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História Keep Out (HIATUS) - Boxes in my trunk


Escrita por: Cami_canfly

Notas do Autor


Gente, demorei, mas postei. Sobre essa demora, foi porque eu estava meio q reformando a fic (mudei a sinopse e o primeiro cap, pretendo mudar o 2 e 3, mas n vai alterar a historia, só alguns errinhos que eu cometi), além de ter prova toda semana e tb pq eu tava com preguiça. Sobre o trailer ta... ta uma bosta. EU DESISTO DE FAZER AQUILO, vou pedir p outra pessoa fazer (alguem se oferece?) hahaha
Boa leitura!!

Capítulo 10 - Boxes in my trunk


Capítulo 10 - Boxes in my trunk

 A estrada estava calma, com pouco fluxo de carros e caminhões e eu estava grata por isso, já que dirigir com trafego movimentado era um tanto estressante e as constantes reclamações de Luke sobre seu celular, que eu jogara pela janela, em meus ouvidos não ajudavam nem um pouco a deixar minha mente mais serena.

 Luke residia sentado ao meu lado, os braços cruzados, mostrando que ainda estava emburrado por eu ter tacado fora seu celular, fazendo-me revirar os olhos, mas isso não o impedia de fazer suas piadinhas sem graça e me encher de perguntas irritantes sobre minha vida, que eu evitava responder com apenas com um olhar, o fazendo simplesmente rir e dar de ombros.

 Lancei meu olhar para o loiro ao meu lado quando ouvi o som de algo ser desembrulhado. Luke continha em mãos um saco de salgadinhos de queijo e uma caixa de suco e assim que o embrulho do saco fora rompido, um cheiro forte de tempero e parmesão se propagara pelo interior do carro, fazendo com que uma careta surgisse em meu rosto.

 Pigarreei propositalmente, chamando a atenção de seus olhos azuis, que me olhavam curiosos. Ergui minhas sobrancelhas e olhei entre seu rosto e os salgadinhos em seu colo, torcendo para que ele entendesse a deixa e jogasse fora aquilo, mas não me surpreendi quando o mesmo me devolveu um olhar desentendido. Olhei-o brava e novamente para os salgadinhos e quase ri quando uma luz pareceu se acender em seu rosto, mostrando que havia entendido.

-- Quer? – Ofereceu sorridente.

 Refiz minha careta ao olhar os salgadinhos fedidos que Luke empunha próximo ao meu rosto e perceber que na verdade, ele não havia entendido meus olhares. Com um resmungo afastei o saco alaranjado de mim.

-- Jogue isso fora, Luke. Eu não gosto de comida no meu carro e você vai acabar derrubando.

-- O que? Não! Anda, pega um. – Falou, aproximando mais ainda o saco do meu rosto, fazendo-me inclinar para o lado da janela e olhar mais uma vez entre os salgadinhos e a estrada.

-- Isso fede, tire de perto de mim! – Mandei, empurrando sua mão com o saco de perto de mim – Joga isso fora.

-- Não vou jogar fora.

-- Então guarda isso. Ninguém come no meu carro, então a menos que você queira que esse maldito saco de salgadinhos vá fazer companhia para o seu celular na estrada, é melhor guardar.

 Luke me olhou com olhos entediados, enquanto enfiava uma das mãos no saco e levava um punhado de salgadinhos alaranjados até sua boca. Mastigava lentamente e antes de engolir, abriu a boca para mim, mostrando-me a massa triturada e molhada de saliva no interior de sua boca, fazendo meu estomago reclamar em asco.

Quanta maturidade, pensei.

 Coloquei uma mão na boca para impedir que a bile subisse. Eu tinha um serio problema com saliva alheia e alimentos alheios.

-- Você é nojento! Jogue isso fora ou eu juro que te expulso desse carro! – Vociferei em alto tom.

-- Deixe de ser chata! – Falou exasperado após engolir.

 Eu olhava entre o ser loiro ao meu lado e a estrada, preocupando-me em prestar atenção na mesma, já que não queria repetir o ato de me distrair o bastante para deixar o carro sair da faixa.

-- Lucas! – Agora eu já estava gritando. O carro era meu, então qual o problema de ele respeitar as porras das minhas regras?! -- Mandei jogar essa merda fora! Agora!

 E foi assim que começamos uma estupida discussão, competindo em quem falava mais auto, com direito ao revirar olhos de ambas as partes, bufões, suspiros de escarnio e xingamentos mentais. E continuamos assim até que Luke faz algo que quase me faz ter um treco:

-- OK! EU GUARDO! – Gritou em desistência, batendo ambas as mãos nas coxas, mas no momento em que fez isso, o saco alaranjado em seu colo se entornou para o lado, derrubando todo o restante de seu conteúdo no carpete e meio dos bancos.

