Capítulo 10 - As Apresentações
Encaro mais uma vez os cartões que Camila havia preparado para eu ler durante a minha apresentação em Yale e suspiro alto. Nem quando eu fui pela primeira vez em um tribunal me senti tão nervosa como naquele momento, queria que aquela apresentação fosse perfeita para Cabello não ter sobre o que reclamar depois.
Ajeitei a blusa branca de cetim que havia optado por usar e uma saia extremamente justa preta, os saltos combinavam perfeitamente com a roupa e o cabelo preso em um coque dava um ar refinado ao visual. Todas as pulseiras e anéis complementavam o visual, a única coisa que optei por não usar e deixar em Miami havia sido a aliança.
Camila ainda nem havia notado.
Quando sai para tomar café da manhã, encontrei diversos rostos conhecidos no restaurante do hotel, ocupei a mesa ao lado de Liam, já que ‘Camila’ não estava lá ainda. Ele também faria uma apresentação, mas parecia estar muito calmo para tal coisa, provavelmente porque era sobre algo que ele tinha pleno conhecimento, diferente de mim.
Na metade do café da manhã Camila apareceu com minhas anotações, parecendo estar tão nervosa quanto eu. Liam falando sem parar sobre qualquer coisa que não nos interessava tanto foi uma boa distração momentânea até dar o horário de pegarmos o táxi para Yale.
- Adorei a escolha da roupa. - Murmuro para ela.
‘Camila’ trajava um vestido preto justo que ia até meus joelhos, o corte do decote era quadrado e a escolha dos saltos delicados haviam dado um ar refinado a tudo, os cabelos soltos e secados davam o ar despojado que eu precisava.
- Eu também gostei da sua escolha. - Sorrio, secando as mãos suadas na saia.
- Espero acertar na apresentação e espero que ninguém faça uma pergunta difícil.
- Sim, estou surtando por isso. - Rimos baixo, Liam estava no telefone ao nosso lado.
- Acha que vamos conseguir se passar uma pela outra?
- Acho. - A encaro - Nos conhecemos bem demais para não conseguirmos fazer. Quando eu subir no palco irei contar minha visão da sua constante batalha para ser uma excelente profissional, Camz. - Comprimo os lábios - Eles estão na universidade para aprender tudo o que sabem da profissão, acho que nós estamos ali para falar sobre como foi até chegarmos até o topo e o que isso fez conosco.
- Não tinha pensado por esse lado. - Comenta honesta.
- Assim a apresentação fica mais fácil, porque tanto eu quanto você sabemos o que passamos para chegar aonde chegamos. - Sorrio, tentando encorajá-la.
Desta vez Monique Clapton estava nos esperando na entrada de Yale para que pudesse nos guiar durante o dia todo. A aluna informou que dentre alguns minutos as primeiras apresentações do dia iriam acontecer, por isso deveríamos nos juntar a todos os ex-alunos o mais rápido possível. Acabamos encontrando Paris e Logan, eles eram da diretoria de Yale e recepcionavam os ex-alunos no anfiteatro, depois entregamos nossos pendrives para que passassem no enorme projetor.
Ocupamos os assentos que estavam com nossos nomes e assistimos os discursos dos diretores de Yale, então vimos os dois primeiros profissionais se apresentarem, logo deram sinal que era a ‘minha vez’ de apresentar. Me levantei e me despedi de Camila, que ficaria sentada no lugar assistindo minha apresentação.
- Deem as boas-vindas à Camila Cabello, formada em Economia. - Entro no palco, ouvindo os aplausos e aperto a mão de Paris, que dá espaço para eu ficar na frente do microfone.
O anfiteatro estava lotado, o controle para mudar os slides estava sobre o móvel que o microfone estava apoiado. Respirei fundo, me acalmando e observando as anotações, queria que aquela apresentação fosse perfeita.
- Bom dia. - Falo perto do microfone - Espero que todos vocês não durmam enquanto eu falo. - Todo mundo ri e eu sorrio - Bem, como a Sra. Arthur disse, sou formada em Economia. Não vou entediar vocês ou adiantar o trabalho dos professores de vocês contando o que eu faço no meu trabalho, mas saibam que envolvem muitos números. - Camila fecha os olhos e abaixa a cabeça, massageando suas têmporas ao ouvir todo mundo rir novamente.
Eu estava muito nervosa e consequentemente falando idiotices, precisava parar. Era a reputação de Camila em jogo. Respirei fundo mais uma vez e observei os cartões que eu tinha em mãos.
- Sou filha de imigrantes, desde muito cedo meus pais deram tudo de si para proporcionarem a melhor educação que minha irmã e eu poderíamos ter. O que pode vir a ser muito difícil, tanto para eles quanto para nós. - Começo falando, mostrando uma foto dos meus ex-sogros - Mas sempre dei tudo de mim na escola, sempre tendo em mente o quanto eu queria devolver tudo o que meus pais haviam me proporcionado. Não me importando nem um pouco com as coisas negativas que me diziam por conta de minhas raízes, e acredite se quiserem, foram muitas mesmo. - ‘Camila’ me encarava séria - Yale passou a ser uma opção após uma… conhecida me instigar a estudar aqui. - Posso vê-la comprimir os lábios e ficar com as bochechas vermelhas - E ainda acho que foi uma das melhores escolhas da minha vida, mesmo que isso tenha afetado em outros aspectos da mesma.
