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História Justice Circle - Everything was so sweet, until you tried to kill me


Escrita por: Mrs_Kookie_Kink

Notas do Autor


Música: Teddy Bear
Artista: Melanie Martinez

Capítulo 2 - Everything was so sweet, until you tried to kill me


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Cheguei na cena do crime sentindo os pelos de minha nuca arrepiados, com a sensação de que não seria um caso comum.

O local estava cercado de viaturas policiais que iluminavam tudo em volta com luzes estrobo bicolores. Ultrapassei as faixas amarelas de retenção, me aproximando do foco da atenção de toda a unidade de patrulheiros de Hunstsville (e alguns vizinhos curiosos). 

Era uma casa antiga e rústica feita de madeira escura. Se fosse arriscar diria que era a casa de um amish, pois não havia sinal de eletricidade, mas era bem improvável que tivéssemos amishes nessa área do Texas. 

A casa estava em total breu, exceto pelo brilho tênue das velas derretidas nas paredes que pareciam deixar o lugar mais sufocante ainda. O feixe de luz de minha lanterna cortava a escuridão como uma lâmina. Mas mesmo naquela escuridão sólida eu conseguia ver que o lugar estava um caos. Móveis caídos para todos os lados, vidros estilhaçados no chão, reboco cobrindo toda superfície dos cômodos, como se um terremoto houvesse atingido a casa.

O odor de poeira, mofo e carne pútrida no ar juntamente a difícil visibilidade retardou meus passos que seguiam até uma aparente cozinha, onde eu podia ouvir as vozes do pessoal da minha equipe.

- Qual o caso?

Perguntei assim que alcancei Hermione que tirava fotos do que restou de um corpo no centro do cômodo. Dean Thomas colocava marcadores numerados no chão, catalogando as pistas. Como chefe da (*)Divisão de Guarda do Texas estava acostumado a encontrar corpos em decomposição em algumas cenas de crime, mas ainda assim minhas narinas ardiam com o cheiro intenso.

- Mulher loira, irreconhecível, causa da morte... em análise. Luna diz que a morte pode ter ocorrido entre dois ou três dias atrás por conta da decomposição. Sinais de facadas, perfurações profundas, desmembramento sem causa definida.

Hermione respondeu sem tirar seu foco do cadáver. Estranhei o que ela disse, pois era bastante inconclusivo, e observei o que tínhamos em mãos.

A vítima tinha cabelos loiros e longos, jazia de modo estranho no tapete bem trabalhado abaixo dela. O entulho, estranhamente, estava apenas em volta do cadáver. Nenhuma poeirinha sequer estava sobre o corpo.

O rosto estava completamente desfigurado, a carne enegrecida pela putrefação e infestada de larvas robustas, fartas pelo "alimento". Os golpes destroçaram completamente o rosto e tórax da vítima o que indica que o ataque a ela foi massivamente violento. A lâmina usada no ataque devia ser de serra, pois as perfurações tinham marcas irregulares que deixaram a pele granulada em volta das feridas. A mulher estava sem a língua e sem os olhos, notei, além de que seus braços e pernas estavam separados de seu corpo. O estranho, no entanto, era que o desmembramento não parecia ter sido feito com alguma lâmina, mas sim que os membros haviam sido... arrancados do corpo.

- Pela casa achamos retratos de uma mulher loira, provavelmente a vítima, e um garoto, também loiro. Talvez filho da mulher.

Hermione continuou, tirando as últimas fotos.

- Sabem do garoto?

Perguntei caminhando cautelosamente pelo chão ensanguentado. Era difícil detectar sinais de luta pelo cômodo, pois o lugar inteiro estava em destroços. Haviam louças quebradas espalhadas no chão e balcão que estavam destruídos, uma mesa redonda de madeira, antes coberta por uma toalha bordada, estava tombada de lado e alguns enfeites na parede estavam tortos e pendurados.

- Nem sinal dele. Seamus conversou com alguns moradores daqui de Huntsville a procura dele. Aparentemente o garoto é um tabu. O descreveram como acanhado, tímido e estranho. Quando perguntado o que se referiam com "estranho" ninguém dizia mais nada e saíam de perto. Pelo menos é o que o Seamus disse. 

