Duas batidas, as mãos estavam levemente tremulas. A porta não se abriu. A cada minuto que se passava ela tinha a certeza que estaria morta ao amanhecer. Bateu mais forte dessa vez, os corredores estavam completamente desertos, o vento batia nas paredes do castelo e pareciam assoviar. Ela virou-se pretendo ir para seu dormitório,
“- Pelo menos, -pensou, - tenho mais esse resto de noite. ”
A porta se abriu.
“Droga”
Os olhos de ônix a fuzilaram, se ele pudesse matá-la certamente o faria naquele momento.
― Onde a senhorita pensa que vai?
Ela se virou lentamente, qualquer passo em falso dele com certeza ela daria no pé, procurou nas mãos dele o sinal de alguma varinha, mas aparentemente ele estava pronto para dormir, pois vestia um roupão de seda negro.
― Olha como tá tarde! - Ela olhou no pulso um relógio imaginário, ―Vim desejar boa noite professor, thau!
Ele a agarrou pelo pulso antes que ela fosse embora, e analisou seu rosto como se farejasse suas mentiras pousando os olhos demoradamente nos lábios dela.
― Vejo que tem uma ótima explicação para ter se atrasado para a sua detenção!
― Ah, claro que sim! – Disse, quase não podia encará-lo assim tão de perto, ― Eu... ah fiquei presa.... Em um tipo de... treinamento- Sorriu.
Ele apertou mais seu pulso, parecia explodir a qualquer minuto.
― Esse treinamento por acaso envolvia lábios? – Ele praticamente cuspiu.
Claire acompanhou o caminho que os olhos dele desenhavam e paravam em um miserável de um borrão de batom que saia dos lábios para o queixo. Ela limpou rapidamente constrangida por ter sido pega no flagra, e por algum motivo, ele não pareceu feliz em vê-la naquele estado.
― Eu, não... não sei o que dizer, eu acho...
Snape sorriu de lado apesar de ainda parecer extremamente furioso.
Ela sabia que viria comentário sarcástico.
― Então finalmente deixei a senhorita sabe tudo sem palavras? – Ele ergueu a sobrancelha.
Houve uma pausa, um breve silencio entre os dois, o pulso que ele ainda segurava começava agora a arder levemente.
―Vai querer ficar com a minha mão professor? – Ela olhou para o pulso que ele não largava, ― Talvez o senhor queira usá-la para uma ajudinha ai em baixo essa noite e...
― Está treinando para o circo garota?
― Não tô afim de pegar teu cargo não – Sibilou acida.
Ele a puxou sem cerimonias para dentro de sua sala, parecia bufar como um animal.
―Terei o prazer de vê-la passar a madrugada todinha limpando e lustrando meus caldeirões! – Ele se sentou.
Ela arregaçou as mangas do uniforme, e o fitando desejou que ele usasse oclumência naquele momento, ela teve a certeza que não teria pessoa no mundo que ela odiasse mais.
***
Outubro se extinguiu num avanço de grandes ventos e chuva forte e novembro chegou, frio como um ferro gelado, com corrente de ar frio que perfuram as mãos e rostos expostos. O céu e o teto do Salão Principal se tornaram um pálido cinza perolado, as montanhas ao redor de Hogwarts estavam cobertas de neve e a temperatura no castelo caiu tanto que muitos estudantes vestiram suas luvas grossas protetoras de pele de dragão nos corredores entre as aulas.
― Como foi ontem? – Perguntou Hermione
― O que? – Respondeu assustada Claire.
― A detenção sua louca, não vai dizer que esqueceu.
― Não, mas acabei chegando atrasada, - Ela suspirou, ― Nem vai acreditar, peguei Snape de robe!
Gina gargalhou como se aquilo fosse uma piada, Hermione também não conseguiu segurar o riso
― E aí?
― E aí que fiquei boa parte da madrugada limpando aqueles caldeirões imundos!
― Mas como você conseguiu se atrasar? Nos saímos antes das dez! – Perguntou Gina.
― Ah, - ela começou desconcertada, ― Harry me beijou.
Hermione colocou as mãos na boca chocada, Gina remexeu-se incomodada no banco, o que não passou despercebido por Claire.
― O que foi? – Perguntou Claire enquanto depositava um cigarro na boca.
― Ah, nada – Mentiu com um sorriso sem graça, ― Então vocês estão juntos?
Claire tragou com força o cigarro enquanto a encarava, então de súbito caiu a fixa como um tijolo em sua cabeça.
― Não me diga que.... Ah não! Você gosta do Harry?
Hermione fitou também Gina, estava tão sórdida em seus pensamentos esse ano que nem havia notado que a amiga era apaixonada por Harry.
Uma fina e despistada lagrima escorreu do rosto rubro de Gina, ela a limpou rapidamente como se tudo isso fosse proibido.
― Merda! – Disse Claire, ― Eu sinto muito Gina, olha eu não sabia, porque se eu soubesse eu tinha descido a mão na cara daquele garoto quando se aproximou de mim!
Gina sorriu, a amiga mesmo em momentos tensos conseguia arrancar-lhe bem-estar.
― Está tudo bem... Ninguém sabia mesmo! E você mais do que ninguém merece um amor e ...
