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História Kospi - Dezesseis Mil Dólares


Escrita por: zettai

Notas do Autor


Chegou mais um sábado~

Perdoem qualquer erro que eu possa ter deixado passar, e boa leitura! <3

Capítulo 16 - Dezesseis Mil Dólares


O suor escorria de sua testa, seu coração batia acelerado demais em seu peito, e ele não sabia distinguir se o que saiu de sua garganta assim que ele acordou foi um gemido ou um grito assustado. Jungkook estava respirando rápido demais enquanto olhava para os lados, tentando assimilar se aquilo era a vida real ou um sonho muito realista, como o que estava tendo poucos segundos antes. Desceu a mão também suada em direção à cueca que usava para dormir e grunhiu ao sentir que algo tinha acordado bem antes dele, e não do jeito rotineiro que geralmente acontecia.

O sonho que teve com Taehyung foi realista demais para seu gosto.

Não sabia se seria capaz de encarar o escritor no rosto de novo se ficasse se lembrando das expressões que ele fazia em seu sonho, não sabia se seria capaz de encarar seu próprio chefe de novo apenas porque ele era um dos melhores amigos do homem com quem sonhou, e, por Deus, tinha certeza de que não seria capaz de encarar as sobrancelhas grossas e assustadoras de Kim Seokjin de novo apenas pelo medo do mais velho descobrir o que tinha acontecido, apesar de ser impossível. Jungkook era um homem morto, mesmo que ninguém soubesse que teve um sonho erótico com Kim Taehyung. Ele mesmo se crucificaria pelo resto de sua vida por seu subconsciente ter formado aquela imagem, e, pior ainda, ter feito de maneira tão real. Parte dele sabia que estava simplesmente sonhando enquanto estava adormecido vivendo aquilo tudo, mas outra parte sabia que o desejo era tanto que seria algo capaz de ocorrer – apesar de ser preciso duas pessoas querendo transar para que pudesse acontecer de fato.

Quando sua respiração voltou ao normal e seu coração começou a bater em seu usual ritmo de novo, Jungkook deixou seu corpo cair para trás, ignorando com forças o incômodo que sentia no meio das pernas, e até mesmo tentando imaginar como seria a vida sexual de seus avós para acabar com sua ereção. Foi só quando a campainha tocou mais uma vez que ele se lembrou o porquê de estar acordado agora, exatamente às sete e quinze da manhã de um sábado, como seu celular estava o informando. Alguém estava batendo em sua porta no pior horário de todos, e ele infelizmente havia acordado de seu sonho com Taehyung. Ele pensou na possibilidade de ser Yoongi o pedindo para ir ao canil de novo para acompanhá-lo, mas seu chefe o ligaria antes se aquele fosse o caso. Jieun? Eles dois se falavam muito no escritório e ela sabia onde ele morava, mas por que diabos a secretária apareceria em sua casa desse jeito? Uma visita inesperada de seus pais era a opção mais provável, então Jungkook caminhou até a porta evitando bater os pés de birra como sempre fazia quando seu pai tinha a brilhante ideia de aparecer em sua casa sem falar nada antes.

Estava sonolento demais para pensar em sua vestimenta – uma única cueca velha que ele se lembra de ter ganhado de uma tia no Natal de muitos anos antes –, e já que eram só seus pais fazendo uma visita surpresa, Jungkook abriu a porta sem nem perguntar quem era, sem nem mesmo olhar para as pessoas que o colocaram no mundo. Enquanto coçava os olhos, bocejou com tanta força que sentiu lágrimas se formarem, e só depois de longos segundos percebeu que ninguém tinha dito nada, ao contrário do que sua mãe faria se estivesse parada bem ali. Jungkook achou estranho e então tentou afastar o sono, piscando algumas vezes antes de finalmente encarar quem estava ali, visitando-o. Não eram seus pais, não, e assim que percebeu e entendeu quem tocou sua campainha às sete da manhã de um sábado, sua primeira reação foi colocar as mãos sobre o peito como se aquilo fosse o proteger de alguma coisa.

“Bom dia.” Taehyung murmurou, soltando uma risadinha divertida logo depois. Claro que ele estava achando graça da situação, mas Jungkook já sentia suas bochechas ficando vermelhas. “Você disse que eu podia aparecer quando eu quisesse, então–”

Jungkook sabia que nunca tomava as decisões mais brilhantes, mas ele desconfiava que fechar a porta na cara de Taehyung antes mesmo dele conseguir terminar sua frase havia sido a decisão mais estúpida de sua vida. Assim que o som estrondoso deu lugar para o silêncio constrangedor, três leves toques na madeira fizeram o guarda-costas piscar seus olhos com força para entender tudo que estava acontecendo. A voz suave do escritor perguntava se aquilo era um pedido para ele ir embora, e é claro que Jungkook respondeu rápido demais que não era aquilo, fazendo com que a palma de sua mão entrasse em contato com sua testa na mesma hora. Ele respirou fundo e disse, com mais calma, que não queria que o outro fosse embora, queria apenas que esperasse um pouco para ele colocar uma roupa.

Com um suspiro pesado, uma camiseta branca que ele esperava que estivesse razoavelmente limpa e uma bermuda de moletom que ele tinha comprado havia pouco tempo, Jungkook abriu a porta de novo e ficou de frente com Taehyung, que estava encostado ao batente com olheiras tão profundas que assustariam uma senhora de idade que nem consegue enxergar direito. O escritor deu um sorriso e perguntou com a voz fraca se podia entrar, e Jungkook precisou controlar a vontade de sair correndo para comprar um tapete vermelho e estender só para que Taehyung pudesse entrar em seu apartamento em grande estilo, exatamente como ele merecia. Acabou apenas concordando e dando espaço para o mais velho tirar seus sapatos e observar a sala meio bagunçada com seus lindos olhos castanhos e brilhantes, como se a luz do sol que entrava pela janela iluminasse ainda mais– Jungkook precisava se concentrar. Não sobreviveria com Taehyung dentro de seu território se continuasse pensando em coisas idiotas como aquela.