Franzi o cenho.

- O que mais sabem sobre o menino? 

- Achamos os documentos dele na casa, ele se chama Draco Lucius Black. Seamus ligou há pouco, disse que o garoto estudava na catedral Saint Lucas, à doze quilômetros daqui. Passava a semana dentro da igreja e voltava para casa somente aos finais de semana.

- Dormia na igreja? - Inquiri.

- Isso aí. - Hermione confirmou, finalmente tirando os olhos da cena e olhando para mim. - Tinha aulas com o padre durante o dia e trabalho comunitário durante a tarde. 

- E de noite voltava para uma catedral cheia de freiras e o tal padre.

Findei encarando-a com seriedade. Era óbvio onde nós começaríamos as investigações.

- Seamus já pediu um mandado para falarmos com o tal padre? - Perguntei.

- Sim, um pouco antes de você chegar. Quando tentou falar com esse padre Seamus disse que foi barrado por duas freiras muito irritadinhas.

- Talvez estejam escondendo algo.

Concluí superficialmente. Hermione assentiu com a cabeça e focou sua  câmera para outro canto da cozinha. Me dirigi para o segundo andar da casa que, se possível, estava mais escura ainda. Andei silenciosamente, guiando-me apenas com a luz de minha lanterna.

O andar de cima da casa apresentava o mesmo nível de destruição do térreo.

Detectei um movimento no ultimo quarto do corredor estreito. semicerrei os olhos e instintivamente levei minha mão até o coldre no meu quadril. Cautelosamente me aproximei, puxei meu 38 e com firmeza o segurei nas mãos. Me impulsionei e abri a porta com o ombro, apontando minha arma para a cara aterrorizada...

- AAAAH AAAAAAAHH!

...Do Ron. Sorri de lado e devolvi minha arma ao coldre, revirando os olhos.

- Droga, Harry, seu bosta, quer me matar do coração?!!

Meu colega de trabalho aracnofóbico reclamou enquanto abaixava as mãos e socava meu ombro.

O ignorei enquanto ele retomava o fôlego do susto e vagueei o feixe de luz de minha lanterna pelo quarto. Na parede havia uma cortina pesada que cobria uma janela e na frente dela uma cama de casal era coberta por uma colcha trabalhada em cor creme e sobre a mesma havia um molho de chaves velhas, um álbum de fotos, algumas pílulas e documentos. Ao lado da cama, um guarda-roupa antigo de madeira talhada tinha suas portas e gavetas abertas com roupas remexidas desorganizadamente. Ron deixava sempre um rastro de bagunça por onde passava. 

Sobre todos os móveis havia um lençol de poeira de reboco, o que aumentava a suspeita de que um terremoto, de alguma forma, atingiu esse lugar. 

 - O que achou? 

Perguntei encarando meu colega ruivo. Ron respirou fundo, se recompondo.

- Só o que está na cama. As pílulas estavam espalhadas pelo chão.

- Sabe o que são?

- Estavam em uma embalagem de Valium, mas vamos ter que encaminhar para o laboratório. Vai que tem algo a mais na receita.

Ron comentou enquanto voltava a fuçar dentro do guarda-roupas.

Apontei minha lanterna para baixo e notei vestígios de uma substancia marrom e pastosa no carpete escuro que cobria o chão, talvez lama. Recolhi uma amostra e continuei a observar o chão. Estranhei encontrar uma falha no carpete, uma alteração na cor do mesmo para um tom bem diferente no limite de um armário quebrado.

E foi então que aconteceu.

Assim que olhei para o armário repreendi um grito e senti uma forte pressão dentro de minha cabeça. Uma dor pulsante me fez fechar os olhos com força e perder o equilíbrio por um momento. Cambaleei para trás e prendi a respiração, jogando-me para frente, apoiando-me no armário.

Céus, que porra era aquela? Por um momento, no tempo de um piscar de olhos, vi diante de mim um garoto caído, ofegante, corado e de expressão delirante, quase inconsciente, parecendo sentir dor.

