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História Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue da Caipora - Soltem os fogos, Raoni se deu mal!!


Escrita por: Josuel888

Capítulo 13 - Soltem os fogos, Raoni se deu mal!!


Todos se levantaram e fizeram uma referência ao Pajécique, Yagura. Ele se sentou no trono que é da deusa Caipora, mas ela não está em nenhum lugar. O Curupira tomou a frente, os restante dos anciões se sentaram ao lado de Yagura. 

—Boa noite a todos. — disse ele. — Está noite somos agraciados mais uma vez com a presença de nosso conselho e de nosso estimado Pajécique, Yagura. Muitos me perguntaram onde está a Sra. Capiora, ela está em uma reunião com Polo, Deus dos ventos para discutir algumas coisas. — ele olhou para mim. — Antes de começarmos a orar e a fazer sacrifícios aos deuses, o Pajécique gostaria de falar. 

Yagura se levantou, segurando um cajado. Seus olhos brilhavam em azul eletrizante e o ar pareceu ficar mais forte e gelado. 

- Companheiros e companheiras. — disse ele levitando no ar. — Boa noite a todos. Antes de começarmos nosso riquíssimo e abençoado jantar, eu gostaria de informar a todos vocês sobre assuntos e situações que não posso mais esperar para falar em outra ocasião. Primeiramente, eu gostaria de agradecer pessoalmente a todos pelo maravilhoso trabalho em todas as regiões de nosso país, as legiões e seus líderes estão de parabéns, vocês orgulham nosso povo e os deuses. Vocês cumprem seus deveres, apesar de nossos atuais problemas. Sobre os desaparecimentos, tanto de nossos companheiros como de mortais normais, ainda não temos informações suficientes, estamos investigando a fundo com a melhor equipe, ainda estamos atrás da Cuca, mas ela se escondeu muito bem sem deixar rastros, acredito que logo esses mistérios serão solucionados. 

Ele suspirou profundamente e olhou para o Curupira e o mesmo assentiu. 

— Sei que a maioria de vocês estão de férias descansando depois de meses de vigia e luta para manter a ordem, mas amanhã precisarei enviar uma equipe com um grande número de filhos da Iara. — disse ele e as filhas da deusa começaram a murmurar, elas apenas pararam quando Yagura levantou a mão para silencia-las.

— Por favor, uma catástrofe se alastra nas praias do Nordeste, óleo puro de um navio está poluindo as águas do litoral, pessoas estão limpando a água no braço, já que o governo se recusa a fazer algo a respeito, precisamos agir. — disse ele. — Vocês precisam acabar com esse óleo e salvar as criaturas marinhas. 

Uma garota levantou a mão e ao mesmo tempo um papagaio vermelho entrou voando pousando no braço de um ancião. 

—Senhor, como vamos fazer isso sem que nos vejam? — perguntou ela.

Antes que o Pajécique pudesse responder, Raoni bufou atraindo a atenção de todos e respondeu sem permissão.

— O que acha? Com certeza serão camufladas com algum feitiço de um dos filhos da deusa da magia ou então terão que agir durante a noite. — respondeu Raoni. 

A menina se sentou, tendo sua resposta. O Pajécique encarava Raoni seriamente, mas depois seu olhar se voltou para mim. 

—Imagino que seus líderes já tenham informado a todos sobre a situação de nosso novo membro, Kauê. — disse ele e eu não sabia onde enfiar a cara ou o que fazer, pois todos olharam para mim com ódio e alguns com medo. — Sei que a chegada dele até aqui foi bastante tumultuada e sei que muitos de vocês estão com medo, mas nós tivemos uma conversa com os deuses, ele é inocente de tudo até que se prove o contrário, ele nem sabe quem é o pai ou mãe dele, é normal ter medo, eu senti medo quando ouvi que um cão do inferno atacou um dos nossos, mas sempre fomos um povo acolhedor e amigável, ele é um de nós. Estamos entendidos? 

O silêncio se tornou a única coisa a ser ouvida, todos estão com o mesmo olhar, isso até Raoni soltar uma risadinha com seu grupo. 

Os olhos do Pajécique brilharam de forma elétrica e um vento gelado invadiu o lugar. 