Tanto Paris quando Logan pareciam confusos com a minha apresentação, mas eu honestamente não estava me importando muito com isso. Camila parecia vidrada em cada palavra minha, como se ao mesmo tempo que estivesse aliviada com minhas palavras, também estivesse angustiada.
- Eu acho que nunca estudei tanto quanto quando eu estava aqui. - Mudo o slide mais um vez - Mas acredito que aprendi mais sobre pessoas e a importância de memórias passando tantos anos aqui. - Mudo o slide, mostrando a editora de Robin e uma foto do mesmo onde Camila e eles estavam de roupas sociais apertando as mãos - Após sair de Yale, Robin Twist me deu a oportunidade de trabalhar em sua editora fazendo parte de um time excepcional, tive minhas primeiras experiências até que recebi uma proposta para trabalhar no banco onde trabalho até hoje. - Mudo o slide, mostrando a fachada do banco.
A carreira de Camila era surreal, ela conseguiu se destacar por sempre ser a melhor, e eu não podia dizer aquilo sem soar arrogante. Afinal, eu estava em seu corpo e não podia me dar o luxo de soar ou parecer arrogante.
- Diferente da editora, tive uma grande dificuldade de ser aceita por ser mulher, imigrante e ser competente. Depois de um ano já estava em uma posição de destaque e respeito, e assim foi até que chegasse no cargo onde hoje me encontro e pretendo ficar. - Sorrio, trocando o slide - Agora sou encarregada de cuidar das contas das maiores figuras públicas de Miami. - O auditório soltou um ‘wow’ surpreso quando fotos dela com grandes clientes apareceram.
Camila havia me contado como era complicado estar em sua pele no banco, muitas das pessoas que trabalhavam com ela não admitiam que ela estivesse na posição que estava, principalmente por ser mulher imigrante. Homens principalmente, os que haviam perdido a promoção para Camila a odiavam até hoje.
Me questionava como ela se sentia nessa posição, se para mim que sou mulher e branca é complicado ser respeitada em meu ambiente de trabalho, imagina para ela que é mulher e imigrante. Desde os tempos da escola Camila sofria esse preconceito, agora que cargos importantes e dinheiro estavam na jogada, não duvidava nada que isso acabasse afetando sua popularidade de alguma maneira dentro do seu ambiente profissional.
- Sempre existirão pessoas que tentarão levar vocês para baixo, mas cabem a vocês se imporem e mostrarem que possuem capacidade. - Passo a mão pelos cabelos - Ter Yale como universidade em seu currículo é um grande diferencial, entretanto, lembrem-se que não é só isso que irá fazer você ter uma grande carreira. - Sorrio de canto, respirando fundo - Aproveitem todos os ensinamentos que seus professores passam, vocês nunca sabem qual pode ser o próximo diferencial que procuram no mercado de trabalho. Obrigada. - Todo o anfiteatro aplaude minhas palavras finais - Então… perguntas?
Algumas mãos se levantaram, mas foram perguntas básicas sobre qual a matéria que ‘eu’ mais gostava enquanto estudava e se de alguma forma ela veio a ser útil em ‘meu’ trabalho. Fizeram até mesmo perguntas sobre discriminação no trabalho e o que deveria ser feito caso algo ocorresse, nessa parte dei uma resposta mais puxada para a minha profissão. E uma das últimas perguntas foi se ‘eu’ havia conseguido retribuir tudo que gostaria para meus pais, então quando concordei, pude notar ‘Camila’ ficar com os olhos marejados.
Conforme descia as escadas podia sentir ‘meu coração’ bater descompassadamente, como se pudesse rasgar ‘meu peito’ e sair correndo sozinho com mais pressa que eu estava de me sentar. ‘Camila’ estava de pé, e assim que me aproximei para ocupar o lugar ao seu lado, ela me abraçou apertado e agradeceu baixinho, dizendo que eu havia sido ótima.
Logan anunciou o nome ‘Lauren Jauregui’ seguido de ‘Formada em Direito e uma das principais contribuidoras para Yale’ instantes depois, então conforme ‘Camila’ subia as escadas o auditório já batiam muitas palmas sem parar. Sorri convencida ao notar que muitos conheciam meu nome, tinha certeza que Camz estava pensando no quanto eu deveria estar com o ego inflado naquele momento.
Quis rir baixinho quando notei sua postura confiante e o olhar apavorado com toda a situação.
- Bom dia. - Percebo a voz falhar, ela suspira alto - Meu nome deve ser familiar por conta da biblioteca daqui. - Olha para os cartões que eu havia feito para ela, foi então como se tivesse achado uma confiança antes escondida - Estudar em Yale sempre foi o meu maior sonho, tudo começou quando desde que me conheço por gente acompanhava as grandes figuras femininas da minha família estudando nessa universidade incrível e consequentemente me instigando a fazer o mesmo.
Sinto meu coração acelerar, será que Camila havia se sentido da mesma maneira quando falei de sua família?
Não pude evitar de sorrir ao ver as fotos da minha vó e mãe sendo reproduzidas no telão, amava aquelas fotos. Ambas estavam em suas becas de formatura azuis, exibiam seus diplomas bem em frente ao prédio que haviam mais frequentado durante seus anos de curso. Eu possuia uma foto igual.