- Harry?

Ron me chamou assim que tocou meu ombro. Percebi que eu ofegava. Ignorei Ron e rapidamente me abaixei, puxando com as mãos as arestas da falha no carpete com exaspero. Abaixo da forração havia um fino trilho de rondana, onde o armário sustentava-se. Não sabia como, mas sabia que atrás desse armário havia alguém. O garoto loiro das fotografias. Nossa, o que eu estava falando?

Segurei as laterais do armário e o movi para o lado, testando a rondana. Com facilidade o tirei do lugar, revelando uma porta com um crucifixo na altura de um olho mágico. Um quarto secreto?

- Uau, Harry... - Ron comentou, atrás de mim, em admiração - Como sabia que tinha alguma coisa atrás desse armário?

"Não sabia", eu quis dizer. "Alguém me mostrou", pensei. Mas era loucura.

- Tem alguém aqui dentro.

Murmurei, por fim. Ron rapidamente pegou o molho de chaves que estava sobre a cama e testou as chaves antes de achar a que abria a porta. Assim que a porta se abriu um calor sufocante foi liberado do quarto ali escondido. O cômodo era minúsculo, caberia uma cama de solteiro e um criado mudo talvez. Em uma parede lateral havia um castiçal enferrujado, com a vela já há muito derretida. E sobre um colchão gasto jazia de lado o garoto, inerte.

Depois de um segundo de choque, corri até o menino e assisti por mais um momento ele suar e ofegar dolorosamente. O peguei no colo e o tirei rapidamente daquele forno claustrofóbico, depositando-o na cama do quarto cuidadosamente. Era assustador o quanto o corpo dele era magro e o quanto estava quente. Sua respiração arfante estava trêmula, seu rosto num intenso rubor, suando preocupantemente. Abaixo de seus olhos viam-se olheiras escuras, seu corpo estava fervendo de febre e uma trilha de sangue seco desenhava-se abaixo de sua narina esquerda.

- Ron, chame a ambulância!

Ordenei desabotoando a camisa larga do torso do menino.

- Já estou chamando

- Hey, consegue me ouvir?

Chamei pelo garoto, dando tapas leves em suas faces coradas, tentando obter algum tipo de resposta que não veio. Os olhos do menino, desnorteados, estavam vidrados e sem foco. Segurei seu maxilar sem força e puxei para que seu rosto virasse em minha direção.

- Você consegue me entender? 

Perguntei lentamente. O garoto se remexeu e fez uma careta de dor.

- P-por... Por favor... - Ele sussurrou roucamente. - Me deixe... ajuda-la... mãe... Por favor...

Estava delirante. Seus lábios tremiam e seus olhos lacrimejavam, focando em algo além mim. 

- Não a machuquem... Por favor...

Ele continuou a implorar, soluçando e tentando erguer os braços debilmente. Impotente, assisti o garoto murmurar mais súplicas em delírio e, numa tentativa ínfima de conforto, apoiei minha mão em seu ombro. Seus olhos vítreos olharam diretamente nos meus e me vi engolindo em seco pela intensidade de seu olhar que pareceu brilhar por um momento.

- Por favor. Nos ajude.

Ele disse, sobriamente, e assisti suas pálpebras fecharem-se, cansadas e seu semblante suavizar ao que ele caía na inconsciência, sua cabeça pendendo para trás, expondo seu pescoço longo. Me vi prendendo a respiração ao que uma vaga lembrança da voz do garoto soprou em minha mente. Eu conhecia a voz dele.

Fui interrompido da missão de lembrar de onde eu reconhecia aquela voz familiar quando braços firmes me afastaram do garoto. Olhei para Ron, atrás de mim, que me olhava com uma expressão curiosa e olhei para a cama, onde paramédicos socorriam o garoto inconsciente. Hermione, ao nosso lado, me olhou com uma sobrancelha arqueada, certamente questionando meu aparente estado de choque.

- Você está bem? – Ela perguntou por fim.

Acenei com a cabeça, voltei minha expressão a sobriedade e me afastei de Ron que ainda segurava meu braço.

