_____’s P.O.V.
Duas horas, trinta e cinco minutos e vinte segundos.
Esse é o tempo que se passou desde que eu e minha parceira descemos dos aposentos das Ômegas candidatas a Sugar Baby's de Alfas em Lascívia. Neste intervalo, contabilizo as informações apuradas nas minhas duas frentes de investigação e serviço de guarda-costas do Sr. Min. E, se eu posso ser sincera, preciso dizer que há algum êxito nesse trabalho.
O relatório é o seguinte:
1. São quarenta câmeras de vigilância com lentes de visão diurna e noturna espalhadas em frestas de pilares e esculturas renascentistas, lustres, molduras de janelas e afrescos do grande salão.
2. Conheço essas lentes e sei o raio de captação, por isso já identifiquei os cinco pontos cegos na percepção de imagem.
3. Há quatro saídas de emergência e um portão, além da escadaria que leva aos aposentos do primeiro andar.
4. Apesar da segurança reforçada fora do salão, só há quatro homens visíveis à guarda aqui dentro. Isso é esquisito, porque a quantidade de bilionários aqui dentro merecia mais proteção. Contudo, entendo ser pela privacidade dos convidados.
5. Os banheiros possuem saídas de ar que podem ser facilmente invadidas ou evacuadas.
5.1. E são maiores que meu apartamento inteiro.
6. Jeon Jungkook é muito generoso em seus patrocínios. Já passou pelas mãos de 85% das Ômegas de Lascívia e tem o título absoluto de melhor sexo oral da sociedade secreta. Ele também é conhecido por fazê-las se apaixonarem dentro dos três meses de patrocínio só para descartá-las em seguida. Isso faz com que 40% das Ômegas de Lascívia o odeiem e 45% corram atrás de um novo patrocínio dele. As alegações são de que não existe orgulho quando se trata de Jeon Jungkook.
6.1. É um cafajeste incurável e sem escrúpulos, porém gostoso. A definição perfeita de "Deus me livre, mas quem me dera".
7. Deputado Park Jimin não era apenas incrivelmente amável, simpático e lisonjeiro. Ele tinha uma boa relação com todos os colegas Alfas em Lascívia e era conhecido como o mais atencioso e bondoso dos Sugar Daddy's. Seus Sugar Baby's, entre Ômegas machos e fêmeas, só têm alegações positivas sobre ele. Ninguém se conforma com sua morte, mas todos evitam o assunto ao máximo. Isso é suspeito.
8. A propaganda de que Lascívia não é sobre sexo é enganosa. Os feromônios golpeiam meu estômago a todo instante. Os olhares, as mãos, as danças. Mesmo as músicas reverberam uma intensa tensão sexual entre Alfas e Ômegas. Sinto até o cheiro de sexo próximo ao banheiro e atrás de algumas pilastras. Provavelmente há alguns vestidos levantados, zíperes abertos e gemidos fracos bem ao meu lado, numa parte mais escura do bar.
9. Recebi alguns convites de patrocínio, porém o mais tentador foi de uma mulher Alfa belíssima, com cabelos crespos e negros, sorriso alinhado e branco. Ela me convidou para passar um fim de semana em Paris. Sim, na França. Foi difícil recusar.
10. Ouvi dizer que as mãos de Min Yoongi são mágicas. E, apesar de não se envolver sexualmente com patrocinadas, as pouquíssimas Ômegas que já tiveram esse prazer dizem que seus orgasmos vinham só ao ouvir sua voz de comando rouca ao pé do ouvido.
Forçar um orgasmo através da voz de Alfa é algo novo para mim.
Não vou negar que estou tentada a experimentar.
Por falar no Sr. Min, ele ainda está sentado no bar. Deleita-se com seu ócio e beberica uma terceira dose de uísque acastanhado e perfumado, com pouco gelo no copo de vidro suado. Suas pernas estão cruzadas, as costas encurvadas e seu olhar é perdido. À primeira impressão, trata-se de um homem solitário, silencioso e taciturno. Os cabelos escuros cobrem sua testa e a pele pálida é lisa como se feita de cera. É o que ele aparenta ser. Uma estátua esculpida à mão com perfeição.
