História Keep You Safe - Capítulo Bônus II

Desde pequeno eu sonhava em ser um artista. Sempre gostei muito de dançar e queria muito, um dia, poder mostrar ao mundo as minhas habilidades. 
 

Mas claro, a vida não é um mar de rosas e ninguém disse que seus pais sempre seriam compreensíveis com você. Os meus tentam me convencer dia e noite que a vida de um artista, na verdade, não é uma vida. Eles são obrigados a obedecer todas as ordens da empresa sem poder opinar em nada. Você é basicamente uma marionete.
 

Claro, eu sei que existem artistas assim, mas depende muito do perfil da empresa. E com certeza, não é esse tipo de vida que eu quero levar. Não quero sacrificar a minha liberdade por dinheiro, de jeito nenhum, mas eu sei que pra conseguir o que eu quero, a fama no caso, uma hora ou outra eu terei que abrir mão de algo. Mas não será permanente.
 

Eu sonho em entrar para a JYP Enterteinment, umas das três maiores da Coréia. Sei que eles vão poder me proporcionar tudo o que quero. Sei que tenho potencial para passar na audição e ninguém me impedirá.
 

Quanto ao meu futuro pessoal, bem, eu tenho apenas 15 anos, então não penso em namoro ou algo do tipo, mas se me perguntarem, hm, talvez uma garota tímida e fofa que me faça sorrir só de olhar para ela, e que eu tenha vontade de abraçá-la o tempo todo, talvez seja o meu tipo ideal. Mas por enquanto, somos só eu e Nora, minha gata de estimação, ou minha filha.
 

Bom, meu nome é Im JaeBum, tenho 15 anos, como já disse antes, sou filho único e no momento, estou a caminho da audição da JYP, em busca do meu sonho. Enquanto ouço meus pais tentarem, pela milésima vez, me fazer mudar de ideia. 
 

-Mãe, vamos fazer o seguinte, se eu não passar, eu paro de tentar e sigo a carreira do papai.-olhei para o meu pai, que abriu um sorriso largo.-Mas se eu conseguir, vocês param de tentar me fazer mudar de ideia e me apoiam na minha carreira, pode ser?-perguntei olhando para os dois, que se olharam incertos.
 

-O-ok, mas você promete que vai desistir se não conseguir passar?-perguntou meio trêmula.
 

-Prometo.-bufei.
 

Eu sei bem o motivo deles terem um pé atrás com a minha escolha. O irmão da minha mãe também virou artista contra a vontade de meus avós, ele acabou ficando doente por excesso de trabalho e a empresa não deu os devidos cuidados, levando-o à morte em seus 35 anos.
 

A família da minha mãe ficou muito abalada na época, entraram com um processo contra a empresa, eles até ganharam mas ela não mudou nada e constantemente nós vemos notícias de que seus artistas, ora foram para o hospital, ora caíram no meio do show, e coisas do gênero.
 

Por isso a minha mãe tem tanto medo, eu até entendo o lado dela, mas poxa, eu não me vejo fazendo nada além disso, dançar é praticamente a minha vida, e eu já conversei, já mostrei para eles como os artistas da JYP são tratados. Mas a super proteção sempre fala mais alto.
 

Chegamos ao prédio onde aconteceriam as audições e desci do carro.
 

-Tchau pai, tchau mãe.-dei um beijo em cada um.
 

-Tchau filho, boa sorte.-minha mãe depositou um selo em minha testa e meu pai fez 'soquinho' para mim, com um 'vai lá, campeão.', eu sorri e corri para dentro do prédio.
 

No final das contas, eles sabem que eu sou capaz e eu sei que eles sempre vão me apoiar.

Quando cheguei em frente à sala de espera, haviam mais alguns meninos esperando, alguns se alongavam, outros treinavam uma última vez e um único estava apenas sentado. Parecia bem nervoso, ficava o tempo todo mexendo suas mãos.
 

Me aproximei do garoto, mas ele não parecia ter me percebido. Me agachei e toquei seu ombro.
 

-Oi.-disse baixo.
 

-AAAh.-ele gritou assustando todos, que logo voltaram ao que estavam fazendo antes.-Me desculpe!-disse meio atrapalhado.
 

-Não tem problema.-ri baixo.-Está tudo bem? Parece meio nervoso.-disse me sentando ao seu lado.
 

