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História Laço Fraternal - Fênix


Escrita por: phoenix_87

Notas do Autor


** UM MINUTO DA SUA ATENÇÃO! **
Eu sei que matei vocês de curiosidade quanto "onde Ikki foi parar?" essa é justamente a resposta disso, por isso voltamos um pouquinho na história, ou seja, todos os acontecimentos do capitulo são antes do encontro com Shun no festival.

Obrigada pela atenção, espero que gostem! <3

Capítulo 21 - Fênix


Fanfic / Fanfiction Laço Fraternal - Fênix

Ikki

Nunca vou repetir em voz alta, mas Seiya é como um irmão pra mim. Isso ficou mais evidente no momento que entrei nesse quarto e me deparei com o silêncio. Não tinha ninguém tentando contar as piores piadas como se fossem as mais geniais, ninguém me enchendo a paciência falando demais enquanto eu preciso apenas ficar em silêncio e aquela velha mania de sentar ao meu lado como se nada tivesse acontecido na esperança que eu iniciasse um assunto.

Eu vacilei com você, pangaré, eu sei disso. Não trouxe meu violão, nem sequer trouxe uma cueca. Tenho certeza que você foi pelo menos vinte vezes conferir meus itens no armário, foi mal. No entanto, eu realmente precisava que ficassem na dúvida se eu havia me afastado ou sumido.

“Porra nenhuma, você não precisava”. A voz na minha cabeça corrigiu.

E era verdade, eu só queria fugir. Como foi mesmo que ele disse?

– “Eu não te conheço mais”.

– “Usa os sentimentos alheios em prol de aliviar a própria dor”.

Talvez se Shun tivesse apenas pegado uma faca e me apunhalado repetidas vezes doesse menos. No mínimo eu não estaria aqui para remoer aquela conversa de novo e de novo... Alias, será que ele notou que eu fui embora?

Certa vez, Seiya me chamou de covarde. Entendo o que ele quis dizer e até concordo; graças a essa minha covardia perdi as únicas pessoas que amo.

Cá estou, dias atuais, sentado no chão, me permitindo voltar a um assunto que há tempos venho tentando ignorar. E por mencionar minhas tentativas frustradas de ignorar, queria pospor a presença dela e a sensação de conforto que sua companhia me traz. Essa garota não cala a boca um segundo sequer. Porque eu não estou puto com isso?

Só pra começar: é uma menina que viveu com o amor da família. Fora a educação, paciência, dedicação. Somos tão opostos. Como ela pode me entender tão bem? Como consegue me deixar tão confortável?

Deve ser esses olhos verdes, talvez os lábios finos e bem desenhados ou quem sabe sejam os gestos delicados...

A presença dela foi embaraçosa nas primeiras semanas, era impossível não olhar e ficar constrangido por aquele papelão na rua. Quis enfiar minha cara em um buraco quando ela confessou que bisbilhotou as coisas do Hyoga pra saber mais sobre mim. Não precisa metade disso para me deixar a beira de um colapso.

“Por que me tornei tão amigo dela?”

No dia que a conheci, soquei aquele otário por um motivo simples: aquilo que ele fez não podia ficar impune. Mas eu me lembro, eu tive necessidade de protegê-la ao notar o quão transtornada ficou mesmo após o boçal ter sido levado por Milo. Meses se passaram desde aquela data, a vontade de proteger ainda existe, porém o mais intrigante mesmo é eu me sentir protegido e seguro quando estou ao seu lado.

É o tipo de sensação que sinto, nunca, nem mesmo quando estou com Shun.

E pra piorar, a cada vez que me aproximo dela, me afasto dos fantasmas que há muito me assombram.

As besteiras que eu fiz ao Shun e ao Seiya, a impotência por não cumprir o que prometi a minha mãe e até mesmo a urgência de desvendar todas as merdas do passado. Ela viu a raiva em meus olhos, não pude esconder e com algumas palavras fui resgatado para uma nova vida.

Como se uma barreira invisível me tornasse imune às dores do mundo e aquela voz, toda vez que soprava em meu ouvido pedindo calma uma força sobrenatural acalentava o meu coração.

– Terra chamando Ikki. Na escuta? Câmbio! –Posicionou a mão em frente dos lábios como se segurasse um walk talk.

