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História La Guerre pour toi - De volta a Lyon


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Oi, voltei!

Vamos invadir Montluc!!!

Boa leitura!

Capítulo 27 - De volta a Lyon


- Emma, com isso Kristoff e você poderão entrar em Montluc sem muitos problemas, mas nós não poderemos acompanhá-los. - Anna referia-se à mala que tia Ingrid havia deixado conosco. Eu poderia armar-me para entrar na fortaleza de Elsa, porém não tínhamos como conseguir mais uniformes ou armas para outras pessoas além do major e eu.

Conferi tudo o que tinha no interior daquela mala. Podíamos ouvir vez ou outra a conversa entre Kristoff e Ruby dentro do quarto de Regina e às vezes um gemido mais forte de August. Olhei o redor e tudo lembrava a francesa. Senti uma saudade imensa e uma dor profunda por não saber como estaria nas mãos da capitã. Não poderia esmorecer, tinha outras tarefas a cumprir e bem sabia que qualquer um naquele lugar tentaria impedir-me de sair, mas eu precisava voltar a Place de la Victoire. Eu tinha que buscar Henry.

- Anna, precisa confiar em mim. - a menina olhou-me com estranheza e um sorriso tímido brotou no canto dos lábios. Seus olhos brilharam e eu sabia que ela havia entendido.

- Sabe que não pode sair daqui, Emma.

- Mas eu preciso! Você não entende?! Não podemos sair da cidade e deixar Henry preso!... - pausei e respirei fundo - Além do mais, não são todos os soldados que sabem que estou presa, ainda posso andar por aí durante a madrugada como oficial!

- Não, você não pode.

Kristoff apareceu na porta da cozinha. Tinha os olhos cansados, estava com as mangas da camisa arregaçadas e limpava as mãos sujas de sangue em uma toalha. Ele caminhou até a mesa e sentou-se jogando todo o peso do corpo em sinal de fadiga.

- Eu preciso, Kristoff!

- Sim, eu sei. - ele não olhou para mim, colocou a toalha na mesa e puxou um maço de cigarros do bolso da camisa.

- Kristoff! - ele olhou-me furtivamente e sorriu colocando um cigarro no canto da boca, sacando um isqueiro de prata acendeu dando uma longa tragada para depois, calmamente, soltar a fumaça que tomou conta de todo o lugar.

- Emma, você não vai sair daqui. - sentei-me no outro lado da mesa de frente para ele.

- Dê-me outra alternativa! - estava disposta a enfrentar todos eles para voltar à minha casa e trazer Henry para o apartamento de Regina, mas antes teria que passar por três barreiras resistentes: Kristoff, Anna e Ruby. A cigana veio do quarto tão cansada quanto o major, mas não tanto para enfurecer-se com a minha vontade.

- Henry vai continuar onde está e nós vamos para Lyon assim que August acordar! Enquanto isso vamos preparar tudo que precisamos... - olhou de repente para Anna e percebeu que a menina estava tão ansiosa quanto eu para que Henry estivesse conosco - Eu sei o que está pensando, Anna! Ele vai ficar bem onde está! - ela foi até a pia e encheu uma caneca de água.

Soltei uma lufada de ar tão forte que parecia um touro na arena e isso fez com que Kristoff soltasse uma leve risada. Apagou o cigarro e levantou-se caminhando até onde Ruby estava.

- Acredito que essa conversa termina aqui. - ele acariciou os cabelos da cigana que correspondeu ao carinho com um sorriso meigo - August estará melhor em algumas horas e isso nos dá um prazo para deixar tudo pronto. Antes do amanhecer estaremos a caminho de Lyon fazendo o mesmo percurso que você fez, Anna, portanto sabe o que nos espera ao longo do trajeto.

Mesmo com raiva e contrariada continuei firme ao lado de meus amigos. Revisamos rota, abordagens, disfarces caso necessário e como seria minha entrada em Montluc novamente camuflada, mas dessa vez como uma oficial de Hitler. Kristoff entraria um dia antes para entregar as apresentações ao encarregado na ausência de Elsa. No dia seguinte eu estaria dentro da prisão e juntos teríamos um prazo para sair de lá com Regina antes que Elsa retornasse ou até mesmo a verdadeira Ingrid Schnessturm - "Tentem aproveitar o tempo que Elsa ficará fora de Lyon. Eu irei assim que puder e não quero encontrá-los lá, ouviram bem?!" - Sim, tia Ingrid. As ordens seriam seguidas à risca, nada fora do combinado.