-Meio? Por favor, olhe o meu estado, acha que eu estou meio nervoso? Eu tenho certeza que não irei passar, meu Deus. O que é que eu estou fazendo aqui? Ah, eu vou embora, só irei passar vergonha.-o garoto começou a tagarelar e se levantou.
 

-Ei ei, não vá embora, você já veio até aqui.-eu disse segurando seu braço.-Quanto tempo treinou para essa audição?
 

-Uns dois anos, talvez.-disse incerto.
 

-Eheey, dois anos?? Isso é bastante tempo!-disse impressionado.-Vai jogar dois anos inteirinhos de treino por um nervosismo? Não faça isso, irá se arrepender.-disse vendo-o se sentar de novo, ainda pensativo.
 

-Você está certo, eu não treinei à toa.-sorriu com um olhar determinante.-Mas e se eu me esquecer na hora?-choramingou.
 

-Não vai, tenho certeza.-sorri.-Prazer, Im JaeBum.-entendi-lhe a mão.
 

-Park Jinyoung.-disse apertando a minha mão de volta.

 

No final, dentre os muitos garotos, que eu nem fiz questão de contar, eu e Jinyoung empatamos em segundo lugar. O garoto dança bem pra caramba e meu Deus, qual era a necessidade de tanto drama? Talvez eu tenha me esforçado duas vezes mais que o esperado para conseguir ficar ao nível dele. Me impressionou bastante.
 

Em resumo, acabamos virando grandes amigos, ele é apenas alguns meses mais novo que eu e é uma pessoa extremamente insegura. Tão insegura que quando informaram que ele havia passado, ele ligou três vezes na agência para confirmar. 
 

Qual foi a reação dos meus pais quando eu passei na audição? Bem, não sei dizer exatamente se o choro da minha mãe era de felicidade ou tristeza, mas meu pai esboçou um sorriso, então acredito que ele tenha ficado feliz. As últimas semanas em casa, minha mãe me mimou tanto que eu devo ter engordado pelo menos uns 10kg, ganhei mais roupa que a minha vida toda e só não ganhei um celular novo porquê o cartão do meu pai já estava no limite. Tive que deixar Nora em casa, mas lhe prometi que quando eu começasse a ganhar dinheiro, voltaria para pegá-la.

Em 2012, nós debutamos em uma dupla, JJProject. Não pude trazê-la para cá porque eu mal ficava em casa, então decidi adiar um pouco.

Agora, em 2014, estamos nos mudando para um apartamento maior, não que nós tenhamos feito um sucesso muito grande, tivemos nossos fãs, chegamos até a fazer doramas, mas o nosso chefe decidiu que nós debutaríamos num grupo agora, com 7 integrantes. Finalmente poderei trazer Nora para morar comigo. E se os outros garotos não gostarem dela? Dane-se, já fiquei longe demais da minha filha. Pais não suportam ficar muito tempo longe de seus filhos, se querem saber, por isso, não fiquem muito tempo sem visitar seus pais. Os meus? Eles sempre estão vindo aqui, minha mãe não aguenta ficar duas semanas sem me ver. 
 

Bom, voltando aos membros do grupo, além de mim e Jinyoung, alguns nós já conhecíamos, o Jackson, BamBam e Yugyeom, e dois que eu nunca havia me encontrado, o Mark, um ruivo, magro, e YoungJae, mais sorridente que o garoto propaganda da colgate.
 

Aah, sim, esqueci de citar o acidente que Jinyoung se envolveu antes de debutarmos, em 2012. Quando estavamos nas nossas férias, cada um foi para a sua cidade natal, durante o curto tempo de dois meses, Jinyoung foi atropelado. E pelo que eu entendi, o cara do carro estava em alta velocidade e ultrapassou no sinal vermelho. 
 

Jinyoung ficou uma semana e meia em coma e depois mais algumas para poder se recuperar totalmente. Mas parece que algo a mais aconteceu. Jinyoung namorava na época, não cheguei a conhecê-lo, mas parece que ele morreu nesse acidente. Sim, Jinyoung é gay. Eu não sabia disso antes, mas também não é como se isso fosse mudar algo.
 

O meu maknae quase entrou em depressão, ele não comia, não saía do quarto, eu até cheguei a conversar com o chefe sobre o cancelamento do nosso debut. Não queria forçá-lo, mas também não queria que ele desistisse, ele lutou tanto pra chegar onde estava.
 

