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História Kiss me, Mors - Girassol


Escrita por: MoonyQueen

Capítulo 9 - Girassol


Fanfic / Fanfiction Kiss me, Mors - Girassol

NAHEE

Passei uma mão em meu rosto, retirando o suor que escorria por minha testa. Nove entregas realizadas e o cansativo dia de trabalho parecia não chegar jamais ao fim. Ao passar pela porta de vidro, notei que Yeri também compartilhava do mesmo sentimento que o meu; ela se encontrava jogada sobre uma das poltronas do local, seus olhos perdidos em algum lugar do tempo-espaço, muito provavelmente. Bem, pelo menos parecia ainda respirar.

Fui até o balcão verificar meu cronograma. Suspirei. Ainda tinha mais uma entrega a fazer e já era quase meia-noite. Okay... Pense positivo, Nahee, esta será sua última entrega hoje e então poderá ir para casa descansar, tomar um relaxante banho na banheira, beber um delicioso chá e ler um bom livro. Isso.

E então me deparei com o conteúdo da entrega que deveria fazer. Pisquei meus olhos repetidamente, me aproximando do papel para ter certeza de que estava lendo corretamente.

Um hidratante labial? O quê?

Eu já havia realizado entregas de coisas aleatórias, mas nunca nada como um mísero hidratante labial.

Ah... Não acredito que terei de perder meu tempo para fazer essa entrega insignificante.

Resignada, fui até meu armário pegar um elástico para prender o cabelo; o calor estava insuportável e os fios de cabelo grudando em meu pescoço já estavam me dando nos nervos. Enquanto fazia um rabo de cavalo, notei que a tela de meu celular, que estava ali guardado, iluminou-se. Arregalei os olhos; 15 ligações perdidas e 57 mensagens de texto.

O que estava acontecendo? Provavelmente esse era o recorde de mensagens de toda a minha vida já que, diga-se de passagem, as únicas mensagens que eu recebia eram do meu trabalho – e, bem, eu estava nele agora, então não haveria necessidade do meu chefe entrar em contato comigo – ou mensagens com propaganda das lojas e serviços de Seul.

Só havia uma pessoa que poderia ser responsável por isso: Kim Taehyung.

Bingo.

‘Nahee, preciso falar com você.’

‘Nahee, preciso de sua ajuda.’

‘Cadê você?’

‘Por que não está me atendendo?’

‘Alôôôô!’

‘NAHEE!’

‘POR QUE A DEMORA PARA RESPONDER?!’

‘ALOOOOOW’

‘EU TÔ MORRENDO.’

‘Mentira, mas ainda preciso da sua ajuda, Nana~.’

‘MAS QUE INFERNO! 10 ANOS PARA RESPONDER.’

‘POR ACASO VOCÊ JOGOU SEU CELULAR NO OCEANO PACÍFICO?’

Parei de ler as mensagens, girando os olhos. Eu não sabia se ele era sempre irritante assim ou se era só carência mesmo. Acredito que a resposta seja a primeira opção.

Espera.

Voltei até o balcão a passos rápidos, peguei novamente o cronograma e verifiquei o endereço da última entrega. Bufei com raiva. Como eu não percebi antes? Ele era o responsável pelo hidratante labial. Nem me daria ao trabalho de responder às mensagens.

Separei a excêntrica encomenda e me encaminhei até lá. No caminho, enquanto dirigia a scooter e sentia o fresco ar em meus cabelos, comecei a indagar se eu deveria mesmo ter aceitado um contrato tão bizarro como este, mas agora já era tarde demais para voltar atrás.

Parando a scooter em frente ao restaurante chinês, subi as escadas de seu prédio pesarosamente. Respirei fundo, toquei a campainha. Quase que imediatamente ele abriu a porta.

“Yah, por que demorou tanto?” Ele me perguntou impacientemente, dando um passo para o lado para que eu pudesse entrar.

“Porque eu estava trabalhando, não te servindo.” Respondi, segurando a língua para não falar mais besteira no processo. Aparentemente, ao contrário de mim, ele estava de folga, já que usava o seu moletom de costume e os óculos de grau. “Sua encomenda.” Eu indiquei o pacote que acabara de colocar sobre a mesinha no centro da sala.

“Ah.” Ele olhou com desinteresse. “É pra você.”

“Pra mim?”

“É.” Ele continuou, jogando-se sobre o sofá com os braços abertos sobre o encosto enquanto me observava. “Seus lábios estavam meio ressecados da última vez que te beijei.” Ele se explicou, colocando a língua para fora e rindo logo após.

Mordi meu lábio com força – um costume que eu tinha quando ficava nervosa.

“O que você queria tanto falar comigo?” Questionei, querendo resolver logo seja lá o que for e ir para minha casa. Ele deu tapinhas na poltrona a seu lado, indicando que eu deveria me sentar.

“Eu preciso de mais um beijo.” Ele disparou assim que me sentei. Suspirei.

“O que você fez dessa vez?”

“Na verdade, dessa vez, a questão é: o que eu não fiz.” Franzi minha testa após ouvir essa resposta. Vendo minha expressão ele esclareceu. “O aniversário da 10 bilhões passou e eu não dei nada de presente a ela.”

