História Kailen e a lenda do grande dragão. - Capítulo 1 - Além da floresta

Capítulo um - Além da floresta.

“E para se abrigar, o grande dragão Negro na velha floresta construiu seu lar.”

A lenda do livro da vida conta que a filha do nono mandamento e concebida  sob a lua crescente, salvará o nosso povo de toda a destruição. O nome da garota seria Kailen, que segundo a nossa língua possui duas variações “Káilen” seria “esperança”, enquanto “Kaílen” seria “vida”.

Essa garota teria também a benção dos dragões marinhos, e conseguiria superar até mesmo a guerreira Susan Kailan, que foi responsável por derrotar um dos reis da floresta Shuu.

Kailen era o meu nome, e derrotar o grande dragão negro era meu objetivo de vida.

Meu povo me estimava muito, mesmo que eu não fosse digna de carregar todas as suas esperanças.

Aos doze anos eu abandonei minha terra, minha mãe estava deitada numa cama, e era apenas mais uma vítima da doença da lua azul que se espalhava pelo meu lar.

Muitas pessoas morreram.

A população que antes era de 240 habitantes, havia regredido para apenas 103, e aquele número provavelmente iria cair ainda mais.

Eu segui pela floresta Shuu, indo em direção a vila do vulcão Kin, onde talvez ainda existisse vestígios da erva de leão, única capaz de curar aquela doença mortal.

A floresta era muito densa. Árvores com mais de dez metros de altura eram comuns por ali. Eu podia ver pequenos dragões cruzando meu caminho. Eles tinham as mais variadas cores, e a maioria era terrestre, sem asas algumas, provavelmente filhos do oitavo mandamento ou do quarto pecado.

Aquela floresta estava me deixando bem perdida, eu não conseguia me direcionar para sua saída, era impossível. Aquela altura, qualquer ser humano normal já teria enlouquecido!

Eu ia andando já meio sonolenta, sem prestar muita atenção, quando escorreguei na lama e desci um pequeno morro.

-- Ai. - Eu disse esfregando minha cabeça.

Eu analisei o lugar a minha volta, estava tudo escuro. Era um espécie de pântano.

Quando eu me levantei e comecei a andar sentia um ossos estralando sobre meus pés. eu já sabia onde eu havia vindo parar: O vale dos ossos.

Diz a lenda que depois de escapar de sua prisão, o dragão Negro começou a matar crianças, dragões, fadas e gigantes, tudo para enfim montar um imensa fortaleza feita de ossos. O pântano onde ele se instalava tinha gases tóxicos a seres humanos comuns, que podiam deixar eles alucinados ou até matar. Ainda bem que eu não era comum.

Eu avancei lentamente pelo pântano, procurando por alguma saída. Aqueles gases deixavam minha visão limitada, fora que o cheiro de podridão era horrível.

Eu sentia algo sobre as minhas costas, e me deparei com um pequeno dragão prestes a me atacar. Ele tinha olhos que brilhavam em roxo e da sua boca saía uma saliva de mesma cor. Com um soco eu o derrubei do meu ombro e ele pareceu acordar, correndo então para bem longe de mim.

Eu suspirei e continuei seguindo meu trajeto, dessa vez já havia desembainhado a adaga que minha mãe havia dado de presente e a segurava na frente do meu corpo, cortando alguns galhos que dificultavam minha passagem.

Eu escuto um bater de asa acima de minha cabeça e me deparo com uma enorme figura negra: o mensageiro da destruição, a morte voava acima de minha cabeça.

Seus olhos brilhavam num púrpura intenso, seu corpo era formado por ossos, e a arcada dentária era enorme.

Aquela figura era capaz de deixar um homem adulto preso em pesadelos durante toda a sua vida, por que comigo seria diferente?

Eu só senti uma forte determinação e corri na direção que o mesmo pretendia pousar. Eu devo assumir, eu não sei o que deu em mim. Eu fui um idiota, e talvez aquele tenha sido o maior erro da minha vida, mas eu não tive muito tempo de raciocinar. aqueles gases já estavam me deixando tonta, e eu não duraria muito mais tempo ali.

Quando me viu ele soltou um forte rugido que me fez recuar alguns passos.

Eu voltei a correr na sua direção e o tentei atacar na pata dianteira, mas ele desviou com facilidade.

Tentei acertá-lo várias vezes, mas era impossível.

O dragão ria,como se aquilo fosse apenas um jogo para ele.

“Você ainda é fraca, jamais irá me derrotar neste estado”

Ele disse acertando uma patada nas minhas costas e me fazendo cair na lama.

“Qual a graça em brincar com uma comida sem valor?”

Ele disse pisando sobre mim, deixando um espaço entre sua pata e o solo para que eu pudesse respirar. Com uma garra ele contornava minha garganta.

“Não vale a penas matar um bezerro, temos que esperar que este cresça e se torne um boi”

Ele disse logo em seguida fazendo um corte superficial ma minha garganta e saindo voando.

Eu rapidamente peguei algumas bandagens e enrolei no meu pescoço para que não sangrasse muito.

-- Aquele maldito me comparou a uma vaca?

Eu me levantei ainda meio tonta e continuei vagando pelo pântano, até enfim chegar a margem de um rio.