 Escancarei a boca ao ver meu carpete original, que estava sempre limpíssimo, agora sujo de salgadinhos em forma de concha e farelos esparramados por todos os cantos.

 Luke lançou um rápido olhar para mim antes de começar a catar rapidamente o conteúdo derramado, dificultando-se com os farelos espalhados e bufando ao perceber que tentar recolhe-los só estava fazendo com que se espalhassem mais.

 Eu poderia gritar, xinga-lo e recomeçar toda a discussão de segundos atrás, mas não. Eu estava com dor de cabeça e estressada de tanto ficar rebatendo tudo o que Luke fazia ou falava, então ao invés de soltar os cachorros, apenas fechei os olhos por um ou dois instantes, apertei os nos dos dedos contra o volante, com força o bastante para que os mesmos se esbranquiçassem e respirei fundo, buscando me acalmar e ignorar a mancada do loiro ao meu lado.

-- Foi mal. – Desculpou-se Luke, enquanto limpava as pontas dos dedos nos jeans – Não consegui limpar os farelos, mas se você parar em um posto eu posso lim...

-- Não. – O interrompo com os olhos ainda na estrada, com a mão direita erguida em um gesto pedindo para que parasse. – Fique calado. Juro que se eu ouvir sua voz novamente nos próximos trinta minutos, eu não responderei por mim.

 Luke revira os olhos e bufa, voltando a se acomodar no banco de forma com que pudesse escorar o ombro e cabeça na janela e pela primeira vez em duas horas e meia, ficando em total silencio.

 Um clima tenso de mau humor e estresse se instalaram no carro e permanecemos assim pelos próximos vinte minutos, mas aquilo estava me incomodando. O silencio estava incomodando. Não o silencio da falta da tagarelice de Luke, porque disso eu não sentia falta, mas o silencio em geral.

 Normalmente, eu apreciava quando tudo estava quieto e silencioso, porque me acalmava e era mais fácil deixar que minha mente se desligasse, mas ultimamente, mais especificamente desde três semanas atrás, o silencio e eu não éramos mais tão amigos assim.

 Todas as vezes que tudo se acalmava e se desprovia de barulho, minha mente resolvia se manifestar, trazendo-me pensamentos os quais eu jamais esperaria ter, relembrando-me de pessoas as quais eu queria esquecer e fazendo-me questionar se certas ações minhas foram certas ou erradas. E infelizmente, com ações, eu queria dizer especificamente: assassinar Steve.

Assassinar alguém.

Eu nunca fui pura, nunca estive livre de culpa ou de muito menos do fato de ter tirado a vida de outro alguém, no entanto, eu sabia que por mais que eu errara no passado, não havia feito de propósito. Mas desta vez não havia desculpas, porque eu quis matar Steve, eu quis assistir aquilo, tanto que nos primeiros dias, eu repassava a cena dos seus olhos desfocarem-se e de seus braços caírem amolecidos ao seu redor milhares e milhares de vezes e continuo fazendo até o hoje.

E eu sinto tanta raiva.

Raiva de ter destruído minha vida e a de Adam, raiva por ser tão fria, raiva por no fundo, eu me sentir mal de ter me vingado do homem que infernizou e assombrou até meus piores pesadelos, mas acima de tudo, raiva por estar me tornando alguém tao desprezível quando Steve, meu assassino.

Eu me referia a Steve como “meu assassino”, porque na verdade, ele já havia me matado centenas e centenas de vezes. A cada batimento acelerado que meu coração dava por medo do que ele iria fazer, a cada lágrima que eu via escorrer dos olhos apavorados de meu irmão, a cada vez que eu me lembrava da forma a qual minha mãe falecera, eu estava sendo morta.

Parte por parte.

Contudo, a culpa ainda me consumia, sendo que na verdade eu apenas quitei a divida dele comigo, mas eu como sempre em pura desavença, sentia-me mal por ter acabado com o mal. E eram pensamentos como esse que faziam com eu e meu amado silêncio não andássemos mais juntos.

Com um suspiro exasperado, estendi uma de minhas mãos até o som do carro, ligando o mesmo e iniciando os acordes de uma musica qualquer de alguma radio em meus ouvidos, buscando de maneira desesperada uma brecha de meus pensamentos ensurdecedores.