Continuei encarando-o, esperando do fundo do meu coração que ele tivesse uma explicação mais plausível que aquela. Mas, como resposta, só recebi o silêncio e um sorriso forçado de sua parte.

“Você tá brincando, né?” Questionei, estupefata.

“Não, é sério, eu me esqueci mesm-.”

“Não é isso.” Eu lhe cortei. “Não consigo acreditar que você quer voltar ao passado por uma coisa tão estúpida.”

Taehyung franziu a testa por um momento, parecia não entender o que eu estava falando, era como se tentasse decodificar uma mensagem.

“Eu preciso disso para poder me aproximar dela.” Foi o que ele me respondeu entre dentes, inclinando-se em minha direção.

“Pois explique o que você acabou de me dizer: ‘desculpe, eu me esqueci do seu aniversário’, e pronto!” Isso era tão óbvio, como ele poderia ter dificuldades para fazer algo tão simples?

Taehyung passou uma mão por seu cabelo. Estava irritado.

“Você não entende.” Logo após dizer isso, com uma de suas mãos me empurrou sobre o sofá, me forçando a me deitar, com a outra segurou um dos meus pulsos. Imediatamente entendi que ele tentaria roubar um beijo. Com minha mão, que ainda estava livre, tapei-lhe a boca. Ele arregalou os olhos.

“Acho que temos de rever algumas cláusulas desse seu contrato estúpido.” Eu lhe avisei, voltando a ficar nervosa com seu jeito arrogante. Como ele podia se achar no direito de fazer o que bem entendesse comigo?

Retirando minha mão de sua boca, ele voltou a falar, ainda sobre mim.

“Eu vou realizar um desejo seu. O que você quer?”

Ah, é mesmo. Esqueci que ele era o gênio da lâmpada.

Milhares de coisas passaram por minha cabeça, e nenhuma delas esse gênio fajuto conseguiria realizar. O que era uma pena, para falar a verdade. Surpreendentemente, ele ainda esperava uma resposta, enquanto eu me perdia notando o quanto os cílios dele eram longos, quase femininos, e seu rosto carregava uma inocência que eu ainda não tinha encontrado em sua essência. Ah, Deus. No que eu estou pensando?

“Que saia de cima de mim.” Foi o meu frio desejo escolhido.

Seu queixo caiu levemente, e então ele girou os olhos e, como ordenei, se afastou de mim, mas ao invés de voltar a se sentar ao meu lado, se levantou e caminhou até a janela, tranquilamente. Como ele se mantinha em silêncio, o que era algo incomum vindo dele, continuei o observando.

Taehyung abriu a janela – uma leve brisa invadiu o aposento – inclinou-se para a frente, olhando lá embaixo, o som de carros passando e pessoas falando podia ser ouvido ao longe. Franzi minha testa, sem entender o que ele estava planejando.

Imediatamente me levantei, incrédula quando entendi qual era sua intenção. Taehyung acabara de se sentar no parapeito da janela, de costas para o lado de fora. Ele iria se jogar.

“Desce já daí.” Ordenei, como se estivesse falando com uma criança mimada de cinco anos de idade; e ele, de fato, estava agindo como uma neste momento. E em muitos outros também.

“Vem cá.” Ele disse, me chamando com uma de suas mãos, com a outra ainda se segurava na lateral da janela, em seu rosto, um sorriso.

“Não.” Neguei, sacudindo a cabeça.

“Vem aqui, não vou fazer nada.” Ele insistiu, ainda rindo.

Passei uma mão nervosamente por meu cabelo e voltei a morder meu lábio. E se eu não fosse, ele se jogaria? Dei um passo adiante, abraçando meu próprio corpo como se isso me desse algum tipo de segurança. Mais um passo. Outro. Quando já estava a uma pequena distância dele, Taehyung esticou o braço e rapidamente me puxou para perto de seu corpo, me posicionando entre suas pernas. Deixei um grito agudo escapar. Qual era o plano idiota dele dessa vez? Ele iria se jogar comigo?

“São três andares.” Ele começou, inclinando-se para sussurrar em minha orelha. “A queda não me mataria imediatamente, o que te daria tempo suficiente para descer e me salvar.”

Afastei-me ligeiramente para olhá-lo, em choque, eu já deveria estar pálida a essa altura. Ele ainda me segurava firmemente, e também me olhava nos olhos.

Ele iria me forçar a beijá-lo de qualquer maneira, mesmo que para isso tivesse de arriscar a própria vida. Ele era louco. Onde eu havia me metido?

“Você pode escolher me beijar agora, ou me beijar depois, quando eu estiver lá embaixo.” Ele ofereceu, dando uma rápida olhadela através da janela e então voltando sua atenção à mim novamente. As duas opções soavam ridículas aos meus ouvidos. Respirei profundamente.

“Não vou te beijar, nem aqui e nem depois.” Eu o ameacei, na esperança de fazê-lo descer daquela janela.

“Okay.” Foi a sua última declaração antes de soltar as mãos da janela.

“Não!” Gritei, o segurando pela cintura, minha respiração acelerada e meu sangue correndo frio por minhas veias. Ele conseguiu manter o equilíbrio. “Se você cair, eu não vou te salvar. Aqui será o seu fim.” Disse entre dentes.

Taehyung sorriu, e não era um sorriso de deboche ou sádico, era um sereno e calmo.