E ele ocupa-se em apenas existir. Quieto e gostoso.
Não são poucas as Ômegas que interferem em sua desconexão com o baile, mas só uma consegue um minuto a mais de sua atenção. É uma mulher ruiva de corpo curvilíneo e vestido vermelho provocante. Ela aproxima-se avassaladora e joga um charme. Sorri lânguida, troca algumas palavras com ele e se inclina para frente. Usa sua melhor arma, o decote encoberto por uma lingerie fina. Se nem eu consigo resistir à tentação de conferir seus seios perfeitos pela abertura, não posso julgar o Sr. Min por fazer o mesmo por um segundo.
É o suficiente para que a ruiva exulte com um sorriso vitorioso e me cause certo incômodo. Eu também gostaria de poder flertar com ele, e só ouso admitir isso em minha mente. Não posso fazê-lo porque estou à serviço da polícia e sou profissional. Além do mais, devo manter o sigilo de minha presença. Que droga. Se ao menos ele levasse essa ruiva a um canto de parede e eu pudesse vê-lo em ação... Eu abriria a fenda do vestido, me tocaria e acabaria com essa agonia. Ainda bem que eu trouxe um vibrador na bolsa.
Quê?
Merda. Merda. No que eu estou pensando?
Agora sim posso me arrepender por vir até um lugar chamado "Lascívia" tão próxima do cio.
Se eu considerar que sempre evito que minha vida pessoal interfira em meu trabalho, é completamente perdoável que eu tenha aceitado essa loucura. Mas, ao sentir as fragrâncias de sexo entre Alfas e Ômegas e analisar todas as poucas ações que fazem de Min Yoongi um ser humano tão gostoso e atraente, percebo que meu cio está cada vez mais próximo e isso é errado. Minha calcinha não consegue acumular a umidade, que se dilui em minha virilha e a deixa pegajosa.
Isso é um problema ainda maior quando penso na quantidade de Alfas que há aqui.
Eu devia ter tomado uma pílula inibidora temporária antes de vir.
Com certeza, devia.
Agora estou aqui, louca e salivando por um homem a quem não posso nem me apresentar.
Não tenho culpa se meu lado Ômega tem uma queda por Alfas com cheiro cítrico, mãos mágicas e voz rouca e grave. E ele não tem culpa de ser exatamente esse Alfa. Então, em meio aos meus devaneios, percebo que ele dispensa a ruiva e funga algumas vezes. Por que? Ah, preciso focar na investigação, ou eu vou agarrá-lo pelo pescoço e me esfregar nele. Bebo o resto da minha dose de Dry Martini e esquadrinho a área com minhas lentes de contato adaptativas. Tento escanear os rostos dos Ômegas em um raio de cinco metros.
Ninguém aparenta tomar uma atitude suspeita.
Vejo uma movimentação pela visão periférica e o olho. Sr. Min volta-se para a garçonete Beta no bar e tira algumas notas da carteira, deixando-as sobre o balcão. A garçonete pestaneja com a gorjeta e cata as notas, sem entendê-lo. Meu sexo se contrai ao ouvi-lo dizer um vultoso:
— Pelo seu serviço. — O sorriso que ele dá por baixo da máscara que lhe encobre parte do rosto é extremamente sedutor.
— Sério? Muito obrigada. — A garçonete conta as notas e suas sobrancelhas se erguem. Quando fita o Sr. Min, seu queixo cai. — M-muito obrigada...
A resposta de Min Yoongi é única. Ele dá uma batidinha no balcão e lança uma piscadela para a moça, sem sorrir.
— Certo, obrigado.
