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História Kyuu - A primeira porta


Escrita por: Natysaan

Capítulo 3 - A primeira porta


Se eu não puder mover os céus, moverei o inferno"

Virgílio


Eu não conseguia achar uma saída, nem Lucífer que andava para lá e para cá, eu precisava tirar ele desse lugar, o meu coração retumbava as palavras incessantemente, sentei no chão com os braços um em cima do outro para conseguir um pouco de calor, enquanto o seguia com o olhar, eu conhecia ele a pouco tempo, mas já conseguia perceber o quanto ele estava nervoso, os punhos cerrados e o músculo da bochecha saltados era como um grande letreiro dizendo “EU ESTOU NERVOSO", soltei uma risadinha fraca, ele parou e me fitou com a mão do quadril erguendo uma sobrancelha.

- Do que ri, senhorita? – pediu escondendo um sorriso.

- De você, parece uma madame nervosa – ri.

- O que é madame? Devo me sentir ofendido? – Colocou a mão no peito de modo que parecesse ofendido.

- Madame é pessoas ricas e esnobes, de nariz empinado, basicamente se achando superior a qualquer um – comentei.

- Lúcia não me confunda – bradou rindo – Tome aqui.

Percebendo meus dentes batendo de frio, tirou a blusa amarelada de manga comprida que vestia e me entregou sorrindo, ele parecia não sentir frio usando apenas uma calça preta de alfaiataria, e sem querer observei como seu traseiro era arredondado e grande, aceitei agradecida pelo gesto.

- Obrigada, ei por quê você cuida tanto de mim? – perguntei curiosa, afastando os pensamentos pervertidos que eu estava tendo.

Lucífer se ajoelhou na minha frente e sorrindo disse: 

- É a primeira vez que eu tenho contato direto com a criação de meu pai, eu estou fascinado com o que ele criou, vocês humanos são iguais a nós, mas sem asas e sem toda a divindade por trás, sempre pensei que vocês eram meros macacos evoluídos para o mal – comentou esquadrinhando meu rosto com fascínio.

- Basicamente somos a evolução do macaco, na verdade é um primo do macaco que evoluiu para o ser humano, mas Lucífer saiba que nem todos os humanos são bons, na minha humilde opinião existem mais pessoas más do que boas, e mais ainda as que veem o mal e não fazem coisa alguma para ajudar, residem muitas almas no céu, entretanto aqui deve estar com superlotação – confidenciei.

- Eu não vejo maldade em você, mas então não vale a pena amar a humanidade mesmo não é?

- Eu sinceramente odeio, eu posso não lembrar de muita coisa, mas não sinto esperanças nenhuma falando dela, só tristeza – respondi colocando a minha cabeça nos meus braços, que estavam apoiadas nos meus joelhos.

- Creio que não tenha mudado muito então, nunca tive contato direto com os humanos, mas há dezenas ou centenas de anos atrás, eu os observei e vi todas as atrocidades que faziam, por isso disse ao meu Pai que não seria leal a eles, que isso não era certo, e como fui o único a não aceitar eu fui preso aqui, eu só não entendia como seres tão frágeis e insignificantes podiam ser tão mal, levei toda a culpa pelo que eles fazem – Lucífer parecia arrasado.

- Sabe Lucífer, humanos criam situações repugnantes, mas não querem assumir a culpa, e você sendo o “progenitor” – fiz aspas com os dedos – de todo o mal, eles acham mais fácil culpar você, humanos fazem atrocidades em nome de Deus, culpam o diabo até pela panela de feijão queimada, não somos tão inteligentes, animais matam para comer, nós matamos as vezes por puro prazer de brincar de Deus, ou mesmo pra ver a agonia que a morte trás, talvez meu lugar seja aqui com você, eu não tenho ódio da humanidade, mas muita pena, pois ser mulher em uma raça que ela não vale o chão que pisa não é digna de ódio, mas de pena.

- Você é sabia senhorita – sorriu com empatia.

- Apenas vejo o que muitos fingem não ver – olhei para o chão onde eu estava sentada, e ali tinha uma pedra do tamanho do meu punho, peguei-a e pesei-a na mão, pensei em arremessa-la quando Lucífer segurou meu pulso.

- De onde veio essa pedra? – perguntou ele com os olhos vermelhos, uma indicação que estava extremamente bravo, ou cauteloso.

- Isto nunca esteve aqui, acredite eu conheço de cor cada centímetro desse lugar, vire a pedra, por favor – pediu torcendo levemente meu pulso, não para machucar, mas para que eu virasse-a.

Na parte achatada havia inscrições em outra língua, mas não era nenhuma que eu reconhecia ao menos o idioma, parecia ser grego misturado com hieróglifos egípcios, mas não parecia ser nem um nem outro, vendo a careta que provavelmente eu estava fazendo, Lucífer soltou uma risadinha.

- Isso está em enoquiano, basicamente a nossa língua, e diz... – comentou olhando para a pedra, passando os olhos em ritmo frenético – Deixe-me ver isto melhor – pediu pegando-a na mão, mas em segundos deixando cair de volta às minhas mãos.

- O que foi isso? – pedi.

- Eu não posso segurar ela, queimou-me a mão – disse sacudindo a mesma.

- Você as vezes fala estranho, mas como queimou? – ergui uma sobrancelha.

- Não sei, provavelmente coisa do meu Pai, enfim... – deu ombros e continuou analisando o que estava inscrito.