“Eu sei que você vai me salvar.” Ele voltou a sussurrar. “Confio em você.”

Ele se inclinou, me deu um rápido beijo na bochecha e, sem que eu tivesse reflexo para detê-lo como da última vez, ele jogou seu corpo para trás, escapando de minhas mãos como fumaça.

Imediatamente coloquei minhas mãos sobre a boca para abafar um grito quando escutei o som do impacto seco e pesado de seu corpo contra o chão. Subestimei a ambição de Taehyung.

Tentei controlar minha descompassada respiração, sem coragem de olhar lá embaixo e ver seu estado. Aos poucos escutei vozes, exclamações e gritos de pessoas que passavam na rua ou que jantavam tranquilamente no restaurante e foram interrompidas por uma tragédia.

Minha nossa, minha nossa, minha nossa. O que fazer?

Aquele canalha estava certo. Eu iria salvá-lo.

Decidida, respirei fundo e corri escada abaixo o mais rápido possível; cada segundo contava agora para que ele pudesse viver. Ao alcançar o térreo, um grande número de pessoas já cercavam o seu corpo, alguns gritando para chamarem uma ambulância, outros comentando como era triste ver um jovem morrer tão cedo.

Sentia meu corpo todo tremer. Isso ia muito mais além do que ter que salvá-lo de uma bebida envenenada. Abri espaço entre a multidão aglomerada, empurrando qualquer um que estivesse em meu caminho desesperadamente, e perdi o ar quando o vi.

A cena era bem mais chocante do que eu havia imaginado; uma poça de sangue se acumulava próximo a sua cabeça, seus olhos abertos sem expressão, sangue escorria por sua boca, e seus músculos tinham espasmos involuntários.

Ajoelhei-me imediatamente e levantei cuidadosamente sua cabeça. Os curiosos não entendiam o que estava acontecendo e pediram para que eu me afastasse. Antes que alguém pudesse me retirar dali a força, me inclinei e toquei seus lábios com os meus.

O beijo mais horrendo de todos até o momento; seus lábios ainda estavam cálidos, mas eu só conseguia provar o gosto de sangue de sua boca enquanto segurava seu corpo agora inerte. Durante todo esse tempo, mentalmente rezava para que desse certo.

E deu.

Em um piscar de olhos, perdi a consciência.

_______________

TAEHYUNG

Ao abrir os olhos, suspirei, um misto de alívio e dor. Eu tinha certeza de que Nahee não me deixaria morrer, afinal, ela não tinha deixado antes por que deixaria agora? Entretanto, prometi a mim mesmo não repetir o ato; a colisão de meu corpo contra o frio asfalto me causou uma das dores mais cruciantes que eu já havia sentido em toda a minha vida, uma dor até mesmo bem maior da que senti no acidente em minha infância. Mesmo agora, voltando ao passado onde me encontrava saudável, a dor ainda perdurava em meu corpo físico.

Nahee ainda parecia não entender bem o meu objetivo, e eu nem tenho como culpá-la, já que ela não vê o outro lado contemplado por mim. Apesar de minha maior proximidade com Irene, ela ainda mantinha fortes laços sentimentais com aquele convencido do Jungkook. Nos últimos dias, ao ver o quanto eu me tornava mais e mais presente em sua vida, ele começou a investir na mesma proporção. Ainda não era claro para mim se o seu interesse era o mesmo que o meu ou se ele, de fato, nutria algum tipo de afeição por ela, mas eu o manteria sob o meu radar.

Por isso, causar sempre uma boa impressão para a 10 bilhões era essencial para o meu sucesso. Esquecer de seu aniversário tinha sido uma falha minha, mas era para isso que eu agora tinha Nahee ao meu lado; aos olhos de Irene eu seria sempre perfeito.

Enviei uma mensagem a Nahee, agradecendo por ter me salvo pela milésima vez. Além disso, não deve ter sido uma experiência agradável beijar um rosto ensanguentado e, talvez, até mesmo desfigurado. Eew. Porém, ela não me respondeu.

Eu tinha tempo até o aniversário da 10 bilhões, então tinha que pensar o que compraria. Deveria ser algo à sua altura, afinal, ela não era qualquer uma; algo que pudesse surpreendê-la, que ela jamais pensasse que eu poderia lhe dar. Algo suntuoso.

Encontrei o que considerei ser perfeito: um par de brincos de diamantes tão delicados quanto ela. E que me custaram uma fortuna, mas o investimento valeria a pena.

No dia de seu aniversário, fui ao treino de tênis. Assim como antes, quando cheguei, somente Irene e Jin treinavam na quadra, os cumprimentei – ela sorriu de volta, já ele, olhou-me de cara fechada. Anteriormente, eu tinha me sentado em um dos bancos esperando Sooyoung chegar para jogar uma partida comigo, mas dessa vez eu sabia bem onde encontrá-la. Caminhei tranquilamente até a saída dos fundos do local, e lá estava ela, como eu tinha imaginado.

“Sooyoung! Bom dia!” Eu a cumprimentei simpaticamente, andando a passos rápidos para pegar o bolo que ela carregava desajeitadamente em seus braços. "Te ajudo.”

“Ah, V! Que sorte você ter aparecido.” Ela sorriu, entregando-me o bolo e pegando uma sacola com alguns lança-confetes dentro. “Nós preparamos uma surpresa para o aniversário da Irene... Você sabia que era hoje, né?”