― Pode parar por ai mesmo! –Claire a interrompeu, ― Foi só um beijo e nada mais! Não quero me apaixonar nem me decepcionar, eu só quero calmaria! A única coisa que procuro é alguém que me dê calmaria, antes que venha uma nova tempestade, porque você sabe elas sempre vêm!
― Então o que sentiu quando o beijou? – Questionou Hermione.
― Nem raiva, nem paixão nem nada.... Foi estranho, como beijar um irmão, sei lá! Olha, continuou, te ajudarei com ele e...
Houve um silencio mortal quando ele apareceu, e isso sempre acontecia. Severo a fitou, era visivelmente maior do que Claire, sem pedir permissão arrancou o cigarro dos lábios da garota, apagando-o logo em seguida, ele parecia rosnar para ela.
― Se faz parte do time de quadribol então deveria saber que está proibida de vícios!
O rosto de Claire mudou de cor, saiu de um branco para um vermelho em questão de segundos, ela podia jurar que havia um sorriso naqueles lábios finos e arrogantes, e foi preciso muito alto controle para não os retirar com suas próprias mãos.
― Ok professor! – Disse entre dentes, tendo a certeza que ela faria ele se arrepender de ter feito aquilo.
Hermione ergueu a sobrancelha para Gina, rindo despistada, havia ali muito mais do que os olhos podiam ver.
***
Scar estava recostada na parede, seus dedos brincavam com o isqueiro que fazia uma espécie de “Crack” toda vez que ela o abria e fechava, repetidas vezes. O cigarro na boca nem fora aceso, apenas descansava sob os lábios rosados. Os olhos caiam pesados no horizonte distante o vento que lhe tocou de leve quase não foi suficiente para levar seus tormentos.
― Dez galeões em seus pensamentos, - Disse Sirius a fitando de longe. A voz suave e calma pareceu acalmar os fantasmas de Scar, ela somente foi capaz de encontrar os olhos tão azuis e se perder neles, como sempre fazia. ― Se continuar a me olhar assim posso não resistir Scar!
Ela sorriu enquanto desviava os olhos, vermelha. Era inevitável não se sentir assim, tão perdida perto dele, muito mais do que sempre fora.
― Estava apenas pensando se ter partido foi a minha melhor opção.
― Partido?
Ela suspirou, um ar pesado e tenso, parecia procurar em algum lugar forças para começar.
― Meu pais serviram a Voldemort antes de sua queda. – Começou, ― Assim como a de Claire e Draco minha vida foi miserável e o que sempre nos aguardou era um fim doloroso com perdas e magoas. Desde novos fomos apresentados a inúmeras magias das trevas, fomos treinados pelos nossos pais para quando chegasse a hora certa nos portássemos bem frente a ele. Porém, diferentemente deles, meu pai nunca quis seguir a Voldemort. Jamais vi um Sonserino tão Grifinorio quanto ele. – Ela riu enquanto uma fina lagrima escorreu sobre seu rosto, ― Consigo me lembrar da honra que ele sempre fez questão de me falar. “ Um homem sem honra, não é nada”. Mas aos poucos, seu sorriso tão contagiante foi morrendo e sua honra estava tão quebrada quanto seu coração. As coisas das quais ele foi obrigado a fazer, as coisas que vi, as brigas, as bebidas... O fim. Era difícil para mim vê-lo assim, tão entregue. Então tudo aconteceu tão rápido quanto se possa imaginar, Voldemort foi atrás do menino da profecia e assinou ali seu fim e também os de muitos que o seguiam, como meu pai. Pego pelo ministério por Moody, trancado em uma cela imunda de Azkaban, definhando com seus arrependimentos.
Hoje faz quatro anos que parti e não disse adeus a ninguém. Não enviei cartas ao meu amado pai, não despedi de minha ingrata mãe, e não protegi quem precisava de mim. Eu só parti, porque precisava a todo custo fugir daquilo, eu nunca quis segui-lo, eu jamais quis ser como minha mãe. Se meu pai não estava mais lá por mim, então eu tinha que sair.
Ouve um silencio mortal por algum tempo, Sirius parecia processar aos poucos a informação que lhe fora dado. Até o soprar do vento sobre as folhas podia ser ouvido naquele momento.
― Sou uma má pessoa por ter ido embora? – Scar fitou profundamente o homem que agora estava a sua frente, seus olhos derramaram-se em lamento e ele jurou nunca ter visto algo tão verde, tanto quanto a relva molhada. As esmeraldas úmidas pareciam agora iluminar o rosto escondido pela cabeleira ruiva. Ele pegou delicadamente uma mecha de cabelo tirando-a de seu rosto, mais do que tudo naquele momento ele precisava dos azuis nos verdes.
― Você está aqui agora, - Disse, seu hálito quente parecia cortar a linha que havia entre os dois. ― Isso é tudo que importa.
Quando a distância que havia entre os dois tornou-se insuportável, ele a beijou. Um beijo casto meio sem jeito, mas que se encaixou perfeitamente nos lábios molhados de lagrimas de Scar. E ela jurou que de uma hora para outra, seu mundo girou, e ele havia sem sombras de dúvidas sugado toda a sua dor.
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