Levo minhas duas mãos para o alto do volante, podendo finalmente relaxar sobre o couro macio do banco. A música não era nem um pouco do meu gosto. Era um Rap bem pesado e que só falava porcaria - não que eu não gostasse de Rap, porque eu gostava de algumas musicas, só que aquela em particular não -, mas eu não ligava. Naquele momento eu era grata por qualquer barulho que me livrasse de minha mente.

No entanto, Luke parecia não concordar comigo naquele instante, já que com um bufo e uma carranca bem instalada na face, ergueu uma mão e desligou o som e logo depois voltando a sua posição no banco. Estalei minha língua em desacordo, enquanto religava o aparelho, fazendo a melodia – se é que se podia chamar assim – ecoar novamente pelo carro.

-- Não mexa no meu som, já pedi isso – Relembrei em voz baixa, enquanto mantinha meus olhos na pista à frente.

-- Eu estou com dor de cabeça, você pode desligar? – Pediu sério, o que era novidade para Luke Hemmings.

Olhei para o garoto ao meu lado e ele sustentava meu olhar. Sua boca bordava uma linha fina com seus lábios rosados pressionados um no outro e as sobrancelhas estavam um tanto erguidas, esperando minha resposta. Pisquei algumas vezes antes de voltar minha visão para a estrada.

-- Eu também estava com dor de cabeça durante as duas horas em que você ficou falando na minha cabeça. – Declarei seca.

Luke riu seco pelo nariz, apoiando seu cotovelo na porta para apoiar a cabeça. Pressionei os lábios enquanto observava-o e com um único movimento, girei um dos botões do som, deixando a musica do carro em um volume bem baixo para não incomoda-lo, mas alto o bastante para me satisfazer.

Eu não era tão chata a ponto de fazer alguém aturar musica em volume alto quando se está com dor de cabeça.

-- Obrigado – Sussurrou. Apenas assenti em reconhecimento.

-- Tem aspirinas no porta-luvas – Falei apontando para suas pernas – Pegue-me uma também e cuidado com os Cds.

Assisti Luke inclinar seu corpo, para ficar mais próximo do porta-luvas. Quando abriu o mesmo, um punhado de Cds quase caíram, mas ele foi mais rápido e os segurou a tempo, colocando-os sobre o colo para liberar espaço e facilitar a procura pelas aspirinas.

-- Você tem bastantes Cds – Observou, afastando mais meia dúzia de caixinhas de plástico de diferentes bandas e murmurando um “achei” ao encontrar os comprimidos.

Luke colocou todos os Cds de volta no lugar e fechou o porta-luvas em um estalo, logo voltando-se ao vidrinho com uma logomarca branca no meio, abrindo o mesmo e retirando dois comprimidos também brancos com os dedos.

-- Você tem água ou alguma outra bebida? – Perguntou enquanto fechava a tampa do vidro e me estendia a mão que continha os comprimidos.

Olhei em seus olhos antes de pegar uma das bolinhas brancas em sua mão e leva-las a boca, engolindo-as sem nem ao menos uma gota d’agua, deixando sua pergunta ser levada pelo vácuo. Voltei minha atenção ao acostamento da estrada, vendo que a cerca de alguns metros, havia um posto de gasolina.

Dei a seta para a esquerda, entornando o volante e adentrando a área do posto, que estava mais para um lugar fantasma do que para um posto. Parei o carro ao lado da segunda bomba, que era a que continha diesel e tirei a chave da ignição, virando meu rosto para o lado, em direção a Luke.

-- Eu vou abastecer o carro e comprar algumas coisas na loja de conveniência e enquanto isso, você vai arrumar algum pano ou coisa do tipo e vai limpar essa bagunça. – Declarei séria, apontando com o dedo indicador para o carpete sujo com tempero de queijo. Luke murmurou uma reclamação, mas não pude ouvir, pois o som da porta batendo quando eu saio do carro abafa o som.

Andei até a as portas de vidro da pequena lojinha de conveniências, olhando para cima ao ouvir o som estridente do sino instalado na porta. Senti o ar refrescante do ar condicionado adentrar meus pulmões e observei momentaneamente o chão de cerâmica, que reluzia a ponto de refletir as luzes presas no teto e escorado ao balcão avermelhado, estava um caixa que vestia sua melhor cara de tédio enquanto folheava uma revista qualquer. Caminhei em passos lentos até o mesmo, que me dirigiu um olhar dos pés a cabeça antes de soltar um bufo desanimado pelo nariz.

-- Libere a bomba numero dois, por favor. – Pedi educada, tentando ao máximo ignorar sua feição mal-humorada. Levei a mão ao bolso traseiro, pegando minha carteira e retirando uma nota de cem dólares, depositando-a nas mãos gélidas do rapaz a minha frente, que guardou as notas na caixa registradora.