Ela me olhou preocupada, e eu a encarei tranquilamente. Claro. Pelo menos dessa vez eu sabia. Acenei positivamente com a cabeça enquanto começávamos a caminhar em direção à quadra.

Assim que Irene nos avistou à distância, parou o treino, já Jin achou que tivesse marcado um ponto e começou a comemorar, mas isso só durou até o momento de nos ver também.

“Saengil chukahae, Irene!” Sooyoung exclamou alegremente, estourando os confetes sobre ela enquanto eu me aproximava com o bolo, que era simples e pequeno, branco, alguns morangos cortados em diferente formatos e com uma plaquinha de chocolate marcada com um ‘HAPPY BIRTHDAY, IRENE’.

Jin, como já sabia da surpresa, apenas sorriu e bateu palmas, lhe desejando também um feliz aniversário, já Irene, arregalou os olhos, ficou sem entender por um momento o que estava acontecendo e logo depois colocou a mão sobre a boca enquanto ria timidamente, suas bochechas ficando ligeiramente da cor de um pêssego.

“Omo, não acredito que vocês fizeram isso! Muito obrigada!” Ela agradeceu, fazendo uma pequena reverência.

Sooyoung colocou o bolo sobre uma mesinha próxima à quadra onde costumavam ficar algumas garrafas d’água, Irene soprou as velas – fazendo um pedido – e antes que o partíssemos, resolvemos dar os presentes dela.

Jin, com uma expressão presunçosa, lhe deu uma caixinha de música dourada, que disse ter comprado em sua última viagem a Paris. Revirei os olhos; tão clichê. Sooyoung fez o que toda garota faz pelo menos uma vez na vida; comprou duas pulseiras de ouro, uma ficou com ela, a outra era para Irene, assim sempre se lembrariam uma da outra quando olhassem seus respectivos braceletes.

Agora chegara a minha vez. Nenhum, até o momento, tinha se igualado ao meu. Retirei cuidadosamente a caixa de joias de dentro de meu bolso e deixei que Irene a abrisse. Inicialmente, ela parecia ansiosa, uma ansiedade comedida – como eram mascarados todos os tipos de sentimentos dela – mas ao final, assim que viu o conteúdo, foi difícil identificar sua expressão.

“Ah, muito obrigada, Taehyung.” Ela agradeceu assim que olhou os brincos, um sorriso discreto formando-se em seus lábios. Sooyoung ao ver as pedras de diamantes reluzindo sob o brilho do sol, fez um som de ‘oooh’, e, posso estar errado, mas esta última pareceu mais empolgada com o presente do que a própria aniversariante. Logo em seguida fechou a caixa e a colocou em um cantinho cuidadosamente com os outros presentes.

Ela realmente não tinha gostado dos brincos? Qual mulher não gosta de diamantes?

“Vamos partir o bolo!” Jin exclamou, já pegando a faca que tinha sido separada por Sooyoung.

“Espera.” Irene, o interrompeu. “Jungkook ainda não está aqui, vamos esperá-lo.”

Aish, esse idiota ainda estava em seus pensamentos mesmo após a surpresa que fizemos.

Não precisamos esperar muito, alguns minutos após Irene dizer isso, Jungkook atravessava a porta que dava para as quadras, usava o uniforme do clube de tênis, e estava claro que tinha vindo de mãos vazias. Mordi minhas bochechas internamente para não rir, afinal, mesmo que ela não tivesse gostado tanto de meu presente, pelo menos eu havia recordado de trazer um. Tudo bem que isso só aconteceu na segunda vez, mas ainda está valendo. Olhei para Irene, assim que ela o viu, um sorriso iluminou seu rosto, um daqueles que deixa a pessoa mais bonita do que naturalmente já é.

Partimos e comemos o bolo, enquanto sofria ouvindo as piadas maçantes e desinteressantes de Jin, observei Jungkook. Ele parecia muito tranquilo para alguém que não tinha trazido nada para o aniversário da pretendente. Cismei tanto com isso que, na verdade, nem sei que gosto o bolo tinha exatamente.

Após terminarmos a pequena confraternização, Irene agradeceu novamente a surpresa, e disse que realmente não esperava nada no dia do seu aniversário, já que sua festa só aconteceria no próximo final de semana. Passado isso, treinamos mais um pouco e, sem notarmos, já era hora de ir.

Enquanto tomava uma ducha no vestiário, ouvi alguém entrar, abrir um dos armários, fechá-lo novamente e sair, entretanto, não pude ver quem era. Ao sair e começar a me vestir, comecei a ouvir vozes vindas do corredor, logo as identifiquei como sendo de Jungkook e Irene.

“O que é isso?” Irene exclamou, sua voz carregando um tom de surpresa e emoção. Curiosamente, me esgueirei até a porta para ver o que estava acontecendo. “Ah, Jungkook, não acredito que você lembrou!”

Irene segurava um buquê de girassóis, tão amarelos e vivos quanto o vestido que ela usava da primeira vez em que a vi. Seu rosto estava enrubescido e seus olhos brilhavam com lágrimas que estavam prestes a cair. O que estava acontecendo?

Jungkook colocou as mãos no bolso, encarando seus pés, e então voltou a olhá-la.

