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Deidara olhou e viu uma planície aberta inundada pelo sol e cercada por montanhas.
Por toda parte se viam ossos, de todos os tipos e tamanhos. Eles estavam espalhados pela terra diante deles e até nas paredes dos penhascos. A maioria estava nivelada com a superfície, como se tivessem sido esmagados contra ela, mas os maiores se projetavam para fora.
– Que diabos é esse lugar? – perguntou Deidara.
– Eu chamo de Parque dos Dinossauros. É o maior sítio arqueológico do mundo! Não é o máximo??
Kurotsuchi pulou na frente e começou a descer a planície, parecendo bastante empolgada. Deidara foi atrás completamente atordoado.
– Aqui.. bem aqui. – disse ela, quando chegou num determinado ponto – Foi bem aqui que eu parei da última vez.
Deidara olhou para o ponto no chão.
– Não to vendo nada.
– É porque está debaixo do solo, gênio.
– O que está debaixo do solo?
– Uma carapaça de anquilossauro.. é um réptil extinto desde o período Cretáceo!
Kurotsuchi sorria, mas Deidara exibia uma cara de incredulidade tão esticada que mais parecia um cavalo.
– Então é ISSO que você faz nas suas horas vagas..? Você desenterra cadáveres?
– Fósseis.. – explicou Kurotsuchi, já perdendo a paciência – Isto são fósseis. E fique sabendo que são muito valiosos!
– Eu não acredito que você me arrastou por quatro milhas com esta porcaria nas costas pra vir aqui bancar a coveira!
Deidara deixou a mochila tombar ao seu lado, enquanto massageava os ombros.
– Divirta-se com seu “aniquila-sauro”. Eu vou puxar um rango.
– Não tão rápido..
Deidara seu virou.
– Antes você vai me ajudar a remover a camada de terra. – disse ela.
Deidara sentiu vontade de remover os dentes dela. Mas em vez disso ele apenas respondeu:
– Como quiser, princesa..
Então ele retirou do bolso da calça um papel-bomba¹ enrolado numa kunai, e a lançou no local indicado. O papel explodiu próximo o bastante pra fazer uma chuva de terra cair sobre Kurotsuchi.
– O QUE ESTÁ FAZENDO, SEU IMBECIL?!
– Removendo a camada de terra. – sorriu Deidara – Como me pediu.
– Não pode usar explosivos!! Vai danificar os fósseis!!!
– E daí? Eles já estão mortos mesmo. Não vão se importar.
Kurotsuchi trincou os dentes.
– Morto vai ficar VOCÊ, se eu achar um risco nesse anquilossauro!
Ela se virou para o buraco aberto, avaliando o estrago.
Felizmente, estava mais embaixo do que imaginava.. – pensou, aliviada.
– Observe e aprenda!
Kurotsuchi executou alguns selos, e em seguida levou ambas as mãos ao solo.
– Doton! Jutsu Abertura da Nascente de Escavação!
O chão tremeu e um grande bloco de terra veio à tona, erguendo-se de baixo. O bloco era mais alto que Deidara e tinha a forma de um cubo perfeito.
Estilo Água, e agora também Estilo Terra.. – pensou Deidara, mentalmente tomando notas.
– Pronto. – disse Kurotsuchi – Agora só precisamos extrair o fóssil daí. Vejamos.. por onde eu começo?
Enquanto a garota rodeava e estudava o bloco, Deidara revirou sua mochila.
– Ah! Excelente.. – disse ele, quando achou o que estava procurando.
Mas Deidara estava prestes a cometer um grave erro, e viria a ser forçado a compensá-lo com Kurotsuchi.
***
– Mais pra baixo.. agora mais pra cima..
– Aqui está bom?
– Isso, bem aí. Agora pode penetrar..
– Lá vai.
– Espere, não tão forte! Vá devagar, seu bruto..!
– É a minha primeira vez, tá legal??
– Tem que ser mais gentil!
– Ok! Eu vou tentar..
Deidara mirou novamente no cinzel que segurava e então o martelou contra a rocha, dessa vez com mais delicadeza. O cinzel penetrou na superfície rochosa abrindo uma pequena rachadura, e então não voltou mais a perfurar.
– É, vamos ter que usar a picareta. – concluiu Kurotsuchi.
Meia hora depois, Deidara estava suando e golpendo com violência a parede rochosa, enquanto Kurotsuchi ficava dando ordens confortavelmente sentada em cima do bloco. Ele tinha dito que não seria seu escravo, mas qualquer um que o visse agora jamais acharia que ele fosse outra coisa.
– GRRRRRRR!! Por que eu tenho que fazer isso?!! – berrava Deidara, atacando a parede do bloco com a picareta.
– Você sabe perfeitamente por quê.
E Deidara sabia mesmo. Alguns minutos antes, ele tinha cometido o seu maior crime. Revirando a mochila de Kurotsuchi, ele achou uma trouxinha bem amarrada. Ele então a abriu e descobriu uma caixinha, e dentro dela um almoço preparado com capricho.
– Ah! Excelente..
Ele pegou os hashi* para começar a comer.
– Itadakimasu!!
Kurotsuchi ouviu aquilo e rapidamente cortou sua alegria.
– O que está fazendo? Esse almoço é meu!
– E onde está o meu?
– Você é quem deve saber! Um ninja sempre providencia o próprio sustento.