—E tem outro assunto de extrema importância e não posso deixar de falar desse fato que infelizmente se tornou recorrente entre alguns de vocês. — ele apontou seu cajado para Raoni e outros. — Recebi informações que alguns de vocês estão usando seus poderes para realizar tarefas que não são incumbidas a vocês. Impedir acidentes e assaltos. Já falei muitas vezes, nós não devemos nos intrometer com nossos poderes nos assuntos mortais. — disse ele e eu olhei para Raoni. Diversas vezes ele fez isso nesse período que ficamos no Sudeste. — Nós estamos aqui para manter a balança do sobrenatural e do natural em ordem. Estamos aqui para proteger a fauna e flora, nada mais e nada menos que isso. Nós não podemos correr risco das pessoas normais dos virem, a magia que separa a visão dos humanos cada fica mais fraca. Não podemos correr esse risco, mesmo que mínimo. Dessa vez nenhuma punição será aplicada, mas na próxima sofrerão consequências. 

—Por quê? — perguntou uma garota sentada perto de Iracema. — Me perdoe, mas não concordo. Ficamos escondidos por aí, protegendo essas pessoas de criaturas folclóricas e ao mesmo tempo protegendo a natureza dessas pessoas. Do que adianta? Onde está a gratidão? 

—Essa é a lei, criança. — respondeu Yagura. — Não quer criar pânico geral de novo não é mesmo?

A garota baixou o olhar, era nítido que ela estava com raiva, pois abaixo de si o chão começou a congelar. 

Raoni se levantou. 

—Concordo com ela. — respondeu ele. — Yagura, é hora de mudarmos as coisas. Olha o que está acontecendo e o que fazemos não tem efeito! Ela não fez nada de errado, apenas fez justiça! 

—Justiça? — perguntou Yagura. — Ela machucou aquelas pessoas. 

— O que ela fez? — todos começaram a perguntar.

—Silêncio! — exclamou o Curupira. — Respeitem o Pajécique! 

—Não. — respondeu Raoni. — Isso não era nem pra ser segredo! A nossa companheira, Gabriela, filha de Nhára, deus do inverno, deu apenas um aviso congelante para o prefeito e alguns vereadores da cidade dela mês passado e querem saber o motivo? Ela e a mãe dela moram no Nordeste, em uma cidade carente no Recife, muitas vezes a refeição de muitas crianças é a merenda escolar, na verdade quase sempre e todos nós sabemos o que acontece. O prefeito desviava a comida da merenda e dinheiro para vereadores e empresários que ajudaram ele durante a campanha, resultado disso, sem merenda, sem leite pra bebês. A justiça e a polícia são lentas, mas ela não. Ela descobriu tudo e sabia não adiantava nada denuncia-los. Então ela fez o que qualquer um faria, ela cortou o mal pela raiz e atacou o prefeito e seus comparsas com seus poderes, ela colocou medo neles, mesmo eles acreditando que o viram e sentiram foi um pesadelo, tenho certeza que nunca iram esquecer a nevasca que invadiu a casa deles e acabou com sua corrupção podre. Me falem, isso é errado?

A comoção no local se tornou enorme, muitos pareciam chocados e outros concordaram com as palavras de Raoni. O que eu penso? Talvez ela estivesse certa, da raiva tudo isso, uma situação dessas. Quantas vezes liguei a TV e vi corrupção com dinheiro público e tirando comida e remédios das pessoas... mas não sei. O Pajécique não está com uma cara muito boa e Yancy também não. 

De repente eu pude sentir minha alma sair corpo e correr na minha frente quando o  Pajécique bateu seu cajado no chão e um trovão explodiu do lado de fora, com um raio caindo bem perto de onde todos nós estávamos. 

— Raoni, sua insolência está demais! — gritou ele. — Tem que respeitar a lei! SE NÃO PARAR, SERÁ PUNIDO!

—Ser punido por dizer a verdade?! E ele?! — Raoni apontou para mim com desprezo. — Ele é um criminoso! Trouxe o cão do inferno até nós e também aqueles malditos anjos! Que só fazem nosso povo sofrer desde tempos imemoriais. É justo eu ser punido e não ele?! Me fale, que tipo de líder é você?! Está claro que não é mais competente para o cargo! Shishima faz falta, ele teria solucionado todos nossos problemas rapidamente, você é um Pajé e não um Cacique! E devemos ficar tranquilos? Sei que logo você vai se aposentar e aí? Quem vai assumir? Ele! É claro! Como diz a tradição!

Ele apontou para Yancy que não se intimidou nenhum pouco. Logo comecei a sentir raiva e vontade de concordar com Raoni... As palavras dele, ele está certo... mas algo me faz querer discordar... que raiva é essa?! O que é isso?! 

