamente por um plástico filme. Minha mãe realmente é incrível.


 

***




 

Passei a noite em claro xeretando nas minhas antigas coisas dentro da caixa. Tinha desde cartinhas da infância até as pulseirinhas que Sting sempre me dava. Coloquei uma no braço, me lembrando que era a minha preferida, trançada e com pingentes entalhados em madeira. Ele que costumava fazer e até hoje não deixou esse costume, já que sempre tem várias nos braços. Fico pensando como uma pessoa que é capaz de fazer coisas tão delicadas como essa pode ser um ser tão horrível por dentro. Mas isso são aparências, e as aparências enganam afinal.

E o Natsu? Eu o conhecia. Ou achava que conhecia. Se pegar meus álbuns de criança, a cada duas fotos, ele vai estar lá. Estávamos juntos, literalmente, desde bebês. Não existe um único momento marcante da minha vida que ele não estivesse presente. Mesmo que eu tivesse outros amigos, apesar de tê-los conhecido um pouco depois, eu e ele sempre tivemos uma conexão mais profunda. E parando para pensar, é até estranho.

Peguei meu bloco de notas e fiz um tópico para fotos de família com fins investigativos. As palavras de Gajeel, se referindo a nós como gado, me fez perceber que eu preciso dar ouvidos àquelas desconfianças que até eu mesma julguei serem paranoias, mas que agora parecem fazer todo o sentido. Se muitos ao meu redor são como eu, o que quer que isso signifique, então termos uma ligação não pode ser mera coincidência. Meus pais e os pais do Natsu são amigos de infância, isso seria completamente comum se não existisse o fator “diferencial” sobre quem nós somos de verdade. Levy eu conheci na escola, quando tinha três anos, junto com o Gray e o Loke. A Erza foi a última a entrar no grupo, quando tínhamos cinco anos. Desde então estamos sempre juntos, mas há buracos ao longo do caminho, lacunas que não consigo preencher. Como, exatamente, ficamos tão próximos? Acho que a amnésia infantil é a explicação e o álibi perfeito para eventuais questionamentos. E isso com certeza foi proposital da parte “deles”. Perguntar aos adultos seria o melhor se, infelizmente, pudéssemos confiar neles. Não que eu não confie nos meus pais, entretanto eu não sei até que ponto esclarecer minhas desconfianças pode ser seguro. Os rastros podem ser destruídos e talvez eu nunca mais tenha a chance de finalmente saber de tudo.

A única coisa que eu sei é que a partir de agora as coisas vão ser mais as mesmas. Nada mudou de fato, exceto eu mesma. Não que seja muita coisa, mas essa sementinha da dúvida sobre tudo o que eu conheço em relação a minha própria vida é apenas o pontapé inicial. Acabei pegando no sono, pensando em como estou ficando com medo do que pode estar por vir.

Mas desistir de descobrir a verdade não é uma opção.


 

***

 

Acordei de supetão ouvindo minha mãe gritar que estava atrasada. Pulei da cama bagunçada, onde havia dormido no meio do caos das minhas memórias antigas. Já eram sete da manhã e eu já deveria estar na escola, pois os treinos começam hoje. Só fiz escovar os dentes e trocar de roupa na velocidade da luz, prendendo meu cabelo de qualquer jeito. Os jogos são umas das poucas coisas com as quais me importo de verdade e eu não posso deixar meus problemas afetarem isso, até porque no final se eu começar a decair isso pode ser um indicativo de que algo está errado comigo. E a última coisa que eu quero é chamar atenção negativa.

Desci as escadas com a mochila nas costa, onde joguei meu material de qualquer jeito. Em geral não sou desorganizada, mas esse fim de semana me virou de ponta a cabeça. 

– Já estou indo! – Gritei abrindo a porta, mas mamãe me impediu.

– Ei, ei. Nada disso. – Ela balançou a cabeça, vindo até mim com um copo nas mãos. Revirei os olhos, era uma vitamina. – Não vai sair de estômago vazio de novo.