“Sei que seu pai sempre te presenteava com girassóis em seu aniversário... Como ele não pode agora, então pensei...” Antes que ele pudesse terminar, Irene pulou em seu pescoço, lhe dando um abraço. As lágrimas que até então segurara, agora escorriam livremente por seu rosto enquanto ela agradecia pelo presente.

Encostei-me na parede, massageando minha testa para tentar assimilar tudo aquilo. Girassóis ganharam mais consideração do que meus brincos de diamante? Sério mesmo?

O pai da 10 bilhões estava hospitalizado, por isso não deu as flores a ela, porém, Jungkook foi esperto o suficiente para se aproveitar dessa memória afetiva. Estalei a língua em irritação. Como eu poderia saber disso? É claro que ele teria vantagem sobre mim já que cresceram juntos.

Espera.

Eu não sabia disso antes, mas agora sei.

Sorri. Eu tenho uma vantagem que ele não tem.

_______________

Esperei por um bom tempo enquanto observava Nahee trabalhar através das paredes de vidro. Até então ela não tinha ido realizar nenhuma entrega – o que não me deu a chance de interceptá-la na saída – ela só caminhava de um lado a outro, às vezes fazia algo no computador, em outros momentos fazia anotações em papéis, e de vez em quando sumia em um quarto aos fundos que eu presumia ser a área dos funcionários. Pelo menos, enquanto aguardava recostado sobre um dos muros próximos, eu me divertia; Nahee era extremamente desajeitada, talvez não tanto quanto aquele idiota do Jin, mas ainda era em um nível considerável. Perdi a conta de quantas vezes ela tropeçou nos móveis, além de quase deixar seus colegas com o olho roxo quando levantava seus cotovelos para amarrar seu cabelo em um rabo de cavalo, sem contar a hora em que deixou um copo d’água cair em um cliente que entrou para agendar a entrega de uma encomenda. E eu também não fazia ideia do quanto eu havia rido disso tudo.

Quando comecei a sentir minhas pernas formigarem, a vi se despedir de seus colegas, já sem o uniforme e com sua bolsa sobre os ombros. Atravessei a rua.

Assim que ela passou pela porta e me viu, notei que ela considerou voltar para dentro, já que deu um pequeno passo atrás.

“Hey.” Eu lhe cumprimentei, aproximando-me com as mãos no bolso.

“Oi.” Ela me respondeu friamente, saindo finalmente da porta e começando a caminhar pela calçada. “O que deu errado dessa vez? Ela não gostou do presente?” Apesar de sentir um certo deboche em sua voz, fiquei surpreso. Como ela sabia?

“Como você...?” Comecei a falar, caminhando ao seu lado, mas fui interrompido quando ela bufou irritadamente.

“Aish, não acredito.” Após dizer isso, começou a andar rapidamente, passando a minha frente com passos pesados e entrando em um parque. O que eu tinha feito dessa vez?

“Yah! Espera!” Corri para alcançá-la e, como ela tinha ignorado o meu pedido, segurei seu braço para que parasse. “O que houve?”

Nahee girou os olhos como se o que eu estivesse perguntando fosse a coisa mais idiota do mundo, mordeu o lábio inferior e então voltou a me encarar.

O que houve?” Ela repetiu a pergunta que eu havia feito, estreitando os olhos. “Sério? Você fica querendo mudar coisas estúpidas no passado e não sabe o que houve?”

“Não são estúpidas.” Tentei me explicar. “Escuta, eu gastei em um par de brincos mais do que eu ganho em um mês de trabalho, e o idiota do amigo dela chegou com um buquê de girassóis e ela se derreteu toda.”

Nahee me escutava com uma expressão estupefata em seu rosto, então soltou um riso debochado após um ‘ah, por favor’, virou-se e voltou a caminhar.

Voltei a segurá-la pelo pulso.

“Nahee.” Ela me olhou. “Tudo isso pode não ser importante para você, mas são peças chaves para conseguir o que eu quero.”

Respirando fundo, ela me encarou, levantando seu queixo para me olhar bem no fundo dos olhos.

“Então acho que temos que conversar sobre o que são prioridades para você e o que são para mim.” Ela começou a falar entre dentes. “Eu não concordei da última vez, e você tomou a decisão mais-.” Ela parou de falar, mordendo seu lábio pela segunda vez, mas com mais força, desviou o olhar de mim, fixando em algum ponto qualquer da calçada como se buscasse a palavra exata para exprimir o que sentia. Suspirou pesadamente, voltando a me encarar com os olhos mais brilhantes dessa vez. “Foi horrível.”

Mordi minhas bochechas internamente. Entendi bem o que ela queria dizer; ela se referia ao fato de eu ter me jogado da janela, ao fato de ter conseguido o que queria através de uma ameaça de suicídio. Olhando agora por outra perspectiva, eu realmente não agi da forma mais sensata ou, até mesmo, justa com ela. Por mais que não gostasse de admitir, fui irresponsável.

 “Não foi a minha intenção...” Suspirando irritadamente, passei uma mão por meu cabelo. “Quero dizer, foi sim, mas...”

“Se nós estamos mesmo ajudando um ao outro agora, você deveria ter conversado comigo, e não me forçado a tomar uma decisão da forma tão cruel como fez.”