– Nunca me disse por que fez aquilo…

Me referia a quando ela sentou naquela calçada enquanto eu chorava e ela leu perfeitamente bem as entrelinhas, nem sequer teve dúvidas do que se tratava.

– A resposta é fácil, você tinha me ajudado e eu queria poder fazer o mesmo por você. Não é difícil se reconhecer no outro…

Franzi o cenho tentando entender o que “se reconhecer” queria dizer. Novamente ela decifrou minha expressão sem sequer pestanejar.

– Nunca conheci meu pai, ele abandonou minha mãe quando estava grávida. Quando fiz três anos ela se casou novamente, meu padrasto Guilty era como um pai pra mim. Sempre divertido e paciente, até... – Ajeitou uma pequena mecha dourada para trás da orelha. – Quando fiz sete anos minha mãe descobriu uma doença bem avançada e em pouco tempo ela faleceu. Desde então, o homem que me tratava como filha passou a me tratar como lixo. Ele mudou completamente, saia, voltava embriagado e me espancava como se eu fosse a culpada ou como se eu também não tivesse perdido alguém extremamente importante para mim. Tio Camus havia acabado de ficar viúvo, não sabia como lidar com a depressão do filho e de alguma forma descobriu as condições que eu estava vivendo e me levou para morar com ele.

Como ela conseguia falar desse assunto com tanta leveza? Não demonstrava frigidez. Ela coloca sentimentos nas palavras, sentimentos como: paz, gratidão e compaixão.

– Meu tio nunca foi bom em demonstrar sentimentos, então sua esperança era que juntos Hyoga e eu conseguíssemos curar a dor da perda. Só que meu primo é exatamente como você, todo fechadão. É por isso que se deram bem logo de cara. Ele também vive preso ao passado, ainda chora pela tia Natassia e nega, tenta parecer forte o tempo todo. Tem tanta tristeza escondida atrás dos olhos azuis.

– Eu ... Eu sinto muito, seu padrasto é um ser desprezível.  – Disse ignorando o último comentário.

– Não fala assim. Eu ainda tenho muito carinho pelo Guilty e sou grata pelo tio Camus, fico alegre em saber que pude ajudar meu primo e por ter a oportunidade de ajudar a você também.

Ela narrava com tanta naturalidade que me dava vontade ser babaca, quis desdenhar aquela naturalidade que ela tinha ao compartilhar a história. Nunca fui de falar antes, nunca gostei de ouvir o problema dos demais e agora… Faço isso tão facilmente. Com ela, apenas com ela.

O universo manda as pessoas mais falantes para o meu lado só pra me sacanear, mas não vou negar que essa nova amizade me ensinou a não me prender demais aquilo que não posso mudar.

– A propósito, tem um certo tempo que não toca no nome do seu irmão. E da última vez que o fez, o chamou pelo nome e não de irmão como de costume.

– Esmeralda, eu sou filho único. Meu irmão morreu, eu era uma criança não conseguiria fugir com outra criança no colo.

– Quê? Então o Shun é o que?

– Um amigo que eu magoei. Eu bebi excessivamente e para aliviar meu estresse falei o que não devia. Babaca como sempre.

– Você tá desistindo? Como se atreve? Depois de tudo você tem a audácia de desistir? Tudo foi em vão, Ikki?

Abaixei os ombros curvando levemente costas pra frente.

– Eu devia ser a fortaleza dele e ultimamente vinha demonstrando fraqueza demais, não é certo. Numa coisa o Julian sempre esteve certo, eu sou uma espécie de âncora na vida do Shun, o estaciono e o impeço de crescer.

– Você é um ótimo irmão, Ikki. – Colocou a mão sobre a minha e a apertou gentilmente, fazendo carinho nas costas dela com o polegar em seguida. – Não pode permitir que ninguém tente te convencer do contrário.

Senti meu rosto queimar e meu corpo inteiro arrepiar.

“Mas que infernos”. Nunca senti isso antes, não diante de um toque tão singelo e inocente.

Discretamente puxei minha mão a apoiei no chão pegando impulso e levantei.

– Bom, chega de conversa fiada, não é? – Bati as mãos uma na outra limpando a poeira.