Isso é injusto. Ele não está tentando me seduzir. Por que tem tanto efeito sobre mim? Por que? Eu sempre consigo manter a concentração, mesmo diante das situações mais difíceis. Por que não hoje? Cruzo as pernas e sinto meu colo se afoguear. Pego o palito com a azeitona do drinque que bebia e a como, desconcertada. Espero que o sabor azedo e salgado, misturado ao álcool que ainda não se dispersou desative minhas papilas gustativas. Mas, também preciso vigiá-lo e esse é o problema.
Min Yoongi se afasta do bar. Passa por algumas pessoas no salão e cumprimenta conhecidos. Baixa a cabeça quando alguns se aproximam demais, mantém as mãos dentro dos bolsos e a postura defensiva. É claramente introvertido. Quando se afasta do grupo, caminha calmamente entre as pessoas, que abrem espaço para que ele passe. Ele age como se fosse o dono do lugar e merecesse estar ali mais do que qualquer outra pessoa. E parece não se importar com mais ninguém.
Puta. Cara. Gostoso.
E está prestes a fugir das minhas vistas. Ou seja, preciso segui-lo.
Ah, não.
***
Uma das portas de emergência do grande salão de Lascívia leva a um jardim onde o baile de máscaras continua sob a cortina do céu escuro. É um campo gramado e aberto, ladeado por plataformas de mármore ligadas a uma piscina grande e de formato abstrato. Sua iluminação interna transforma a água em um lustre gigante e azulado para a noite enluarada. Há um barzinho em uma das plataformas e algumas mesas espalhadas estrategicamente distantes. Nas extremidades do jardim, os arbustos formam cercas-vivas adornadas por luzes.
Se no salão o cheiro denso de excitação Alfa e Ômega me entorpecia, aqui fora o frescor da noite arejada alivia.
O único problema é a falta de iluminação direta que camufla ainda mais os convidados atrás das máscaras e dificulta meu serviço de guarda-costas. Por isso preciso me aproximar mais um pouco do Sr. Min. E assim o faço. Acompanho-o o mais perto possível, enquanto ele conversa com um Alfa. Reconheço os trejeitos simpáticos e extrovertidos, vi seu nome na minha ficha de investigação. Trata-se de Jung Hoseok, amigo pessoal de Park Jimin e um membro da cúpula de Lascívia.
Foi o homem que encontrou o corpo do deputado despejado na calçada do palacete.
Estreito o olhar para tentar pescar alguma informação, mas ouço um fungar atrás de mim e me viro. Uma jovem Ômega, de corpo franzino e cabelos escorridos, soluça entregue a um pranto desolado. A ponta de seu nariz, única parte aparente por baixo da máscara que ela usa, está avermelhada. Seu lábio inferior treme e ela tenta não chorar, bebendo o conteúdo de um copo grande demais para não embebedar em uma dose generosa.
Aproximo-me.
— Ei... Oi. — Tento uma aproximação amistosa e ela me olha desnorteada. — Está tudo bem?
— Não. — Sua voz sai tremida e delicada demais. Ela está vulnerável e sua atitude diverge de todo o contexto do baile. Sento-me ao seu lado na espreguiçadeira em que ela descansa. A moça permanece quieta. Olha a bebida, por vezes fita a porta do salão e os outros Alfas. Não se prende a ninguém e seu cheiro não passa de uma fraca e triste essência. Ela não está interessada na festa ou em encontrar um novo patrocinador.
Isso é suspeito.
Por que afinal estaria aqui, se não por vontade própria?
— Aconteceu alguma coisa? — Indago à voz macia. Ela reluta em responder e pigarreia. Bebe mais um gole longo de sua bebida e funga. Não se prepara para falar e eu entendo que estou sendo ignorada. De repente, penso em uma possibilidade. — É... Também não estou muito bem. Meu primeiro Sugar Daddy me dispensou há alguns dias e hoje eu o vi com outra lá no salão. Ele me descartou como se eu não fosse nada e... Eu sou apaixonada por ele.
É quando ganho sua atenção.
— Ao menos ele está ali no salão, né? — Sua pergunta me intriga. — Imagine quão difícil seria se, em vez de te trocar, ele morresse.