“Você quer–” Jungkook interrompeu a própria fala e colocou o punho fechado em frente à boca, limpando a garganta ainda seca do sono para falar da forma mais clara possível. “Você quer comer uma água? Tomar um pão?”

“Jungkook,” Taehyung soltou uma risada fraca e se aproximou do homem, colocando uma mão em seu ombro enquanto o mais novo queria se enfiar no chão por ter trocado as palavras. “Eu aceito uma água. Você sabe bem por que eu estou aqui, não sabe?”

“Sei, sei! Claro! Óbvio que sei!” Jungkook respondeu rápido, colocando uma mão no bolso e relaxando seus ombros para tentar parecer o mais ‘descolado’ possível. Palavras de sua mãe, não suas. “A Yuri, né? Como ela anda? Nossa, tem um tempo que você não fala da Yuri, saudades dela, como anda o ovo?”

“Jungkook.” Taehyung riu mais um pouco, tirando a mão do ombro do homem para esconder seu rosto enquanto ele ria. “Desculpa ter te acordado a essa hora em um sábado, mas vamos acabar logo com isso para nós dois descansarmos, pode ser?”

“Você quer ir embora?” A expressão de Jungkook murchou na hora, ao mesmo tempo em que Taehyung arregalou os olhos e se preparou para negar o que o guarda-costas havia dito. “Sério, hyung, você não me incomoda, eu só não esperava e te atendi de cueca, desculpa por isso aliás, mas eu não–”

“Onde fica a cozinha?” Taehyung o interrompeu com um sorriso pequeno no rosto, quase como se ele estivesse começando a ficar desconfortável com o falatório de Jungkook. “Eu mesmo vou buscar a água.”

Jungkook olhou para a janela e pensou se seria uma péssima ideia se jogar de lá para não precisar encarar Taehyung depois do vexame que tinha passado. Infelizmente seria uma ideia pior do que fechar a porta na cara do homem que ele gostava, então ele permaneceu sentado no sofá com a postura ereta esperando que o escritor voltasse da cozinha com um copo d’água em mãos. Se soubesse que ele o visitaria em um sábado, Jungkook teria acordado uma hora antes, teria arrumado seu apartamento inteiro e ainda teria tomado um banho para tirar o cheiro de suor de seu corpo, ainda mais depois de como acordou poucos minutos antes do sonho que teve. Meu Deus, o sonho. Taehyung estava em seu apartamento naquele exato instante logo depois de Jungkook ter um sonho erótico com ele. Aquilo sim era um pesadelo, só podia ser.

“Jungkook?”

A voz preocupada de Taehyung o tirou de seus devaneios, e assim que viu o homem parado ao seu lado, de pé, ainda sem se sentar no sofá, ele resolveu abstrair todas as imagens que tinha visto em seu sonho e se deitou, como eles sempre faziam quando o escritor precisava de ideias para continuar escrevendo seu livro. Não tinha nenhum copo d’água na mão de Taehyung, então Jungkook decidiu que podia ficar um pouco mais na horizontal ao invés de tentar se manter sentado para que o mais velho pudesse beber sem engasgar. Tudo estava sendo friamente calculado na mente desesperada de Jungkook, até mesmo o momento em que as costas de Taehyung grudariam em seu peito e ele se sentiria todo aquecido por dentro da maneira mais clichê e asquerosa possível, mas Taehyung o surpreendeu, mais uma vez, ao se deitar de frente e encostar seu peito no peito de Jungkook.

“Acho que prefiro ficar assim hoje.” Taehyung disse com a voz baixinha, apoiando seu queixo em suas mãos que estavam apoiadas no peito de Jungkook enquanto falava. “Tem problema?”

“Nenhum.” Jungkook respirou fundo e fez uma careta. Querendo ou não, o jeito que Taehyung estava apoiando o queixo nele machucava um pouco, e ele não sabia se aguentaria até que o mais velho achasse sua inspiração para poder respirar direito novamente. “Só... Tem como deitar a cabeça? Seu queixo está machucando.”

“Ah, claro.” Taehyung respondeu rápido e tirou seu apoio, encostando a lateral de seu rosto no peito de Jungkook. “Eu não consigo te ver assim, mas é mais confortável mesmo. Seu coração está batendo.”

“Que bom, né.” Jungkook engoliu em seco e tentou, de alguma forma, fazer com que seu coração parasse de bater tão rápido. Sabia que era impossível, ainda mais quando estava na presença de Taehyung. “Significa que estou vivo.”

“Engraçadinho.” Taehyung soltou uma risada e logo depois respirou fundo, uma de suas mãos descansando ao lado do corpo de Jungkook enquanto a outra descansava sobre o peito dele, perto de sua clavícula. “A Yuri arranjou uma nova amiga que pode mostrar para ela... coisas novas sobre o ovo.”

“Você mencionou que colocaria essa nova amiga na história.” Jungkook comentou com a voz baixa, levando uma de suas mãos para o cabelo de Taehyung, acariciando as madeixas porque sabia que carinho o ajudava a pensar melhor. “O que mais aconteceu?”

