História Kizuna - A família dele

A lua brilhava intensamente no céu, reluzindo sobre as folhas das diversas árvores das ruas de Konoha, que balançavam com o vento. A maioria das pessoas provavelmente estava dormindo ou voltando para casa do trabalho, já devia ser bem tarde da noite, quase meia noite ou até mesmo uma da manhã, o que explicava o porquê de as ruas estarem desertas quando Naruto e Sasuke estavam voltando para a vila de mãos dadas. Conversavam como se nunca tivessem se separado, como se estivessem sempre ligado um ao outro e que o tempo não tinha passado nem um segundo. Nem parecia que tivessem passado por tudo o que passaram quando mais novos, se alguém os visse agora, com certeza pensariam que eram apenas duas pessoas normais, embora uma delas fosse o Nanadaime.

Mesmo que não tentasse mostrar, Naruto estava a muito pouco de sair pulando igual a um retardado pela rua, só pela felicidade de estar segurando a mão de Sasuke. Não parecia que o loiro iria parar algum dia de se sentir como um completo adolescente apaixonado, ainda mais agora que finalmente conseguiu alcançar o moreno e o ter ao seu lado. Tantos anos se passaram em que ele achou que nunca poderia ficar com aquele que realmente amava e que ficaria preso a uma vida infeliz - que ele não sabia que era infeliz até alguns dias atrás -  para o resto de sua vida. Ele teria que agradecer - e muito - a Kurama mais tarde por ter feito com que ele finalmente abrisse os olhos, afinal, foi ele quem o encorajou e jogou em sua cara que ele amava o Sasuke primeiro, mas provavelmente a raposa ficaria satisfeita só por ver o loiro feliz ao lado do Uchiha e também por Naruto finalmente parar de ficar enchendo o saco enquanto reclamava que ser Hokage era um saco e que tinha papelada demais pra fazer o dia todo. Também teria que retribuir, e muito, para com Hinata também, afinal foi ela quem o liberou de seu casamento para que ele pudesse correr atrás de sua felicidade e ele seria sempre grato à ela por isso, com certeza a ajudaria com as crianças depois do divórcio, pois o caminho que se seguia com certeza não seria fácil.

- E então, como é fora da vila? - puxou assunto para se distrair de seus pensamentos nostálgicos. - Eu não tenho tido muitas oportunidades de ficar saindo por conta do meu trabalho, então não sei como é lá.

Sasuke abriu um sorriso singelo e se aproximou da porta de seu apartamento. 

- Bom, é bem diferente daqui, mas depende muito de onde você vai. - pegou a chave de debaixo do tapete e se virou para a porta. - Tem muito mais paisagem e é até bem mais natural que aqui. Já visitei campos verdes, vilarejos lotados, florestas densas, todo tipo de coisa. - abriu a porta, distraído em seus pensamentos. - Eu até contaria sobre tudo, mas acho que está muito tarde pra isso agora. E além do mais, você precisa urgentemente de um banho.

Entrou no apartamento com um sorriso debochado no rosto, sendo seguido por um Naruto muito irritado atrás. 

- Que história é essa? Seu grosso! E eu não preciso de banho porra nenhuma! - Sasuke franziu o cenho.

- Naruto, você está fedendo a suor e papéis velhos. Aposto minha espada que você não chegou nem perto do banheiro depois que foi embora hoje de manhã. - o loiro desviou o olhar para o lado, constrangido. O moreno bufou e revirou os olhos. - Eu sabia. Pode ir agora pra dentro daquele banheiro e tomar a porra de um banho que eu não vou dormir com você fedendo desse jeito. Pode ir pra lá. - apontou para o banheiro enquanto franzia o cenho. Realmente, o loiro estava fedendo pra caramba desde que se encontrou com o Uchiha na saída da vila, tinha ficado tão chateado com a partida do outro que sequer se importou em levantar da mesa pra escovar os dentes. E Sasuke estava ficando muito irritado com aquele cheiro.

Naruto assentiu com a cabeça e se retirou para o banheiro fazendo cara de cachorro sem dono, mas mesmo assim, ainda estava feliz por dentro. Era estranho que Sasuke conseguisse saber quase tudo que o Uzumaki estava sentindo só de olhar pra cara de trouxa dele? Nem mesmo o próprio Uchiha sabia como conseguia entender tanto dele assim tão facilmente, mas ele também não se importava com a resposta. Enquanto o loiro estava no chuveiro, aproveitou para já ir se acomodando em sua cama e trocando de roupa, ele não tinha nenhum pijama, costumava dormir ou com uma roupa caseira ou com algo simples, mesmo que não fosse apropriado para dormir. Entretanto, talvez nessa noite ele pudesse dormir só em suas boxers, estava um tanto quente naquela noite, ou talvez ele só estivesse tentando se convencer disso ao invés de admitir que queria dormir do lado de seu namorado seminu.