Aí está.
Queria me solidarizar com o luto da Ômega, mas sinto que ela fala sobre o Deputado Park e quase sorrio.
— Não quero imaginar essa possibilidade... Eu não sobreviveria. — Meneio a cabeça com vivacidade e ela suspira.
— Eu queria tanto que ele estivesse aqui. — Ela limpa uma lágrima que escorre no canto da máscara. — Eu o amava. Ele era tão bom... Era o melhor. Um amor de pessoa, um amante tão generoso. Ele era meu. Pensei que nós deixaríamos de ser Daddy e Baby e seríamos marido e mulher. Era o que eu queria. Era o meu sonho. E ele me deixava acreditar nisso. Me dizia que um dia seríamos um casal de verdade... Se não fossem os outros Ômegas ciumentos que ele patrocinava, já estaríamos juntos há mais tempo.
Mordo o lábio inferior. Alguns Ômegas desavisados sempre acreditam que os Alfas se envolvem com eles por amor. Esquecem que dentro do convite para Lascívia, os Alfas dizem: "Seu bem-estar é o meu fetiche". Essa não é uma relação de sentimentos. Trata-se apenas de um fetiche, uma fantasia carnal que poderia confundir até o mais lúcido dos Ômegas.
— Park Jimin era seu Sugar Daddy? Seu patrocinador? — Pergunto para me certificar e ela me olha com os lábios encurvados.
— Eu não era uma mera patrocinada. Eu o servia, era totalmente devotada a ele. Park Jimin era meu senhor, meu dono. Ele era tudo pra mim. Eu morava na casa dele. Preparava seus banhos, ajudava-o a tirar suas roupas, servia suas refeições. Mimava-o quando ele me pedia e me entregava quando ele desejava. Vestia-me como ele gostava, comia o que ele permitia, dormia nos horários em que ele não estava em casa. Fui um exemplo de submissão pra satisfazê-lo, porque queria vê-lo feliz e sabia que ele gostava disso.
— Ah... Devia ser uma vida difícil.
— Não. Tudo em nossa relação era consensual. Ele nunca ultrapassou meus limites, Jimin era um bom homem. Eu o amava.
— Meus pêsames. — É tudo o que digo, à espera de alguma pista. — A polícia está cuidando do caso. Vão descobrir o assassino e...
Ela me interrompe com uma risada amarga.
— Então por que Taehyung não está na lista de suspeitos?
— Taehyung?
— Sim. Eu tenho a mais absoluta certeza de que a culpa é dele. Ele é egoísta, possessivo. Ele seria capaz de cometer as maiores atrocidades para separar Jimin de todos os seus Ômegas, e de mim. Porque eu era a pessoa mais próxima do Jimin. Eu era... O que tínhamos era íntimo demais. Eu já era patrocinada dele há dois anos... E já nem recebia tanto pra me manter porque morava com ele. Quer saber, moça. Vou te contar. Eu temo por mim. Taehyung me odeia e me quer morta. Não duvido que eu seja sua próxima vítima.
— Credo... Não fala assim. — Murmuro, tentando não parecer tão interessada em seu depoimento.
— Mas, é o que vai acontecer. Porque eu já falei pra polícia e eles não fizeram nada à respeito. — Penso em dizer que a polícia trabalha com outra linha de investigação, mas desisto por causa do meu disfarce. Pigarreio e fito os dois Alfas que conversam próximos. Jung Hoseok ri de algo que Min Yoongi fala, mas antes que eu possa reparar neles, a moça continua. — Sabe o que é pior?
— O quê?
— Essa corja dessa sociedade secreta pouco se importou com o período de luto e com o respeito à memória do Jimin. Estão todos aí, felizes e alegres, festejando o ano-novo de Lascívia, como se um dos Alfas-membros não tivesse sido assassinado por um patrocinado há poucos dias.
— É, mas, veja bem...