-- Mais alguma coisa? – Indagou com voz monótona.

Apenas assenti com a cabeça, pedindo com um gesto do dedo indicador para que esperasse um momento, enquanto me afastava em direção as prateleiras carregadas de produtos da lojinha. Abri as portas de um dos freezers, retirando duas garrafas d’agua e me voltei ao caixa, pegando alguns chicletes e pagando a diferença antes de sair da lojinha em direção ao clima seco do lado de fora.

Sorri levemente de canto ao me deparar com Luke curvado sobre o banco do passageiro, com as pernas para fora do carro usando como apoio, enquanto usava um pano seco para afastar as migalhas do salgadinho. Joguei as duas garradas de agua sobre o banco do motorista, provocando um barulho abafado quando as mesmas se chocaram contra o couro e eu não contive uma risada sapeca quando Luke bateu a cabeça contra o teto do carro ao se assustar com o movimento repentino.

-- Ai – Resmungou, enquanto colocava uma das mãos atrás da cabeça, fuzilando-me com os olhos.

Desculpei-me com um balançar dos ombros, levantando as mãos como se estivesse me rendendo e soltei um riso pelo nariz, enquanto puxava a mangueira da bomba de gasolina e a encaixava na entrada do tanque do carro, abastecendo o mesmo.

-- Prontinho, tudo limpo. – Pronunciou Luke após alguns instantes, ficando em pé ao lado do carro, enquanto descansava o pano em seu ombro direito.

Estiquei meu pescoço para o lado, mantendo a mão sobre a mangueira de gasolina, controlando o fluxo de liquido que abastecia o tanque e espreitei meus olhos ao enxergar no apertado espaço entre os bancos, um punhado de pó alaranjado.

-- Tudo limpo? – Perguntei irônica, usando meu dedo indicador para apontar o interior do carro – Está cheio de sujeira dentre os bancos. Limpe isso direito, Hemmings.

Luke franziu o cenho em uma careta ao entortar um pouquinho a postura para olhar o vão entre os bancos, olhando-me com olhos arregalados em uma expressão de descrença logo em seguida.

-- É muito apertado ali, não dá para passar minha mão, eu não vou alcançar! – Reclamou.

-- Você nem ao menos tentou! – Observei, dividindo meus olhares entre o loiro, que levara suas mãos à cintura em objeção e os números que mudavam a cada segundo na tela da bomba, contando os litros de diesel. – Limpa isso, Luke. Eu avisei para não comer no meu carro.

Assisti Luke bufar e se inclinar novamente no banco do carro, voltando à tarefa de limpar a bagunça feita. Com um pequeno sorriso lateral, voltei minha atenção à bomba de gasolina e aos carros que passavam pela rodovia em alta velocidade e em um leve movimento, afastei os cabelos de minha nuca com os dedos em uma pequena tentaiva de me refrescar. O clima não estava quente, chamaria de até de agradável, mas infelizmente, estava seco e não havia nenhum sinal de qualquer brisa, o que tornava o ar parado e consequentemente, aumentava a sensação térmica.

-- Maldita garota louca maníaca por limpeza... – Luke murmurou em sussurro de reclamação, enquanto voltava a ficar em pé e batia uma mão na outra para se limpar.

Estreitei meus olhos em sua direção, enquanto retirava a mangueira do tanque de gasolina do carro e a colocava em seu suporte. Levei minhas mãos ao quadris e levantei sugestivamente uma de minhas sobrancelhas ao loiro do outro lado do carro.

-- O que você disse? – Perguntei provocante.

-- Nada – Respondeu com um sorriso cínico, antes de se virar e caminhar até uma das torneiras espalhadas pelo posto para lavar as mãos.

Olhei-o com um olhar felino. Luke estava brincando com a minha paciência, achando que a mesma não tivesse limites. Talvez não tenha dado motivos suficientes para que ele se colocasse em seu lugar perante a mim, mas isso não era problema, pois eu daria um motivo neste instante.

Um sorriso maquiavélico surgiu em meus lábios quando minha mente sacana formulava um pequeno plano. Abri a porta do carro e puxei a pequena alavanca ao lado do volante, ouvindo o clique ao destravar o porta-malas.

Dirigi-me até a parte traseira do carro e usei as mãos para impulsionar o porta-malas para cima, abrindo o mesmo. As duas caixas de Franco eram postas bem no meio do carpete enegrecido. Afastei-as uma para cada lado, liberando um significante espaço no grande porta-malas e puxei uma das amarras que sustentavam o estepe em seu lugar, liberando o mesmo. Sorri ao ver que Luke se aproximava com o cenho franzido em interrogação.

