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História Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue da Caipora - A Decisão do Conselho


Escrita por: Josuel888

Capítulo 7 - A Decisão do Conselho


Eles me levaram para dentro do templo, o lugar é totalmente fechado, revestido em ouro por toda parte. Havia um circulo no centro do lugar onde Raoni me levou, em volta dele estavam pessoas muito idosas, eram todos homens. Em torno deles, em uma pequena arquibancada, estavam sentados rapazes e garotas maiores que eu ou talvez da minha idade. Cada um deles estava sentado embaixo de uma bandeira com um símbolo diferente. Taina estava sentada embaixo de uma bandeira desenhada com um Rodamoinho e um papagaio. Ágata que parecia estar aliviada ao me ver, estava sentada em baixo de uma bandeira com um símbolo de estrelas. E tinha muitos outros, um com símbolo de Lua, neve, folhas, raízes de árvore, animais, terra, fogo, água, um arco e flecha com um coração e diversos outros. Mas um por alguma razão me chamou atenção, tinha um rapaz sentado em baixo de uma bandeira com um símbolo do Sol, e ele não parava de me encarar. 

—Se aproxime, criança. — disse a voz de um homem com uma espécie de coroa feita de penas de aves. Ele é bem idoso, seus cabelos são grisalhos e está fumando um cachimbo. Seu rosto e corpo então todos pintados com tinta preta e os outros idosos ao seu redor não eram diferentes. — Eu sou Yagurá, Pajé e Cacique, líder de Eldorado, senhor dessas terras e filho de Tupã. Bem—vindo ao conselho da justiça. Sente—se, criança.

Yancy me fez ir até lá, ele fez uma referencia e foi até a arquibancada, se sentando em baixo de uma bandeira com um raio desenhado. Raoni fez o mesmo, indo até uma bandeira com um machado manchado de sangue. 

Eu me sentei no centro de todos, todos olhavam para mim. Estou tão nervoso que nem sei mais se posso evitar de mentir. 

—Sejam todos bem—vindos. Meus amigos e companheiros conselheiros e lideres das casas dos deuses. —falou o Pajécique. — Hoje nos reunimos novamente para julgar e debater sobre a inocência ou condenação de um novo semideus de nossa espécie que nos trouxe problemas que ainda não foram selecionados. Que meu pai, Tupã e nosso senhor, nos guie a verdade. 

Ele bateu a mão no chão e um trovão explodiu acima de nós. 

—Kauê Fernando Nobrega, você chamou nossa atenção recentemente. — disse o Pajé. — Lidamos com problemas regularmente, mas o seu foi uma verdadeira surpresa. Iremos começar desde o inicio, recebi os relatórios da legião que o encontrou e precisamos confirmar algumas coisas antes de ir ao ponto critico. 

—Tudo bem. — engoli em seco, mas permaneci firme. 

Um idoso bem obeso ao lado dele se levantou e assoprou uma cortina enorme de fumaça de seu cachimbo quase que me sufocando. A fumaça parece totalmente viva, ela subiu até o teto e desapareceu. 

—Sou Youtou, filho de Sumé e no momento, seu juiz. Kauê. Apenas diga a verdade sem medo, se tentar mentir, sua língua ira coçar tanto que você vai desejar arrancar ela fora para parar de sofrer, entendeu?

—Entendi.— respondi torcendo o nariz. Esse cheiro é pior do que ficar perto de uma pessoa que fuma. Meus olhos e meu nariz estão implorando por ar puro. 

—Antes de começar, tem algumas coisas que você precisa saber. Geralmente deixamos isso para as aulas de orientação com um de nossos professores, mas quanto mais rápido você saber, acredito que mais rápido vai entender. — disse ele se sentando novamente. — Pra começo de conversa, você sabe que existem muitas religiões por ai não é mesmo? Você mesmo de acordo com o relatório é evangélico.

—Sou... eu acho. — respondi não tendo certeza, depois de tudo isso, seria hipocrisia demais acreditar em apenas uma religião.

—Pois bem. — disse outro idoso atrás de mim. Ele tinha um desenho do sol de cor azul em seu peito. — Sendo o mais claro possível, todos os deuses existem. Todos sendo carregados pelas crenças, cultura e a memória dos mortais e demais seres vivos. Vou dar um exemplo que acredito que facilitará tudo. Eles eram muito famosos, os deuses gregos e romanos, com certeza já ouviu falar deles. 