- A parte engraçada é que recebi dois exemplos distintos de carreiras. Minha avó, Angélica foi uma grande advogada em Miami; já minha mãe foi responsável por criar uma das escolas de idioma mais frequentadas da nossa cidade. - Passa a língua pelos lábios - Ambas tinham carreiras diferentes, ambas eram bem-sucedidas e ambas queriam que eu seguisse os papéis de minha avó, por “ser mais fácil”. - Faz as aspas com as mãos - E bem, elas estavam redondamente enganadas porque foi difícil pra caramba. - Todo mundo ri e ‘Camila’ sorri.
E realmente havia sido muito difícil. Lembro as horas incansáveis que havia gastado estudando para passar em todas as provas e ter trabalhos com ótimas notas. A pior parte havia sido todos os currículos e entrevistas das quais eu não havia tido uma resposta sequer após ter me formado.
- Após me formar tive um grande… - ‘Camila’ lê mais uma vez o que eu havia escrito no cartão - Acontecimento na minha vida que me fez focar completamente em meu trabalho, então pode se dizer que fiquei completamente viciada no mesmo, e consequentemente me fez chegar aonde estou hoje. A Personal Injury tem uma base incrível e me dá liberdade para trabalhar com diferentes casos, consequentemente me ajudando a fazer justiça para muitas pessoas. - Os murmúrios começam quando o nome da empresa é citado.
Diferente do que eu havia feito, Camila estava seguindo exatamente minhas anotações, e se eu estava certa ela iria finalizar naquele momento. Bem, foi o que eu pensei, mas então ela abaixou os cartões que eu havia preparado e passou as mãos pelos cabelos.
- Quando era adolescente sofri bullying por conta da minha orientação sexual e por conta de fazer parte do grupo do teatro. - Arregalo os olhos, Liam se curva, me encarando - E acreditem, isso refletiu muito em minha personalidade e consequentemente na minha profissão. Mensalmente resolvo casos gratuitamente de adolescentes que não tem o privilégio de terem os recursos que meus amigos e eu tivemos. - Sinto meu coração acelerar.
Como Camila sabia daquilo? Eu jamais havia contado para ela, as únicas pessoas que sabiam que eu fazia isso eram Dinah e Normani. Arregalo os olhos, será que elas haviam deixado escapar algo para Camila em algum momento de quando estávamos trocadas? Aquilo era um segredo, não era para eu ser aplaudida por uma boa causa.
- O que estou tentando dizer é que… sua profissão deve ir muito além de dinheiro, mas sim de valores. Minha família, amigos e Yale me ensinaram esse valores e eu espero que vocês também o possuam. - Passa a língua sobre os lábios - Use dos recursos incríveis que vocês possuem para serem um suporte para aqueles que precisam. - Sorri, passando o último slide - Obrigada pela sua atenção. - O auditório inteiro aplaudia, assim que os aplausos ficaram mais baixos, ela se aproximou do microfone - Então, alguém tem alguma pergunta? - Me viro e vejo uma boa quantidade de pessoas com as mãos levantadas.
Tinham muitas perguntas interessantes, e pude notar Camila ficar nervosa para responder todas. Muitas eram um pouco mais pessoais do que propriamente profissionais, por esse motivo não foi difícil para ela mentir ou inventar uma resposta qualquer. Logan acabou dando um sinal para que ela encerrasse minutos depois, mas ela fez questão de que no coquetel de mais tarde qualquer pessoa poderia abordá-la para tirar dúvidas, o que eu achei legal.
Abracei ‘Camila’ assim que ela se aproximou, abracei bem apertado e agradeci por ela ser tão incrível, ela se apresentou melhor do que eu poderia ter me apresentado. Nos sentamos lado a lado e vemos Liam sendo anunciado, ele subiu e podemos ouvir os murmúrios, assim como ouvimos as meninas sentadas atrás de nós soltarmos que ele era ‘um verdadeiro gato’. A apresentação dele foi monótona e cheia de piadinhas de ‘pai’, mas que de tão ruins todo mundo acabava rindo.
Após todas as apresentações o coquetel foi servido e todos nós acabamos conhecendo melhor os alunos, o que foi um pouco engraçado. Todos eles pareciam formais demais para suas idades com aquelas roupas e pareciam muito nervosos por estarem ao nosso redor.
Tanto Camila quanto eu optamos por não bebermos já que Liam havia nos chamado para irmos até o pub onde costumávamos nos encontrar antes, acabou chamando outros ex-alunos também para que todos pudéssemos relaxar e nos conhecer melhor em um lugar familiar e não aquele hotel cheio de pessoas velhas e entediantes.
Pela tarde visitamos outros pontos de Yale, tiramos fotos e conhecemos os novos professores, também visitamos nossos espaços da universidade, como novos dormitórios. Pude notar Camila muito interessada quando Logan e Paris estavam falando sobre o novo programa de bolsas para alunos imigrantes de baixa renda, por conta de receber pouquíssima verba; haviam apenas oito vagas já que a universidade disponibilizava dois quartos -quatro em cada um- e fornecia uma quantia em dinheiro para refeições durante o mês.
- Algo em mente? - Murmuro assim que me aproximo.
- Talvez. - Sorri sem mostrar os dentes.