-- O que está fazendo? – Perguntou, parando ao meu lado de braços cruzados. – Você sabe que não podemos mexer nas caixas.

-- Sim, eu sei. – Respondi o olhando. Meus braços estendidos, apoiando meu corpo inclinado em direção ao porta-malas, consequentemente fazendo com que meu traseiro se inclinasse um bocado, atraindo olhares do loiro ao meu lado. – Mas, não estou mexendo nas caixas.

Voltei minha atenção nas amarras soltas a minha frente, fingindo estar tentando arruma-las.

-- Então, está mexendo em que?

-- No estepe. Ele se soltou e eu não quero que fique batendo nas caixas enquanto dirigimos. – Reprimi um riso ao ver Luke se inclinar ao meu lado, aproximando-se do porta-malas. – Não estou conseguindo arrumar. Será que você pode me ajudar? – Perguntei com a voz mansa, oferecendo-lhe um pequeno sorriso.

Luke estreitou os olhos em minha direção, provavelmente estranhando minha abordagem gentil.

-- Por favor? – Pedi com um ar de inocência, enquanto implorava com meus olhos em falsa necessidade. Luke me olhou de soslaio, avaliando minha sinceridade.

Podia ver a duvida brilhando em seus olhos enquanto me analisava de cima a baixo. Ergui minhas sobrancelhas esperando sua resposta e sorri sem mostrar os dentes ao velo revirar os olhos e deixar cair os ombros ao se dar por vencido.

-- Tudo bem, chegue para lá. – Pediu enxotando-me com uma das mãos, enquanto se inclinava mais ainda para dentro do porta-malas e analisava o estepe solto. Dei um passo para trás, dando-lhe o espaço pedido e o assisti franzir o cenho ao não entender como funciona o suporte das amarras.

-- Acho que você tem que prender naquele lacre bem ali. – Apontei para o fundo do porta-malas, onde ficava o suporte da caixa de som.

-- Eu acho que não é ali... – Falou seguindo com o olhar a direção em que meu dedo indicava.

-- É sim, tenho certeza.

Com um balançar de cabeça, Luke se abaixou mais ainda para alcançar o tal lacre, colocando um dos joelhos no para-choque do carro e se inclinado, ficando com apenas um dos pés no chão.

Agora!

Soltei uma pequena risada e com todo o impulso que consegui com aquela distancia, empurrei seu corpo em direção ao porta-malas. O corpo de Luke se chocou contra a dureza acarpetada entre as duas caixas de Franco e ele me olhou de olhos arregalados e uma cara obvia de interrogação.

-- Mas o que você est...

Com um sorriso enorme no rosto, mandei um “tchauzinho” com os dedos para ele e fechei o porta-malas, trancando-o lá dentro.

-- ADDIE! – Chamou com a voz abafada pelas camadas de lataria que nos separavam. – Me tire daqui!

-- Oh, não. – Gritei, aproximando minha boca da lataria, para que ele me escutasse perfeitamente – Não quero você viaje com uma louca maníaca por limpeza! Espero que esteja confortável! – Terminei rindo.

-- ADDIE! – Socou a lataria interna e gritava cada vez mais alto, me mandando tira-lo de lá, enquanto a única coisa que eu fazia era rir.

Dei alguns tapinhas na traseira do carro para me despedir e andei em direção a porta do motorista. Pisquei para o atendente de caixa que me olhava boquiaberto com os olhos arregalados de dentro da pequena lojinha e me sentei sobre o banco e fechando a porta.

Eu não estava preocupada se Luke ficaria ou não sem oxigênio lá atrás. Sabia que havia orifícios das caixas de som, onde o ar passava livremente. Pude perceber o banco traseiro se sacodindo com os empurrões e socos que Luke desferia no mesmo quando olhei pelo retrovisor e soltando uma alta gargalhada, liguei o som e coloquei o mesmo no volume máximo com o intuito de abafar as reclamações do loiro lá atrás. Dei a partida no carro, ouvindo o forte ronco do motor quando pisei no acelerador e sai em direção à rodovia.  

As janelas estavam abertas, carregando meus cabelos, agora soltos, para todos os lados, da maneira que gostava e uma de minhas mãos estava apoiada na batente de janela, meus dedos brincavam com as lufadas de ar que os tocavam. Olhei para a beirada da estrada, onde uma placa esverdeada indicava que estávamos a quinze quilômetros de Darwin.