Eu fui até o quarto de Regina. Não por August, mas para buscar minhas lembranças mais prazerosas. Entrei sorrateira, abrindo a porta com todo o cuidado e fechei do mesmo jeito. Escuro. Ouvia o ressonar do rapaz. Kristoff havia dito que August teve sorte em não ter perdido o braço mesmo depois de ter ficado tanto tempo com uma bala alojada nele sem qualquer atendimento além dos curativos precários que ele mesmo tinha feito. Ele não gostava de mim, mas eu não me importava com isso. Estava ao lado de Regina quando ela foi presa e deve ter ajudado ao máximo para evitar. Quem sabe August tivesse ciúmes de mim?! Isso eu nunca perguntara à Regina até então. Estranho foi que naquele momento nada que eu visse na penumbra lembrava minha francesa. Fui até a penteadeira e, pela luz da janela, observei seus perfumes, lenços, escova, pentes e tantos outros objetos de uma mulher vaidosa.

- Espero que consiga trazê-la de volta.

Virei depressa e assustada. Ele sorriu, puxou o ar com dificuldade. Caminhei em direção a porta, ele não gostaria que eu ficasse ali.

- Vou chamar Kristoff. - ele tossiu e disse bem baixinho.

- Por favor, fique. - deixei a maçaneta da porta e fui até ele. Sentei ao seu lado na cama observando o curativo no braço.

- Está tudo bem? - ele afirmou com a cabeça.

- Eu sei que fui agressivo com você e mesmo ao lado de Regina duvidei que pudesse ser confiável, mas preciso da sua ajuda, major... - ele puxou o ar novamente - ... Eu preciso saber se existe algum meio de encontrar meu pai, Emma.

Baixei os olhos e fiquem em silêncio. August virou o rosto e fitou a janela. Ele sabia qual era a resposta e eu não tinha coragem de dizer cosia alguma. Seria impossível tentar descobrir onde Marco estava, para tanto precisávamos voltar à Gestapo, encontrar as listas de prisioneiros e para onde foram encaminhados e somente depois ir até o local para tentar resgatá-lo.

- Eu sinto muito, August. - era a única coisa que poderia dizer a ele. Seu olhar perdido deixou meu coração apertado.

- Talvez ele consiga sair de onde estiver... Meu pai é um homem forte... - um silêncio apreensivo nos embalou por alguns instantes até que August respirou fundo e olhou-me novamente - ... Se conseguir tirar Regina de lá já será uma vitória... Não sejam estúpidos em tentar uma quantidade maior do que podem conseguir.

- Eu não quero que outra pessoa se machuque por minha causa, August.

- Não se trata de você, Emma. É a guerra! A causa é muito maior do que você ou eu e por isso não podemos arriscar se não há chance. Por isso estou dizendo que se conseguirem retirar apenas Regina de lá não tentem ser mais corajosos do que podem enfrentar!

- Eu queria trazer Henry para cá... - ele interrompeu-me.

- Aquele menino é mais esperto que nós dois juntos. Ele ficará bem. Não vá sair por aí para ser pega e levada de volta para a prisão. - olhei para ele estranhando sua ciência sobre o que acontecera comigo ao que ele sorriu - ... Como você acha que Ruby distraiu-me enquanto Kristoff abria um buraco no meu braço?!

Apenas sorri, olhei ao redor e levantei-me. Lá fora todos os outros já se preparavam para sairmos do apartamento antes que o sol começasse a despontar.

Anna não teve muito trabalho, pois o que levara para Vichy já estava na bagagem, uma pequena mochila surrada. Ruby apanhou alguns pertences de Regina, ela conhecia a francesa melhor do que eu bem como aquela casa inteira. Kristoff precisava apenas conferir as armas e carregá-las.

Estávamos em silêncio. Sentia a respiração pesada de todos. A impressão era que estávamos indo para um destino que não teria volta. A única coisa que eu conseguia pensar durante aquele tempo era o filme Casablanca que fora lançado há pouco tempo e eu consegui assistir antes de vir para Paris - contrabandos nazistas - o personagem de Humphrey Bogart, Rick, era apaixonado por Ilsa Lazlo, a lindíssima Ingrid Bergman. Rick teria que escolher entre ficar com ela ou deixar que ela fuja com seu marido que era líder da resistência Tcheca. Irônico! Muito irônico! Eu tinha uma dificuldade grande com aquela maldita língua americana, mas consegui ver o filme e ficar apaixonada pela atriz e compadecer do conflito de Rick, mas jamais eu imaginaria que eu mesma passaria por tal conflito - apaixonar-me por uma francesa a ponto de perder a patente na Gestapo para ficar com ela. Era o que eu queria. Então, vamos logo partir para Lyon e resgatar Regina. Eu não teria que deixá-la partir com o marido, como Rick fez, mas eu teria que enfrentar coisas desagradáveis até conseguir tirá-la da França e colocá-la em um lugar seguro.