– Eu tô atrasada! – Reclamei, contudo já bebendo o líquido. – O Laxus já foi?

– Saiu de manhã cedinho, só vi porque ele veio me dar um beijo antes de ir.

Ele provavelmente fez isso comigo também, mas eu devia estar desmaiada.

Quando entreguei o copo vazio à ela, vi uma cena desconcertante e triste. Meu pai saia do escritório de pijama, com um lençol e travesseiro nas mãos. Okay, tenho que admitir que isso foi um choque pra mim.

– Bom dia. – Disse ele com um sorriso, tentando disfarçar aquela situação toda.

Minha mãe suspirou discretamente. Eu apenas o cumprimentei de volta, dei um beijo na bochecha dela e saí dali o mais rápido possível. Acho que mesmo que não estivesse atrasada, eu teria feito igual.

No caminho tentei não pensar muito na situação dos meus pais, até porque eu simplesmente nem sei se tenho o direito de me meter, muito menos como ajudar. Acabei entrando no horário comum junto com os outros e, o lado bom de ter uma aparência comum que beira ao desleixo, é que ninguém percebeu meu estado deplorável. Exceto, é claro, por aquelas pessoinhas chatas que me conhecem tão bem a ponto de saber que havia algo errado só de me ver. E olha que eu sempre pareço sempre com algum problema devido a minha cara naturalmente emburrada.

A primeira foi a Juvia, que também estava chegando atrasada.

– Bom dia, Lucy. Você tá bem?

Bufei, não com raiva dela especificamente, mas sim porque eu sei que vou ouvir essa pergunta no mínimo mais umas quatro vezes.

– Juvia, eu juro que ia te dar uma resposta daquelas bem irônicas e ridículas, sabe? Mas eu tô tentando ser uma pessoa melhor, eu juro, então faz o favor de não perguntar nada, okay?

– Nossa, já entendi. – Ela levantou as mãos. – Te vejo na quadra, corre que a Aquarius odeia atraso. – Ela saiu andando mais rápido e eu sorri azeda. Gritou, ao longe. – Vão anunciar o professor auxilar novo hoje!

Como eu havia me esquecido disso? Todo ano a escola contrata um professor auxiliar de Educação Física, que ajuda a Aquarius no treinamento dos jogos. Ouvi dizer que esse ano vão contratar uma pessoa mais qualificada, já que seremos a sede oficial. Espero que não seja um tapado que me cause ranço como nos anos anteriores.

No corredor para o vestiário, avistei Aquarius realocando os alunos, ou seja, literalmente gritando para que todos movessem suas bundas moles em direção à quadra poliesportiva.

Já me aproximei preparada para a ladainha sobre meu atraso, mas a abordagem foi completamente inesperada.

– Heartfilia, você tá um lixo. Andou apanhando? – Se tem uma coisa que eu definitivamente amo na Aquarius, é a sua falta de dedos. Ela foi a única que notou a marca já quase imperceptível no meu rosto. – Preciso falar com você. Temos alguns minutos até a apresentação.

Ela abriu a porta e apontou com a cabeça pra dentro e eu fiquei me perguntando o que tinha acontecido pra ela estar tão séria. Até que me lembrei da nossa última conversa. Eu havia sido um poço de ignorância com ela, e mesmo que isso fosse comum entre nós, foi diferente dessa vez. Porém eu nada disse e comecei a me trocar.

– Eu queria te pedir desculpas por antes.

Fechei a porta do armário e a olhei, sem acreditar no que ouvia. Mas ela parecia querer falar mais, então apenas fiquei em silêncio.

– Eu realmente gosto de você, garota. Você é extremamente insuportável, mas eu gosto de você. Somos parecidas e eu tenho um carinho especial pelo seu pai, mesmo que a gente tenha pouco contato agora.

– Bom, eu não te odeio. – Respondi, me arrependendo logo em seguida.

Lucy? Você decidiu mudar, mas se não tem algo realmente legal pra dizer, fique calada!

Aquarius bufou, soltando uma curta risada, mas logo voltou a ficar séria.

– Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe. Mas, mesmo que isso não signifique eu vou parar de encher o seu saco, porque eu vou encher sim, saber disso pode fazer você entender um pouco meu lado. 

Depois de colocar a roupa de exercício, sentei ao lado dela no banco.

– Você já deve saber que eu tenho uma filha e que ela é deficiente física, não é? – Balancei a cabeça. Sim, eu já sabia, todo mundo sabe, mas a Aquarius é muito discreta e ninguém nunca viu a garota, que estuda em casa devido a sua saúde debilitada. – A questão é que ela era saudável até a metade da infância. Depois disso, ela começou a ficar doente e com problemas para se alimentar. No fim a doença é crônica e não tem cura e hoje ela não anda mais. 

Tá, e o que eu falo agora? Geralmente se diz “sinto muito”, mas eu nunca fui do tipo que segue uma convenção padrão. Mesmo que isso não signifique que eu não sinta compaixão por uma história dessas.

– Então você tá querendo dizer que você fica no meu pé porque de alguma forma eu te faço lembrar da sua filha, por isso vive se preocupando com a minha alimentação?

Pela primeira vez na minha vida eu vi Aquarius enrubescer por algo que não fosse raiva. Ela estava com vergonha.

– Colocando nessas palavras… Agora não vai se achando não, garota. Não é porque eu gosto de você que vou aliviar pro teu lado.

Ri, me levantando.

– Digo o mesmo. – Falei, finalmente admitindo que eu gosto da criatura, e ela sorriu pra mim. Infelizmente por pouquíssimo tempo:

– Tá olhando pra mim ainda porquê? Corre, anda! E ajeita esse cabelo, pelo amor de Deus. Tá ruim até pra você.

Fiz careta e saí do vestiário, mas ela não me seguiu. Provavelmente precisa de um momento para se recompor depois dessa exposição toda. É, Aquarius, somos realmente bem parecidas.

A quadra já estava cheia de gente, com aquele ruído de fofoca irritante. Todos estavam enfileirados em colunas em frente ao palanque e a palavra “gado” surgiu na minha cabeça de novo. Apertei o olho, espantando o sentimento de paranoia. Não vou ficar surtando com isso agora.

Levy acenou para mim ao longe e eu acenei de volta, porém não me juntei a ela na fila, já que teria que subir naquela porcaria e me apresentar na frente de todo mundo. Juvia já estava lá, junto com Erza e todos os outros líderes. Também havia o diretor da escola, professores tutores, a Mavis, que sorriu pra mim e a Aquarius, que havia acabado de chegar com um homem de cabelo preto desconhecido. Provavelmente o auxiliar novo. Quando cheguei do lado da minha amiga ruiva, ela me beliscou.

– Ai! Porque fez isso?

– Porquê? Você sumiu, deixou todo mundo preocupado por dois dias e ainda pergunta porque? Eu queria mesmo era te surra!

O diretor começou a falar aquele discurso motivacional sobre os jogos e como a atividade física molda a educação, blá, blá, blá.

– Foi mal, mas também não precisa surtar por causa disso, não foi nada demais! – Cochichei.

– Você está bem? O que diabos você tava fazendo, afinal de contas?

– Depois te conto.

Claro que eu estava enrolando. Eu não podia falar que tinha ido confrontar o cara me expondo ao perigo quando ela disse justamente para eu não fazer isso. Isso porque ela nem sabe que a pessoa em questão “tentou matar” nossa amiga. Apesar de agora saber que não era isso que ele realmente queria fazer.

Olhei para fila, Lissana, Cana e alguns outros rostos conhecidos estavam lá, exceto quem eu inevitavelmente comecei a procurar assim que entrei na quadra.

Aí, cadê o Dragneel? – Perguntei como quem não quer nada, tomando cuidado para falar do jeito que normalmente falo, pois quase saiu um “Natsu” e isso seria suficiente pra Erza se ligar que tem alguma coisa rolando.

– Eu vi ele mais cedo, mas ele sumiu. Sabia que ele me ligou perguntando de você? 