— Não há o que ver. Taehyung não foi só patrocinado do Jimin. Ele tem sobrenome. Kim. — Ela fala como se eu fosse obrigada a saber de que se trata esse sobrenome. — Você é novata? — Ela me analisa e eu concordo com um aceno. — Aish. Kim Taehyung é irmão mais novo de Kim Seokjin, que por acaso é grão-mestre de Lascívia. Ele está tentando abafar o caso com essa festa ridícula, pra fazer as pessoas esquecerem da morte do Jimin.
Pestanejo com a boca entreaberta.
— Então...
— É, exatamente isso. Basta juntar dois mais dois. E meus pêsames pra você que está entrando agora. É melhor voltar pra sua festa e tentar arrumar um novo patrocinador. Tente não se apegar, porque se o assassino continuar solto, mais Alfas morrerão. E se eu morrer... Saiba que foi Kim Taehyung que me matou. Meu nome é Im Nayeon, caso você escute em algum lugar por aí.
Trocamos um olhar silencioso e grave.
— Por que está me falando todas essas coisas? — Pergunto, sem entender porque ela desabafa todos os seus segredos para mim.
— Você foi a única que viu minha dor e sentiu empatia... Foi a única que me perguntou se eu estava bem. Pensei que talvez fosse uma pessoa boa. — Ela dá de ombros e bebe o resto do conteúdo do copo. Levanta-se da espreguiçadeira trôpega e se afasta de mim sem olhar para trás. Seu vestido está amarrotado e ela mal se equilibra nos saltos altos de solado vermelho sangue.
Então, Kim Taehyung era um patrocinado possessivo, egoísta, e ciumento de Park Jimin, além de ser mimado e protegido por seu irmão mais velho, grão-mestre da sociedade secreta. Bem, parece que temos alguém no topo da lista de suspeitos Ômegas para o crime. De qualquer forma, anoto mentalmente o nome de Im Nayeon, porque ela ainda pode ser útil na investigação. Uma Baby tão próxima assim de seu Sugar Daddy é algo deveras peculiar.
Merece atenção redobrada.
Ela deve saber muito mais da vida do deputado Park.
Um movimento de Min Yoongi chama a minha atenção. Ele se despede de Jung Hoseok e dá a volta pela piscina até chegar em uma esquina da mansão. Yoongi coloca o copo sobre uma das mesas antes de sumir de vista. Preciso segui-lo novamente e deixo a espreguiçadeira para trás.
Esgueiro-me pelo jardim para ir atrás dele.
***
A escuridão da noite seria impenetrável se eu não usasse as lentes adaptativas para seguir meu protegido. Ele avança por uma trilha ladeada por arbustos e árvores podadas, longe dos limites do palácio de Lascívia, algo que instiga minha curiosidade e me faz avançar em seu encalço. Guio-me pelo aroma cítrico que ele exala e que estimula meu paladar, evitando afundar os saltos altos no solo gramado e macio que camufla as pegadas. Tento ignorar o vento frio que atravessa o vestido finíssimo que mal cobre meu corpo e me perfura até os ossos.
É repentino. O cheiro cítrico e atormentador se perde. Olho de um lado para o outro e inalo o ar frio com força para os pulmões, mas tudo o que recebo é o aroma de grama, seiva e madeira úmida. No silêncio, ouço os silvos do vento entre as folhas das árvores, o cricrilar dos insetos que habitam entre as rachaduras dos troncos e os passos apressados de pequenos roedores. Levo a mão até a coxa e toco a coronha da arma que carrego comigo ao sentir uma movimentação atrás de mim. Saco a pistola em um movimento ágil e me viro.
Jogo a mão erguida do oponente para longe com uma braçada e encosto o cano da arma em seu peito.
Respiro superficialmente, tomada pela adrenalina, e arqueio a sobrancelha.