Taehyung falava com a voz lenta e cheia de sono sobre Yuri, o ovo e a nova amiga dela. O tom grave fazia com que os olhos de Jungkook pesassem, sentindo pela primeira vez como estava com sono desde que o escritor havia aparecido em sua porta. Jungkook tentava se manter acordado para ouvir tudo que Taehyung tinha a dizer, e usava o carinho que fazia no cabelo do mais velho como distração para não dormir a qualquer momento, mas tudo estava tão propício para ele dormir de novo. A respiração de Taehyung, o jeito que ele falava devagar e soava quase como música de ninar, o jeito que um de seus dedos desenhava círculos imaginários no peito de Jungkook, os dedos dos pés que brincavam com os do guarda-costas... Era demais. Jungkook não tinha certeza se aguentaria muito tempo caso Taehyung continuasse daquele jeito.

“Jungkook, para.”

“Hm?” Jungkook respondeu com a voz sonolenta, um de seus olhos lutando para se manter aberto enquanto o outro já estava fechado havia muito tempo. “Para o que? Eu não estou fazendo nada.”

“O carinho.” Taehyung disse com a voz sonolenta, e só então Jungkook e seu cérebro quase dormindo entenderam o que ele quis dizer. “Eu vou pegar no sono desse jeito. Eu não posso, eu tenho que escrever.”

“Você precisa dormir, hyung.” Jungkook disse, deixando seus olhos se fecharem aos poucos, sentindo seus dedos se enroscarem ainda mais nos fios macios de Taehyung, que nem ao menos tentava lutar contra o cafuné. “O arquivo do seu livro vai estar lá quando você acordar, anda, só dorme.”

“Aqui?” Taehyung perguntou com a voz falhada, mas Jungkook preferiu ignorar aquele pequeno detalhe. Manteve seus olhos fechados como se estivesse cansado demais para perceber a hesitação de Taehyung, torcendo para que tudo saísse como ele queria. “No seu sofá mesmo?”

“Eu te levo para a cama se você quiser.” Jungkook respirou fundo e sentiu a cabeça de Taehyung subindo e descendo de acordo com o movimento de seu peito, demorando alguns segundos para perceber como aquilo tinha soado errado. “Quer dizer, você pode dormir na minha cama.”

“Sozinho?”

“Sim, por quê? Queria dormir comigo?”

O ambiente ficou em silêncio por alguns segundos. Jungkook estava se convencendo de que só estava conseguindo falar aquilo tudo porque, na verdade, nada daquilo estava acontecendo e era tudo um sonho real demais que ele teve assim que pegou no sono de novo depois do sonho erótico. Era a única explicação para tudo que estava acontecendo, claro, não tinha como ser real. Em alguns minutos, ele acordaria em sua cama, sozinho, ainda usando sua cueca velha sem nem sinal de que Taehyung colocou os pés dentro de sua casa. Não seria a primeira vez que isso acontecia, afinal, seu cérebro o odiava e o fazia sonhar com coisas que nunca se tornariam realidade, para a tristeza de seu coração.

“Queria.” Taehyung disse com a voz ainda mais fraca, encolhendo um pouco suas pernas e voltando a mexer seus pés, um carinho mínimo em Jungkook. “Na verdade, eu não consigo dormir muito bem quando chego em casa depois de tirar uma soneca com você.”

“Jura?” Jungkook perguntou, mexendo-se um pouco no sofá para que ele pudesse pegar Taehyung pelas coxas, pronto para se levantar e levá-lo para seu quarto. Estava convencido, era um sonho. “Hm, então vamos lá. Segura no meu ombro, eu te levo.”

“O que–”

Taehyung não teve nem tempo de gritar quando sentiu Jungkook se sentando no sofá, e logo em seguida se levantando para caminhar com passos tortos até seu quarto. O escritor se agarrou nos ombros do guarda-costas e ficou observando o caminho com olhos arregalados, dando-se conta de que aquilo estava realmente acontecendo apenas quando foi colocado em cima da cama de forma tão delicada que ele mal sentiu sua pele entrando em contato com o colchão. Jungkook se espreguiçou e estalou alguns ossos antes de se deitar também, entregando seu travesseiro na direção de Taehyung e puxando o cobertor por cima deles, ajeitando-se como se já estivesse dormindo e nada pudesse o fazer sair dali.

“Jungkook–”

“Como você prefere dormir?” Jungkook perguntou de olhos fechados, a voz tão arrastada que ele soava que poderia pegar no sono e começar a roncar a qualquer instante. “Para mim, tanto faz.”

“Conchinha.” Taehyung murmurou, e antes que Jungkook pudesse abraçá-lo por trás, ele colocou uma mão na frente para terminar de falar. “Eu gosto de agarrar os outros para dormir.”

“Tudo bem.” Jungkook se virou de costas e se mexeu para trás, esperando que Taehyung colocasse os braços em volta dele, e, então, ele acordaria daquele sonho realista e ficaria triste por estar sozinho em sua cama. “Boa noite, hyung.”

Não demorou muito para Jungkook pegar no sono, com ou sem Taehyung se posicionando atrás dele para segurá-lo e dormir também. O escritor abriu um pequeno sorriso e se aproximou, colocando um braço em volta da cintura do mais novo e escondendo seu rosto envergonhado no pescoço dele, por mais que ninguém pudesse ver aquela cena, nem mesmo o homem ao seu lado. Taehyung respirou fundo, sentindo o cheiro do perfume de Jungkook misturado a um leve suor da noite de sono que teve antes dele chegar, e seus olhos logo pesaram demais para que ele se mantivesse acordado por muito mais do que alguns minutos.

Quando Jungkook acordou horas depois e sentiu uma respiração quente batendo em seu pescoço, ao mesmo tempo em que viu sua mão entrelaçada com longos dedos que vinham de trás dele, não pôde deixar de sorrir ao pensar que o sonho realista, na verdade, não tinha sido um sonho. Mexeu-se um pouco e sentiu como, aos poucos, Taehyung despertava também, mas tentava manter o guarda-costas na posição em que estava. Não diziam nada talvez por medo de estragarem o silêncio, ou por medo de terem que conversar sobre o que aquilo havia sido. Não que tenha sido alguma coisa, não foi, mas ver seus dedos entrelaçados e não se separarem mesmo depois de acordarem não era exatamente normal.