—Ele tem razão. — um homem se levantou da mesa dos filhos de Polo. — Como Yancy pode ser nosso cacique?! Não é preciso muito pra ver que ele não é capaz para o cargo! Se ele será só por ser filho de Tupã, então temos que mudar nossos conceitos. Estamos em um país democrático, está na hora de aderirmos o modelo também para Cacique! Nunca concordei com essa lei, de que o cargo de Cacique será investido de forma Hereditária por filhos de Tupã. 

— Isso não vai ser bom. — sussurrou Tainá. — Yancy... Não deveríamos intervir? 

— Não façam nada, deixe ele falar.  — respondeu Yancy, pacientemente. — Raoni aguarda esse momento a muito tempo. 

— Isso é preconceito! — reclamou Victor e eu fico surpreso dele se levantar para defender alguém. — Claro que Yancy é capaz, ele é um dos mais fortes e sábios, treina aqui desde os 6 anos! A maioria só não gosta dele pelas as condições dele! Idai que ele é branco e cego? Não sejam hipócritas, nós somos uma mistura de raças aqui, não existem apenas semideuses indígenas!

—É diferente! — retrucou Raoni. — Não estou dizendo que não podemos ter raças diferentes aqui, estou dizendo que é o cúmulo ainda nosso sistema para Cacique ainda ser hereditário pelos filhos do Deus dos deuses. Qualquer um aqui tem o direito de tentar! Só o cacique tem o poder de mudar as leis, mudar para possamos fazer o nosso melhor pelo Brasil. Tudo que fizemos são coisas omissas, nós esconder como ratos enquanto a injustiça cresce mais e mais! Os oceanos cheios de óleo, a floresta sendo queimada! O Rio Tietê cheio de lixo! É ninguém faz nada! Eu e minha legião limpamos todo rio Tietê em uma semana... e pra que?! Dias depois tinham pessoas jogando todo tipo de lixo nele novamente! 

— Isso é verdade. — exclamou uma filha de Jaci. — E não apenas os rios, mas os animais também. Todo mundo aqui sabe que a onça pintada está em extinção, nossa legião conseguiu salvar algumas de caçadores ilegais no pantanal, deixamos alguns vigias lá, mas sabemos que eles sempre voltaram. A humanidade precisa criar consciência do que estão fazendo e ninguém melhor que nos para passar a mensagem. 

Yancy se levantou, seu olhar esta sereno como se ele quisesse rir. Minha raiva começou a diminuir. 

—Com licença, Sr. Yagura, posso falar? — perguntou ele. 

— Pode. — respondeu Yagura. 

—Por favor, vamos todos nós acalmar. — pediu ele. — Sabemos muito bem que a situação de uns tempos pra cá está insuportável para todos nós, porém algumas coisas não podem simplesmente mudar da noite pro dia. Entendo Raoni que você sente que pode fazer mais do que fazemos, mas existem limites que todos devemos respeitar. Eu concordo que a atitude do prefeito da cidade da Gabriela foi inadequada e desumana, eu sei que a justiça tarda e enquanto ela demora, ele poderia estar roubando mais e mais, mas não podemos interferir como semideuses nisso, apenas como cidadãos brasileiros comuns. Precisam entender, a barreira que protegia os humanos das criaturas folclóricas enfraqueceu muito devido a fatos ocorridos na 2° guerra mundial, por isso os monstros estão atacando as pessoas e é nosso dever protege-las. Sei que muitos aqui estão insatisfeitos com a sociedade pela falta de amor deles pela natureza, mas não sejamos hipócritas, quem aqui nunca sujou o meio ambiente? Quem aqui nunca matou qualquer animal que invadiu sua casa por estar sem moradia?

Todos se calaram, pareciam constrangidos, até mesmo eu. 

— Você não entende, Yancy! — exclamou Raioni. — É hora de partimos pra ação e sair da sombra. As filhas de Iara nem precisam ir limpar as praias do óleo, nós podemos muito bem ameaçar o próprio presidente pra ele agir! É o dever dele! Da sociedade e não apenas nossa! 

Parece ser uma ideia louca, mas... tem uma certa razão e verdade nela. 

—Entendo muito bem, estávamos na reunião quando você declarou sua ideia. Você quer se mostrar ao mundo, fazer mais do que fazemos. Eu entendo, Raoni, mas existem leis que temos que respeitar. As pessoas comuns não estão prontas pra aceitar algo diferente, nem mesmo muitos de nós aceitamos nossas condições de semideuses. — respondeu Yancy. — Não é o momento disso.  Nossa prioridade agora é saber onde estão nossos companheiros desaparecidos e descobrir a razão dos mortais estarem desaparecendo também e fora o fato da situação do Kauê, não é hora de ideias radicais, Raoni. Os anjos e os demais deuses jamais aprovaram isso. 