- Quero que comecem as investigações já. Façam uma lista dos suspeitos e vão atrás deles. Consigam os mandatos necessários nem que tenham que contatar os juízes vocês mesmos e cataloguem cada pista existente nessa casa dentro de 24 horas. Quero todos nesse caso, chamem Shecklebolt e Moody e os mandem acionar o (*) esquadrão especial.

Falei com toda autoridade que possuía e ignorei deliberadamente o olhar surpreso de Hermione. Saí do quarto assistindo os paramédicos rapidamente levarem o garoto para a ambulância. Passei por Seamus e o puxei pela manga longa de seu casaco de guarda.

- Acompanhe a ambulância e peça um mandato de acompanhamento do monitoramento daquela criança. Se ele tossir, quero saber quantas vezes foram e se ele se mexer, quero saber o quanto, está ouvindo? 

Seamus me olhou surpreso e rapidamente acenou com a cabeça, saindo atrás da ambulância que ligara sua sirene.

Minha cabeça ainda latejava. Respirei fundo e voltei para a casa. Aquela escuridão estava me dando nos nervos.

- Dean, arranje lanternas de verdade ou qualquer meio de luz! Quero essa casa iluminada, se perdermos qualquer pista farei cada um aqui passar os próximos meses catalogando os arquivos do (*) Ministério da Justiça inteiro!

Rugi irritado, vendo todos se moverem com maior agilidade. Como não podia deixar de ser, senti Hermione me puxar pelo braço até um canto afastado da casa.

- Harry, o que está havendo?

Odiava aquele tom maternal dela que era usado quando ela queria repreender alguém. Não tínhamos tempo para isso. As primeiras 24 horas de uma investigação eram cruciais.

- Tem algo de estranho nesse caso e quero saber o que é, Hermione. Vamos, não temos tempo para—

- Harry, não pode ser só isso, você está agindo de forma estranh—

- Não é hora para discutir a forma que estou agindo, Hermione – A interrompi, bruscamente – Temos o caso de uma mulher que foi brutalmente assassinada, um garoto foi preso num forno escuro e minúsculo por pelo menos dois dias e uma casa que pareceu ter recebido a visita de uma porra de um furacão. Quer fala mansa e calmaria, vá para o setor de aconselhamento policial.

Disparei e me afastei dela, sem cabeça para continuar aquela conversa.

Sei que minha reação parecia ilógica e infundada, mas não me importei no momento.  Minha cabeça doía insuportavelmente e aquele caso não parecia um simples caso de assassinato. Tinha algo de estranho acontecendo.

E eu vou descobrir o que é.

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Notas Finais


Por gentileza, entendo que muito do que foi escrito pode estar incorreto em relação a leis e procedimentos de investigação, mas esse não é o foco da fic, ok? (mas adoro toques referente a jurisdições e etc. Só comentando...)

(*) A força policial dos Texas Rangers (Texas Ranger Division ou simplesmente Texas Rangers), é uma agência criada legalmente com jurisdição no Estado do Texas nos Estados Unidos da América. Até hoje, os Texas Rangers investigam crimes diversos, desde assassinatos até corrupção policial, atuam como tropas de choque e como investigadores, protegem os governadores do Texas, perseguem fugitivos e funcionam como uma força paramilitar.

(*) esquadrão especial é um setor da Força Policial para casos específicos de assassinato e são acionados em situações de morte extremamente violenta e/ou casos onde eventos incomuns estão envolvidos em casos de assassinatos. (Esquadrão especial é o nome fantasia que eu dei, pois não sei o nome real dessa força tarefa)

(*) Ministério da Justiça é a unidade jurídica policial que vou usar nessa fanfic (portanto é algo fictício). Todos os casos, desde assassinatos até roubos de lojas, precisam de relatórios, documentos e protocolos e todos esses documentos vão parar nesse Ministério. Trabalhar lá não deve ser a coisa mais divertida do mundo, vocês podem imaginar.

Comentários são bem vindos.
Agradeço a atenção e os leitores que gentilmente comentaram o último capítulo


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