“Acho que vou querer tomar aquele pão que você me ofereceu mais cedo.” Taehyung resmungou com a voz grossa, evidenciando o quão seca estava sua garganta depois de dormir por algumas horas. “E comer aquela água de novo.”

Ao invés de dar o que Taehyung pediu, Jungkook comprou comida por um aplicativo e pediu para entregarem em seu apartamento, ambos almoçando em silêncio lado a lado, fingindo que não tinham dormido juntos, que não tinham entrelaçado seus dedos em algum ponto enquanto estavam inconscientes. Taehyung se despediu com um agradecimento e uma promessa de que voltaria algum dia para falar mais da Yuri e da amiga nova dela, e, enquanto assistia ao homem entrar no elevador e ir embora, Jungkook segurou a vontade de pedir para ele voltar quando estivesse com bastante sono para eles dormirem juntos de novo.

Para a infelicidade de Yoongi, eles voltaram a se ver na terça-feira seguinte durante o horário de trabalho de Jungkook, mas antes do acionista chegar e implicar com tudo que eles faziam. Dessa vez, Taehyung não deitou sua cabeça no peito de Jungkook e não ganhou carinho no cabelo, e também não foi levado pelo guarda-costas para uma cama macia e confortável, diferente do sofá de couro que às vezes grudava em sua pele por causa do suor de seus pés que estavam calçados até poucos segundos antes. Não foi ruim, porque todo tipo de contato que Jungkook tinha com Taehyung era ótimo ao seu ver, mas ele mentiria se dissesse que não tinha vontade de fazer o escritor dormir agarrado a ele de novo, em sua cama, em seu quarto, bem longe dos ouvidos curiosos de Jieun, sem nenhum terno desconfortável o separando dele, sem medo de seu chefe chegar a qualquer instante e o pegar naquela situação constrangedora.

Yoongi chegou ao escritório com uma leveza em seus ombros que não aparecia havia tempos, e um sorriso de quem estava satisfeito com a vida (pelo menos em partes). Taehyung tinha ido embora havia poucos minutos, alegando que precisava ir para casa correndo para escrever uma cena que tinha ficado em sua cabeça e ele não descansaria enquanto não colocasse no arquivo de seu livro. Jungkook mantinha sua expressão séria e encarava o outro lado da sala enquanto deixava sua mente divagar para o cheiro de Taehyung, o jeito que ele tinha conseguido deixar o clima menos pesado no sábado quando acordaram juntos. Yoongi estava desatento, olhando a tela de seu computador com pouco interesse, e nem imaginava o que se passava na cabeça de seu guarda-costas.

A verdade é que Yoongi estava relaxado por causa da noite da festa da The Economist. Jimin saiu de seu pé, ele conseguiu levar uma linda moça para casa, que, para melhorar tudo, não quis uma segunda vez e deixou isso bem claro, e o mais importante de tudo: ele transou. Não se importava de fazer aquilo com Jimin, mas agora eles conviviam juntos, faziam coisas e iam a lugares na companhia um do outro, não sabia como o clima ficaria quando saíssem na semana seguinte para ajudar crianças carentes sabendo que não havia se passado muito tempo desde que se enfiaram um dentro do outro, literalmente. Ele não se incomodaria tanto com aquilo, mas pela insistência de Jimin para ter um repeteco, suspeitava que talvez o garoto não fosse muito bom em manter casos de uma noite só em uma noite só. Sem contar que não gostava muito de pessoas insistentes, ainda mais naquele tipo de situação.

Agora, a ligação – Yoongi ainda não tinha a mínima ideia do que havia sido aquela ligação. Ele demorou um pouco para dormir depois, pensando em como Jimin estava arfando enquanto eles conversavam, perguntando-se o que levou o garoto a ligar para ele enquanto ainda estava transando com o homem que ele o arranjou na festa. Achava que poderia ser uma forma de mostrar o que ele havia perdido para sua noite, podendo ter muito mais do que apenas duas horas ao lado de uma desconhecida, e até chegou perto de descartar a possibilidade antes de pensar que Jimin gostava de mostrar o quão bom ele era, provando que a opção era viável. Outra ideia que teve, e essa passou longe depois dele se dar conta do quão absurda ela era, era que Jimin estava, de alguma forma, tentando deixá-lo enciumado. Não fazia sentido, afinal, eles não se gostavam e apesar da atração física ser real, não era o suficiente para fazer aquele tipo de sentimento despertar dentro de Yoongi.

Número Desconhecido [16:41]: pare de pensar em mim

Número Desconhecido [16:41]: pense no quanto nós dois temos que ganhar, é para isso que eu leio sua mente, hyung

Yoongi fez seu trabalho, mas não porque Jimin havia o mandado, isso nunca. Era porque a bolsa estava perto de fechar e ele não tinha tempo a perder, concentrando-se ao máximo nos números que subiam e caíam, no quanto de dinheiro ele ganhava, e no quanto ele perdia com investimentos fixos que ele não podia vender e comprar no mesmo dia como fazia com outras ações. Um suspiro pesado saiu de sua boca quando os números congelaram e ele deu seu dia como encerrado, mesmo que o sol ainda brilhasse lá fora, mesmo que Jungkook ainda estivesse parado em sua porta de cenho franzido encarando o nada como ele sempre fazia. Queria ir para casa. Queria olhar para o céu e torcer para que houvesse estrelas lá em cima, queria muito que Jimin o deixasse em paz dentro de sua própria cabeça por algumas horas. Podia não ser na mesma dimensão, mas aquilo era cansativo para ele também.

