- É só ir tomando esse remédio aqui nos horários que combinamos, tá bom? - Marta fala enquanto tirava as agulhas do meu braço - logo, logo você estará livre disso tudo.
- espero.
Ela ficou passando mais algumas receitas e me alertando sobre alguns hábitos, mas na verdade minha mente estava longe dali. Meu olhar era vago e pensativo, e torcia pra que ela não reparasse.
Já fazia 3 dias que George viajara e os dias tinham se tornado tão monótonos e chatos. Sem passeios pela cidade, sem conversas bobas na varanda e sem música misteriosa.
- entendeu? - Marta pergunta depois de terminar a longa lista de deveres.
- s-sim.
Forço um sorriso e afasto os cabelos da testa. Ela me encara com certa diversão, como se soubesse que eu não tinha prestado atenção.
- vou anotar pra você - ela ri fraco - não quero um ataque de asma de novo.
Minhas bochechas coram e a médica elegante sai da salinha. Respiro fundo e encaro minhas unhas com o esmalte preto roído.
Depois de alguns minutos olhando pro nada, Marta volta com um papel meio amassado e uma caneta na mão.
- me desculpe pelo papel, os meus acabaram e tive que pegar esse nas coisas de George.
Ela anota algumas coisas e me entrega, me explicando alguns tópicos que dessa vez presto atenção.
Agradeço a ela por toda a assistência e com um aceno me despeço.
Chegando em casa, coloco o papel em cima da mesinha de centro e tiro meu casaco. Minha mãe estava fora como sempre e aproveitei pra arrumar algumas coisas. Varri o chão, troquei os lençóis e fiz um miojo, que por sinal estava excelente. Coloquei uma roupa folgada e me joguei no sofá, passando a encarar o papel amassado na mesinha.
Peguei o mesmo e li a lista mais uma vez, porém ao virá-lo encontrei alguns rabiscos de George que me despertaram curiosidade.
Tinham algumas notas e interrogações que não conseguia decifrar, mas no finalzinho, quase que escapando do papel, meu nome estava escrito à lápis com várias camadas sobre as letras. Também reparei nas inúmeras anotações que ele tinha feito, mas apagara. O meu nome se repita em algumas delas, mas quase não conseguia ler.
- o que deu em mim? Por que eu to lendo isso?
Bufo confusa e jogo o papel de lado. Passo minha mão por meus cabelos bagunçados e respiro fundo. Eu não posso estar... Não!
- eu sou uma idiota. - resmungo.
George é um amigo. Só isso. Que escreve músicas sobre você de noite e te leva pra sair em encontros as vezes, sem falar de todos os olhares e beijos.
- merda...
Me levanto dali num pulo tentando apagar a imagem do garoto da minha mente. Vou até o banheiro e me encaro no espelho.
- chega de criar sentimentos por ele, entendeu? - aponto pro meu reflexo - chega de saídas noturnas, de beijo, de músicas e... Eu sou patética.
Bufo mais uma vez e molho meu rosto.
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