Colocou as roupas dentro de um cesto ao lado da penteadeira para lavar pela manhã e se deitou na cama, encarando a janela ao seu lado com um sorrisinho no rosto. Conseguia escutar o barulho da água pingando e o box abrindo, o que significava que Naruto muito provavelmente já tinha terminado de tomar banho e logo estaria saindo do banheiro. Sasuke puxou o lençol sobre seu corpo, acomodando a cabeça e esperando seu idiota sair do banheiro. Seu coração já batia forte só de pensar em finalmente conseguir adormecer ao lado de Naruto, tinha imaginado como seria estar em um relacionamento com ele durante anos e agora finalmente estava acontecendo, era uma situação à qual o Uchiha provavelmente demoraria para se acostumar, ainda mais com os problemas que ele já conseguia prever que aconteceriam, e nem precisava de sharingan pra isso! Naruto discutiria o divórcio com Hinata e ele teria que conversar com Sakura para ver como iriam fazer com Sarada, a pobrezinha deveria estar arrasada por descobrir sobre a separação de seus pais. Sasuke não queria admitir em voz alta, mas estava um pouco preocupado.

- Oi, Sasuke, tudo bem se eu dormir só de cueca? É que não estou com minhas roupas aqui.

E a preocupação passou. 

- Hn. Eu não me importo. Vem logo que eu to com sono, o dia foi emocionalmente exaustivo. - Naruto assentiu, caminhando até a pequena cama e sentando-se ao lado do moreno. - Então, o que vamos fazer amanhã? Você tem que trabalhar e eu não vou mais ficar saindo da vila, além de que nós dois temos que resolver o problema de nossas famílias e dos divórcios, além de que eu acho que esse apartamento não tem espaço suficiente pra nós dois.

O loiro levou a mão ao queixo, pensativo. 

- Amanhã vou pedir que comecem a construir uma casa nova em algum espaço livre da vila, o que deve levar só um ou dois dias já que os nossos ninjas são bem rápidos. Eu vou ter que trabalhar amanhã o dia todo, mas vou tirar um intervalo no meio do dia pra ajudar a Hinata com os papéis do divórcio e contar pras crianças a nossa situação… Acho que poderíamos nos encontrar no final do dia, que tal?

Sasuke franziu o cenho. 

- Você deve estar cabulando trabalho há muito tempo pra ter tanta coisa assim. Eu até entendo que por estarmos em um momento de paz, aumenta a quantidade de papel, mas isso já é um absurdo.

- Nem me fale, fico quase o tempo todo lá vendo um monte de papel chato. - deitou-se ao lado de Sasuke e apoiou a cabeça em seu peitoral. - Hgn, eu não quero ter que ficar longe de você o dia inteiro…

Sasuke abriu um pequeno sorriso compreensivo, também não queria ficar o dia inteiro longe do loiro, mas aparentemente era o que ia acontecer. Acariciou os cabelos de Naruto e o confortou. 

- Não se preocupe, Naruto, assim que o dia acabar eu vou estar te esperando bem aqui. Não vou à lugar algum. - o loiro sorriu e abraçou o tronco do Uchiha, sentindo-se bem melhor.

- Eu posso casar com você agora, Sasuke? - brincou, fazendo o moreno rir baixo e beijar o topo de sua cabeça.

- Ainda é muito cedo pra isso, Dobe. Se concentre em pegar no sono ao invés de planos pro futuro lá na frente. - puxou o menor para cima da cama e o acomodou ao seu lado, cobrindo ambos seus corpos com o lençol. - Agora chega de papo e dorme que eu to exausto.

Virou-se de lado e fechou os olhos, já estava ficando com olheiras. Naruto não estava com muito sono, mas não teve muita escolha a não ser tentar chamar o sono. Encostou seu rosto no pescoço do moreno e o abraçou com delicadeza.

- Eu te amo, Sasuke.

O moreno, ainda acordado, sorriu. 

- Também te amo, Usuratonkachi.

(...)