O clima na cidade estava começando a ficar mais frio. Yoongi murmurou alguns palavrões quando sentiu seu corpo estremecer por conta do vento que batia enquanto ele estava sentado em uma das espreguiçadeiras, correu para dentro para se livrar do terno incômodo que vestia e trocar por um conjunto de moletom mais confortável e também mais quente. O aniversário de Jungkook já tinha passado e ele se lembrava de presenteá-lo com um perfume, mas sempre se esquecia que, depois dessa data, o verão ficava próximo de terminar e dava lugar ao outono. Yoongi suspirou, não era o maior fã do inverno, e saber que aquela época do ano estava se aproximando o desanimava um pouco. Teria que voltar a usar camadas e mais camadas de roupa quando gostava de usar o mínimo possível.

Ele também sabia que o aniversário de Jimin estava se aproximando, mas somente porque o garoto havia reclamado sobre a data enquanto eles iam para casa depois do jantar com Hayeon. Jimin resmungava sobre como não aguentava mais envelhecer, e como sua vida era muito mais fácil quando ele ainda estava no ensino médio, quando ainda podia alimentar a esperança de entrar em uma faculdade e levar a vida normal que sempre quis, mesmo com o poder de ler mentes o assombrando a cada segundo de seu dia. ‘Treze de outubro’, foi o que ele repetiu diversas vezes, soltando uma bufada que soava sarcástica demais toda vez que mencionava a data. Yoongi não disse nada e deixou que ele reclamasse do que tivesse para reclamar, mas guardou aquela informação em algum lugar de sua cabeça. Talvez presenteasse Jimin com alguma coisa, quem sabe? Poderia ser um sinal de paz entre eles já que ainda não se gostavam, mas pelo menos conseguiam tolerar a presença um do outro quando eram obrigados a sair juntos.

A semana passou voando depois daquela terça-feira. Os dias se misturavam uns aos outros e Yoongi até mesmo se esquecia às vezes de que Jimin poderia o ligar a qualquer momento e arruinar toda a calma que ele insistia em instalar em sua mente. Quando se deu conta, já era sexta-feira à noite e ele decidiu que assistir a alguns filmes sozinho era seu programa perfeito – ele convidou Seokjin para se juntar a ele, mas o amigo disse, com a voz animada, que tinha um encontro com Hoseok e que eles poderiam marcar de acabar com o catálogo do Netflix em outro dia. Yoongi sorriu e depois mandou uma porção de mensagens dizendo que o amigo estava apaixonado, e tudo que recebeu em resposta foi uma risada; nada de confirmação, nada de negação, apenas uma risada. Era quase onze da noite e ele estava prestes a começar seu segundo filme quando o celular tocou e tirou sua atenção da televisão.

“Ei, está acordado?”

Yoongi arqueou a sobrancelha com a pergunta. Geralmente, quando Jimin o ligava à noite daquele jeito, suas palavras iniciais não eram uma pergunta para saber como ele estava ou o que ele estava fazendo, era apenas um comando direto o mandando ir dormir ou mandando que ele parasse de pensar em Jimin. Ele até tentou pensar em sua resposta para fazer um teste e saber se o garoto estava lendo sua mente naquele exato momento, mas assim que ouviu um ‘você está aí?’ com a voz tão suave quanto a que tinha ouvido do garoto poucos segundos antes, Yoongi limpou a garganta e abriu a boca algumas vezes para tentar responder propriamente.

“Estou.” Yoongi respondeu e olhou para a tela da televisão, a animação sobre carros que não parecia muito promissora o esperando para ser assistida. “Resolvi ver alguns filmes. Por quê?”

“Ah, eu ia falar que é melhor você ir dormir logo, combinei com Youngmi noona de ir ao canil amanhã.” Jimin disse com a voz calma, e foi possível ouvir o som de páginas de um livro ou revista sendo viradas do outro lado da linha. Yoongi soltou um suspiro e fechou os olhos, jogando a cabeça para trás no sofá e ficando com vontade de chorar só de pensar em como seu dia seguinte seria longo. “Nós vamos comprar ração antes, então vamos ter que sair mais cedo do que da outra vez. E, hm, pode levar seu guarda-costas se quiser, ele gostou dos cachorros e os bichinhos gostam de brincar.”

“Acho que passo, Jungkook merece descansar um pouco da minha cara feia.” Yoongi disse mais para si mesmo do que para Jimin, mas ouviu a risada do garoto da mesma forma. “Que horas?”

“Devo passar aí às sete.” Jimin respondeu rápido, como se já estivesse com a resposta na ponta da língua. Ele realmente havia planejado aquilo. “Vá dormir, você viu como é cansativo ir para lá.”

Em outra ocasião, talvez algumas semanas atrás quando Yoongi ainda não conseguia pensar em Jimin sem ter uma dor de cabeça, ele não teria ido dormir e teria desafiado o conselho do garoto apenas pelo simples fato de ser Park Jimin o aconselhando. Mas agora que ele conhecia o canil e sabia o quanto demorava até chegar lá, além de ter noção do quanto brincar com cachorros era cansativo, Yoongi desligou a televisão assim que a chamada foi encerrada, juntou alguns objetos espalhados na mesa de centro da sala e caminhou com passos apressados até seu quarto, querendo mais do que tudo escovar os dentes para poder dormir e ter pelo menos oito horas de sono. Ele não dormia tanto e nem acordava tão cedo durante a semana, mas podia abrir uma exceção para os filhotes que queriam receber atenção e carinho.