- Se quiser podemos fazer a doação em conjunto. - Murmuro, dando um novo gole em minha bebida.
Posso perceber o choque em ‘sua expressão’, logo fica constrangida e então as bochechas ficam vermelhas.
- Como você…
- Eu só sei. - Olho no fundo de ‘seus olhos’ - Então, o que acha? Anualmente podemos fazer uma doação, o valor não vai ficar pesado para nós duas já que vamos dividir em dois, e mais estudantes como você podem ter a experiência da vida deles. - Sorrio de canto.
- Lauren, você está falando sério?
- É claro que estou. - Pisco, virando o resto do conteúdo - Brindamos mais tarde com canecas de cerveja, não podemos brindar com suco. - Ela ri com vontade e eu me sinto a pessoa mais legal do mundo - Mas foi uma boa ideia eles servirem suco ao invés de bebidas, adolescentes são loucos por álcool gratis.
- Você com vinte anos que os diga. - Mostro a língua e ela ri - O que acha de falarmos com Logan e Paris?
- É claro, mas antes vamos conversar com Liam, ele está com um cantil com whisky dentro do bolso interno do terno e já está um pouco bêbado, podemos dobrar a quantia para esses futuros alunos. - Camila me empurra levemente pelo ombro e ri, entrelaçando nossas mãos para perto do nosso velho amigo.
Enquanto caminhávamos pelo salão não pude deixar de observar nossos dedos entrelaçados daquela maneira e muito menos o quanto aquilo parecia certo. Sentia saudades de estar com ela, e o fato de passarmos tanto tempo juntas só me mostrava o quanto nós podíamos dar certo juntas. Fomos feitas uma para a outra, só ela não parecia notar.
Liam não demorou muito para aceitar, mas informou que precisava comunicar sua esposa sobre aquela decisão, por isso saiu para realizar a ligação e só voltou depois de bons minutos, fazendo um sinal de positivo com a mão. Nos aproximamos de Logan e Paris informando que gostaríamos de conversar com eles sobre futuras doações para o programa de imigrantes, o que deixou ambos muito animados.
Perto do final da tarde voltamos todos para o hotel com a promessa que pela manhã estaríamos no escritório deles para uma conversa sobre as doações, o que eu não achava uma boa ideia já que provavelmente estaríamos todos de ressaca. Tomei um banho e coloquei uma roupa mais casual, optando por uma calça jeans de lavagem clara meio larga e com detalhes rasgados que ‘Camila’ tinha e uma blusa branca de algodão simples, encerrando o visual com seu Converse branco.
Estava acostumada a ver Camila sempre com roupas sociais ou mais sérias, de certa forma era engraçado encarar o espelho e me deparar com a figura de Camila utilizando aquele tipo de roupa. Entretanto só não foi mais engraçado do que me ver saindo do quarto do outro lado do corredor. Minha ex-namorada achou que seria legal vestir um short jeans, coturnos pretos e uma blusa cinza com a estampa de uma banda e uma das minhas jaquetas de couro preta.
- Velha Camila e velha Lauren hoje? - Questiono em um ar risonho.
- Suas roupas casuais só envolvem isso, Lauren, não finja surpresa. - Começo a caminhar ao seu lado, com um pequeno sorriso - Por que está sorrindo?
- Porque voltamos no tempo. - Entramos no elevador e eu rio baixo, apertando o botão ao mesmo tempo que Camila, olho no fundo de ‘seus olhos’.
- Não totalmente, né. - Murmura e eu suspiro alto, vendo a porta fechar.
- Vamos deixar de lado isso, ok? - Encolho os ombros - Combinamos que não iriamos mais tocar nesse assunto, não irei pressionar nada, Camila. - Sou honesta com ela - Você disse que vai se casar com Hailee, e eu respeito isso. Se é isso que quer, é isso que irá fazer. - Tento soar indiferente, noto seu olhar sobre mim - Agora vamos, vou acabar com você nos dardos.
- Vai nada. - Murmura assim que a porta se abre - Você é horrível nos dardos.
Quando entramos no pub, ainda estávamos nos provocando em diversos assuntos e o clima tenso do elevador havia sido deixado para trás. Abro um largo sorriso ao ouvir ‘The Middle’ do Jimmy Eat Worlds tocando pelas caixas de som. O lugar continuava com o mesmo ar rústico de sempre, haviam diversas fotografias dos times da universidade e todas as camisas atualizadas dos times, agora possuíam televisões para que diferentes jogos passassem e o espaço parecia muito maior por conta de possuírem mais mesas de sinuca.
Pedimos duas cervejas e caminhamos em direção a Liam e todo o pessoal da universidade, fizemos nossas devidas apresentações e ocupamos a mesa para falarmos sobre como nossas últimas horas cheias de lembranças estavam sendo naquele dia. Acabamos de relembrando de todas as histórias memoráveis da universidade em dias de jogos e até descobrimos que haveria um grande jogo de futebol de Yale, o que obrigou Camila e eu a marcarmos nosso voo para mais tarde só para que fosse possível assistirmos.
Sorri de canto ao me lembrar de como Camila e eu nos divertíamos nesses dias de jogos.
“O jogo havia acabado e meu rosto coçava um pouco por conta da tinta. Camila havia insistido para que pintássemos nossos rostos e vestíssemos nossos melhores moletons de Yale somente para assistir o jogo da final, e todo seu positivismo provavelmente mandou pensamentos bons para os jogadores, já que eles ganharam.