— Quem é... — Baforadas do cheiro cítrico e entorpecente de Min Yoongi infestam o ar frio e me envolvem de forma irreversível. Zonzeio e quase perco o foco. O aroma delicioso penetra minhas narinas e todos os poros do meu corpo se eriçam. Meus olhos se fixam nos dele, que me observam em um misto de surpresa e admiração, por trás da máscara negra que cobre sua expressão. Nossas respirações são o único ruído próximo, além da minha própria frequência cardíaca, que batuca depressa nos ouvidos.
Minhas pupilas se dilatam e minha boca saliva em excesso, mesmo que a garganta arranhe, árida. Minhas mãos perdem a força aos poucos e o cano da pistola roça por todo o tórax dele, por seu abdome, até o cós da calça, tilinta na fivela do cinto de couro e eu puxo a fenda do vestido, colocando-a de volta no suporte em minha coxa. Então, descubro que abrir as pernas para fazer isso foi a pior ideia, porque o líquido viscoso escorre em minha entrada mais uma vez e desce pela virilha em um volume maior.
Meu sexo pulsa com violência, em uma excitação tórrida e quase dolorida.
Meu único pensamento é: Preciso me entregar a ele. Preciso dele. Agora. Com tanta urgência quanto preciso do ar para respirar.
— Finalmente.
Sua voz grave ecoa em meus ouvidos e meus joelhos tremem. A pulsação em minha intimidade torna-se mais viva e meu quadril inteiro queima ao ouvi-lo. Ele parece sentir meu cheiro, porque seu maxilar se trava e ele me analisa da cabeça aos pés. Inspira o ar cuidadosamente e passa a língua pelos lábios como se sentisse fome. Consigo captar os odores amadeirados do uísque em seu hálito quando ele sorri presunçoso ao entender minha situação. O cheiro de cio de Ômega é mais poderoso que o comum, e é nele que eu estou entrando.
Posso sentir a febre que antecede as dores e as alucinações. Eu preciso de um Alfa.
Preciso de Min Yoongi.
— Desculpe... Sr... Min. Finalmente, o quê? — Tento falar com o resto de racionalidade que ainda possuo.
— Eu te farejei a noite toda. — Ele se demora em meus olhos. — É você, não é? Não tente me enganar. Escorou uma arma no meu peito. Só pode ser você. — Seus olhos pequenos se estreitam em minha direção.
— Era uma armadilha sua? — Quase gemo. Minha entrada se contrai como se implorasse por ele e eu engulo em seco. — Você ficou exposto para que eu pudesse encontrar você e depois veio para um lugar sozinho para ver quem te seguia... Foi esperto. — Tento recuperar o mínimo de sanidade e profissionalismo para falar. — Não se preocupe. Não vou atrapalhar nenhum esquema com suas Sugar Baby’s, pode ficar tranquilo.
Meu corpo está prestes a entrar em chamas. Respirar o ar tomado por seu cheiro se torna cada vez mais difícil. Anseio por um toque seu, por sua respiração embriagada, por seu corpo rígido sobre o meu. Desejo que ele me tome e faça de mim o que bem entender, desde que me preencha por inteiro e me faça esquecer esse calor insuportável. Sei que todas as minhas sensações exageradas são causadas por meu estado fragilizado e praguejo a mim mesma, outra vez, por me deixar tão vulnerável em um momento difícil como esse.
Sua resposta ao meu estado é um sorriso sacana.
— Você vai me acompanhar aonde quer que eu vá? — Indaga malicioso.
O desconforto entre minhas pernas se torna mais doloroso e umas gotas de suor descem por minhas costas. Apoio-me na árvore mais próxima para não sucumbir ao enjoo e ao calor. Apesar de respeitar meu espaço, seu cheiro se intensifica em um claro sinal de que ele tenta me seduzir, como se precisasse. É apenas seu lado Alfa respondendo ao meu estado necessitado de cio. E eu tento me concentrar arduamente para não arrancar a roupa do corpo, abrir as pernas e pedir a ele que acabe com minha agonia.