Os lápis da mesa do loiro estavam todos desarrumados e Naruto insistia em bagunçá-los ainda mais, não estava nem um pouco afim de fazer aquela papelada toda. Toda vez que tentava pegar algum papel pra fazer, ficava entediado e sua mente imediatamente se direcionava para Sasuke, imaginando como seria bom chegar em casa e encontrar seu Uchiha favorito o esperando, ah, ele estava louco pra poder se jogar em cima dele e dormirem abraçadinhos de novo, aquela noite havia sido maravilhosa. Estava sem um pingo de sono e quando abraçou o moreno foi como se tivesse sido colocado num genjutsu, pois dormiu em um instante, sem nem ter tempo pra pensar direito, só queria ter tido mais tempo pra poder aproveitar o tempo abraçado com o namorado ao invés de ter desmaiado e depois sair correndo para o trabalho.

Desviou o olhar para os papéis e já ficou entediado de novo, não estava nem um pouco afim de terminar aquelas pilhas de papel em seu escritório, era tão chato de escrever. O dia todo era só assinar relatórios, ir à reuniões, e preencher papéis, tudo coisa que ele nunca havia feito em sua vida, e que nunca lhe chamou o interesse. Pegou um papel assinado por ele com a permissão para a construção da casa que seria dele e de Sasuke, estava muito ansioso para saber qual seria o resultado da construção, disseram que iriam ter tudo pronto ainda naquele dia, então já poderiam planejar a mudança para o dia seguinte. Parando pra pensar, as coisas estavam indo até que bem rápido, mas o loiro preferia muito mais ter um lugar só para ele e o moreno do que ter que ficar naquele apartamento minúsculo.

Olhou para seu celular e recebeu uma mensagem de Hinata que dizia para que eles se encontrassem logo para contar para as crianças sobre o divórcio, disse também que não se sentia muito segura contando à eles sozinha, pois achava que seria melhor se contassem os dois juntos. Naruto respondeu dizendo que estava à caminho e já saiu correndo de seu escritório chato. Que belo dia para arrumar desculpa pra não fazer a papelada.

(...)

Enquanto isso, no outro lado da vila, Sasuke fazia seu caminho para a casa de Sakura e Sarada para também falar sobre o assunto do divórcio. Estava um pouco nervoso para falar com elas, sabia que a rosada estava muito chateada com ele depois da conversa que tiveram e que se recusava a aceitar a separação, e ele não a culpava, ela passou tantos anos atrás dele e insistindo naquele amor de fachada e depois ainda conseguiu ter uma filha com o Uchiha, tudo para depois ter seu sonho desmontado diante de seus olhos, e ainda ter a realidade jogada em sua cara quando Sasuke admitiu que amava outra pessoa, que ainda por cima era um dos melhores amigos de Sakura. Ele não a culpava por se sentir traída, mas eles nunca sequer foram um casal de verdade, apenas fingiram pelo bem de Sarada e para que a mesma tivesse uma vida com o mínimo de normalidade possível. Mas ele não aguentava mais ter que ficar preso à alguém que merecia mais do que um relacionamento falso com alguém que não a amava, e ela também não poderia o culpar por isso, simplesmente teria de aceitar a realidade, mais cedo ou mais tarde.

Chegou à porta da rosada e bateu, dando alguns passos para trás em seguida. Estava preocupado, mas não mostrava nenhuma emoção em seu olhar, teria que ser firme e forte se quisesse acabar com aquilo de uma vez por todas. Mesmo que eles estivessem separados, Sasuke se recusava a deixar de ver a filha que tanto amava por conta das frescuras de Sakura. E falando no diabo, a porta foi aberta com um rangido, mostrando uma Sakura quase acabada parar na entrada.

- Sasuke-kun? O que você quer? Achei que estivesse perseguindo o Hokage agora. - perguntou, cruzando os braços. 

Sasuke suspirou e a encarou com olhos vazios.

- Eu vim pra discutir o divórcio e a guarda da Sarada.

A rosada franziu o cenho. 

- Já não somos casados, então pode sair correndo a hora que quiser, e quanto a guarda da Sarada, é simples, ela fica comigo. 

Agora foi a vez do moreno cruzar os braços.

- Não começa, Sakura. Sarada é minha filha e eu tenho todo o direito de ficar com parte da guarda. Você não tem autoridade para decidir quem fica ou não com a nossa filha, a guarda pode muito bem ser compartilhada, não existe só uma opção. - dentro da casa, a pequena Uchiha espiava a discussão de dentro da cozinha, um tanto assustada. Viu sua mãe cerrar os punhos e já preparou-se para os gritos.