Com minha boca entreaberta, continuei a olhar Nahee sem saber o que responder, não me lembro nem quando foi a última vez que alguém me deixou sem palavras como agora. No fundo, eu sabia que ela estava certa, eu só não queria aceitar.

“Okay.” Desviei meus olhos do dela, sem mais coragem de sustentar seu olhar. “Prometo que nunca mais farei isso.”

Percebi que os ombros de Nahee ficaram mais relaxados, e quando voltei a olhá-la, sua expressão também era mais calma, porém, investigativa.

“Mesmo?”

“Mesmo.” Ela continuou a me encarar, como se buscasse em meus olhos algum vestígio de uma possível mentira, mas dessa vez – pela primeira vez desde que nos conhecemos – eu realmente falava a verdade.

“Taehyung, eu juro por tudo o que há de mais sagrado que, se você estiver mentindo, tudo está acabado, eu sumo da sua vida.”

“Sim, senhora.” Aceitei, batendo continência como um soldado e, assim, arrancando um riso dela.

“Tá bem.” Seu sorriso desapareceu, e ela suspirou, aproximando-se de mim. “Dessa vez eu aceito. Mas pense bem antes de fazer alguma besteira. E se eu não estivesse aqui? Como você faria?”

Ela tinha razão. Agora que tinha esta vantagem de voltar ao passado, eu sentia a liberdade de fazer tudo de qualquer maneira por saber que eu tinha a garantia de que, se quisesse, voltaria no tempo. Acabei ficando mal acostumado. Além disso, Nahee não ficaria pelo resto de sua vida ao meu lado, em algum momento ela partiria. Ou eu.

Fui interrompido quando senti seus frios e longos dedos tocando meu rosto, me puxando para baixo, à sua altura, para me beijar. Inevitavelmente fixei meus olhos em seus lábios.

“Vejam só.” Comentei em tom de deboche, erguendo uma das mãos para apertar sua bochecha, forçando-a assim a fazer uma boca de peixe, coisa que ela pareceu não gostar, já que arregalou os olhos e se afastou um pouco, mas sem retirar suas mãos de meu rosto. “Parece que alguém ouviu meus conselhos sobre o hidratante labial.”

Sua bochecha corou imediatamente, e eu não soube dizer se era pelo fato de ainda a estar apertando ou se ela tinha, de fato, ficado sem graça pelo comentário. Retirei minha mão de seu rosto, contraindo os lábios para não rir.

“Não foi por sua causa.” Ela se justificou, olhando para qualquer lugar que fosse, menos para mim. Afastou-se mais ainda, e temi pela proximidade de suas mãos ao meu pescoço; a qualquer momento ela poderia me enforcar. Ri alto ao pensar nisso, e isso só pareceu irritá-la mais, seu sangue todo acumulado em seu rosto.

“Cala a boca.” Ficando na ponta dos pés, rapidamente me beijou na tentativa de me calar – o que obviamente funcionou, e o que me fez constatar que sua boca estava, de fato, com um hidratante sabor cereja.

Em segundos, após um momentâneo sofrimento, minha consciência foi transportada ao passado. E eu só conseguia agradecer ao universo por ter colocado em minha vida uma das máquinas do tempo mais divertidas de toda a história.

_______________

Novamente era o aniversário de Irene. Logo após a felicitarmos, fui até meu armário e voltei de lá com o buquê de girassóis. Caminhei até ela com o embrulho e, enquanto ela ria e conversava com Jin e Sooyoung, que tinham acabado de lhe dar seus respectivos presentes, ela ainda não podia ver a surpresa que eu havia lhe preparado. Assim que fiquei ao seu lado, coloquei o buquê à frente de meu corpo. Ver sua expressão valeu bem mais do que os brincos de diamante; a inicial confusão deu lugar a uma emotiva Irene, que arregalou os olhos e em seguida lacrimejou, colocando os dedos delicadamente nos cantos dos olhos para não permitir que as lágrimas caíssem.

“Como você…?” Ela começou, respirando fundo e atropelando as palavras. “Como você sabia?”

“Como assim sabia?” Eu me fiz de desentendido, como se ter lhe dado os girassóis fosse algo totalmente por acaso. Isso mesmo, como uma jogada do destino.

“Eu costumava ganhar estas flores do meu pai.” Ela respondeu em lágrimas, olhando-me com ternura. Jin, enquanto isso, tinha os olhos estreitados, estava desconfiado, já Sooyoung, suspirava sonhadoramente. Com um sorriso genuíno, Irene continuou. “Muito obrigada. É o melhor presente que alguém poderia me dar.”

“Vamos partir o bolo!” Jin exclamou, provavelmente tentando divergir a atenção de Irene para outro lugar, pegou a faca que tinha sido separada por Sooyoung e já foi logo se inclinando para cortá-lo.

“Okay!” Irene concordou, rindo alegremente.

Huh?

Não era nesse momento que ela deveria pedir para que esperássemos por Jungkook?

Mordi meus lábios para conter a felicidade, mas, se eu pudesse, já estaria gritando. Jungkook, aquele arrogante filhinho de papai tinha sido esquecido, completamente ignorado, graças a um simples buquê de girassóis que eu comprei em uma vendinha da esquina de casa.

Ah, que dia memorável.