Olhei para ela espantada, engolindo em seco.

– Porquê o Natsu sabia do seu sumiço, Lucy? Isso era algo que eu ia perguntar com mais calma depois, mas já que você tocou no assunto, só me faz ter certeza que tem algo rolando que eu não sei.

Droga, droga, droga! O que eu digo? Do nada, se metendo na conversa, a Cana me salva.

– Ele passou mal e foi embora, acho que ele ficou meio nervoso em aparecer com um corte de cabelo novo. – Disse ela se esticando, estava a duas pessoas de nós, o suficiente para ouvir tudo. A ênfase exagerada que ela deu no final da frase só mostrou que ela sabe de alguma coisa que a Erza não sabe, pois a ruiva olhou para mim com olhos estreitos.

Graças a Loki, o deus da enrolação, Aquarius começou a apresentar os líderes, fazendo com que cada um desse um passo a frente quando seu nome fosse chamado, seguido da apresentação das categorias que iríamos liderar. Cana, Lissana e Natsu foram os mais aplaudidos, pois eram os mais populares da escola entre nós. No lugar de Natsu, Sting que recebeu as palmas e eu fiz uma nota mental para observá-lo mais atentamente a partir de hoje.

Começando por agora, ele parecia ansioso, pois mexia em suas pulseiras, e essa era uma mania que eu lembrava que ele tinha desde a época em que namoramos. As pessoas podem ser falsas, mas não dá pra fingir sobre tudo e o tempo todo. Então de certa forma, eu conhecia Sting. Quem também parecia inquieta era Lissana, que não estava com sua carinha amigavelmente angelical hoje. Estava séria, mesmo que tentasse demonstrar não estar.

Finalmente Aquarius deu lugar ao cara misterioso no microfone e quando ele começou a falar, notei que ele era até que bem bonito e estranhamente familiar. Usava roupas de corrida e cabelo preso num rabo de cavalo, solto na frente por uma franja um pouco emo demais para alguém da idade dele.

– Bom dia, alunos. Me chamo Rogue Cheney e serei o professor auxiliar esse ano. Assim como o diretor Makarov, acredito que a atividade física precursora do ensino, muitas vezes sendo ela uma forma de entrada para a educação. Eu espero que vocês possam encarar a jornada desse ano não como uma obrigação, mas sim como uma forma de nos conectarmos com nossos colegas… Nem que seja na porrada ou ganhando de lavada nos esportes.

Até então ele estava parecendo o típico professor chato e apaixonado que faz discursos bonitos, mas ele parece entender como a mente adolescente funciona, pois todos desataram a rir.

– E lembrem-se: o importante é competir. Porém mais importante que isso é deixar nossa marca nos adversários. Porque se você perde, mas sobrevive, sempre tem uma chance de revanche.

Bem… isso agora foi meio estranho, duas analogias sobre violência? Talvez só eu estava encucada, pois todo mundo aplaudiu o cara com fervor. Tenho que admitir que se o intuito dele era conquistar geral, ele se saiu bem.

Ou nem tanto. Mal ele terminou de falar, Lissana passou por nós em disparada, descendo as escadas correndo. O que será que houve? O pessoal começou a se dissipar e eu procurei Sting com o olhar e o encontrei balançando a cabeça e rindo. Será que eles discutiram? Isso me fez lembrar das marcas de agressão na branquela azeda. 

Que merda, eu tô mesmo me preocupando com ela?

Desci do palanque e Levy veio ao meu encontro.

– Lucy! Você sumiu, tentei falar com você o fim de semana inteiro. – Sorri sem graça. Claro que eu não ia falar que fui confrontar o ex dela e quase matei nós dois no processo. – Você tá bem?

– Tô sim. E você?

– Eu? Tô assustada.

Gelei.

– O quê? Porquê? – Será que estão tentando fazer alguma coisa com ela?

– São as coincidências, Lu. Eu nunca fui filosófica tipo o mestre Shifu com essa parada de “não existem acidentes”. Mas desde que descobrimos você sabe o quê, tudo tá tão estranho que eu tô até questionando a marca do meu shampoo.