- Foi sua decisão me abandonar! Agora arque com as consequências de seus atos!

- Meus atos foram completamente justificados, Sakura. Não é justo que eu continue ao seu lado se não sinto nada por você, não quero te manter presa à mim quando não posso fazer nada por você e minha filha. Sabe muito bem que só quero que vocês sejam felizes, e não podem se ficarem ao meu lado.

A de cabelos rosa abaixou o olhar, sentindo as lágrimas acumularem em seus olhos. Ela sabia o que Sasuke estava fazendo, sabia que só a queria ver feliz, mas mesmo assim seu coração doía, sentia todos seus sonhos sendo partidos e parecia que estava caindo em um abismo criado por suas próprias ilusões. Se sentia péssima, e no fundo sabia que tinha que deixá-lo ir com quem ele amava, mas era tão difícil se soltar daquelas ilusões que tanto a abraçavam.

- Eu sei… Eu sei, Sasuke-kun! Mas, mesmo assim, eu não quero largar de você! - as lágrimas já escorriam por seus olhos incessantemente. - Eu te amei por tantos anos! Te persegui por tantos anos e quando finalmente te conquistei e tivemos uma filha juntos você decide me largar! Parece que nem se importa comigo!

O Uchiha não disse nada, não tinha o que dizer. Ele já sabia de tudo que Sakura estava pensando e de tudo que estava sentindo, mas ainda assim, isso não mudava sua decisão. Já haviam passado dos limites com aquela fachada e o moreno estava completamente exausto de ficar insistindo naquilo, as duas ficariam bem melhores sem ele e mereciam ser felizes, assim como ele já era.

Levantou o olhar de Sakura com o queixo e sorriu em sua direção. 

- Sakura, nós dois sabemos que isso não é verdade. Vocês são as duas pessoas mais preciosas pra mim e eu amo vocês, mas não do jeito que você gostaria que fosse. Eu quero que vocês sejam felizes, mas não que dependam de mim pra isso. Vocês merecem ser livres pra ficar com quem vocês quiserem. Eu prometo que darei todo meu apoio à vocês e que, se precisar, podem contar comigo. Sabe que só quero que sejam felizes.

Os olhos esmeralda de Sakura desviaram para o chão, sentia a consciência pesada ao ouvir as palavras de Sasuke. Depois da noite anterior, havia conseguido se acalmar e analisar a situação com mais cuidado, mesmo que continuasse pensando de forma egoísta no final. Ela não podia deixar o moreno preso à ela se ele estava infeliz, ele sequer parava em casa! E era realmente injusto que ele se forçasse a continuar com elas estando tão longe, devia ter sofrido muito com isso durante suas viagens. Se sentia culpada por ser egoísta com ele, mas também sentia-se responsável por qualquer coisa que fosse acontecer com sua filha se ele as deixasse. Ela poderia ser zoada na escola e nunca teria uma infância normal, e de certa forma Sakura deixava que o sofrimento de sua filha caísse sobre suas costas.

- Não podemos ser felizes sem você, Sasuke-kun. Precisamos de você aqui com a gente. - disse em voz baixa, ela estava visivelmente chateada, mas o moreno sabia que pelo menos agora era racional.

- Vocês ficarão melhores sem mim, você sabe disso, Sakura. Não precisou de mim na vila antes, por quê precisaria agora? Além de que estarei aqui para dar todo o apoio financeiro que precisarem. - desviou um pouco os olhos, deixando um leve rubor tomar suas bochechas. - Além do mais, tem alguém mais que precisa de mim.

A rosada arregalou os olhos, nunca tinha visto o moreno com aquela cara antes, o que levantou diversas perguntas em sua mente. 

- Vocês estão juntos… - o Uchiha desviou o olhar completamente, constrangido, enquanto os pedaços iam se juntando na cabeça de Sakura. - Vocês estão juntos mesmo! - franziu o cenho e cerrou os punhos. - Sasuke-kun, eu espero muito que você e o Naruto não tenham feito nenhuma merda, porque se eu descobrir que vocês tiverem feito algo de ruim pra Hinata eu juro que… 

- Sakura-chan, acho que já chega de implicar com o meu namorado. - disse Naruto, só tendo sua presença reparada no instante que abriu a boca.

- Naruto?! - exclamaram Sakura e Sasuke no mesmo instante, surpresos com a aparição repentina do Nanadaime Hokage. O dito cujo se aproximou dos dois, interrompendo totalmente a briga. 