- Ouvi dizer que na porta do inferno está escrito algo como “abandonai toda esperança, oh vós que entreis ” – comentei aleatoriamente.

- Existe esta frase, e está em todas as línguas possíveis, ela se altera de modo que todos consigam ler, de modo que todos saibam que não há como sair daqui – comentou ele sem olhar para mim.

- Entendo – comentei.

- Não adianta tentar, você não irá sair daqui, você é meu – surgiu uma voz de algum lugar, reconheci imediatamente a dona, Quimera.

- Inferno, você de novo? – rosnei.

- Quimera, o que você quer afinal? – Pediu Lucífer com os olhos brilhando em vermelho, raiva emanava dele em ondas, o ar pareceu ainda mais frio, o desprezo era eminente.

- Não vais sair daqui, essa humana imunda vai, mas você não, guardei-te por tantos anos, por que ainda foges de mim? – rosnou com ódio, a tensão no ar parecia um elástico a se romper.

- Do que estás a falar? Pare com estas baboseiras Quimera, você é apenas a guardiã da minha cela, não deverias nem estar nela, ponha-se no seu lugar – bradou furioso.

- Você é a minha vida Lucífer, meu rei, deverias reinar este lugar comigo ao seu lado, tu és o escolhido pelos demônios como nosso Rei, use a coroa que estamos lhe dando, juntos iremos contra Deus. – aquela mulher não podia estar em sã consciência, bradava furiosa e com lágrimas escorrendo por aqueles olhos de aranha, já que havia aparecido no mesmo lugar onde fora morta.

- Já lhe disse várias e várias vezes que não iria me rebelar contra Ele, quais são os motivos pra isto? Eu cansei das tuas baboseiras Quimera, acredite em mim quando digo que não haverá nada entre nós, entenda que você não necessita de ninguém para viver, torture as almas que caíram e as que cairão, mas largue, por favor, dos meus pés – disse ele com uma voz mais controlada.

- Não Lucífer, sem você eu não posso viver – gritou vindo para cima de mim com fúria.

Naquele instante pensei ser meu fim, eu quase podia sentir as patinhas peludas das caranguejeiras que havia na sua coroa, era repugnante, logo minha respiração acelerou e meu coração bateu de forma descompassada, ao pensar mas aranhas subindo pela minha pele minhas mãos suaram frio, minha visão já quase era apenas algo indistinguível, era um grande ataque de pânico, eu até acharia engraçado por ter um no próprio inferno, mas eu só conseguia ouvir minha própria respiração e o som silenciosos da quase inconsciência.

- LÚCIA – Berrou com todas as forças Lucífer, e por instantes eu prestei atenção nele, mas logo a crise voltou.

Lucífer tirou rapidamente aquela criatura de perto de mim, e se posicionou de modo que eu não a visse, ele rosnava furioso algo para ela, mas eu não conseguia ouvir, tentei pensar em qualquer outra coisa, pensei em como seu traseiro era extremamente sexy, e aos poucos a crise foi passando, mas meu pensamento sobre ele me deixou com muita vergonha, comecei a prestar atenção na conversa dos dois.

- Quimera vá embora, viva livre no inferno, eu não sou para você, perdoe a si mesmo por qualquer sentimento, por favor, Quimera – implorava Lucífer.

- Não Lucífer – pedia ela.

- Quimera – chamei-a que rosnou para mim – um amor quando não é recíproco não deve ser amado, quando o amor vem de apenas um, deve-se desamar, pois sofrer por alguém que não está ali por você não vale a pena, acredite em mim, deve existir reciprocidade para amar – finalizei sorrindo tristonha.

- Quimera ouça a senhorita, eu não tenho sentimentos românticos por você, eu nem sabia que demônios tinham sentimentos, perdoe-me – pediu soltando os braços dela que estava segurando.

- Eu... – suspirou ela – Apenas se cuidem – ao dizer aquilo ela sumiu.

- Que diabos foi isso? – falei.

- Como vou saber? – respondeu ele rindo de maneira leve.

- Não importa, desvende logo a inscrição da pedra.

- Diz algo como “ o oposto da traição é a chave, o que pende ao poente a porta abrirá” – disse ele confuso.

- Oposto de traição é perdão, agora “o que pende ao poente" eu não tenho a mínima ideia- resmunguei, involuntariamente coloquei a mão no pescoço, onde descansava meu colar que tinha desde que me lembro, eu tinha acordado praticamente sem memórias, mas as que eu tinha eu podia sentir o peso da corrente.

- Belo colar de sol, senhorita – sorriu ele.

- Sol poente, pende ao poente? – comecei a refletir sobre o enigma, esfregando sem perceber as pontas do sol, ergui de modo que olhasse para ele, e bem na altura do meu olhar existia uma rachadura na parede, aquilo chamou-me atenção, mas não dei bola.

- Um pingente de sol poente? – estalou Lucífer.

- Espere um segundo - levantei-me e segui até aquela rachadura, tirei o colar e na mesma hora senti uma ausência, encaixei ali e pode-se ouvir um clique, e uma parte de uma pedra saiu do lugar e abrindo uma espécie de porta, tirei o colar e a porta se fechou, coloquei novamente e abriu de novo.

- Terá que deixar isto ai – disse tristemente – Arrumarei um novo para você, prometo, agora vamos para o próximo nível – sorriu e segurou a minha mão. 


Notas Finais


E ai galera oq acharam?


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