August ficaria bem. Estava medicado e o braço não seria mais um problema se ele mantivesse quieto naquela cama. Ele não teria muitas opções de sair dali, portanto, era certo que voltaríamos para encontrá-lo bem. Voltaríamos? Eu fazia essa pergunta o tempo todo, mas não disse nada aos outros. Fizemos o caminho do túnel até o café do senhor Marco e enfiamos por um beco escuro entre o prédio de Regina e outro mais velho e maior. Tudo muito rápido e levávamos pequenas lanternas para ajudar no caminho. Ruby foi na frente e logo abriu um alçapão no chão. Era impressionante o que eles podiam esconder e fazer longe dos olhos dos nazistas. Descemos até um pequeno cômodo no porão do prédio mais velho. Parecia uma garagem.

- Eu sempre vou me surpreender... - balbuciei e Anna riu baixinho.

Kristoff tomou a dianteira do grupo e foi até um volume grande coberto por uma lona preta. Um carro. Melhor que um simples carro - um Mercedes. Sim. Era um carro do modelo que os alemães usavam, igual ao de tia Ingrid. Como se estivesse lendo meus pensamentos, Kristoff abriu a porta do lado do carona dizendo:

- Não é o dela, se é o que está pesando... - sorriu. Quando tentei entrar fui pega pelo assombro. Não havia banco na traseira, então entendi que apenas Anna seria vista. Ruby e eu tivemos que entrar, deitar e logo Kristoff recolocou o estofado camuflado sobre nós. Aquela escuridão deixou-me aflita, além dos barulhos que ouvia.

Um portão se abrindo devagar para depois ouvir a porta bater e Kristoff dar a partida. Senti a mão de Ruby segurando a minha e não precisei ver seus olhos de misericórdia ao ouvir seu sussurro.

- Vai dar tudo certo, minha querida!

Partimos.

O ronco do motor dava medo. Medo de sermos parados, medo de sermos pegos. Eu confiava em Kristoff e não saberia dizer o que passava pela cabeça daquele alemão de queixo quadrado, mas agora não mais com ares misteriosos. Isso eu compreendia bem. Kristoff havia se desligado dos ideais de nosso partido há muito tempo. Ele sabia exatamente o que fazer, por isso eu confiava nele.

Foi uma viagem estranha e muito cansativa. Estávamos Ruby e eu em um lugar pequeno e desconfortável sem poder nos mexer direito e o caminho não era bom. Curvas, aclives e declives de uma estrada secundária e completamente deteriorada. Ouvia Anna e Kristoff comentarem sobre as estratégias da guerra e os pontos fortes e falhos de cada lado, eixo e aliança, alemães, japoneses, italianos e franceses, ingleses, americanos. Quando Pearl Harbor foi bombardeada confesso que não esperava aquela investida dos japoneses. Estados unidos declarando sua entrada definitiva no combate deixou Hitler mais excitado e posso dizer que até com fome de ir mais além. Ele era o conquistador cruel que poderia superar o grande Alexandre, mas os contextos são tão distantes e perdem-se cada um no seu próprio propósito.

Desde criança eu convivi com o alto escalão dos homens de confiança do Führer. O marechal Hermann Göring era o número dois no comando, abaixo de Hitler era ele que articulava todo o movimento. Um homem estranho e calado, meu pai não gostava muito dele, mas era obrigado a servir. Ao contrário, o ministro Albert Speer era bem humorado e conseguia fazer algumas piadas engraçadas, mas quando o teor da história eram judeus ele não tinha um humor tão leve. Eu cresci ouvindo que nossos ideais levantariam a nação alemã a um patamar que seus inimigos teriam medo, mas com o tempo percebi que esse medo era caro para que todos pagassem por ele e Hitler não teria complacência ao cobrar esse preço.

- Meninas, prendam a respiração, por favor.