- O que faz aqui? Não era pra estar contando pros seus filhos sobre o divórcio com a Hinata?

Naruto revirou os olhos, abraçando o moreno pela cintura e o fazendo corar. 

- Eu estava indo pra lá, mas decidi passar aqui e ver como você estava indo com a Sakura-chan sobre o divórcio, porque sei que você não é exatamente a pessoa mais delicada quando se trata dos sentimentos dos outros. Fiquei com medo que você e a Sakura-chan fossem começar a sair no soco, haha!

Sakura só conseguia olhar e admirar aqueles dois discutindo, pareciam tão felizes juntos, por mais que Sasuke insistisse em empurrar o loiro para longe de si enquanto o mesmo tentava beijá-lo, sequer notavam que ela estava lá, parecia que estavam completamente cegos ao que estava ao seu redor. Só estavam concentrados um no outro, ignorantes ao mundo exterior, era até bonito de se olhar, a rosada conseguia capturar pequenos momentos em que o sorriso de Sasuke aparecia, ele parecia tão feliz, mesmo que estivesse tentando afastar Naruto. Fazia Sakura pensar em o quanto o moreno tinha sofrido durante esses anos e o quanto realmente gostava do loiro, quanto tempo poderia ter se passado em que Sakura tinha o forçado a ficar do lado dela e deixado-o infeliz? De repente, uma culpa inexplicadamente pesada caiu sobre sua cabeça, deixando-a atordoada.

- Ano, Sakura-chan, acho que eu preciso conversar sobre algumas coisas com você. - a rosada relaxou os punhos e levantou as sobrancelhas enquanto Naruto se aproximava dela à passos lentos.

- Naruto…

- Sakura-chan, eu sei o que você está sentindo. Você está chateada porque tudo ao seu redor está mudando de um jeito tão rápido, e tudo o que você conhecia já não é mais o mesmo, sei que está com raiva de mim porque acha que eu “roubei o Sasuke de você”, mas eu não acho justo que você exija dele o que acha que é melhor pra você e não pensar nos sentimentos dele. Ele está dando o melhor de si para ajudar você e a Sarada a seguirem em frente sem ele, mas você parece que está sendo uma boba! - Sakura desviou o olhar, constrangida, sentia-se um lixo.

- Naruto…

- Eu sei que você gosta dele, mas tem que deixar que ele escolha também. Ele já disse que dará todo o apoio à vocês e veio até aqui pra discutir a guarda da Sarada. - a morena, que estava espiando, ficou de olhos arregalados. Era muita emoção pra sua cabecinha ainda em desenvolvimento. - Se ele quisesse abandonar vocês nem estaria aqui, mas ele está bem aqui justamente porque ama e se importa com vocês. Ele nunca deixaria vocês duas para trás porque ele ama vocês. Então é injusto que você ache que ele não se importa com-

- Naruto! Cale a boca! - gritou ela, não conseguindo conter mais sua ansiedade. O loiro recuou um pouco, completamente espantado com o grito de sua amiga, que logo soltou um suspiro. - Eu já sei de tudo isso, Naruto! - desviou o olhar, levemente constrangida. - Eu sei que ele nos ama, mas mesmo assim eu continuei sendo infantil em querer que ele continuasse comigo. Fiquei com medo de que, se ele nos deixasse, eu ficaria sozinha pra sempre e Sarada nunca mais veria o pai… Eu não conseguiria viver tendo que ver aquela carinha triste saindo de casa… Mas a maior parte foi minha culpa. - levou as mãos ao peito e abaixou a cabeça. - Eu estava sendo egoísta, queria o Sasuke-kun só pra mim. … Eu voltei aos meus doze anos de idade! Estava sendo uma ridícula por achar que só eu poderia ficar com ele, sequer me importei quando Sarada se machucou quando você voltava para Konoha… Mas agora pouco, vendo vocês tão felizes um perto do outro, sem se importar com nada ao redor de vocês, eu percebi que estava errada. Não é justo com você, Naruto, e não é justo com você, Sasuke-kun. Foi agora há pouco que percebi o quanto você é feliz perto do Naruto, não parava de sorrir nem mesmo quando ele era inconveniente. Essa foi uma das coisas mais bonitas que já vi na minha vida até hoje. - Um suspiro escapou de seus lábios e começou a caminhar em direção à Sasuke com uma expressão de arrependimento e com as mãos juntas ao peito. - Gomennasai, Sasuke-kun. Eu fui uma ridícula ao colocar minha felicidade acima das suas, se eu amasse você de verdade teria aceitado e te apoiado, mas eu fui uma egoísta idiota! Privei você de sua felicidade por tantos anos apenas pelo meu próprio prazer. Eu devia saber que você ama a Sarada, ela é sua filha, e os Uchihas possuem um amor mais forte do que qualquer outro, mas, de novo, eu coloquei ideias ruins na cabeça dela… E na minha também… - curvou-se pra frente, fazendo uma reverência. - Gomennasai. - deixou as lágrimas escorrerem por seus olhos sem qualquer tentativa de resistência. – Gomennasai. Gomennasai! Gomennasai! Gomennasai! Gomennasai! Gomennasai, Sasuke-kun! Moushiwake arimasen, Sasuke-kun! - curvou-se ao máximo, sequer sabendo como controlar as gotas de água que escapavam de seus olhos. Esticou as costas subitamente, seus movimentos eram quase que automáticos. - Gomennasai, Sasuke… 