— É... Preciso... garantir sua... segurança. — Respondo sem firmeza. — E... E não é uma boa ideia vir a um lugar isolado. É melhor a gente... Voltar. — Aponto para o palácio. Talvez lá haja alguma cartela de pílulas inibidoras temporárias, para casos emergenciais como o meu.
Vejo o brilho avermelhado em seus olhos e fraquejo. Ele dá um passo em minha direção e me cerca outra vez. Prensa meu corpo entre seu tórax duro e o tronco da árvore. Minha resposta é um ofegar anestesiado e minha mente fica nublada. Socos do cheiro cítrico e inebriante se acumulam e poluem meu olfato. Esse é meu último limite, o alerta máximo para que ele se afaste. Não sei por quanto tempo suportarei.
— Você será minha guarda-costas? Bem, eu já tenho segurança particular... — Ele sorri e apoia uma das mãos no tronco da árvore atrás de mim. — Você também está aqui para investigar, não é? — Seu tom é ameno e ele fala pausadamente. Dá outro passo na minha direção e empertiga a postura. Minhas costas se arqueiam e meu corpo roça no dele. Os mamilos rijos e sensíveis se chocam contra o tórax e eu prendo o gemido na garganta.
— Sim... — Nem sei mais qual foi sua pergunta.
— Hm... Mas, ainda estou curioso. E se eu não quiser apenas conversar com as Ômegas? E se eu quiser leva-las a um lugar mais reservado, como te induzi a fazer agora? — Suas íris atingem o tom de vermelho rubi de um Alfa e eu mordo o lábio inferior. Esse é um indício de que ele está tão excitado quanto eu. — Vai me proteger mesmo assim?
Seu rosto está tão próximo do meu que as lufadas de ar cítrico mesclado ao hálito levemente embriagado. Meus dedos partem até a fenda do vestido sem que eu mesma possa controlar. Cravo as unhas em minha virilha, sentindo-a queimar. A pulsação em meu sexo atinge um nível mais doloroso e meus joelhos se afastam um pouco mais. O escuro é uma benção e nos deixa em total anonimato. Assim ele não consegue ver minha próxima ação. Afasto o quadril do resvalar leve contra o dele e prendo o ar.
Minha mão escapole por dentro da fenda do vestido até a calcinha, que eu afasto para deslizar os dedos por todo o sexo, molhando-os para penetrar a mim mesma e amenizar a sensação torpe. A reação é uma pulsação ainda mais forte, e eu movo os dedos dentro de mim, com os lábios entreabertos. O líquido viscoso, pegajoso e quente escorre por minha mão e pela coxa, exalando mais dos odores do cio, dispersando-os no ar. É quando ele inala e se engasga, tossindo.
— Se puder... — Olho para seus lábios, tão próximos aos meus. Tão rosados e inchados. Penetro mais um dedo em mim e os movo mais depressa, mas isso não me alivia, só piora minha situação de excitação. — Não se afaste... tanto de mim. Q-qualquer Ômega... pode ser suspeita... E...
— Ah, entendo. — Há um sorriso lascivo em seus lábios. — Então eu não posso conversar, de fato, com nenhuma Ômega que não seja você, porque qualquer uma delas é suspeita. — Ele ergue uma das sobrancelhas. Eu concordo com a cabeça. Paro de mover os dedos dentro de mim, porque sinto que ele percebe, e meu rosto se afogueia. Não por vergonha, mas porque quero que ele meta em mim, agora. — Eu tenho uma ideia melhor.
— Q-qual?
— Você está disfarçada, certo? — Sua voz ressoa suavemente, como se fosse encantada. Ainda não é a voz de comando, mas me seduz. Faz com que eu toque meu clitóris com o polegar e continue a me masturbar, porque quero chegar ao orgasmo ouvindo-o. — Se tiver que me proteger, vai ter que passar muito tempo por perto. Seria mais inteligente se você se parecesse com a Ômega que eu... Escolhi. Isso atrapalharia a minha noite? Sim. Mas, ela já está arruinada de qualquer forma.