– Tem razão. Temos muito trabalho pela frente, faz algumas semanas que está aqui e vejo que não fez nada além de conseguir algumas peças de roupa e jogar um colchonete no chão. – Dizia observando ao redor. – Então hoje vai me deixar dar cor a esse muquifo que chama de lar. Não vai? – Implicou risonha.

– Como você é insistente. – Cruzei os braços falando em um tom de mau humor. – Eu sou agradecido ao seu primo, graças a ele arrumei esse quarto em cima do bar pra me alojar e tenho um emprego. Já é o suficiente, diga a ele que não preciso de atenção. Eu não estou carente e entenda que você não precisa cumprir as ordens dele de me vigiar!

Não que eu não gostasse da presença dela, e céus como eu gosto, esse é a grande questão. Não posso permitir que alguém me tire do eixo, da forma que venho permitindo.

– Ikki, eu não estou seguindo ordem de ninguém. – Tentou responder com serenidade.

– Pato! – Virei o rosto tentando me manter emburrado. – Maldito pato!

– De que pato você está falando? – Não a olhei para conferir, mas pela voz parecia confusa.

– Hyoga parece um pato. Sabe? Aquela ave irritante que é impossível se livrar, afinal ela consegue caminhar, voar e nadar. Não há um canto que não se infiltre.

– Para! Você está sendo um idiota... Se eu estou aqui é porque eu gosto da sua companhia. – Respondeu ofendida. – Quer saber? Eu devia mandar você ir pro inferno! – Gritou com as mãos nas minhas costas me empurrando levemente.

– Quer saber? Você está atrasada, caminho por ele diariamente. – Gritei dando um murro na parede.

Eu não tinha um motivo para tratá-la com aversão, nada além da minha tão antiga mania de desconfiar de tudo. Toda vez que encarava aquela mulher eu via esperança; ela é uma espécie de abrigo e isso me apavora.

“Uma vida normal deve ser assim”. Conclui ainda que no fundo eu sentia que aquilo não era pra mim, sinto que essa plenitude nunca vai ser minha.

“Esta deve ser a calmaria antes da tempestade que se aproxima”.

Virei para trás e notei os olhos esmeraldinos arregalados.

“Foda-se! Se essa paz é passageira vou me permitir antes que o céu se rasgue”. Suspirei rendido ao pensamento.

– E eu também gosto da sua companhia. – Finalmente confessei de forma quase inaudível.

Em curtos passos se aproximou fixando o olhar no meu, não fui capaz de sustentar o clima estranho e abaixei meus olhos. Os dedos delicadamente dedilharam meu rosto numa espécie de caricia, gentilmente segurou meu queixo me fazendo subir o campo de visão. Fixei meu foco em seus lábios de forma que quase pude sentir sua maciez.

– Ikki? – Sussurrou um pouco mais perto.

– S-Sim? – Respondi sendo liberto daquela espécie de hipnose.

– É impossível alguém não gostar da minha companhia! – Deu um leve tapa no meu ombro e riu baixinho. – Vem, deixa de ser preguiçoso!

Sorri largamente, me acalmando quase que de forma instantânea.

– Então o lar é meu, mas quem manda é você. – Levei a mão na barra da caminha a olhando com receio. – Tudo bem se eu retirar não é? Minhas roupas estão no orfanato e...

– Finja que a casa é sua! – Riu dando as costas e começou a espalhar jornais e lençóis velhos pelo chão.

Tirei a camisa e joguei no armário de qualquer jeito, fui até o balde de tinta branca e o abri.

– Espera! Falta pôr pigmento.

Ergui a sobrancelha.

– Como assim? Não vamos pintar de branco?

– Não! Será azul. – Sorriu misturando uma espécie de tonalizante na tinta a transformando em um azul quase safira e começou a mexer usando um pedaço de madeira. – Como seus olhos! Algo me diz que você vai gostar.

Ao terminar de falar pegou os pinceis estendendo um deles. Ergui minha mão para pegá-lo, mas ela não soltou ao invés disso me olhou dos pés a cabeça de forma que me senti nu.

– Você... Disse... Que... N-não tinha problema. – Expliquei em pausa sem muita certeza se era necessário o fazer.

