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Last Kiss - Ela foi para o céu.


Escrita por: NikkySeven

Capítulo 1 - Ela foi para o céu.


Era a primeira vez que Peter estava naquele lugar e à via daquela forma. O cemitério era silencioso. Vazio. Um tipo de vazio que ele sentia no fundo da alma, um silêncio que só era rompido quando se lembrava do pedido de um abraço final. Estranhamente, também lhe causava conforto, talvez fosse culpa do silêncio ininterrupto soando aos ouvidos. Respirou fundo trazendo todo o ar frio para dentro de seus pulmões enquanto tentava aceitar o que seus olhos o mostravam. Seu coração estava em tantos pedaços que tinha total certeza que jamais conseguiria restaura-lo. Não sem ela ali, ao seu lado, contando histórias antigas sobre uma cola com pó de ouro em fissuras tornando-as lindas e únicas. Existia uma falta e era a falta dela.

— Sabe, foi difícil encontrar as flores que você tanto gosta e que carregam o seu nome, mas eu consegui. Felizmente ainda tinha alguns arranjos na estufa daquele restaurante que fomos da última vez... última vez. – Vagou na própria mente em flashes daquela noite enquanto sozinho conversava – A moça que cuidava das flores até me perguntou se eu estava bem... tenho a nítida impressão de que foi a única a realmente se importar com a resposta, pra ela não pude mentir da mesma forma que pra ti não posso. Então não, Dahlia, eu não estou nada bem.

Aquelas foram as primeiras palavras de Peter para a mulher que ele tanto amava. O rapaz que estava com um dos braços engessado e um curativo na testa, segurava com a outra mão um enorme buquê de flores dália em homenagem a quem tinha perdido. Os hematomas, os ferimentos, nada lhe causava tanta dor quanto a perda diante de seus olhos.

— Me perdoa... Eu devia ter te protegido e cuidado de você... – De cabeça baixa mal conseguia olhar naquela direção, a culpa o corroía o tempo inteiro — A culpa é minha e toda minha, amor...

De pé, seus sapatos afundavam na neve que ali acumulou devido à noite anterior, seu rosto aquecia com as lágrimas que já não evitava soltar; um misto de dor e culpa, um buraco no peito e mais um tanto de emoções que não poderia ter como nomear.

Duas semanas haviam passado desde o acidente onde perdeu tudo, onde perdeu a pessoa que, agora, não passava de um nome lapidado em uma pedra no chão contando em poucas linhas uma vida inteira que se foi. Duas semanas, mas para ele parecia ter sido no dia anterior.

"Aqui jaz Dahlia Evans. Futura médica. Amada filha. Amada amiga."

"Por que?", indagou a Deus, porém, a resposta não veio, e ainda que viesse, no fundo sabia que não seria o suficiente.

Para entender o final é necessário que se saiba como tudo começou. Essa história poderia facilmente começar com um "era uma vez", e se não fossem os eventos seguintes, poderia ter terminado com um "e foram felizes para sempre"; esta, no entanto, se tornou uma exceção, que diz que nem todo "era uma vez" termina como nos contos aos quais somos acostumados.

A vida lhes parecia um filme pelo simples fato de não ter existido uma terceira pessoa tentando atrapalhar tudo, ou, uma família não aceitando o amor entre Peter e Dahlia; ao contrário, tudo estava indo tão bem e por tanto tempo que se tornou o final que ninguém esperava, e o que deveria terminar em um futuro brilhante e uma grande família, terminou em um par de pés envolto de neve sobre um túmulo num cemitério deserto.

Peter era o primeiro amor de Dahlia. Dahlia era o primeiro amor de Peter.

E se não fosse aquele bendito carro parado na estrada sem nenhuma sinalização, eles estariam agora terminando os estudos para entrar na universidade e reclamando de quase não terem mais tempo juntos; agora, sem qualquer opção, eles já não têm mais tempo juntos.

Ao perceber isso, Peter apenas deixou que o buquê caísse de sua mão e espalhasse próximo aos seus pés. Seus olhos fecharam com força e por fim cedeu para que seu corpo caísse sobre os próprios joelhos, ali se viu rendido a dor pela primeira vez desde a perda. Não a tinha mais. Dentro de si a inexplicável certeza que também não teria qualquer outra redenção que ele pudesse buscar além da dor. Dahlia era seu começo, e mesmo tendo ele ficado, acabava que ela também era seu final. Ergueu o rosto olhando para o céu, a buscando, mas o que encontrou e sentiu foi a primeira gotícula de neve do dia cair sobre sua bochecha; seria um sinal divino? Seria uma forma de sentir que havia mais do que seu ceticismo? Ele precisou acreditar que sim.

Ela foi para o céu? E então a imagem do sorriso dela ocupou toda a sua mente como um flash, e no delírio de tal lembrança sentiu o perfume dela a sua volta como se estivesse ao seu lado descansando a cabeça sobre seu ombro; em seus ouvidos zumbiam o som de uma silenciosa risada e em sua pele, o frio parecia ter o formato dos dedos dela o acarinhando.

Sim, ela com certeza estava no céu.


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