Ligava para ele todos os dias, só não pude ir visitá-lo porque na época, eu estava viajando. Mas no final Jinyoung acabou decidindo que iria debutar.
 

E agora, aqui estamos, os sete treinando para o grande dia. Jinyoung ficou encarregado de ajudar os estrangeiros com as aulas de Hangul, enquanto eu estou ajudando o YoungJae com as aulas de canto. 
 

YoungJae tem muito potencial com a voz, mas ainda não tem controle sobre ela. 

-Jae, venha aqui.-chamei-o enquanto olhava alguns papéis.

-Sim, hyung?-ele se aproximou sorridente, como sempre.

-Aqui, vamos cantar essa hoje.-mostrei a letra da música.

-Vamos cantar Ailee?-me olhou confuso.

-Sim, ela tem uma voz maravilhosa, será ótima para treinarmos a sua voz.-disse e ele concordou, sorrindo.

-YoungJae, quantas vezes eu já disse para você não levantar as sobrancelhas enquanto canta?-o chefe disse calmo, esse é um dos dias que ele vem ver como andam os treinos.-Se você continuar com isso, terei que passar uma fita nelas.-essa calma dele me dá medo.-Por hoje é só, está melhorando bastante, só perca esse costume.-disse e sorriu, saindo da sala.

-Qual o problema com elas?-perguntou com um bico fofo, colocando a mão nelas.

-Nenhuma, elas só precisam parar de se empolgar enquanto você canta.-ri, tentando esconder a vontade de apertar aquele biquinho.-Vamos embora.-puxei-o para um abraço de lado e fomos em direção da saída.

Paramos no caminho para comprar algo para comermos, e enquanto eu fazia os pedidos, YoungJae assistia algum programa na televisão que estava disposta para os clientes assistirem. Ele ria alto, atraindo a atenção de algumas pessoas e mal percebia os olhares sobre si.

-Ei, Jae, ria mais baixo.-pedi vendo um grupo de jovens reclamarem enquanto olhava para nós.

-Ahm? Por que?-perguntou confuso, e eu apontei, discretamente, para o grupo, que ainda nos encarava.-Aah, me desculpe.-disse rindo baixinho.
 

Nesse meio tempo que passamos juntos, eu pude conhecer um pouco mais dele. YoungJae é uma criança fantástica. Ele consegue me fazer sorrir nos meus piores dias e pode ser um ombro amigo muito bom. Para mim é meio estranho isso, mas eu sinto que tenho que cuidar muito bem dele, antes que ele vá para longe de mim.

Longe que eu digo, não é se mudar para algum lugar mais afastado. Eu digo no sentido dele seguir a vida dele e aparecer com alguém. Namorar alguém que não seja eu.

Nunca pensei que eu iria gostar de um garoto, eu não sou gay, eu gosto DO YoungJae. Tenho certeza que se não fosse ele, eu não gostaria de outros garotos.

Ele mexeu comigo de uma forma incrível. E ele tem tudo o que eu gostaria numa namorada. É tímido, me faz sorrir por nada e eu sinto vontade de abraçá-lo o tempo todo, como se fosse um vício.
 

O único problema é que ele tem alergia a pelos, então Nora terá que sair daqui. Fiquei muito triste, afinal, eu fiquei quase dois anos longe dela. O que me deixa menos bravo, é o fato de o motivo ser o YoungJae. Se fosse os outros, eu teria deixado ela aqui do mesmo jeito. O que ele me pede sorrindo e eu não faço chorando, não é mesmo?
 

Enfim, faz um tempinho que resolvemos tentar algo.
 

FLASHBACK ON  

Foi numa sexta-feira. Eu e o Jae estávamos nos arrumando para ir embora, havíamos acabado de terminar o treino. Ele estava visivelmente cansado e o tempo todo tropeçava em seus próprios pés. Foi quando ele foi pegar sua bolsa no sofá e tropeçou no pé da mesinha que tinha do lado, caindo justamente em mim, nos levando ao chão. 
 

Ele caiu por cima de mim e eu de costas no chão, foi uma queda um tanto quando dolorosa, mas essa dor se esvaiu quando percebi o quão perto estávamos.
 

Ele me encarava assustado e eu não conseguia tirar os olhos dos lábios dele.
 

-Jae, me desculpe mas se eu não fizer isso agora, eu posso me arrepender.-Eu disse, selando os nossos lábios.
 