Já ouvi, eles meio que estão na cultura de quase todos os lugares do mundo e em diversos livros, claro, minha avó jamais me deixou ter qualquer contato com algo relacionado a eles, tanto que o a única que conheço é a deusa Athena, por causa do anime Cavaleiros do Zodíaco que eu tive a sorte de ver 10 minutos na casa de uma das amigas da minha avó, até ela trocar de canal e colocar em canal religioso. Espera um segundo, ele disse que eles “eram” muito famosos?

— Os deuses gregos viviam na Grécia, mas ao mesmo tempo também viviam na Itália, em Roma. Eles eram os mesmos deuses, mas com nomes diferentes. Isso resultou em um grande aumento de poder para os olimpianos por séculos. Mas o que quero dizer é, que ao mesmo tempo que os deuses gregos existem para os gregos e para quem acredita neles, deuses nórdicos também e isso também acontece com nossos deuses indígenas. Todos existem nesse mundo, cada um com sua crença, cultura, dever, responsabilidade e é claro, inimigos e conflitos. — terminou o Pajécique. — E isso inclui, Deus e seus anjos.

Isso quer dizer que Deus, o Deus da bíblia que não suporta ter outro roubando atenção dos seus humanos, a ponto de mandar todos para o inferno se o fizerem, convive com a existência de outros deuses? Olha, eu não estou me sentindo bem. Minha cabeça parece a ponto de explodir de tanta informação.

—Então, Deus existe mesmo? — questionei de novo para ter certeza.

—Sim, claro, ele é uma questão maior. Deus com “D” maiúsculo é equiparado ao Caos, deus primordial da religião grega ou então ao nosso Senhor Absoluto, Nhanderuvuçú, deus que veio antes do próprio Tupã. Mas não vamos lidar com coisas além da nossa compreensão. Agora você entende, todos os deuses existem e dividem o controle sobre o universo por assim dizer. E existem regras que todos devem seguir, a absoluta é que nenhum deus de qualquer religião que seja tem permissão para interferir nos domínios do outro. — suspirou Youtou. — Compreendeu?

—Sim. — respondi, mas sem ter certeza. É tudo muito confuso.

—Você está sendo acusado de fazer um pacto com um demônio para trazer o cão do inferno a nossa civilização e começar uma guerra entre nós, os demônios e os anjos. — disse ele. — Você nega essa acusação?

Quem fez essa acusação absurda?! Nem preciso pensar muito, até sei quem o fez. Raoni, com certeza foi ele. 

—Claro que nego, eu nem sabia que existia essas coisas, nem tinha certeza se era um semideus ou não. — respondi um pouco nervoso, sem sentir nenhum pouco de coceira na língua. 

—Muito bem, eu já achava que essa acusação fosse equivocada. — ele olhou para Raoni com o olhar sério. Raoni se encolheu em seu assento. — Agora vou a pergunta. É verdade que você nunca foi atacado por nenhuma criatura folclórica até a legião te encontrar? 

—Sim. — respondi e um pouco da fumaça esquerda sumiu. — Jamais fui atacado, por nada e por ninguém. Até apareceu o Capelobo e aquele monstro que matei.

Ele olhou para o Pajécique que assentiu para ele. 

—Garoto, o cão do inferno que você teve sorte de matar não estava lá para te atacar, ele era seu guarda costas, ele estava lá para te proteger de nós. — disse ele e agora sim, eu não entendo mais nada. — Ele praticamente deixou você mata-lo. 

—Me proteger?! Como assim?! — exclamei. 

—Você, garoto. Desde seu nascimento está marcado com a marca da besta, uma marca feita por um dos príncipes ou cavaleiros do inferno.— disse o Pajécique e a chama acessa no centro pareceu ficar mais intensa. — Está marca o escondia sua parte divina de nós e também escondia você da visão dos anjos. Os motivos disso, nós ainda não sabemos, mas tudo indica que alguém mal intencionado tenha feito um pacto com algum demônio para te proteger. Os anjos suspeitam que possa ter sido algum parente seu, alguém que queria te distanciar de nosso mundo. Sua mãe, talvez. Não seria a primeira vez que uma mãe ou pai mortal tentam proteger os filhos desesperadamente de sua parte divina. 