—Tão cego quanto os outros. Os anjos não tem que se meter, eles não servem pra nada! — cuspiu Raoni. — Nós temos a força para fazer um lugar melhor e ficamos omissos... Não somos nenhum pouco diferentes dos monstros que enfrentamos! Fale Yagura! Fale que essa doença que está se alastrando nas crianças misteriosamente só afeta semideuses! 

—BASTA! — gritou o Pajécique mais uma vez. — Raoni! Você não é mais líder da legião do sudeste, está rebaixado! É não sairá mais em nenhuma missão até a segunda ordem! 

Raoni não respondeu, ele se virou e saiu pisando com força... 

—Eu avisei, depois que algo acontecer não chorem. Posso perder meu posto, mas eu ainda apoio democracia na escolha do próximo cacique! — exclamou ele e depois saiu. 

Um silêncio se instalou no local. 

O Pajécique se sentou parecendo estar cansado e esgotado. Yancy foi até ele. 

Um ancião cochichou algo Com Yancy e o Pajécique se levantou.

—Peço desculpas pelo infortuno desta noite. — disse ele com a voz arrastada. — Curupira, precisamos nos retirar. Os deuses desejam falar conosco. 

—Tudo bem, senhor. — respondeu o Curupira. O Pajécique e os anciões se levantaram um a um e saíram pela entrada sem falarem mais nada. O ambiente se tornou instável novamente, com várias pessoas cochichando e parecendo estarem nervosas. O Curupira suspirou. 

—Podem jantar. — disse ele. — Não sé esqueçam do sacrifício. 

Yancy voltou a se sentar conosco sem dizer nada, e a primeira vez desde que o conheci que o vejo com esse olhar sério e fechado. Eu rezei em silêncio mais uma vez e pedi o jantar normal desta noite e um hambúrguer que é minha comida favorita para mim sacrificar aos deuses. Eles apareceram instantaneamente na minha frente. 

— Já voltamos, pro sacrifício todos os filhos do mesmo deus devem fazer juntos. — disse Tainá, ela é Ágata seguiram seus irmãos até o fogo. 

—Vá na frente. — disse Yancy ainda com aquele olhar sério, sua voz estava rouca e arrastada. — Vou depois. Só diga que é para os deuses, não precisa rezar.

Eu me levantei e fui e agora? Não sei pra quem sacrificar? Imagino que cada um faça pro seu pai ou mãe, mas... ok. 

Me aproximo da chama, ela parece ter vida, com seu calor intenso. Jogo meu hambúrguer e digo baixinho: Para os deuses e pro meu pai se ele estiver aí e se puder me ajudar de alguma forma, eu aceito, desesperadamente. 

...

O jantar foi em silêncio depois disso, o clima estava muito pesado. A discussão parece ter afetado todos, principalmente Yancy. Eu me dei boa noite a todos e fui até minha Oca, Robert ainda não estava, onde será que ele está? Até onde sei o toque de recolher é para todos. Bom, ele pode estar invisível e foi visitar a Ágata, como ele disse que sempre faz. Me jogo na cama, como estou cansado... tantos problemas, tantas coisas... 

Olho para a lua, ela está tão cheia e as estrelas tão brilhantes, na cidade era impossível ver elas dessa forma, parece uma festa no céu. Viro meu rosto e o ovo do meu papagaio ainda está lá, quentinho. A cama de Robert está roda bagunçada com livros jogados e abertos, ele não estava brincando quando disse que eu podia fazer o que quiser, ele mesmo faz. Meus livros também estão jogados em cima da cama, não estudei nada direito... Aí meu Deus! Como será o dia de amanhã?! O que vai acontecer comigo?! Ninguém me quer aqui... todos me olham como se eu fosse uma praga ou algo pior... 

“Você é pior que uma praga, garotinho"

—QUEM ESTA AI?! — levantei de supetão. É aquela mesma voz de antes. 

Olhei para todos os lados e nada, será que estou ficando maluco?! É o estresse, só pode ser, preciso dormir. Preciso esquecer um pouco muitas coisas, principalmente algumas coisas que aconteceram hoje. Me deito na cama, mas não antes de fazer uma oração a Deus, ele é meu único conforto neste momento e agora que tenho certeza que ele existe... espero que ele possa me ajudar de alguma forma... assim espero. 

Fecho meus olhos pela primeira vez desde que pisei aqui e espero que aqui seja melhor do que em casa, quando eu tinha pesadelos toda noite... assim espero. 

 

 

 



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