— Está... sugerindo... Passarmos o resto da... noite juntos?
Ele se aproxima definitivamente.
Seu quadril resvala mais uma vez no meu e eu sinto seu membro duro sob as roupas. Não consigo evitar a lamúria excitada e estoco os dedos dentro de mim, com força e rapidez, sem qualquer esforço para ser discreta. A dor continua, não importa quão forte eu empurre minha mão contra a entrada quente e encharcada. Quase choramingo. A sensação é agonizante e piora quando ele segura meu antebraço e para meus movimentos. Respiro descompassada e ele puxa minha mão para fora do vestido.
Ergue meu pulso molhado e pegajoso no ar. Ele sabe exatamente o que eu fazia, porque eu fazia, como fazia. O líquido escorre transparente por entre os dedos e ele engole em seco. O vermelho em seus olhos é intenso e ele inala o ar perigosamente. Ele aproxima minha mão da própria boca e inspira. Solta seu hálito contra minhas unhas e sorri, voltando os olhos para os meus. Min Yoongi segura meu pescoço com uma das mãos e aproxima os lábios do meu ouvido.
— É. Estou sugerindo passar a noite com você. Isso te ajudaria a me proteger. Mas, o que mais eu posso fazer para te ajudar?
— Muitas... Muitas coisas. — Seu quadril se força contra o meu e ele solta minha mão para levar a sua até a fenda do meu vestido. Esbarra em minhas coxas lambuzadas e toca meu sexo pelo espaço que deixei aberto, com a calcinha afastada. O gemido escapa dos meus lábios enquanto ele explora toda a extensão, desde o clitóris até a entrada pulsante e necessitada. — Por favor...
— O que quer fazer? — Seus dedos roçam em meu clitóris e ele fricciona o polegar na região muito sensibilizada. Contorço-me, hipnotizada, e abro mais o espaço entre as pernas. — Ah... Eu sei o que você quer. É o que toda Ômega no cio deseja. — Ele desliza os dedos agora molhados até minha entrada e a penetra devagar, levando de mim uma lamúria esganiçada, sem voz.
— Termina logo com isso... Me fode, por favor. — Ouço estalos de uma risada soprada e ele enfia os dedos com força dentro de mim. Arqueio as costas. Algo me interrompe. Um chiado em meu ouvido. É Jiu. — Espera... Es...
Ele afasta a mão de mim no mesmo instante e me observa.
— _____! _____! Está aí?! Oi, _____! Cortaram a luz do prédio e um palhaço tentou atacar Jeon Jungkook, mas eu dei um jeito no sujeito. O delegado deu ordem de não nos afastar dos Alfas a partir de agora, está me ouvindo? Não se afaste de Min Yoongi a partir de agora, em hipótese nenhuma. Eu estou em um dos quartos do prédio nesse exato momento. Certo? Me fala se está bem e se seu Alfa também está.
— E-eu... — Respondo. — Nós estamos bem.
— Certo. Fique em um lugar seguro com ele. Preciso desligar agora, vou rastrear a área.
Perco a conexão com ela e fito o Alfa à minha frente. Min Yoongi me estuda com um olhar sedento e predador.
— Você está no cio, não é? — Ele pergunta. Só consigo assentir, trêmula e cobiçosa. — Posso te levar a um lugar seguro, onde vou acabar com esse seu problema e ainda posso te mostrar que nunca fodeu como realmente deveria. — Pisco algumas vezes, sem ar. Se ele quiser transar comigo na lua, agora, eu topo. — Vamos ao meu quarto. É o mais afastado de todo o palácio, a única porta só se abre com a digital cadastrada e... É à prova de cheiro e som. Lá você poderá gritar à vontade.
— G-gritar? — Tusso e sinto meu corpo se afoguear em uma onda forte. — O que você vai fazer?
— Você gosta de uns brinquedinhos? — Ele pergunta com um sorriso divertido e minha boca saliva.
— Me leve até lá e nós podemos descobrir.
***
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