Eu não posso acreditar nisso, minha mãe não seria capaz disso, ela jamais faria uma coisa dessas. Justo ela! Isso não pode ser verdade! Eu não a conheci, mas minha avó sempre disse que ela era uma devotada cristã que ao invés de chorar, se ajoelhava e orava... não posso imaginar ela fazendo isso. 

—Mentira! Ela jamais faria isso, ela não! — exclamei.  

—Kauê, entendemos sua confusão, nem nós conseguimos entender. Nem mesmo os deuses e os anjos conseguem entender como isso aconteceu sem que eles percebessem. — respondeu o Pajécique. — O fato é, por alguma razão, o cão do inferno estava lá para te proteger de nós. A magia demoníaca colocada estava tão forte que apenas tocar em nossas armas, seu corpo queimou intensamente, quase o matando para te forçar a se livrar delas. Tem sorte de estar vivo. Quando chegou aqui, A Caipora, deusa da floresta, dos animais e protetora de nossa casa, logo invocou Lorde Polo. Ele enviou uma mensagem a Tupã e nosso senhor viajou até o céu e pediu uma audiência com o Arcanjo Miguel para discutir esse assunto peculiar. Miguel enviou um anjo para verificar tudo, com a ajuda dele e da nossa deusa da magia, conseguimos extrair a magia demoníaca presente em seu corpo e retirar a marca. Depois disso, os deuses discutiram com os anjos. Uma coisa dessas não podia acontecer, pois apesar de todos eles viverem aqui no Brasil. Todos são divididos de acordo com as crenças de cada cidadão e nenhum tem permissão de se intrometer nos assuntos um do outro, a não ser que seja necessário. O grau da magia colocada foi enorme, tão forte que os anjos disseram que apenas um pacto em troca da alma da pessoa seria capaz de fazer ela acontecer. Eles estão investigando, nada foi comprovado, ainda. 

Eu não consigo acreditar nisso, não faz sentido. Porque minha mãe faria isso comigo? Não pode ser... ESPERA! TEM ALGUÉM QUE COM CERTEZA SABE DE TUDO!

—E meu pai?! — exclamei. — Quem é ele?! Ele deve saber o que aconteceu! Se minha mãe fez mesmo isso! 

Um silencio pairou sobre o local até outro idoso gordo com as o nariz furado por um graveto falou:

—Ainda não sabemos quem é seu pai, com a retirada da magia demoníaca, logo seu pai poderá lhe abençoar já que mais nada pode impedir ele, espere. Quando acontecer, uma luz irá te iluminar e um símbolo será queimado em seu braço, dependendo qual for, saberemos quem é seu pai.  — disse o Youtou. — Até lá, ao meu ver. Você é inocente de tudo. Não concordam? Senhor, Pajécique?

Muitos assentiram e outros se absterão. Pude ver um sorriso brotar nos lábios de Taina e de Ágata, e um aceno de cabeça de Yancy. 

—Concordo, mas até sabermos de como isso de fato aconteceu, não podemos encerrar o caso. Primeiro precisamos descobrir quem é o pai dele, infelizmente a grande maioria dos deuses estão ocupados em uma crise na África e eles não podem sair de lá para resolver esse problema no momento. Os anjos estão investigando... sendo assim, o que podemos fazer é permitir que o garoto fique e receba treinamento como qualquer outro. — decretou Yagura, ele então virou seu olhar para mim. — Kauê, você deseja ficar e ser treinado? A escolha é sua. 

Eu não sei... estou com medo. Eu... meu corpo está tremendo. 

—Ficarei. — respondi de supetão, mas com um pouco de arrependimento.

—Lideres aqui presentes, todos a favor da nossa decisão? — perguntou ele para os outros na arquibancada. 

Ágata, Taina, Victor e Yancy me apoiaram, os outros que não conheço levantaram a mão e uma minoria ficou quieta e um deles foi Raoni que parecia a ponto de explodir com aquele olhar carregado de raiva. 

—ISSO É UM ABSURDO! — gritou Raoni chamando a atenção de todos. — ELE É UM CRIMINOSO! COMO PODEM PERMITIR QUE ELE FIQUE?! POR CAUSA DELE OS MALDITOS ANJOS ESTÃO VIGIANDO NOSSO POVO! 