Quando acordou no dia seguinte, a primeira coisa que notou, ainda de olhos fechados, foi que a cortina pesada que havia comprado para bloquear todo tipo de luz estava aberta. Yoongi piscou algumas vezes para tentar se acostumar com a claridade, e foi ajudado por uma sombra que bloqueava parte dos raios solares que estavam tentando cegá-lo. Depois de levar longos segundos para entender tudo que estava acontecendo ao seu redor, viu o rosto entediado de Jimin o encarando, seu cotovelo apoiado no colchão e sua cabeça apoiada em sua mão. Ele esperava pacientemente que Yoongi acordasse, e assim que percebeu que ele estava consciente, abriu um sorriso e murmurou um ‘bom dia’ que fez Yoongi virar para o outro lado, ignorando-o.

“Isso vai ser mais difícil do que eu esperava.” Jimin disse com a voz um pouco mais alta dessa vez, e Yoongi o ignorou, de novo, e ignorou também como o peso do garoto se transferiu pelo colchão algumas vezes antes de parecer que ninguém o acompanhava em sua cama. “Eu disse bom dia, hyung.”

A partir daí, tudo aconteceu rápido demais. Yoongi sentiu um corpo caindo em cima do seu, sentiu todo o ar saindo de seus pulmões em uma velocidade tão alta que ele fez um barulho grotesco com a boca, e foi obrigado a ouvir as risadas escandalosas de Jimin bem em seu ouvido, ao mesmo tempo em que sentia cada centímetro da pele do garoto em contato com a sua. Agora não tinha mais jeito, seria obrigado a se levantar e encarar o dia, e tudo graças ao modo rude que Park Jimin havia escolhido para despertá-lo. Com resmungos saindo com facilidade de seus lábios, Yoongi empurrou o corpo do garoto para o lado e se sentou na beira da cama, coçando os olhos por alguns segundos antes de encarar a porta que dava para o banheiro e a outra que dava para seu closet. Não demorou para Jimin aparecer em seu campo de visão de cabeça para baixo, um sorriso esquisito estampando seu rosto, as mãos apoiadas nos ombros de Yoongi para que ele não se inclinasse muito para frente e caísse.

“Bom que esse método funcionou.” Jimin disse e retirou uma das mãos do ombro de Yoongi para levá-la até a bochecha do homem, dando dois tapinhas de leve na pele e rindo com a careta que ele fez. “Vamos, são sete horas. Nós ainda temos que comprar ração para os cachorros.”

“Você é impossível.” Yoongi resmungou, mas não conseguiu evitar soltar uma risada fraca quando Jimin pulou da cama e deu uma piscadela antes de sair do quarto, deixando a porta aberta como um convite para o mais velho segui-lo.

Ao chegar na sala, Yoongi reparou como o guarda-costas de Jimin, Namjoon, estava parado na porta com a postura tão tensa que até um recém-nascido seria capaz de notar seu desconforto. Jimin não estava por ali, o que devia significar que estava na cozinha fazendo qualquer coisa. Com um suspiro cansado saindo de seus lábios, Yoongi chamou Namjoon e disse que ele podia se sentar no sofá se quisesse, e o homem pareceu pensar na resposta por anos antes de aceitar a oferta e agradecer, dirigindo-se até o móvel com movimentos quase robóticos. Yoongi não podia culpá-lo por estar tenso daquele jeito, a primeira e única vez que tinham se visto havia sido muitas semanas atrás, da primeira vez que eles foram ao canil, em uma época em que ele só pensava em explodir a cabeça de Jimin e depois chutar os miolos dele para Marte.

O barulho de panelas batendo umas contra as outras foi o que levou os pés de Yoongi a andarem até a cozinha de cenho franzido, querendo saber o que Jimin estava fazendo ali dentro. O garoto estava de costas para a porta quando ele entrou, concentrado demais em colocar a frigideira em cima do fogão sem fazer mais barulho do que já tinha feito para notar sua presença ali. Ele murmurava uma canção enquanto se encaminhava até a geladeira, observando o conteúdo e pegando o que chamava sua atenção. Yoongi foi até ele e segurou a porta, afastando-o com seu corpo e pegando alguns ingredientes que havia comprado poucos dias atrás para comer uma omelete decente com algo além de queijo que ele nem lembrava que tinha guardado. Jimin o encarou surpreso por ter sido tirado de seu momento, e não entendeu por que Yoongi estava com o rosto enfiado nas prateleiras buscando por algo.

“O que você está fazendo?”

“Pegando ingredientes para fazer omelete.” Yoongi ergueu suas mãos com os temperos que havia comprado poucos dias antes, falando no mesmo tom que ele se lembrava que Jimin havia falado que estava fritando um ovo em sua cozinha no dia em que foram para o orfanato. “Seu amigo vai querer uma?”

“Você vai fazer uma omelete para mim?” Jimin arqueou uma sobrancelha, e só não levou uma mão ao peito para mostrar seu choque porque ele segurava alguns ovos que estava planejando usar.

“Não é óbvio?” Yoongi deu de ombros e caminhou até a pia, onde deixou os ingredientes, e logo depois ergueu sua mão em um pedido para que Jimin o desse os ovos. “Agora, ele vai querer ou não? Nós não temos o dia todo, você deixou isso bem claro pulando em cima de mim para me acordar.”

“Ah, não.” Jimin se apressou em negar e entregou alguns dos ovos para Yoongi, que os colocou em cima da pia ao lado dos ingredientes e logo depois buscou por uma tigela para começar a misturar tudo. “Ele já comeu em casa. Obrigado, aliás.”

Yoongi deu de ombros e começou a agir. Jimin queria que ele fosse caridoso, certo? Devolver o favor de fazer uma omelete para o garoto era apenas um jeito de mostrar que ele tinha um coração, que se importava, ou qualquer coisa que ele quisesse de Yoongi. Ambos ficaram em silêncio na cozinha, Yoongi fazendo seu trabalho e Jimin o observando com olhos atentos, fazendo uma coisa ou duas que o mais velho o pedia para fazer se estivesse com as mãos ocupadas. O tempo parecia não passar, mas não de uma maneira ruim. Era bom quando eles dois estavam no mesmo ambiente sem trocar palavras rudes, ou sem insinuar qualquer obscenidade que envolvia a noite da festa da Forbes. Quando estavam em completa paz, a companhia de Jimin não era tão ruim quanto Yoongi costumava achar que era.