- Amor, a tinta está entrando no meu olho, está ardendo. - Camila se aproxima com uma voz chorosa - Tira, tira. - Abro minha bolsa e procuro o estojo com as tintas, tinha lenços umedecidos lá.
- Pare de se mexer, Camz. - Seguro delicadamente seu rosto - Feche os olhos, irei limpar em volta. - Assim começo a fazer, tentando ser o mais delicada possível para não machucá-la.
- Por que você sugeriu que pintássemos os rostos?
- Mas não fui eu, foi você!
- Ops, é verdade. - Começa a rir - O que acha de irmos na competição da cerveja?
- Camz, da última vez você passou mal, não estou com vontade de passar a madrugada segurando seu cabelo enquanto você vomita!
- Mas dessa vez vai ser você, você é melhor bebendo do que eu, vai ser divertido. Eu me disponibilizo a segurar seu cabelo por qualquer motivo. - Rouba muitos selinhos, me fazendo rir - E quem ganha a competição ganha um balde com oito cervejas no final de semana seguinte. - Sorri mexendo as sobrancelhas - Imagina, muitas cervejas no final de semana seguinte, você sabe o que acontece com a gente quando eu bebo quatro cervejas.
Oh eu sabia. Danças sexys, seguidas de beijos lentos e molhados, então muito sexo por horas a fio.
- Tudo bem, mas antes, vamos tirar uma foto. - Ela pega o celular - Minha mãe quer saber como estamos e eu não posso mandar uma foto minha bêbada.
Morrendo de frio e com os rosto perfeitamente ainda pintados -exceto pelo olho esquerdo de Camila- nós juntamos nossas cabeças e abrimos largos sorrisos para a fotografia, enviando para a minha mãe logo em seguida.
Mais tarde naquele dia eu ganhei a competição de cerveja.”
Estava na terceira cerveja e estava mais leve, rindo horrores com Camila nos lembrando da vez que encontramos um amigo de Liam dormindo pelado no corredor do dormitório após uma festa. Os amigos do quarto haviam trancado ele do lado de fora e o menino tinha bebido tanto que acabou desmaiando no corredor mesmo.
Liam e eu jogamos sinuca enquanto ‘Camila’ ficou apenas conversando com o pessoal da mesa, nosso amigo de longa data até brincou sobre como era bizarro como os anos haviam nos mudado e como parecia que tínhamos até trocado de corpo já que era eu ali jogando e ‘Lauren’ sentada com o pessoal. Tratei de desconversar e pedir mais cerveja para nós.
- Anda, vamos ver quem vai ganhar. - ‘Camila’ me puxa pelo braço em direção aos dardos.
- Camila, eu não quero fazer você passar vergonha! - A provoco, vendo seu olhar ameaçador, o que me faz soltar uma gargalhada.
- Está ouvindo isso? - Franzo o cenho ficando em silêncio para ouvir o que quer que ela estivesse ouvindo - É o som da minha futura vitória. - Pega os dardos, colocando sua caneca de cerveja na mesa alta ao lado - Ok, pronta?
- Eu nasci pronta, Camz.
Durante toda a nossa rodada nós morremos de rir nos lembrando das vezes que nossos amigos vinham para a nossa universidade fazer uma visita rápida e tentar beijar a maior quantidade de pessoas enquanto não conheciam quase ninguém. Era engraçado e inusitado vê-los tão determinados a beijar muitas pessoas apenas para ver quem conseguia beijar mais na noite.
Tombei minha cabeça, soltando uma gargalhada alta quando Camila errou feio dois de seus cinco dardos, ela se aproximou dos mesmos e tirou-os de lá, me entregando logo em seguida. Notei minha ex-namorada se sentar em uma das cadeiras altas da mesa e beber mais um pouco da cerveja em sua caneca.
- Aprenda comigo.
- Vai se foder, Lauren. - Dou risada, lançando o dardo e acertando em cheio - Não valeu.
- Claro que valeu! - Reviro os olhos, ela se levanta e arranca o dardo, me entregando - Não valeu, eu não estava olhando, você pode ter roubado.
- Camz, não tem como roubar nesse jogo. - Solto uma gargalhada e vejo ela rir.
- Tem sim, ande, não valeu, jogue de novo. - Me entrega e eu pego o mesmo.
Foi como se Camila tivesse feito uma mágica, eu não conseguia mais acertar o centro da tabela, o que arrancou muitas gargalhadas dela e me permitiu vê-la se divertindo horrores me provocando de todas as maneiras para tentar inutilmente me tirar do sério de alguma maneira.
Por um pequeno instante, ali, perdendo para ela e com mais uma caneca de cerveja eu podia jurar que havíamos realmente voltado no tempo e que ainda éramos perdidamente apaixonadas uma pela outra. Foi como se tudo voltasse a ser como antes, como se realmente estivéssemos cursando a faculdade e não tivéssemos preocupação maior do que uma prova estúpida e nos beijarmos incansávelmente depois de qualquer dia longo e exaustivo.
- Sua melhor lembrança de Yale? Tirando o dia da sua formatura, é claro. - Camila pensa por alguns instantes.