– Lê, onde tá querendo chegar?

– Eu já conhecia o professor novo.

Ela olhou para ele e eu fiz o mesmo, encontrando a criatura rodeada de gente, especialmente as garotas que se atiravam sem a mínima falta de noção.

– Conhecia? De onde?

– Ele me parou um dia desses quando eu saí pra correr, me pedindo uma informação. Ele mora a três quadras de mim.

Isso não me parece muito suspeito, mas eu entendo a Levy. Tô no mesmo barco.

– E por quê você acha que não é por acaso?

– Não sei, ele me parece familiar.

Se eu abrisse a boca pra falar que eu tinha a mesma sensação, desencadearia um surto ali mesmo e eu não estou preparada pra isso agora.

– Ele tem um rosto meio comum. Deve ser coisa da sua cabeça, mas… Vamos ficar de olho.

– Eu vou lá falar com ele. – Disse do nada e saiu logo em seguida.

Eu devia catar minhas ovelhinhas para dar algumas instruções agora, como a maioria dos líderes estava fazendo. Mas Lissana martelava na minha cabeça, então decidi ir atrás da dita cuja.

A encontrei chorando no meio do corredor vazio. Ela estava mexendo no armário e fechou a porta com força quando me aproximei.

– Ah, eu mereço. O que você quer, Fiona?

Fiona era uma das formas dela me xingar de ogra, o que na verdade, pra mim, não era um insulto. A Fiona é uma das princesas mais fodas, justamente por que ela não é uma princesa comum. Mas claro que Lissana não saberia o sentido disso.

– Queria saber se você tá passando por algum problema?

Ela ficou pasma.

– Tá de brincadeira comigo, né? Ou isso é algum tipo de joguinho com alguma piada envolvida?

Como no sentido de guarda alta, Lissana é bem parecida comigo, sei que só palavras não adiantam. Peguei o pulso dela a força, encontrando a marca que tinha visto. O problema é que tinha mais algumas novas, sutis demais para serem notadas por pessoas desatentas.

– Ei, me larga, sua vaca! – Ela puxou o braço de vez.

– Foi o Sting que fez isso com você? – Ela ficou calada. – Eu não vou com a sua cara, nem você com a minha, mas eu simplesmente não posso ver uma mulher apanhar e ficar na minha, mesmo sendo você! E eu já lidei com Sting antes e o resultado não foi bonito, então esse é mais um motivo para eu me meter.

Lissana ficou me olhando sem expressão alguma por alguns minutos. Tive a inocência de achar que ela ia chorar, mas na verdade ela começou a rir. Tipo, muito.

Eu fiquei embasbacada, com cara de tacho, enquanto ela ria de segurar a barriga. Quando ela finalmente cansou, eu senti um frio na barriga:

– Você sempre acha que tudo é sobre você, não é Lucy?

Eu nunca tinha visto Lissana falar daquela maneira. A frase não era surpreendentemente incomum, se não fosse pela forma como foi dita. Até seu tom de voz mudou e a expressão parecia de uma pessoa completamente diferente.

As palavras faltaram para mim.

– Você nem mesmo faz ideia do excelente tratamento especial que recebe, como pode ser tão burra? Sempre fazendo uma coisa inconsequente aqui e ali e nunca, em hipótese alguma, uma punição. Uma punição de verdade. – Ela levantou o braço, fazendo menção ao machucado. Ela se aproximou de mim, quase colando nossos narizes. Seu rosto estava transformado. – Eu estou cansada de fingir ser algo que não sou quando na verdade eu queria destruir você com minhas próprias mãos, e acredite: eu tenho mais capacidade de fazer isso do que você imagina. Afinal, somos iguais.

Eu não estava com medo dela. Existem poucas coisas na vida que eu sinto medo, mas nunca de alguém que me confronta cara a cara com coragem. 

– Você não deve estar entendendo nada, não é?

Apenas continuei a olhando e isso foi suficiente para ela perceber.