Ele suspeitava que a ida à faculdade havia sido um gatilho para as coisas melhorarem pelo menos um pouco. Tanto Yoongi quanto Jimin deixaram a barreira que haviam construído entre eles sumir por alguns instantes, com o mais novo mostrando um certo receio e insegurança que quase nunca era visto em suas atitudes, e com o mais velho mostrando mais do que ele era, sem se segurar muito apenas pelo simples fato de não querer compartilhar nada de sua vida com uma pessoa que ele não gostava. Hayeon tinha sua parcela de ajuda, também. Algo na situação dela despertou uma vontade de ajudar em ambos, mas por motivos diferentes. O próprio Jimin disse que não teve como tentar o vestibular de novo por dificuldades financeiras, e Yoongi precisou se endividar todo com a faculdade para poder completar o curso e só depois quitar todas as suas dívidas. O jantar com ela e os pais dela deve ter sido um extra – algo que, de alguma forma, trouxe uma responsabilidade a mais para os dois, e que só poderia ser cumprida se eles não se odiassem.

“Hm,” Jimin murmurou e assentiu com a cabeça, colocando uma mão em frente à boca para falar ainda enquanto mastigava o primeiro pedaço que tinha tirado da omelete. “Você cozinha bem, hyung.”

“Não dá para sobreviver de delivery para sempre.” Yoongi deu de ombros e também pegou o primeiro pedaço da omelete que tinha feito para si próprio, soltando um murmúrio satisfeito parecido com o de Jimin. “É, até que não está tão ruim.”

A paz entre eles não durou muito, é claro, porque conversas civilizadas ainda não existiam no dicionário que eles compartilhavam. Foi depois de lavarem a louça, depois de Yoongi tomar um banho e se vestir, que tudo começou a dar errado. Yoongi pegou a chave de seu carro enquanto assobiava uma canção que ainda não havia sido lançada, mas foi surpreendido com a mão firme de Jimin segurando seu pulso e o guiando de volta para onde o pequeno controle que seria capaz de abrir as portas do automóvel estava antes. Com a voz serena e um sorriso falso no rosto, o garoto anunciou que dessa vez todos iriam dentro do mesmo carro porque não tinha necessidade nenhuma deles se separarem, ainda mais agora que Yoongi e Jimin haviam parado de brigar feito cão e gato – constantemente, Namjoon adicionou em seus pensamentos, mas preferiu se manter calado porque era melhor não se meter em brigas daqueles dois.

Então lá foi Yoongi, sentado no banco de trás olhando pela janela, ignorando com todas as forças de seu ser a conversa amigável de Jimin e Namjoon, que também ignoravam a existência dele ali dentro. Ele preferia estar dentro do próprio carro dirigindo até o canil, mas pelo menos podia tentar tirar uma soneca enquanto Jimin dirigia por três longas horas até finalmente chegarem ao seu destino. Talvez ele levasse Jungkook da próxima vez que voltassem lá, se voltassem lá, porque algo o dizia que se o guarda-costas tivesse o acompanhado, ele poderia estar sentado bem feliz e contente dentro de sua Mercedes enquanto Jungkook acompanhava com sua voz melodiosa qualquer artista que cantasse na rádio. Aquele cenário era muito melhor do que o que estava vivendo agora, sentado logo atrás de Namjoon, que ocupava o carona e não podia chegar o banco para frente por causa de suas pernas longas.

Por já ter ido lá antes, o caminho pareceu mais curto agora, e Yoongi logo avistou a casa familiar com o mesmo casal os esperando na porta, assim como tinha sido da última vez. Ele se lembrou da raiva que sentiu quando estacionou seu carro ali pela primeira vez, e no quanto queria dar meia volta e ir para casa. Foi Jungkook que o acalmou naquele dia, foi a presença do guarda-costas que o impediu de surtar e esfregar a cara de Jimin na primeira superfície que aparecesse. Hoje, Yoongi estava mais calmo. Preferia mil vezes estar em sua cama, dormindo, mas ficava pelo menos satisfeito de saber que poderia alimentar aquele monte de cachorros pelos próximos dias com os enormes sacos de ração que ele tinha comprado com Jimin e que estavam no porta malas. Estava fazendo uma coisa boa, era o que ele pensava. Estava sendo caridoso, assim como Jimin queria que ele fosse.

Os três foram recebidos com abraços apertados de Youngmi e uma pergunta sincera que queria saber como eles estavam, e o que tinham feito no tempo em que não se viram. Jimin respondia a tudo com uma animação invejável, acompanhado de alguns comentários que Namjoon também fazia apenas porque conhecia Youngmi e seu marido há algum tempo, mas Yoongi se manteve plantado em seu lugar um pouco mais afastado deles e de braços cruzados, esperando que ela os chamasse para entrar e para finalmente brincar com os cachorros, que já pareciam estar fazendo festa de acordo com os latidos que ele conseguia ouvir dali. Perdia tempo demais indo até o canil, queria aproveitar cada segundo na companhia dos animais que eram capazes de animá-lo até com o jeito que eles andavam.