A voz de Kristoff soou apreensiva. Ruby apertou novamente a minha mão e ficamos em completo silêncio. Logo o carro diminuiu a velocidade e parou. meu coração acelerou e senti o corpo inteiro gelar.

Uma barreira alemã em Auxerre.

Ouvi Kristoff cumprimentar o soldado que tinha uma voz agressiva. Ele pediu ao major seus documentos e veio o silêncio. Imaginei Kristoff levando a mão no bolso do uniforme e apanhando suas credenciais e a carta recomendada por tia Ingrid. Não saberia dizer que horas eram, mas já era manhã, certamente. O homem perguntou quem era Anna. Rapidamente Kristoff respondeu que se tratava de uma camareira particular da coronel Schnessturm e ia com ele para Montluc preparar as dependências onde Ingrid ficaria. Criatividade e controle de emoções. O controle era bem do feitio alemão, mas a parte criativa acredito que Kristoff tenha aprendido com Ruby.

Assim que ouvi o homem dizer que tudo estava correto, o motor do Mercedes voltou a funcionar e continuamos o caminho. Metade do caminho. Ainda teríamos mais umas três horas até Lyon e eu estava com algumas partes do corpo dormentes e anestesiadas pela posição em que estava. Imagino que Ruby também passava pelo mesmo desconforto, mas agora podíamos conversar e nos meter nos diálogos aleatórios de Anna e Kristoff.

Correu um compromisso entre os passageiros daquele Mercedes. Caso alguém sobrevivesse à guerra teríamos que nos encontrarmos depois que aquele pesadelo acabasse para comemorarmos o que quer que fosse de bom. Não poderíamos querer muita coisa e criar grandes expectativas, então o que viesse de bom no pós-guerra seria excelente.

Quando Anna disse que estávamos bem próximos a Lyon, as conversas cessaram e concentramos no que faríamos quando fosse hora de agir.

Senti que Kristoff correu por muito tempo pelas ruas de Lyon enquanto Anna ia apontando lugares e coisas pelo caminho. Mais curvas, velocidade diminuída para acelerar novamente. Agonia. Não ver o trajeto e imaginar as palavras da francesinha atenta no banco da frente.

Finalmente Kristoff disse "finalmente". O carro estacionou e o major desceu. Ouvi um barulho de portão, mas agora parecia metálico e não de madeira correndo por roldanas. Ele entrou no Mercedes e o guiou mais um pouco até que desligou o motor de vez.

- Pronto. Podem sair. - eram as palavras mais doces e esperadas que eu poderia ouvir da boca de Anna naquela situação. Quase não conseguimos sair sozinhas do carro. Estávamos doloridas, tortas e muito cansadas.

- Valerá a pena cada músculo retorcido! - comemorou Ruby quando olhou em volta observando onde estávamos.

- Que lugar é esse? - perguntei a Kristoff.

- Aqui é um antigo galpão que armazenava grãos. Foi desativado pouco antes da guerra e aparentemente as pessoas pensam que está desabitado. - olhei para ele com desconfiança - Emma, é um esconderijo bom. Acredite!

O lugar não era muito grande e parecia bem antigo. Ainda podia sentir o pó no ar denso e a nuvem leve que subia quando nos movimentávamos. O sol da manhã refletia pelas frestas do telhado e das janelas altas e estreitas. Quando Kristoff caminhou para os fundos, percebi que havia algumas divisórias. Talvez fosse o escritório antigo do depósito, mas agora servia de quarto. Duas camas, um armário pequeno e caixas com papéis. Anotações dos membros da resistência que passavam por ali. Também percebi que Anna estava de pé na porta enquanto descansávamos nas camas e Kristoff preparava a mesa para colocar nossos pertences sobre ela.

- Bom... - sorriu a menina - ... É aqui que despeço-me de vocês!...

Era hora dela partir para Vichy. Anna partiria rapidamente para encontrar-se com Daniel Coltier e trazer os documentos de Regina. Não dissemos muitas palavras. não havia muito o que dizer. Apenas que ela tivesse cuidado e que tudo corresse como o planejado. Após o almoço Kristoff entraria em Montluc para que eu pudesse chegar até lá na manhã seguinte. Seria a nossa última tentativa e a sorte estava lançada sobre nós.

Eu tenho que admitir que nunca senti tanto medo quanto senti naquele dia inteiro.


Notas Finais


Vejo vocês no próximo!

Bjuss e obrigada por acompanharem


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