Olhei pelo retrovisor e percebi que o banco traseiro não mais balançava e com um simples movimento, desliguei o som, deixando apenas o barulho do vento que entrava pelas janelas badernando o local. Fazia cerca de uma hora desde que saímos do posto, ou seja, uma hora que Luke estava trancado no porta-malas.

-- Luke? – Chamei segurando o riso. Eu ainda me divertia com a memoria do choque em seu rosto quando o empurrei para dentro do porta-malas.

-- Fala. – Respondeu após alguns instantes.

-- Fala! – Disse ele mais alto perante meu silencio.

-- Nada, só queria ver se ainda estava vivo. – Esclareci prestando atenção na estrada.

Acho que minha justificativa irritou um pouco Luke, pois assim que as palavras cruzaram minha boca, mais xingamentos e reclamações foram proferidos pelo loiro de olhos azuis. Comecei a rir em baixo volume, para que ele não escutasse e ficasse ainda mais zangado.

Após vinte minutos rindo loucamente da desgraça de Luke, finalmente pude avistar a entrada de Darwin e logo a pequena estrada de terra, a qual Franco deixara bem claro que deveríamos entrar.  Girei o volante para a esquerda, parando no acostamento da pequena estrada contornada por uma leve camada de gramíneas e desliguei o carro, bufando ao saber que a partir de agora, a presença de Luke ao meu lado seria necessária.

Abri a porta, colocando as solas de meus coturnos no chão irregular de terra e caminhei até o porta-malas do carro, abrindo o mesmo. Luke residia dormindo com uma das mãos abaixo do rosto, servindo-lhe de apoio e os joelhos encolhidos próximos ao corpo, em posição fetal. Pensei em cutuca-lo para lhe despertar, mas não foi necessário, já que a claridade do lado de fora iluminou lhe o rosto, fazendo com abrisse os olhos e olhasse ao redor tentando se localizar.

Assim que seu olhar foi de encontro ao meu, pude assistir uma centelha de raiva acender no azul claro de sua íris. Luke impulsionou seu corpo de forma ríspida para fora do porta-malas, fazendo com uma das caixas de Franco se movesse e acabasse se chocando contra o chão de terra, mas minha atenção foi desviada disso quando senti um dos dedos de Luke cutucar meu ombro raivosamente.

-- Mas que merda você achou que estava fazendo? Hum?! – Gritou com o rosto avermelhado em raiva. Ele parecia possesso e eu sabia que no fundo, o que eu fiz não foi tão legal para ele... Mas, por outro lado, foi muito legal para mim. Acho que eu nunca tinha rido tanto na minha vida.

Luke começou a gritar e esbravejar toda sua raiva em xingamentos, reclamações, ameaças e gestos, enquanto eu olhava entediada para ele, de braços cruzados, esperando que seu surto raivoso acabasse. Revirei os olhos ao escutar pela terceira vez que ele daria o troco e meu olhar se acabou sobre a caixa derrubada ao lado do carro. Apertei os olhos e inclinei a cabeça levemente para o lado ao notar uma pequena alça de couro saindo da caixa.

-- Mas o que é isso? – Perguntei a mim mesma, enquanto me abaixava e destampava a caixa, deixando Luke parado gritando sozinho.

Puxei a alça de couro amarronzada e ergui os olhos em surpresa ao desvendar uma carteira com um lindo lacre dourado no meio.

-- Addie! – Luke gritou ao perceber que eu não mais prestava atenção em suas palavras. Olhei para ele e vi seus olhos se espantarem ao ver o objeto em minhas mãos. – O que está fazendo?! Não mexa nisso! – Mandou, aproximando-se em grandes passos apressados.

Levei minhas mãos de volta a caixa para explora-la ainda mais, mas fui impedida ao ter meu corpo puxado fortemente para cima. Luke segurava fortemente meu braço, na região do úmero, olhando-me bravo.

-- Se Franco descobrir que mexeu nisso, ele vai nos matar!

-- Luke, me larga! – Mandei enquanto puxava fortemente meu braço de sua posse, voltando-me a caixa. Senti novamente o toque de Luke junto ao meu pulso, irritando-me.

-- Luke! – Gritei, virando-me em sua direção e olhando em seus olhos. – Eu sei que você quer saber tanto quanto eu o que tem ai. – Apontei para a caixa em meus pés. Abri a boca ao ver a resistência em seu olhar, fazendo-me levar uma mão a testa em frustação.

-- Isso não é uma boa ideia. – Falou. Seus lábios fundidos em uma linha fina de seriedade.