E para a minha surpresa, ele não se afastou, pelo contrário, colocou as mãos nos meus cabelos e retribuiu o beijo. Ficamos daquele jeito até nossos pulmões implorarem por ar. Quando nos separamos, sorrimos e nos levantamos.
 

-Achei que nunca faria isso.-ele disse sorrindo.
 

Saímos de lá de mãos dadas.
 

FLASHBACK OFF
 

Foi clichê? Talvez, mas foi assim que começou toda a nossa história.
 

Nós fomos nomeados pelos próprios membros, como 'O casal 2Jae', junção dos nossos nomes. Ficamos um tempo em uma relação sem rótulos, até os meninos começarem a reclamar que nós deveríamos nos assumir logo. Bem, nós conversamos e decidimos namorar. Não teve nenhum pedido romântico, com direito a um jantar à luz de velas, e nem nada, nem anel de compromisso compramos. Nada disso é necessário. 
 

Muitas coisas estão acontecendo com o nosso grupo. Jinyoung e Mark não param de brigar por conta do passado dos dois, mas isso é história para outro dia. Vocês só precisam saber que no meio disso tudo, Jinyoung decidiu que não conseguiria mais continuar conosco e saiu.
 

Esses dias estão sendo bem estressantes para todos nós, então nós decidimos sair para caminhar e tomar um pouco de ar.

-Você está bem?-perguntei para o meu namorado, que caminhava ao meu lado.
 

-Um pouco estressado, mas nada que isso não resolva.-disse me beijando.
 

-Jae...-olhei para os lados, envergonhado.
 

-Não se preocupe, hyung, ninguém está olhando.-entrelaçou os nossos dedos.-Acha que o Mark hyung vai se resolver com o Jinyoung hyung?-sentou num banco, me puxando para o seu lado.
 

-Quero muito que eles se resolvam.-disse abraçando-o de lado.-É que essa história é muito maluca, por isso não culpo o Mark por ter feito o que fez.
 

-Você também brigaria comigo se eu dissesse que você era meu anjo?-perguntou me olhando.
 

-Claro que não, mas eu não acreditaria, porque o anjo seria você.-sorri.
 

-Aish, não seja brega, hyung.-me deu um tapa leve no braço, ficando corado.-Espero que tudo acabe bem.-suspirou deitando a cabeça no meu ombro.
 

-Vai dar. Eles só precisam conversar.-depositei um beijo em seus cabelos, fazendo carinho ali.
 

-Vamos embora?-perguntou se levantando.
 

-Não querooo.-fiz manha, sendo puxado pelo pelo braço.
 

-Vamos hyung, eu estou cansado!-disse fazendo força ao me puxar, enquanto eu fazia corpo mole.
 

-Ok.-me levantei ainda com preguiça.-Sua mão está gelada.-disse entrelaçando nossos dedos.
 

-Está frio.-fez bico, manhoso.
 

Peguei nossas mãos e coloquei dentro do bolso de meu casaco, na intenção de esquentá-la.
 

-E a outra?-perguntou, levantando a mão esquerda.
 

Sorri, pegando a sua mão e puxando seu corpo para a minha frente. Abri meu casaco e o aconcheguei dentro dele num abraço quentinho. Ficamos assim durante alguns minutos, apenas aproveitando o calor um do outro.
 

-Tá tão gostoso aqui.-ele disse se ajeitando melhos em meus braços.
 

-Agora é você que não quer ir?-ri, sentindo o perfume de seus cabelos.
 

-É que tá frio.-levantou o rosto com um bico em seus lábios, que eu não hesitei em selar, depois beijando a pontinha gelada de seu nariz.
 

-Se ficarmos parados aqui irá esfriar mais.-disse acariciando suas bochechas.-Lá em casa está quentinho também.
 

-Seu abraço é mais gostoso.-sorriu.
 

-Podemos ficar abraçados em casa debaixo das cobertas também, não irei reclamar.-voltamos a andar
 

-Então vamos.-sorriu largo aumentando o passo.
 

E sempre era assim. Quando íamos dormir, eu me aconchegava nos abraços quentinhos do meu namorado, enquanto conversávamos até cair no sono.
 

E no futuro, eu espero que continue assim, porque, dentre todos os meus vícios, estar perto de Choi YoungJae é o maior e melhor deles.