Bateu os dois dedos em sua testa, interrompendo imediatamente sua fala e deixando-a estática. Sasuke exibia um sorriso em seu rosto, mostrando diretamente aos olhos dela que estava tudo bem. Entretanto, Sakura, assim como Naruto, estavam completamente sem fala.

- Está tudo bem, Sakura. - sorriu calmamente, fazendo o coração da rosada bater acelerado. - Eu entendo que você estava irritada e com medo, não tem problema. E não precisa pedir tantas desculpas assim, você sabe. - acariciou os cabelos rosados deslizando em sua mão. - Você é uma de minhas melhores amigas, e eu quero que você seja feliz com alguém que te amo de verdade. Eu te perdoo.

Sakura sorriu, levando a mão à testa e não resistindo à coloração avermelhada que tomou suas bochechas, estava muito feliz. Com o coração cheio e as bochechas rosadas, virou-se para Naruto e ajeitou a postura.

- Sumimasen, Hokage-sama. - curvou-se em sinal de respeito. Para alguém como ela, principalmente, ter atacado o Hokage era algo muito sério que não tinha nenhuma desculpa. - Por favor, me perdoe.

Naruto sorriu, constrangido. 

- O que é isso, Sakura-chan? Você é minha melhor amiga! É claro que eu te perdoo. E se precisar de qualquer coisa com sua filha, pode contar com a minha ajuda, ok? - ela ergueu as costas e assentiu com um sorriso radiante que há muito tempo não mostrava. O loiro soltou um suspiro de cansaço. - Ok então, eu ainda tenho que ir conversar com a Hinata e as crianças sobre o divórcio. Ela deve estar muito irritada comigo por eu estar tão atrasado, hehe. - virou-se para o moreno atrás da Haruno. - Oi, Sasuke, não quer me dar um apoio lá com as crianças?

O Uchiha pigarreou e sorriu de leve. Se aproximou do loiro e cruzou os braços, rindo baixo. - O que seria de você sem mim? - brincou, recebendo um selinho do menor.

- Eu seria a primeira pessoa a virar Hokage aos dezesseis anos. - provocou, fazendo bico e arrancando um riso (e uma revirada de olhos) do moreno.

- Usuratonkachi.

Naruto impulsivamente o puxou pelos braços e o beijou, não se importando que Sakura estivesse ali, não que fizesse diferença de qualquer modo. Sentiu o moreno retribuir ao beijo devagar e colocar as mãos ao redor do pescoço do loiro. A rosada se sentia muito constrangida no meio daquela situação, aqueles dois se beijavam sem nenhum pudor e preocupação que alguém pudesse aparecer e vê-los assim. Era fofo mas também constrangedor para aqueles que estavam ao redor, então ela simplesmente resolveu se retirar.

- Então… Eu vou fazer o almoço pra Sarada e contar pra ela sobre a situação… - sem quebrar o beijo, Naruto fez joia com a mão, sequer dirigindo à amiga seu olhar. Sakura pigarreou. - Até depois então! - e saiu correndo de volta pra casa, fechando a porta atrás de si.

Assim que ela se foi, os dois se separaram do beijo e se encararam com brilho nos olhos. Sasuke deixou um riso escapar de seus lábios e desviou o olhar, soltando-se das mãos de Naruto. 

- Vamos logo, Dobe, a Hinata já deve estar irritada de tanto esperar você vir. Vai achar que deu um bolo nela.

Naruto sorriu calmamente. - Vamos lá então. - pegou na mão do moreno e em um único instante já estavam em frente à casa da Hyuuga, que andava de um lado para o outro à espera de Naruto.