Não. – Recuou, um pouco chocada. – Você sabe. Você já sabe. – Voltou a rir de novo, dessa vez mais contidamente. – Meu Deus, não achei que você descobriria tão cedo. Alguém te contou, não é? Quem foi?

– Eu acho que você sabe que eu não vou dizer.

– Não precisa. Eu tenho uma vaga ideia de quem tenha sido. Mas sabe, eu fico feliz. O teatro não iria durar muito tempo, porque eu estava a ponto de ligar o foda-se para a conservação do seu estado mental, mesmo que haja consequências para mim.

Ia começar a falar, mas fui interrompida.

– Não se preocupe, não vou contar a ninguém. Estragaria a minha liberdade. E eu também sei que você não vai falar nada. Afinal de contas, você nem sabe com quem falar!

Ela estava descaradamente zombando de mim e da minha ignorância. Eu tinha tantas perguntas para fazer. O que nós somos, quem são eles… E a Mira, sabe disso? Significa que o Laxus também sabe? Mas eu não posso falar nada. Lissana acabou de mostrar as garras e eu tenho que ir aos poucos. Ela nunca vai me falar nada de boa vontade, por que mesmo que suas atitudes fossem um teatro, como ela mesma disse, uma coisa continua sendo real: Ela me odeia.

Me virei quando ela saiu andando e falei:

– Que bom que isso aconteceu, Lissana. Agora podemos nos conhecer de verdade.

– Mas eu já conheço você, Lucy. – Me falou como se tivesse toda a razão do mundo. – Seja bem vinda ao inferno, Lucy Heartfilia. Na verdade você já nasceu nele, só não sabia disso. 

Quando ela saiu do meu campo de visão, eu me encostei nos armários e coloquei as mãos no rosto. Não sei quanto tempo fiquei ali no chão, tentando digerir aquilo tudo. Quem visse de fora acharia que eu estava chorando, mas eu só estava tentando colocar os fatos em ordem. Mas minha cabeça era um turbilhão desordenado. Lissana havia fingindo sobre sua personalidade o tempo todo desde que nos conhecemos? Porquê? Por tantos anos?

Levantei depois de algum tempo, indo até o bebedouro para molhar a garganta seca dos sapos que acabei de engolir. De repente ouvi uma melodia vindo da sala de música e reconheci imediatamente a voz. Primeiro espiei pelo vidro da porta, observando Sting tocar no violão a mesma música que ele cantou quando se declarou para mim. Um dia antes de me humilhar.

Lembro que ele havia me dado um pendrive com aquela música, a original, mas na época não deu tempo de ouvir. Na noite passada eu achei o pendrive e passei a música pro celular e escutei tantas vezes que até decorei a letra toda. Ele tinha dito para mim que eu deveria escutar aquela música toda vez que eu achasse que ele tinha me magoado, porque ela me daria todas as respostas. Escutei e escutei, e há tantos significados para tirar, mas eu não tenho um contexto para inserir e nem sei se era mesmo verdade o que ele disse, no meio de tantas mentiras.

Quando abri a porta ele parou, me encarando surpreso. Mas durou pouco e logo ele voltou a exibir aquela expressão esnobe.

– Blondie! – Se levantou, deixando o violão no banco. – Estava escutando escondida? Essa música também me trás ótimas lembranças.

–  “I said it was love and I did it for life, did it for you”. Eu disse que era amor e eu fiz isso pela vida, fiz isso por você. – Falei uma parte da letra, fazendo com que ele fizesse uma expressão estranha de descontentamento. –  O que você quis dizer com isso?

Ele debochou, parece que ele faz isso sempre que tenta esconder seus verdadeiros sentimentos. Não que eu ache que sejam bons.

– Eu? Não fui eu que escrevi a música, se você não sabe, gata.

– Mas você cantou ela pra mim.

Dessa vez ele riu com diversão.