- Tem tantas. - Suspira alto, apoiando a cabeça na mão - Acho que aquele dia que todo mundo veio passar um final de semana, levamos eles para comer antes do jogo e depois viemos aqui para beber, nós nos divertimos tanto e foi algo tão do nosso grupo. - Suspira, brincando com a caneca.
- O dia que todo mundo dormiu no nosso quarto e Tori gritou quando chegou?
- Esse mesmo. - Da risada - Lembra que ela beijou Niall?
- Não me lembre dessa cena traumatizante. - Começamos a rir.
- E a sua? - Pergunta interessada.
- Acho que… - Franzo o cenho - O dia que eu percebi que você estava realmente gostando de futebol. - Encolho os ombros - Eu te enchia tanto o saco para você me acompanhar sempre nos jogos e depois das duas primeiras vezes que eu te arrastei você realmente começou a gostar. Lembro que você me acordou super animada e você nos fez usar roupas e acessórios ridículos de Yale... - Camila ri, bebendo um pouco da sua caneca - Então nós fomos comer, mas como fomos tarde as melhores coisas já tinham acabado, nosso time perdeu e depois voltamos para o quarto.
- Como essa pode ser sua lembrança favorita? - Questiona inconformada.
O que ela não iria saber é que naquele dia eu tive a certeza de que gostaria de passar o resto da minha vida ao seu lado, porque mesmo em um dia horrível, ela conseguia tornar tudo mil vezes melhor. Não que eu não soubesse daquilo após estarmos tanto tempo juntas, mas naquele dia foi um sentimento arrebatador e único.
- Porque… - Comprimos os lábios - Mesmo com o dia sendo horrível, nós conseguimos nos divertir bastante. - Encolho os ombros, não era totalmente mentira aquela resposta - Foi o dia que encontramos Martha presa debaixo da cama e tivemos que levantar a mesma. - Camila solta uma gargalhada alta e eu mordo ‘meu’ lábio inferior.
- Gozado, não? - A encaro confusa - Como um momento inusitado pode significar tudo para alguém e para outra pessoa pode ser apenas mais um…
- Só acho que isso mostra que cada um sente e digere tudo de uma maneira. Uns levam meses, outros levam anos para digerir algo, outros nunca digerem. - Bebo minha cerveja, terminando aquela caneca. ‘Seu olhar’ queima na minha direção, ela havia captado a indireta - Imagina que sem graça seria se todos tivéssemos os mesmos desejos, ambições e lembranças. Eu veria tudo da mesma maneira que você vê e você veria tudo da mesma maneira que eu. - Encolho os ombros.
- Sabe… - Ela havia terminado de beber o conteúdo daquela caneca - Tecnicamente falando nós estaríamos sentindo a mesma coisa e vendo as coisas do mesmo jeito, então não saberíamos dizer de quem determinado sentimento ou lembrança é. Entende? - Solto uma gargalhada.
- Eu falei de uma maneira figurada. - Suspiro alto - Oh Deus, cale a boca, não estrague minha filosofia.
- Sua filosofia está errada. - Sorrio de canto, revirando os olhos.
- E você está bêbada. - Ela solta uma gargalhada, negando com a cabeça.
Camila estava tão solta. Tão ela. Era como se depois de dias agindo como uma estranha ela finalmente houvesse se encontrado e voltasse a ser quem jamais deveria ter deixado de ser.
Desde que Camila havia começado um relacionamento com Hailee era possível ver o quão travada ela havia passado a ser, não contava suas piadas engraçadas e dava suas risadas escandalosas -caso desse risadas mais altas recebia um olhar de Hailee que sempre a deixava sem graça-, não a via mais com sua autenticidade, era sempre algo sério e robotizado demais.
Era horrível Camila ter de estar bêbada para ser ela mesma.
Acabamos indo embora depois de alguns minutos, precisávamos descansar para o grande dia de amanhã, pegamos um táxi e fomos o caminho todo rindo do quanto Liam não iria durar muitas horas amanhã. O taxista parecia se divertir com nossa conversa sem pé nem cabeça. Subimos para o nosso andar, quase dormindo em pé após um dia estressante como aquele.
- Não esqueça de colocar o despertador, precisamos conversar com Logan e Paris!
- Pode deixar. - Me apoio na parede - Eu me diverti bastante hoje, Camz, fazia muito tempo que eu não ria tanto assim. - Ela sorri de canto, encolhendo os ombros.
- Eu também, estava precisando de uma noite assim. - Suspira alto - Com essa coisa de estarmos trocadas eu não conseguia mais relaxar e toda essa pressão de ser você. - Arregala os olhos, negando com a cabeça - Você acha que vamos trocar?
- Acho que sim. - A abraço e escuto sua fungada - Vamos dar um jeito.
- Eu não quero mais ser você, Lo, eu quero ser eu. - Me abraça de volta.
- Eu sei que sim, babe. - Sinto ela ficar tensa em meus braços - Vamos conseguir, não se preocupe.
- Faltam dois dias, Lauren. Dois. - Suspiro alto, segurando ‘seu rosto’, vejo ela arregalar os olhos e prender a respiração.
- Vamos dar um jeito, Camz. - Sorrio de canto, eu ainda a deixava nervosa - Não se preocupe. - Beijo ‘sua testa’ - Nos vemos amanhã, você precisa descansar.