- Naruto-kun! Por que demorou tanto? As crianças estão lá dentro esperando! - o loiro riu de nervoso e levou a mão à nuca, coçando-a de leve. - Ah, não importa, vamos logo! As crianças já devem estar muito impacientes! - pegou na mão do loiro e quase o arrastou para dentro de casa.

- Boa sorte. - provocou Sasuke, exibindo um sorriso de desdém em seu rosto, o que não ajudou em nada o loiro, que fez uma careta em resposta.

Os dois entraram na casa com o coração na mão. As crianças muito provavelmente ficariam decepcionada por seus pais estarem se separando, e pensar naquelas carinhas fofas com olhinhos tristes era de cortar o coração, mas tinham de ser fortes. Entraram na sala, onde Boruto e Himawari estavam sentados no sofá esperando por eles, e chamaram a atenção de ambos com um pigarreio.

- Otou-chan! Okaa-chan! Vocês chegaram! - disse Himawari com um sorriso no rosto e jogando as mãozinhas pra cima. Boruto estreitou os olhos, encarando seu pai com desconfiança.

- Alguma coisa aconteceu. Pro pai estar aqui não é só uma reunião de família que está acontecendo. - concluiu ele em voz alta, deixando Naruto e Hinata visivelmente incomodados.

A Hyuuga respirou fundo e tomou coragem para começar a falar. 

- Meus queridos, estamos aqui para dar uma notícia pra vocês, mas tem que prometer que vão nos deixar falar primeiro e depois vão poder dizer tudo o que quiserem, está bem? - os dois pequenos assentiram e escutaram com atenção. - Então, o que acontece é o seguinte… Eu e seu pai conversamos… E tomamos uma decisão. - Hinata estava bem nervosa, o loiro conseguia ver isso claramente no jeito que ela falava. Não querendo deixar ela na mão, resolveu assumir as rédeas da discussão.

- Eu e a mãe de vocês vamos começar a morar sozinhos. - as crianças fizeram carinhas confusas, Boruto mais do que Himawari, que se lembrou da conversa que ouviu entre a tia Sakura e o tio Sasuke. Vendo o horror nos olhos do filho mais velho, Naruto explicou. - Sabe, crianças, às vezes, quando duas pessoas se amam, esse sentimento pode acabar escapando delas, às vezes elas podem parar de sentir o que sentem uma pela outra, ou até mesmo começar a sentir isso por outras pessoas. Então, quando isso acontecer elas precisam passar algum tempo separadas para seguirem com suas vidas sem machucar umas às outras. - o de casaco escuro franziu o cenho e fechou os punhos. - Mas isso não quer dizer que elas pararam de ser amigas, os sentimentos de respeito e amizade continuam ali, só aquele sentimento mais forte que pode ter desaparecido, por isso que eu e a mamãe não estaremos mais juntos de agora em diante.

- Nós sabemos o que é um divórcio! - esbravejou Boruto, erguendo-se de seu lugar. A morena tentou chamar a atenção dele e pedir para que ele voltasse a se sentar em silêncio, mas ele foi mais rápido. - Você fica todo aí se achando, pensando que nós não sabemos o que está acontecendo, mas sabemos! Não precisam ficar adocicando a situação quando sabemos o que está acontecendo! - encarou seu pai com fogo nos olhos. - Eu sabia que alguma coisa estava errada. Eu sabia. Mas nunca achei que você fosse nos jogar fora tão na cara dura. - rangeu os dentes.

- Boruto! Tenha mais respeito por seu pai! Ele está fazendo o melhor que pode para que, mesmo separados, continuemos a ser uma família feliz! - defendeu Hinata, seus olhos brilhando com preocupação, mas Boruto se recusava a ouvir.

- Esse daí não é meu pai. - estreitou mais ainda os olhos, sentindo a raiva crescer dentro de si. - Meu pai nunca desistiria da família pra ficar sozinho. Ele continuaria conosco até o fim porque ele se importa com a gente! - virou o olhar de novo para o pai, mas focando para longe de seus olhos e apontou em sua direção. - Você não é meu pai.

Depois disso, saiu correndo para seu quarto, abandonando os três na sala. Himawari estava pasma, queria chamar seu irmão, mas entendia sua dor e sua chateação, ela também sentia que estava perdendo o pai, mas a conversa com Sakura continuava martelando em sua cabeça e a impedindo de falar.