Quando ele chegou, já estávamos comendo o bolo, e sua cara foi impagável. Primeiro foi o choque de ver que não o tínhamos esperado, mas esse foi o menor dos prazeres que eu pude ter nesse dia; o que o derrubou completamente foi ver que, ao lado de Irene, havia um buquê de girassóis.

Seus olhos se arregalaram, sua boca ficou entreaberta e, por um momento, ele parecia ter perdido a fala. Com o punho cerrado, logo em seguida recobrou a compostura. Sorrindo para Irene, desejou-lhe um feliz aniversário e se juntou ao resto para comemorar. Entretanto, em alguns momentos o peguei com os olhos fixos em mim, com uma expressão que não pude identificar bem, uma mistura de raiva, suspeita e repulsa.

Não me deixei cair perante o seu firme olhar, o encarei o tanto quanto foi necessário para que ele entendesse que eu não jogava para perder.

Irene seria minha.

Mais tarde, enquanto saía do vestiário já de banho tomado, acreditei que todos já tivessem ido embora, mas fui surpreendido quando vi uma figura esguia recostada sobre um dos pilares do corredor.

“Taehyung.” Irene me chamou, se aproximando de mim com passos leves e um sutil sorriso formando-se em seus lábios. “Eu já lhe agradeci hoje, mas sinto que ainda lhe devo um pedido de desculpas.”

Ajeitei a bolsa com o uniforme e a raquete sobre meu ombro, minhas sobrancelhas se contorceram em confusão. Do que ela estava falando?

Entrelaçando suas mãos à frente de seu corpo, ela brincava nervosamente com seus próprios dedos.

“Eu o julguei muito mal no início, mas tenho percebido que você é uma boa pessoa.” Finalmente seus olhos se encontraram com os meus. “Sua amiga me contou... Sobre seus pais.”

Por um momento não entendi ao que ela se referia, mas então me lembrei. Ela falava do casamento e da minha ‘amiga de infância’ que, na verdade, não era amiga coisa alguma, era apenas uma cliente que me devia dinheiro e eu lhe pedi que, em troca, me desse dois convites para seu casamento e que contasse uma trágica história sobre a minha vida.

“Por que você não me disse antes que seus pais morreram em um acidente de carro?” Ela me perguntou, seus olhos continham extrema preocupação e pesar, e eu queria apenas sorrir ao perceber que tudo corria como eu havia planejado, mas tive de forçar uma cara de profunda tristeza para que ela visse uma falsa dor em meus olhos.

Durante a festa, assim que eu me afastei para brincar com as crianças, a noiva, fazendo o papel de minha amiga, contou a triste história de como eu perdi meus pais em um acidente de carro aos doze anos de idade e de como, desde então, eu tenho tentado me virar sozinho nesse mundo cruel e impiedoso que acabou me forçando a tomar decisões erradas durante o percurso de minha vida.

Tudo mentira.

“Eu... Eu só não me sinto confortável em falar sobre isso.” Eu lhe respondi, bufando e passando uma mão por meu cabelo.

“Eu entendo... E sinto muito por tudo. Tudo mesmo.” Ela disse, lamentando-se por mim. Em seguida, tomando um pouco mais de confiança, com suas pequenas mãos, segurou as minhas firmemente, mas ao mesmo tempo com uma delicadeza que só ela tinha, e olhou profundamente em meus olhos. “E, a partir de agora, saiba que você não está mais sozinho.”

Ela sorriu, e eu lhe devolvi o afeto, apertando suas mãos suavemente.

Eu estava errado ao dizer que Irene seria minha.

Ela já era.

_______________

Consegui o horário de Nahee com Yeri, somente após muita insistência e diversas perguntas do por quê eu tinha tanto interesse nela. Com seu cronograma agora em mãos, eu sabia em quais dias ela teria folga ou trabalharia. Hoje era o seu dia de descanso, então só havia um lugar em que ela poderia estar.

Toquei sua campainha com o cotovelo, já que tinha uma embalagem em uma das mãos e na outra uma sacola. Após um pequeno intervalo em que eu tentava me equilibrar com tudo, Nahee abriu a porta e, ao me ver, arregalou ligeiramente os olhos, seus lábios entreabertos. Eu não sabia se o choque era devido a minha visita não anunciada – apesar de achar que ela já deveria ter se acostumado com isso – ou pelo fato de encontrá-la usando um ridículo pijama rosa com morangos estampados.

“Gostei do look.” Elogiei debochadamente ao entrar em sua casa sem que ela me convidasse. Tirei os sapatos e coloquei as sacolas sobre a mesa branca que ela, provavelmente, usava para suas refeições.

“O que houve dessa vez?” Ela me perguntou alarmada, fechando a porta atrás de si e caminhando com seus pés descalços sobre o tapete macio em minha direção.

“Nada.” Lhe respondi, tirando uma lata de cerveja de dentro de uma das bolsas. Estendi meu braço em sua direção com outra lata em mãos. “Toma.”

Com uma expressão confusa, ela negou balançando a cabeça.

“Eu não bebo.” Ela se explicou, a olhei sem acreditar, mas ela manteve sua decisão. Okay, não me importo em beber por ela. “O que está acontecendo exatamente?”

Olhei-a, sua face confusa agora demandava uma esclarecimento. Caramba, ainda não tinha ficado claro?