-- Você não acha que tem alguma coisa errada nisso tudo? – Indaguei persistente. – Luke, você conhece Franco. Ele nunca confiaria um pagamento a um cliente! Nunca! Tem alguma coisa de errado nisso!

-- Mas é obvio que tem, Addie! Nós estamos trabalhando para um traficante, tem milhares de coisas erradas nisso! – Retrucou fazendo um gesto que representava o que tinha ao nosso redor.

-- Luke, ninguém vai descobrir. Eu prometo que não.

Luke olhou para algum ponto atrás de mim, enquanto cruzava os braços sobre o peito, movendo o maxilar em desconforto. Ao perceber minha insistência, voltou sua atenção a mim, analisando-me. Eu sabia que era arriscado mexer nas caixas, mas era como se uma necessidade de entender o que estava acontecendo me consumisse, eu odiava ficar no escuro e sabia que algo não se encaixava naquela historia e por isso eu sustento braviamente seu olhar azulado sobre o meu.

-- Faça o que você quiser – Deu de ombros, desistindo de sua resistência.

Olhei-o por alguns instantes a mais antes de me dirigir novamente à caixa, desta vez a abrindo completamente. Engulo um arquejo de surpresa ao contemplar vários pertences como chaves, carteiras, colares, algumas roupas e outros pertences pessoais espelhados pela caixa. Olhei para Luke com preocupação no olhar e o mesmo ao ver minha reação, se inclinou para enxergar também o que havia dentro da caixa.

-- Luke, olhe isso. – Falei, pegando uma das carteiras e a abrindo. Luke se agachou ao meu lado e se colocou a vasculhar os pertences da caixa.

-- São todos femininos. – Disse ele, enquanto olhava um chaveiro em forma de lua, que estava preso a um molho de chaves prateadas.

Franzi o cenho e voltei a mexer dentro da caixa, pressionando meus lábios ao achar uma identidade solta no fundo da mesma. Na foto havia uma menina de olhos castanhos e cabelos escuros na altura do ombro, pela sua data de aniversario era possível saber que hoje ela tinha dezenove anos e era de Sydney.

-- Susanne Williams – Li seu nome em voz alta, perguntando-me a mim mesma o porquê de a identidade de uma garota estar fazendo ali. Luke pareceu se interessar pelo nome anunciado por mim, já que seus olhos encontraram o pequeno cartão plastificado em minhas mãos com o cenho franzido.

-- Me deixa ver isso. – Pediu pegando a identidade de minhas mãos e a analisando com as sobrancelhas erguidas.

-- Você conhece essa garota? – Perguntei o olhando.

-- Hm, sim, quer dizer... não, mas... – Falou ainda olhando para a identidade em mãos. Olhei para ele confusa com a sua resposta. Ele conhecia ou não aquela garota, afinal?

-- Espere um pouco! – Pediu, enquanto se levantava e corria em direção ao carro. Observei-lhe curiosamente ao vê-lo abrir a porta do passageiro  e voltar correndo, dirigindo-se a mim novamente, mas desta vez com algo além da identidade da garota em mãos, algo que ao analisar melhor, percebi ser a pequena caixa de suco que ele comprara mais cedo, junto com aqueles salgadinhos nojentos.

Luke ajoelhou-se ao meu lado, não se importando se sujaria ou não sua roupa com a terra avermelhada da estreita estrada. Virou a pequena caixinha em mãos, seus olhos observando cada coisinha escrita ali até que eles arregalaram do nada. Estiquei o pescoço em sua direção para ver o que o surpreendia.

-- Oh. – Exclamou surpreso antes de levantar o olhar a mim, fazendo-me olha-lo curiosa. – Eu sabia que já a tinha visto...

Cuidadosamente, peguei a caixa de suco de sua mão, buscando com meus olhos o lugar onde há poucos instantes, Luke observava abismado. Soltei um arquejo em surpresa, ao ver ali, na lateral da caixinha roxeada, a foto da mesma menina da identidade, mas ao invés dos dados como nome dos pais, aniversario e CPF, ali estava escrito em grandes letras garrafais de um anuncio de desaparecida. Lancei um rápido olhar a Luke, que me também me encarava e voltei minha atenção ao pequeno anuncio.

-- Susanne Williams, dezenove anos, desaparecida em Sydney no dia 17 de fevereiro de 2014, vista pela ultima vez enquanto andava pelas ruas de seu bairro. – Li em voz alta os dados inscritos no anuncio. – Isso foi há um mês.