Naruto abaixou a cabeça e se deixou ser consolado por Hinata, que o abraçava e tentava passar um pouco de felicidade para ele, mas não estava funcionando.

- Ele me odeia, Hinata. - disse choroso, deixando seus olhos azuis se encherem de lágrimas. A Hyuuga tentava o acalmar, mas não conseguia de forma alguma, ele só continuava chorando. - Ele me odeia, Hinata! Eu não queria o magoar! - continuava chorando e chorando, sem se importar que a filha o estava vendo.

A de olhos perolados o deixou no sofá e saiu correndo porta afora, desesperada. 

- Sasuke-kun! Ajuda aqui! Onegai! - gritou pelo moreno que descansava embaixo de uma árvore próxima.

Sasuke levantou o olhar e viu o desespero nos olhos de Hinata. Com certeza a conversa não tinha ido muito bem, e não fazia nem cinco minutos que eles estavam lá dentro com as crianças.

Levantou-se e correu para a casa, preocupado. 

- O que aconteceu? - perguntou e recebeu a resposta sentada no sofá com as mãos no rosto. O moreno deixou as sobrancelhas caírem ao ver seu amado chorando, chateado. Se aproximou do loiro e sentou ao seu lado, colocando sua mão ao seu ombro. - Naruto…

- Ele me odeia, Sasuke. Ele me odeia mesmo! - chorou, ao que o maior respondeu com um abraço. - Meu próprio filho me odeia… - Sasuke abriu um sorriso de consolo e puxou o menor para si, encostando a cabeça em seu peito.

- Não odeia não, Dobe, ele só está confuso. Vocês terminaram muito do nada e ele não está pronto pra vida dele mudar desse jeito. Ele ainda é uma criança, não entende os problemas dos adultos.

- Mas ele… - tentou protestar mas foi interrompido.

- Só dê um tempo pra ele se acostumar com a ideia. Querendo ou não, é isso que vai acontecer, ele só vai ter que aceitar. - pegou a mão do loiro e levou aos lábios, dando-lhe um pequeno beijo na palma que fez com que todos na sala corassem. - E, se precisar de qualquer coisa, sabe que pode contar comigo. - assegurou enquanto limpava as lágrimas das bochechas do outro, abrindo um sorriso nos lábios de Naruto.

- Ainda é muito cedo pra trocar seu sobrenome pra Uzumaki? - o moreno riu, desviando o olhar e corando de leve. - É sério, eu posso casar com você agora? Hina, compra umas alianças pra mim!

Os três riram, Hinata incluída, ninguém conseguia aguentar aquelas brincadeiras do loiro com o Uchiha, era simplesmente muito fofo! Ao ver todos sorridentes, Himawari, que até então estava só sentada quietinha assistindo, levantou-se e caminhou na direção do casal, que se calou no momento em que ela parou em frente à Sasuke.

- Ano… Você é o Sasuke? O moço que a tia Sakura tava brigando outro dia? - o dito cujo desviou o olhar, envergonhado, e assentiu, esperando algum tipo de reclamação vindo da pequena. - Papai, ele é seu namorado?

Naruto corou dos pés à cabeça. Sua filha parecia estar pegando tudo tão rápido! Sequer tinha conhecido Sasuke, o loiro nem tivera chance de o apresentar à família, e ela já tinha deduzido que ele e Naruto estavam juntos! Não que isso fosse algum tipo de mistério que ninguém mais sabia.

- É sim, minha filha. Veja só, quando duas pessoas moram sozinhas, aquele sentimento que aquelas duas pessoas tinham uma pela outra pode-

- Você o ama, papai! - exclamou ela com um sorrisinho meigo no rosto. O loiro corou, assim como Sasuke, que não esperava uma garotinha tão aberta e sincera. A moreninha pulou no sofá e encarou o moreno com um brilho maravilhoso nos olhos. - Obrigada por fazer meu papai feliz, tio Sasuke! - abraçou-o com seus bracinhos curtos e aconchegou o rosto em seu peitoral.

O moreno não resistiu em deixar um sorriso se formar em seus lábios. Himawari era a coisinha mais fofa que ele já havia visto! Viu como seu pai estava feliz agora ao lado dele e nem se importou com o divórcio, apenas queria que seu pai fosse feliz de qualquer maneira. Aquela garotinha era realmente uma preciosidade.

Ele a abraçou de volta, colocando um grande sorriso nos lábios da criança, que se sentia como se nada de ruim estivesse acontecendo. E, de fato, não estava.