Ajudei Camila entrar em seu quarto do hotel e então saí de lá para que pudesse finalmente descansar.
Nossa manhã foi corrida, acabamos comprando café no campus mesmo e arrastamos Liam que estava com uma ressaca brava. Acabamos resolvendo sobre as doações com Logan e Paris, algo que -provavelmente- deixou todo mundo radiante para o resto daquele dia.
Assim que saímos do escritório acabamos atravessando o campus -agora- tão conhecido e nos dirigimos onde havia muita movimentação de pessoas. Todos vestiam azul -inclusive nós-, haviam diversas barracas com comidas e muitas pessoas faziam os gritos especiais dos jogos do Yale Bulldogs.
Paramos todos perto de uma barraca que vendia alguns artefatos de Yale, Camila disse que tínhamos todos que entrar no espírito do jogo e comprar algumas coisas. Liam e ‘Camila’ optaram por cachecóis brancos e azuis com o ‘Y’ bordado nas pontas; eu optei por um boné, e todos nós acabamos comprando novos moletons.
Camila e eu paramos em uma barraca de cachorro quente e pegamos um para cada uma, optando por tomar uma cerveja junto. Nada melhor que curar uma ressaca bebendo de novo. Pedi para que Liam tirasse uma foto nossa naquele exato momento para ter aquele dia registrado de alguma maneira, após tirar uma foto só de nós duas ele tirou algumas selfies engraçadas com as roupas de Yale.
- Ok, todo bom estudante de Yale sabe da tradição do jogo. - Liam distribui os copinhos e Camila ri animada - Que nosso time vença e mande os adversários para a casa chorando.
- VAI BULLDOGS! - Um menino grita do nada atrás de nós.
- VAI BULLDOGS! - Todo mundo grita junto, nós viramos o conteúdo do copinho e colocamos a língua pra fora.
- O meu fígado vai deixar de existir antes desse final de semana acabar! - Camila murmura e eu solto uma gargalhada.
- Venham, vamos comer mais algumas coisas. - Liam nos abraça pelos ombros.
Acabamos nos encontrando com alguns alunos que tinhamos conversado no dia anterior, contamos de nossas experiências no campus e principalmente em dias de jogos, algo que arrancou muitas risadas deles e provavelmente fez todos nos olharem de uma maneira bem diferente e não tão profissional.
Conforme entrávamos no estádio pude sentir ‘Camila’ entrelaçar nossas mãos, ela sabia como eu me sentia ansiosa andando no meio de multidões, Liam nos guiou para a arquibancada, junto com a parte onde os alunos realmente ficavam concentrados em maior quantidade.
Sentia ‘meu coração’ bater acelerado conforme via Camila radiante, ela conversava com alguns alunos a sua volta e ria horrores com os gritos de ‘guerra’ que a torcida dava. Não pude evitar de sorrir largo ao vê-la agitando uma onda na torcida, o grupo de meninos ficou vidrado ‘nela’ conforme ela pedia auxilio para iniciar aquela onda; logo o estádio todo estava fazendo o que Camz tanto queria, algo que a deixou radiante e me deixou feliz por vê-la daquela maneira.
Quando o jogo começou minha ex-namorada gritou horrores, Liam assoviava sem parar e eu batia palmas junto com o resto da torcida. Até metade do jogo a angústia foi insuportável, ambos times eram excepcionais e estavam empatados, da metade para o final do jogo os Bulldogs conseguiram virar e então conseguir uma distância agradável no placar.
- Nós vamos ganhar. - Camila murmura, batendo palmas.
- Sim. - Sorrio largo - O que está achando do jogo?
- Eles são melhores que o time da nossa época. - Comenta honestamente e eu rio, assentindo - Parecem mil vezes mais rápidos.
- Né?! - Ergue o celular, filmando parte da partida - Quer beber ou comer mais alguma coisa?
- Estou bem. - Sorri largo - Depois do jogo temos que ir correndo para o aeroporto, ou caso contrário iremos perder o voo.
- É agora, Camz. - Seguro e aperto sua mão - A última jogada. - Observo o placar, só precisamos de um touchdown.
Todos se posicionaram e o quarterback gritou e se afastou, recebendo a bola, três foram para cima dele, com uma certa dificuldade ele desviou de todos e não conseguiu achar ninguém livre, foi então que o garoto começou a correr como um foguete, desviando de todo mundo e em rumo.
- ELE VAI MARCAR, ELE VAI MARCAR! - Camila berra apavorada, ficando na ponta do pé já que toda a arquibancada estava de pé.
- TOUCHDOWN! - Todo mundo grita junto quando o garoto se joga no chão para marcar os pontos finais, levando o estádio inteiro ao delírio.
Abracei Camila e ela fez o mesmo, nós duas gritávamos e ríamos alto em comemoração. Uma sensação reconfortante se apossou do meu corpo e eu só queria gritar de alegria. Nosso time havia ganhado e nós estávamos próximas de novo, dessa vez em todos os sentidos.
Estávamos muito juntas por conta do espaço pequeno, nossas respirações se misturavam, parecia até mesmo que iriamos nos beijar. A troca de olhar era intensa e a maneira que ainda mantínhamos nossos braços ao redor da outra era reconfortante. Me curvei um pouco, mas antes que concluísse o ato um arrepio cortou ‘meu corpo’, estremeci e dei um passo incerto para trás, era como se houvesse levado um choque. Foi então que eu senti mais vontade ainda de gritar, para que todos soubessem o quanto eu estava feliz.