Ela não respondeu, apenas soltou o utensílio e iniciamos a pintura, a principio bem tímidos. Porém foi questão de minutos para estarmos como sempre falantes e se sacaneando.

– Ikki?

– O q... – Antes que terminasse de falar recebi uma pincelada no peito.

– Está lindo, parece um Smarf... Smarf Ranzinza. – Esmeralda gargalhava apontando pra mim.

Estreitei os olhos e sacudi meu pincel próximo ao rosto dela fazendo respingos azuis se espalharem por lá.

– Está linda, parece que tem catapora. – Gargalhamos juntos e voltamos à tarefa.

Eu não entendo nada desse negocio de casa e decoração, afinal nunca tive uma antes. Ela apenas me disse que aquela tinta secava rápido e dessa forma era possível concluir tudo até anoitecer.

As paredes foram ganhando cor e aquele único cômodo foi ganhando separação de ambiente de forma satisfatória. E dentro do prazo estabelecido tudo estava em seus devidos lugares.

Admito que permiti que ela mandasse e desmandasse em o que estaria onde, só para rir quando desse tudo errado. Aquela ideia maluca de caixotes e paletes sendo usados como moveis? Já podia imaginar o mercadão que o lugar ia virar.

Ela usou os itens como prateleiras, nichos, mesa de centro e até mesmo cama, segundo ela estava clean e rústico. Já eu só posso dizer que o resultado ficou incrível. Esmeralda adicionou alguns quadros na parede disse que o lugar precisava de vida, a meu ver, era desnecessário.

De qualquer jeito, agora é oficial, eu Ikki que não tinha ideia de como armazenaria as coisas que eu teria um dia, passei a ter uma casa de estilo com itens de feira.

Sorri buscando o que dizer, no entanto ela quem iniciou o assunto.

– Fênix! – Exclamou animada assim que terminamos de limpar o chão.

– O quê? – Olhei sem entender.

– Quando eu era criança, Guilty me contava sobre um pássaro da mitologia grega. Uma ave forte, capaz de carregar pesos sobre humano em suas asas. Fênix pode se transformar em uma ave de fogo e quando morre, entra em autocombustão renascendo mais forte das próprias cinzas. – Deu uma piscada rápida e sorriu largamente. – E agora que te conheço, acho que a lenda é sobre você. Não adianta negar, eu sei que é graças as suas asas de fogo... – Abria os braços imitando um bater de asas. –... Que você consegue ir até o inferno e voltar todos os dias.

– Esmeralda você se parece muito com Shun. – Revirei os olhos. – Não sei de onde acham tanto heroísmo em mim, muito menos de onde acham tanto lado positivo nas merdas que a vida oferece.

– Leva a mal não, você tá bem longe de ser um herói, talvez um anti-herói bem chatinho. – Fez careta mostrando língua. – E não reclame Ikki, eu sei que você usa as chamas pra se isolar, só que por vezes abre mão delas e voa livremente pelo céu esperando que assim como o pato, os demais amigos te alcancem.

Ergueu o dedo indicador sinalizando que se lembrava de algo.

– Porém não se preocupe, seu segredo está a salvo comigo.

Não soube o que responder, vesti a camisa sobre o corpo ainda sujo de tinta ao ouvir a buzina. Segui refletindo sobre a comparação com a tal ave a até chegarmos à porta, Camus a aguardava no carro para levá-la de volta.

Acenei e me dirigi à entrada dos fundos do bar.

– Então é verdade. – Ouvi a voz de Milo ao meu lado. – Esmeralda realmente opera milagres.

– Ah sim. – Concordei com a cabeça. – Você precisa ver, ficou ótimo.

– Me referia a você e não ao quarto, Ikki.

Franzi a testa sem entender.

– Você não se deu conta ainda, não é? – Abriu um sorriso implicante. – Só é possível te ver sorrir nos dias que ela vem.

– Do que está falando? – Ergui a sobrancelha com um olhar confuso.

– Relaxa Ikki, ela reage igual. E olha, ela não costumava aparecer aqui com tanta frequência antes.


Notas Finais


Desculpem os possíveis erros de digitação e até a próxima quinta, pessoal! <3


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