– E você ainda acha que alguma coisa ali foi real, mesmo depois de tudo? – Estreitei os olhos. Sempre a mesma ladainha. Mas eu não simplesmente cair sem tirar algumas conclusões que não sejam precipitadas. –  Sinceramente, Blondie, você…

Cheguei até ele tão rápido que não houve tempo para reação. Segurei pelo colarinho, o jogando de volta na cadeira. Eu estou desesperada para achar reações sinceras em pessoas que sempre pareceram fingir perto de mim de propósito. E nada melhor que uma ação inesperada para uma reação genuína.

Subi em seu colo e ele se sobressaltou, mas apenas continuei olhando fixamente nos olhos, à procura de alguma coisa. Qualquer coisa.

–  Quem é você de verdade, Sting Eucliffe?

Ele pareceu voltar a si, recuperando a maneira de sempre de ser.

– Bateu a saudade, foi? Eu me lembro que a gente não terminou algumas coisas.

– Eu achei aquela foto da gente na boate. –  Ignorei e comecei a falar do nosso passado. – Eu tenho que admitir que formávamos um casal visualmente bonito. Eu ainda tenho aquela jaqueta de couro sua, a gente se saiu muito bem naquela foto. Lembro que você me cobriu com ela por ciúmes, pois segundo você, eu estava chamando muita atenção. 

Com uma  careta de confusão, Sting estava paralisado. Continuei:

– Lembra daquela vez que fomos ao cinema? Você comprou só um balde de pipoca, porque disse que achava romântico dividir um. Depois disso a gente passeou pela rua, você me deixou em casa e me abraçou forte, dizendo o quanto tinha sorte de me ter com você, mesmo que você não merecesse.

Só então ele reparou na pulseira, que até eu tinha esquecido que estava no meu braço, de tão apressada que saí de casa. Olhei também para o meu braço, recordando de quando ele me deu. 

Foi o primeiro presente que eu recebi de você, no meu aniversário de catorze anos. Você, todo orgulhoso, disse que tinha feito com suas próprias mãos, depois deixou escapar que fez questão de deixar isso claro porque garotas gostam de caras sensíveis. Sempre jogando uma cantada atrás da outra, até que funcionou de alguma forma.

–  Porque você tá fazendo isso comigo? – Perguntou, parecendo se conter de alguma forma.

Eu preciso entender o que é real em você, Sting, pensei, mas não falei nada. Perguntar não adiantaria. Lissana só me disse tudo aquilo por pura sorte e eu não posso arriscar ser manipulada por mais ninguém. E, num ato de loucura, simulei um beijo. Eu estava tremendo, mas era de receio e nojo. Se ele me beijasse de fato, não sei o que eu faria. Eu poderia, literalmente, matá-lo. Recordei de quando beijava Sting pensando em Natsu e repeti o ato, tudo em prol de um fingimento convincente. Fui me aproximando cada vez mais daqueles lábios que um dia já beijei e que ele parecia disposto a se deixar ser beijado. Sem avançar, apenas me encarando de volta com algum tipo de pavor.

Aquilo foi o suficiente para mim, mas quando estava prestes a cessar aquele teatro todo (obrigada pela ideia, Lissana), a porta atrás de mim se abriu com tudo.

Me levantei assustada, encontrando um Natsu surpreso e logo em seguida, furioso.

– Natsu. –  Foi só o que eu soube dizer. Como eu explicaria aquela situação? Mesmo que não tivéssemos um relacionamento de fato, tínhamos um tipo de acordo de fidelidade.

Mas eu não tive tempo de falar nada, muito menos fazer alguma coisa quando Natsu avançou com tudo em cima do próprio irmão. Só que dessa vez Sting revidou e do nada os dois estavam se matando na minha frente e destruindo os equipamentos musicais.

Puta que pariu, o que eu faço?!








 


Notas Finais


MAS COMO ASSIM? Lissana mostrando quem é de verdade, Sting relutante, Natsu... com ciúmes, talvez? Tô tão ansiosa pelos próximos, as coisas vão passar a se esclarecer cada vez mais!
Obrigada mais uma vez por tudo e a gente se vê, amo vocês!
Beijos da Annie <3


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