Puxei Camila em um novo abraço apertado enquanto ela ria com vontade e gritava animada, agora por outro motivo além da vitória. Havíamos finalmente trocado novamente, éramos nós mesmas mais uma vez.
- O que aconteceu?
- Eu não sei, mas ainda bem que aconteceu. - Camila pula em mim, me abraçando mais uma vez - Nós trocamos, Lauren!
- Meninas, vamos, vai ser difícil sair daqui depois. - Liam murmura, entrelaço minha mão com a de Camila e ela começa a andar.
- Ah Liam, nada é tão difícil assim. - Camila murmura - Difícil mesmo seria ser alguém que você não é.
- Uh, se você diz. - Nós rimos e começamos a sair da onde estávamos.
Voltamos para o hotel em meia hora, juntamos nossas coisas e pegamos um outro táxi para que pudéssemos pegar nosso voo. Durante todo o trajeto acabamos falando sobre como o dia havia sido incrível, relembramos os melhores momentos e quais eram nossas expectativas para o final de temporada. Ainda tínhamos muito assunto quando entramos no avião, qualquer um podia ouvir a risada de Camila enquanto ela falava sobre a menina que tinha derrubado a salsicha do cachorro quente na primeira mordida.
Não conseguimos dormir durante toda a volta para Miami, falamos incansavelmente sobre futebol -esportes em geral-, então lembramos mais de alguns momentos e os melhores jogos que havíamos ido na nossa época de faculdade, e quase no final do voo começamos a falar sobre o que nossa doação iria fazer para todos aqueles alunos imigrantes.
- Foi um final de semana muito produtivo. - Comento, pegando minha bagagem.
- Ainda não acredito que sou eu mesma novamente. - Camila ri - Mal posso esperar para tomar banho sem culpa.
- Que culpa?
- É estranho tomar banho no seu corpo, Lauren.
- É sexy, admita. - Ela ri, pegando sua mala e me empurrando pelos ombros.
- Super sexy. - Ironiza e eu ajeito a alça da minha mala no ombro - O que acha de irmos para um bar em Miami assistir algum jogo?
- Eu apoio, vai ser divertido. - Murmuro, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas com aquele convite - Podemos até mesmo ter a nossa revanche dos dardos.
- Para você perder de novo? - Provoca e eu abro a boca, ofendida.
- Estava no seu corpo, consequentemente em desvantagem, você sabe né. - Ela me da um tapa e eu dou risada.
Meu coração estava leve e eu estava radiante, não conseguia parar de sorrir. Camila tinha esse poder sobre fazer eu me sentir a pessoa mais feliz do mundo em pequenos minutos, sempre soube disso, agora era apenas uma confirmação.
Parei de sorrir quando notei seu olhar sério sobre mim, ela me encarava de uma maneira diferente, como se refletisse qualquer coisa sobre mim. Esperava estar bonita naquele momento, e que seus pensamentos fossem positivos, não mais um pensamento estúpido de que deveríamos nos afastar mais uma vez.
Tudo estava bem novamente, havíamos estabelecido a bandeira branca e uma amizade legal de novo. E ela estava sabendo de muitas coisas sobre mim, assim como eu sabia muitas coisas sobre ela, mais até do que eu gostaria de saber.
- Camz, como você sabia que eu estou defendendo pessoas gratuitamente? - Me lembro do final do discurso que ela havia feito.
- Madison me ligou querendo confirmar a audiência dessa semana. - Murmura constrangida - Quando informei que não sabia do que ela estava falando, porque você não havia me dito nada, ela me lembrou do caso ‘carente’ que você faz.
- Ah sim. - Sorrio, passando a mão pelo cabelo - Foi muito legal o discurso, obrigada, mais uma vez. Por tudo.
- Você também, até que você não está tão chata assim. - Implica comigo e eu reviro os olhos, bagunçando seus cabelos - Lauren, ugh, idiota. Mudei de ideia.
- Eu posso viver com isso. - Rimos e voltamos a andar no aeroporto - Então, você quer...
- Mila? - Viramos o rosto.
O meu sorriso morreu no mesmo momento, senti meu coração ficar apertado e toda a vontade de rir ou sorrir sumir.
Hailee trajava uma calça jeans justa, saltos e uma blusa cinza de algodão. Ela havia vindo buscar Camila no aeroporto e trouxe consigo toda aquela áurea perfeita e prepotente de sempre. Camz me olhou culpada e sorriu de canto, completamente encabulada dando um rápido abraço e dizendo tchau baixinho, puxando sua mala ela se aproximou de Hailee, que fez questão de beijá-la, desviei o olhar.
Em um momento eu via oportunidade, e no próximo momento eu via elas se beijando, isso me lembrava o quanto ‘nós’ não poderia mais existir como algo a mais.
Hailee acenou para mim e então entrelaçou sua mão com a de Camila, puxando a mesma para longe para que elas pudessem ir embora. Permaneci parada no mesmo lugar, sentindo todo aquele bom-humor de um final de semana incrível se esvaindo por entre meus dedos. Comprimi os lábios ao ver Camz olhar sobre seu ombro e me lançar um olhar de ‘desculpa’.
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