E dizendo isto ela tomou a caixinha de suas mãos e se afastou, deixando o rugido da garganta de Deidara competindo com o de seu estômago. Quando Kurotsuchi se sentou para comer, entretanto, algo súbito e inesperado aconteceu.
– ESPERE!! NÃO COMA ISSO!!!
Ela parou com o filé de porco a meio caminho da boca. Deidara arremessou um hashi que cruzou o ar, perfurou o filé na mão dela e cravou com força uma rocha do outro lado.
– Qual é o seu problema??! – gritou ela.
– Estava envenenado.
Kurotsuchi ficou pálida.
– Preciso checar os outros alimentos.
Deidara se levantou e foi até ela com ar sério. Ele usou o outro hashi para revistar a caixinha de almoço.
– Acho que não tenho escolha.. tenho que me arriscar pela sua segurança.
Ele então levou à boca os bolinhos de arroz, o salmão e o restante do porco. Quando devolveu a caixinha para Kurotsuchi, ela reparou que curiosamente só tinha sobrado os vegetais.
– É.. me enganei. – disse Deidara sorrindo, enquanto retirava o outro hashi da rocha e comia o filé de porco ali espetado. – Parece que tava tudo em ordem.
Quando se virou, porém, viu que Kurotsuchi emitia uma aura negra e sinistra. Pelas próximas duas horas, ele foi forçado a esculpir um bloco de terra e rocha usando até as próprias unhas.
Naquele dia, Deidara aprendeu da pior forma que jamais se rouba a comida de uma mulher.
***
Horas depois, ambos preparavam-se para o retorno.
Não haviam conseguido extrair o fóssil naquele dia, mas Deidara tinha escavado o bloco o suficiente para deixar a carapaça do anquilossauro à vista. O consolo de Kurotsuchi foi que ela havia encontrado fósseis menores, que agora estava guardando em sua mochila.
– Sinceramente.. – disse Deidara, sentado num enorme crânio – Você tem um passatempo muito esquisito pra uma garota.
Kurotsuchi não respondeu. Estava acostumada a ouvir pessoas criticarem o seu hobby.
– Diz aí.. o que você vê nessas carcaças de bichos mortos?
Kurotsuchi suspirou, cansada.
– Você não entenderia.
Deidara cruzou as pernas e se curvou em direção a ela.
– Experimenta..
Kurotsuchi o observou por um segundo, analisando se valeria a pena. Então finalmente se levantou e foi até uma pedra ali perto, sentando-se de frente pra ele. Kurotsuchi assumiu a postura de uma professora, e Deidara juntou os dedos no queixo numa expressão exagerada de falso interesse.
– Eu só acho que.. todas essas criaturas. Extintas a milhões de anos, e mesmo assim seus vestígios ainda estão na terra.. isso é algo extraordinário. Quer dizer, a força e a resistência delas. Ainda mais se você pensar que os dinossauros viveram aqui por centenas de milhões de anos.. Talvez seja o mais próximo que a vida conseguiu chegar da eternidade.
Kurotsuchi sorriu.
– Eu acho isso.. fascinante.
Deidara estava olhando para ela sério agora, seus grandes olhos azuis muito intensos. Aquele olhar deixou ela ligeiramente desconfortável.
– Sabe o que é mais fascinante..? – disse ele, em voz baixa.
– O.. o que?
Deidara continuou devagar.
– Essas criaturas.. reinando sozinhas na terra por tantas eras.. até que um belo dia, um grande pedregulho caiu do céu.. e aí, KATSU!!!!!!
Kurotsuchi se assustou tanto que caiu de sua pedra.
– Bastou um segundo de caos. E aí estão os seus dinossauros.
Deidara sorriu e indicou com a mão a planície.
– Eu não sei por que achei que podia inspirar algum senso de beleza em você. – disse Kurotsuchi, levantando-se e sacudindo a poeira das vestes. – Tudo em que pensa é caos e destruição! Realmente, você não passa de um delinquente. É o que você é, e o que sempre será.
Ela chegou bem próxima a Deidara, fuzilando-o com o olhar.
– Por que aceitou esta missão? Não foi por dinheiro. Aposto como consegue mais no mundo do crime.
Deidara não respondeu: ele se limitou a esboçar um sorrisinho cínico. Kurotsuchi tinha razão. Não era pela grana que ele estava ali. Ele tinha um outro motivo. Mas ele não iria contar a ela..
– Ótimo. – disse Kurotsuchi, diante do silêncio dele – Se é assim que você quer.. então pode continuar com a sua missão.
Ela arremessou a mochila contra o peito dele, e foi a vez de Deidara cair no chão.
Durante todo o caminho de volta nenhum dos dois se falou. O retorno foi muito mais penoso para Deidara, pois com os fósseis a mochila agora pesava mais de oitenta quilos. Quando eles chegaram na guarita da muralha ao pôr-do-sol, Deidara já estava praticamente sem ar, e foi com muita gratidão que começou a desafivelar as correias.
– O que está fazendo? – perguntou Kurotsuchi.
– Descarregando o equipamento.. Não era aqui que você o guardava?
– Precisamos levar esses fósseis para a mansão.
– O QUE???
– Sugiro que se apresse, Deidara-nii. São 382 degraus daqui até a torre.
Kurotsuchi se afastou com um sorriso, enquanto o queixo e os joelhos de Deidara caíam.
E aquele tinha sido só o primeiro dia..
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