História Lado Negro - Uma infeliz surpresa

Nathan Miller

Eu sorri enquanto aquela garota se afastava, tinha que admitir que era realmente linda, e olhar para ela era como olhar para um anjo, o que é meio irônico sabendo que eu já vi muitos. Antes de ir para a minha aula, fui para a sala do diretor, bati na porta e um homem de cabelos grisalhos e aparência não tão jovem a abriu.

– Posso ajudar rapaz? – perguntou com uma voz rouca e grossa.

– Então, um garoto repetente da 8ª série está enfiando a cara de um aluno na privada, achei que o senhor ia querer saber – dei a mentira mais óbvia do mundo, mas o diretor pareceu acreditar e seguiu o corredor indignado, deixando a porta aberta.

Ri de sua tolice e entrei na sala decorada por estantes de livros nas paredes, uma mesa com um computador e uma grande cadeira de couro marrom atrás se encontravam na frente de uma enorme janela, que dava para a frente da escola. Me sentei e liguei o computador, aquele velho era sem noção, deixou sem senha, abri pastas e vasculhei arquivos, até encontrar a ficha dos alunos computadorizadas. Digitei no espaço o sobrenome Angnel. Apareceu um único nome: Allyson Rose Angnel. Me senti ansioso e sorri, cliquei duas vezes sobre o mesmo, a ficha carregou, e a imagem que demorou alguns segundo para carregar apareceu. Arregalei os olhos ao vê-la ali, não pude acreditar, eu nunca imaginaria que seria ela, bem embaixo do meu nariz...

Rapidamente imprimi sua ficha e saí da sala, a caminho da minha aula dei de cara com o diretor, que me fez parar e lançou-me um olhar desconfiado.

– Não havia ninguém no banheiro...

– Poxa! Devem ter saído antes do senhor chegar – menti descaradamente. – Essas crianças de hoje... Vou pra aula!

– Estou de olho em você rapaz! – disse ele e eu assenti, logo saindo.

Achei a porta da minha nova turma de física e entrei, a primeira coisa que vi foi ela, estava em uma classe ao lado da janela, estavam todos reunidos em duplas, exceto por Allyson, o que era perfeito. Olhei para a professora que me encarava.

– Você deve ser o transferido, Nathan – eu assenti em concordância. – Sou a Sra. Hermann. Pois bem... – ela olhou ao redor e voltou a olhar pra mim, fitei os olhos castanhos da Sra. Hermann.

Como eu a respeitaria se me mandasse sentar com a “Srta. Angnel”.

Ela sorriu me olhando meio confusa.

– Sente-se com a Allyson.

Sorri agradecido e fui em direção a garota loira, me sentei ao seu lado, ela apenas revirou os olhos discretamente e continuou rabiscando em seu caderno.

– Seremos uma dupla, acho melhor falar comigo. – Me recostei na cadeira enquanto a olhava.

– Só falarei com você quando for realmente necessário – ela me olhou pelo canto do olho.

– Assim você acaba afastando as pessoas.

– E quem disse que eu as quero perto de mim? – dessa vez ela me olhou, eu fitei seus olhos e ela parece estremecer, eu sorri.

– Para uma garota tão bonita é muito mau-humorada.

Suas bochechas ficaram levemente rosadas, o que se destacava mais na sua pele clara e aparentemente macia, como a de uma boneca de porcelana. Credo, que coisa mais gay que eu acabei de pensar.

– Não acredito que ficou sem graça – disse e ela me lançou um olhar irritadiço.

– Como você é idiota!

– Que tal começarmos de novo? – ela me olhou erguendo as sobrancelhas e eu continuei. – Bem, você me acha um idiota agora e eu te acho linda, então nos apresentamos de novo e nos conhecemos, aí você vai ver que não sou um idiota e eu vou ver que é impossível você não ser linda – eu comecei a rir quando ela corou ainda mais. 

– Você só pode estar brincando! E não tem graça! - protestou ela, mas tinha sim, a irritar estava sendo divertido.

– Tem sim, você ficou ainda mais vermelha!

– Affe! Mas me conte Nathan, para quantas garotas você já passou essa cantada?

– Você é a primeira... – ela me olhou como se não acreditasse. – Não a uso a mesma cantada duas vezes. – Ela revirou os olhos, mas riu baixinho. – O que foi Allyson?

– Você é muito bobo, e me chame de Ally, Nathan. E acho melhor prestar atenção na aula.

Ambos olhamos na direção da professora que falava alguma coisa envolvendo números, e enquanto Ally realmente prestava atenção na aula, eu pensava em outras coisas... Principalmente de onde eu tiraria coragem para entrega-la aos arcanjos ou simplesmente mata-la a sangue frio, de qualquer modo, seu futuro não era nada bom, e eu temia isso, mesmo não querendo, eu temia por sua vida. Ela não me parecia um inimigo a se temer como todos descreviam os Arcanjos, talvez a parte de ser rabugenta, mas duvido que ela sequer matasse uma formiga.

Depois de todas as aulas passarem, o que dei graças a Deus, já não aguentava mais aqueles professores, fui para o teatro, outra coisa irritante que me puseram, mas pelo menos conseguiria me aproximar da Ally. Eu estava confuso, por um lado eu queria armar um plano e pega-la para fazer o que me foi designado, mas por outro, eu queria me afastar, queria deixa-la em paz e fingir que nunca a encontrei. E uma pequena parte de mim, queria simplesmente conhece-la melhor, o que eu não entendia.