Luke me olhava em silencio, assim como eu o encarava de boca fechada. Eu não sabia o que aquilo significava. Talvez que Franco ou algum cliente seu a tenha sequestrado?

Entreguei a caixa de suco a Luke e voltei a analisar o conteúdo da caixa, mas desta vez procurando algo especifico. Queria achar mais alguma coisa relacionada à garota da identidade, mas todos os artigos achados por mim pertenciam a outras pessoas, a outras mulheres. Notei que todas elas tinham basicamente a mesma faixa etária, entre dezoito a vinte e cinco anos de idade.  Com um bufo, me levantei do chão, sendo seguida por Luke que ainda analisava a foto da garota na caixa de suco e segui em direção ao porta-malas. Com um rápido movimento, destampei a segunda caixa, arquejando horrorizada.

-- O que foi? – Perguntou Luke se aproximando. Senti seu corpo se tencionando ao contemplar o conteúdo da caixa. Eu tivera a mesma reação.

-- Isso é...—Gaguejou um tanto em choque, o que me fez pensar que talvez Luke não estivesse tão acostumado a ver coisas desagradáveis. – É...

-- Sangue seco. – Terminei por ele, que agora pegava um dos farrapos, do que antes devia ser uma blusa e analisava. Ela estava banhada por manchas em escarlate e havia alguns rasgos que pareciam ter sido feitos com facas. O conteúdo da caixa tinha um cheiro estranho, não de podridão ou de materiais em decomposição, mas de produtos químicos.

Com um graveto que encontrei no chão, remexi o conteúdo, levando uma mão à boca ao achar uma pequena sacola branca, ao abrir a mesma, franzi o cenho em asco. Havia dúzias de seringas e o que pareciam ser luvas hospitalares ensanguentadas e sujas de algum material enegrecido. Uma sensação ruim me dominou ao imaginar a ligação daqueles pertences femininos com o lixo descartado naquela sacola, e eu segurava a vontade de grunhir em nojo.

Com um balançar de cabeça, tampei a caixa, virando-me e pegando a outra que estava no chão e a colocando no porta-malas. Tomei educadamente a identidade da desaparecida da mão de Luke e a guardei dentro do local em que viera, mas não sem antes usar meu celular para fotografar a identidade em minha mão, logo erguendo os braços e fechando o porta-malas e me deparando com o olhar interrogativo de Luke.

-- Para investigar depois. – Expliquei o motivo da foto. Luke levantou as sobrancelhas e fez que não com a cabeça.

-- Você quer investigar isso?! Não, não e não. – Disse ele com uma expressão brava. – Addie, você tem noção do perigo que você pode gerar se se meter nisso? Não só para você, mas para mim também!

-- Relaxa, Luke! – Estressei-me revirando os olhos e levando as mãos para o alto. Luke tinha a capacidade de acabar com toda a paciência presente em mim com uma simples frase. – Ninguém vai descobrir e eu nem sei se vou mesmo ver onde isso vai dar. Só tirei a foto por precação.

Luke semicerrou os olhos para, colocando as mãos na cintura e sorrindo cinicamente de lado. Sustei seu olhar com uma cara de tedio, enquanto também levava minhas mãos até a cintura.

-- Se não vai investigar, apague as fotos. – Pediu ele. Olhei para ele com uma careta no rosto e fiz que não. Não iria apagar algo que poderia vir a me ajudar com algo no futuro.

-- Não e pare com isso, Lucas. Isso não vai dar em nada, okay? Então. Vê. Se. Relaxa. – Soletrei, enquanto fazia gestos com uma de minhas mãos, enfatizando minha fala. Luke iria dizer algo, mas pedi com o olhar para que ele não o fizesse. Eram muitas coisas para se pensar de uma vez e acho que Luke concordava comigo, pois desistiu de argumentar minha fala e se dispôs a escorar-se sobre a lataria do carro.

Passei a mão pelos cabelos, o jogando para trás e me apoiei sobre a lataria negra do carro antes de olhar para Luke, que me olhava com um misto de choque e compreensão. Mas compreensão pelo o que?, pensei comigo mesma, mas resolvi deixar aquilo para lá. Não importava de qualquer forma.

-- Você tinha razão. – Falei, despertando-o de seus pensamentos e atraindo sua atenção ao me olhar curioso. – Não devíamos ter aberto essas caixas. 


Notas Finais


Gente, eu tava pensando, e se fizéssemos um grupo no Wpp para nos comunicarmos? Ai vcs podem tirar duvidas cmg e outras coisas, entao quem quiser, me passa o telefone pelo privado!! Ah e me add no snap: camila_depaula.


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