“Você não disse o que queria em troca do beijo.” Comecei, retirando da outra sacola uma caixa. “Então decidi agradecer trazendo frango frito.”

Ela girou os olhos e cruzou os braços.

“Yah! E como você sabia que eu estava em casa?”

Sem precisar lhe responder – já que tinha acabado de enfiar um pedaço do frango em minha boca – apenas lhe mostrei a foto em meu celular que tinha tirado de seu cronograma. Ela se aproximou para enxergar melhor.

“Yeri...” Ela suspirou em derrota.

Sentei-me à mesa e continuei bebendo e comendo, fiz sinal para que ela também fizesse o mesmo. Resignada, ela puxou a cadeira a minha frente e pegou um dos pedaços do delicioso frango frito, o colocando na boca enquanto ainda me olhava desconfiada.

Por alguns minutos ficamos em um incômodo silêncio, que era apenas quebrado pelo som da TV – em que um meloso dorama passava – e pelo som dos grilos lá fora; perfeita trilha sonora para o desconfortável momento.

“E como foi?” Ela foi a primeira a quebrar a quietude. Tomei mais um gole da cerveja. Com certeza ela estava se referindo ao aniversário ‘surpresa’ da 10 bilhões.

“Foi tudo perfeito.” Respondi com um sorriso e, de fato, tudo tinha ido de acordo e mais além do que eu havia imaginado. Olhei à volta de seu apartamento, apesar de muito bem organizado e, diga-se de passagem, bem mais bonito que o meu, ele era pequeno. “Já parou para pensar que em breve você pode estar morando em um apartamento bem maior que esse?”

Sempre imaginei isso, pelo menos para mim. Se eu conseguisse o cargo de diretor daquela empresa – e eu conseguiria não importando como – minha vida mudaria completamente. Nahee olhou a sua volta, mas seus olhos não brilharam tanto quanto os meus. Ela se manteve em silêncio.

“Nós vamos longe.” Eu continuei, dobrando uma das pernas sobre a cadeira acolchoada. “Nossa vida vai mudar completamente.”

Nossa vida.’

Tomei mais um gole da cerveja quando essas duas simples palavras ecoaram em minha cabeça, e a falta de palavras de Nahee não me ajudava muito. Enchi minha boca para parar de falar, mas isso não fez minha mente também se calar. Enquanto mastigava e tomava o décimo gole da bebida, olhava Nahee que, distraidamente – ou não – mantinha seus olhos fixos na TV. A ponta de seus dedos estavam ligeiramente engorduradas por causa do frango que tinha em mãos, assim como os seus lábios que agora tinham um brilho como se estivesse com um lipgloss. Piscou seus olhos por diversas vezes e a impressão que tive era a de que sabia que eu a estava observando, já que a vi engolir em seco.

Poderíamos não olhar muito nos olhos um do outro, já que nem nos conhecíamos tanto assim, mas no momento olhávamos para um mesmo objetivo; ou pelo menos era nisso que eu queria acreditar. E, para mim, isso era tão estranho. Saber que de certa forma eu poderia contar com alguém. De verdade. Nahee não tinha me dado garantia de nada, mas eu não conseguia evitar sentir isso. Segurança. Não foi a toa que confiei minha vida a ela quando me joguei do terceiro andar de um prédio. Algum dia eu me arrependeria disso? Talvez.

Por diversas vezes me perguntei se a admirava ou se a invejava. Não conhecia o seu passado, apenas sabia que ela era só no mundo. Eu me sentia sozinho também, mas, no fundo, não conseguia seguir em frente como ela estava fazendo agora. Nahee era um enigma ambulante; quem diria que a garota esquisita que andava sempre de negro, quando chegava em casa, colocaria um pijama rosa de morangos e sentaria para assistir a um dorama enquanto bebia chá? Por fora, assustadora e inatingível; por dentro, frágil e doce.

Eu era totalmente o contrário.

Por fora, confiante e determinado; por dentro, amargo e angustiado.

Não entendi muito bem a relação de Irene com os girassóis, mas bem, isso só importava a ela e a seu pai. Se eu pudesse definir uma flor para ela, seria uma rosa, eu acho. Bela e delicada, mas com espinhos para se defender e não permitir que qualquer um se aproximasse com tanta facilidade.

Já Nahee, era a perfeita metáfora de um girassol.

Coloquei meu cotovelo sobre a mesa, apoiando meu rosto sobre minha mão. A lata de bebida, na outra, congelava meus dedos, mas não me importava.

Finalmente ela me olhou.

Nahee estava aprendendo a não se demorar onde havia dor. Ela buscava a direção de onde provinha luz, como um girassol.

_______________

Destruindo a si mesmo, mas muito cansado para se preocupar. Divertido.


Notas Finais


Olha só que tomou vergonha na cara e finalmente resolveu reaparecer após UM MÊS!!! ;(
Primeiramente, desculpem pela demora! ♥ Acabei me enrolando, também tive uma certa dificuldade para escrever este capítulo, mas voltei! E estou mais animada para escrever o próximo também. ^^
Obrigada por todos os comentários! Apesar de nem sempre respondê-los imediatamente, sempre os leio com muito carinho e eles me animam muito a continuar escrevendo. ♥
Saranghae~♥


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