Em poucos minutos, Yoongi já estava sentado ao lado de Jimin no meio da sala onde os filhotes ficavam, os pequenos animaizinhos pulando em cima dele e balançando seus rabos em uma mistura de medo e empolgação por verem pessoas novas. Namjoon também estava sentado brincando com alguns deles, suas risadas ecoando pelo local enquanto Youngmi os observava e incentivava alguns dos cachorros mais tímidos a ir falar com os visitantes. Enquanto brincava com um deles, um vulto marrom passou correndo em frente à Yoongi e depois voltou, mostrando ser enérgico como o homem se lembrava que ele era da primeira vez que o viu, seus latidos agudos se misturando aos outros, mas de alguma forma se destacando ali naquela loucura. A pequena bolinha de pelos pulou em seu colo e começou a cheirá-lo, talvez o reconhecendo e ficando animado de vê-lo.

“Oi, Holly.” Yoongi disse com um sorriso no rosto, sem economizar no carinho que fazia entre as orelhas do animal. Por alguns segundos, ele se acalmou e piscou seus olhos devagar, aproveitando a atenção que estava recebendo. “Senti sua falta também.”

“Parece que ele gostou de você, Yoongi-ssi.” Youngmi disse enquanto assistia aos três brincando com os animais, de braços cruzados encostada no batente da porta enquanto alguns dos filhotes tentavam chamar sua atenção pulando em sua perna. “Holly já é bem animado, mas parece que a animação dele multiplica quando te vê.”

“Engano seu.” Yoongi murmurou e continuou fazendo carinho no cachorro, que se acalmava aos poucos e se aninhava ainda mais em seu colo, procurando o conforto que ele estava o oferecendo. “Aposto que ele é assim com todo mundo.”

Enquanto Yoongi brincava com Holly e dava toda a atenção que ele estava o exigindo, Youngmi e Jimin trocaram um olhar, um que significava que não, o cachorro não era assim com qualquer pessoa. Eles preferiram ficar quietos porque ambos já tinham percebido que Yoongi não era do tipo que aceitava fácil aquele tipo de coisa – no caso, era o simples amor de um animal, mas nem isso parecia entrar na cabeça dele e se tornar uma coisa viável de se acontecer.

Nessa visita, ao invés de somente brincarem com os cachorros e assinarem um cheque antes de irem embora, eles três também ajudaram Youngmi a colocar ração para cada um dos animais, alguns deles recebendo tratamento especial porque não conseguiam chegar a tempo para comer junto com os outros. Holly era um desses que nunca conseguia seu espaço pois os outros sempre chegavam antes e acabavam comendo antes, então Yoongi ficou encarregado de alimentá-lo afastado do resto. Jimin estava ocupado demais ajudando Namjoon com os cães maiores, mas ele não deixava de perder alguns segundos encarando a cena no canto mais afastado da sala, Yoongi falando com uma voz baixinha enquanto Holly comia sua ração com vontade e às vezes latia pedindo por mais, fazendo o homem rir.

O almoço foi tranquilo, e a volta para casa também. Holly ficou um pouco relutante de deixar Yoongi ir, e o homem quase pediu para ficar mais alguns minutos com o cachorro antes que eles tivessem que ir embora, mas sabia que fazer aquilo daria uma vitória – de que ele não sabia, mas sentia que daria – a Jimin que ele não estava disposto a ter que lidar. Depois de despedidas rápidas, cheques assinados, e uma promessa de que um dia voltariam, Jimin ligou a rádio em uma estação conhecida e os colocou na estrada de novo. Yoongi dormiu em algum ponto no meio do caminho e acordou com o som de um caminhão buzinando bem ao lado deles, já em Seul, já no meio da loucura da cidade com a qual ele já estava tão acostumado. Namjoon foi o primeiro a ser deixado em casa, e quando ele já tinha entrado dentro de seu prédio depois de se despedir, Jimin pediu para que Yoongi passasse para o banco da frente.

Quem quebrou o silêncio primeiro foi Jimin, assim que ele parou em frente ao prédio de Yoongi, com um suspiro tão alto e dramático que seria capaz de Youngmi ter ouvido a todos aqueles quilômetros de distância.

“Você gostou de hoje.” Jimin disse, olhando para o perfil de Yoongi. Não foi uma pergunta, foi uma afirmação. Ele não precisava perguntar porque já sabia da verdadeira resposta que Yoongi queria dar, mas nunca falaria em voz alta. “Eu não li sua mente, aliás. Eu só sabia. Você ficou com um sorriso no rosto o tempo inteiro, até mesmo Youngmi noona reparou que você estava mais confortável dessa vez.”

“Posso ir embora?” Yoongi perguntou, ignorando tudo que Jimin havia dito.

“Você vai admitir que gostou de hoje?”

“Você sabe que não.” Yoongi respondeu com a voz firme, encarando a rua à sua frente e ignorando o olhar perfurante do garoto ao seu lado. “Eu ainda não gosto de saber que estou sendo forçado a fazer isso porque você sabe do meu segredo. E você ainda é insuportável, Park Jimin.”

“Certo, acho que mereço esse tratamento.” Jimin soltou uma risada fraca e soltou outro suspiro dramático, o som das portas se destrancando servindo como ponto final para a conversa. “Nos vemos outro dia, hyung.”

Yoongi saiu do carro e não olhou para trás.


Notas Finais


Acho que a essa altura do campeonato o Jungkook não tem salvação. Resta a nós torcer pra ele não passar muita vergonha na frente do Tae, ou que o Taehyung ache isso adorável. Dica: o Tae acha.
O que é isso? Yoonmin conseguindo ficar em paz por mais de cinco minutos? Yoonmin tendo evolução? E rolaram boatos que eles não evoluíam. Se fazer omelete pro "inimigo" não é evoluir...
Aliás, uma dica sobre o próximo capítulo: o aniversário do Jimin é bem importante. :-)
Espero que tenham gostado, qualquer coisa é só gritar comigo nos comentários, no twitter (@/yunttai) ou no curiouscat (@/zettai).
Até semana que vem~ <3


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