—Raoni, silencio. — ordenou o Pajécique e uma luz de eletricidade brilhou em seus olhos. — Os anjos não são nossos inimigos, eles querem ajudar a resolver esse problema, Se Tupã está de acordo, nós não somos ninguém para discordar.  E essa é segunda vez que interrompe o conselho sem ser autorizado. Estou cansado da sua insolência. Não deixe seus sentimentos pessoais atrapalharem seu julgamento.

Raoni se pôs de pé e me olhava com ódio.

—E eu estou cansado da nossa bondade e misericórdia com quem não merece! Yagura! Olha o que está acontecendo! A floresta amazônica está violenta, semideuses estão desaparecendo, mortais idiotas também! E agora esse imbecil aparece com um cão do inferno na coleira, pensem! Tem algo muito errado e estamos ignorando! — retrucou ele apontando o dedo para mim. — Os anjos podem muito bem ter permitido esse pacto acontecer, é a desculpa perfeita para eles se meterem em nossas vidas e em nossas terras! Exatamente como seus humanos cristãos fazem! 

—CHEGA! — gritou o Pajecique e um trovão estourou nos céus. — Não é hora de intrigas entre nós, o garoto é inocente! Até que nos provem o contrário, ele é apenas uma vitima. Não permitirei que vomite palavras tão venenosas neste conselho novamente, filho de Xandoré! 

O silencio pairou sobre o local, mais uma vez. A única coisa que escuto é meu coração mega acelerado e eu suspeito que caguei na calça de tanto medo.

Raoni não disse mais nada, ele se levantou e saiu. 

Os demais idosos começaram a murmurar entre si, pelo que consigo ouvir, eles parecem considerar as palavras de Raoni. Coisas estranhas estão acontecendo por aqui e eu surgir com meu totó do inferno parece ter piorado a situação. 

Uma líder da arquibancada se levantou, não havia prestado atenção nela antes por causa de toda a tensão, mas olhando agora, ela é a mulher mais linda que ia vi na minha vida. Seu cabelo preto é grande e liso, ela tem uma franja. Seu rosto e corpo são pintados com tinta vermelha e rosa. 

—Raoni tem razão, meu senhor. — disse ela. — Muitos semideuses estão inquietos com esses acontecimentos. Só digo isso para evitar mais pânico geral. 

— Não tem motivo para haver pânico — bufou Youton  — O rapaz foi julgado, o poder de meu pai o impede de tentar mentir. Ele é apenas uma vítima até então, não somos irracionais. Todos aqui sabem bem, meu pai é mais justo que o próprio Zeus. Vocês, líderes, devem relatar tudo para suas casas. O Pajecique fará um pronunciamento no jantar. Só continuem com nossas atividades. 

Ela voltou a se sentar, mas com um olhar curioso para mim, diferente de Raoni. 

—Todos de acordo? — perguntou o Pajécique e todos assentiram. — Muito bem.

Ele balançou a mão e os círculos de fumaça a minha volta desapareceram. 

—Como não sabemos quem é seu pai, você vai ficar na Oca dos turistas. Lá é onde ficam os semideuses que ainda não sabem quem são seus pais e nossos visitantes. — disse ele. — Mas você vai receber o devido treinamento e nossas orientações todos os dias, irei pedir para alguém ser seu instrutor e te mostrar tudo. Acredito que a Ágata seria ideal, se não houver problema? 

Ele olhou para ela, ela se levantou e fez uma referência em respeito. 

— Com todo o prazer, senhor. — disse ela com um sorriso no rosto. Meu coração se aliviou por ser ela a minha guia nesse lugar, depois do que passamos juntos, ela e a que mais posso considerar como amiga nesse momento. 

—Sem mais objeções, o Conselho se dissolve agora. — disse Yagura olhando para mim. — Líderes, por favor, podem voltar às suas atividades. Nós anciões iremos meditar e tentar entrar em contato com os deuses. 

 Todos os líderes na arquibancada se levantaram, menos Yancy que permaneceu em seu lugar. Todos fizeram uma referência e saíram um por um, Ágata pediu para mim segui-la e eu o fiz, mas não antes de fazer uma referência como todos fizeram antes de sair. 

 



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