Depois de arrumar o apartamento junto com Jin, fui direto para a casa dos pais de Jimin. E toda vez que entrava naquele lugar eu sentia um calafrio. Todo mundo naquela casa me olhava estranho e eu vivia me perguntado o motivo de continuar indo ali. Mas bastou Jimin abrir a porta para me receber que eu me lembrei do motivo.
— Hey! — Jimin se afastou um pouco para que eu entrasse. E eu estranhei o silêncio dentro daquela casa.
— Cade todo mundo? — Perguntei, e Jimin me sorriu estranho.
— Saíram.
— Saíram?
— Evento do trabalho do meu pai. Eles só voltam amanhã.
— Oh…
— Eu preparei o nosso almoço!
— Sério? Isso é um milagre. — Brinquei, recebendo um soco fraco de Jimin em meu peito. — Ei!
— Eu sei fazer comida e você sabe disso.
— Só estava te zoando, não precisa me agredir. — Ri um pouco, seguindo Jimin para a cozinha onde a mesa já estava arrumada. E apesar de estar tudo tão bem-arrumado, como poucas vezes ele costumava fazer, tudo continha detalhes em preto.
— Fiz um prato italiano maravilhoso. — Ele abriu o forno, pegando uma forma grande. — Lasanha! — falou vitorioso mostrando o seu grande e bem-feito prato.
— Massa?
— É. Eu disse que ficaria bom em massas.
— Disse? Bom, meus parabéns!
— Então sente-se logo e venha experimentar. — Jimin colocou um pedaço grande em meu prato e parecia bastante animado esperando minha avaliação. Eu não era muito fã de massas, mas por Jimin, comeria até o último pedaço daquela lasanha.
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Terminamos de comer e eu tive que insistir em lavar a louça depois do almoço. Jimin ria enquanto dizia que achava estranho eu sempre querer fazer essa tarefa desde que fui para sua casa. E bom, era o mínimo que eu podia fazer por ele e sua família terem me acolhido por uns dias depois do acidente. E eu também já estava acostumado a lavar as louças em meu apartamento, pois Jungkook sempre foi muito preguiçoso quanto as tarefas de casa.
— E então, Yoongi… Sobre a faculdade…
— O que tem?
— Quando você pretende voltar?
— Ah… Eu queria ter voltado antes, mas…
— Eu conversei lá com os professores e com a coordenação… Você perdeu muita coisa, mas talvez…
— Eu acho que vou deixar quieto por esse ano.
— Vai?
— Perdi três meses, as férias vão chegar… metade de um semestre foi pelo ralo, vou ter que recuperar tudo agora…
— Ei. Então veja isso pra depois das férias. Refaça o que perdeu e… Bom, a sua formatura vai ser adiada um pouco, mas não é o fim do mundo.
— É.
— E a gente podia viajar nessas férias né? Só nós dois.
— Viajar pra onde?
— Sei lá… Pra algum lugar onde a gente pudesse relaxar. Esvaziar um pouco a cabeça.
— Jeju? — Era o único lugar bom e barato que eu podia citar. Era longe da capital, tinha uma praia maravilhosa… Eu poderia relaxar ali.
— Ah… tava pensando em outro lugar. Mais longe…
— Longe onde?
— No Japão…
— Eu não tenho condições de ir pro Japão assim. Também estou há três meses sem ir pro trabalho e como eu só posso ficar na empresa por conta da faculdade… só depois das férias é que, talvez, eu volte pra lá.
— E eles vão te dispensar assim? Você sofreu um acidente grave!
— É estágio, né?
— Mas eles já não te contrataram?
— Quê? Não. Eles ainda estavam vendo sobre isso.
— É? Achei que você tivesse dito que eles te contrataram já.
— Não. Eu não. — Olhei para o prato que lavava e quase o derrubo na pia. Jimin lembrar daquele detalhe me fazia lembrar de Jungkook. A gente trabalhava na mesma empresa de telecomunicações. E como o Jungkook era um garoto incrível, eles o contrataram no início do ano. Já eu, bom… eu tive alguns problemas na empresa um tempo atrás e até achei que seria demitido, mas consegui me reerguer e continuei lá. E por culpa do meu desempenho, ouvia muita conversa sobre também ser contratado. Mas devo ter falado isso uma ou duas vezes com Jimin, ele não sabia direito como andava as coisas comigo.
— Ei! Cuidado. — Jimin riu quando se aproximou de mim. Ele estava secando as louças que eu lavava. — Se você quebrar alguma coisa a minha mãe vai se transformar no diabo e te matar.
— Pode deixar, eu não sou desastrado.
— Você é desastrado sim.
— Ei! Desde quando?
— Desde…. Sempre?
Acabei jogando um pouco de água na direção de Jimin, querendo acabar com suas piadinhas.
— Aish! Não jogue água em mim. — Jimin jogou o pano de prato em mim, e eu reviei jogando mais água, e aí ele correu pro meu lado abrindo mais a torneira para me molhar também e não demorou muito até cada um estar com um copo cheio na mão para molhar o outro. Ali dentro daquela casa só se ouvia as nossas risadas. Jimin veio na minha direção com aquele copo cheio e eu consegui segurar seu pulso acima de sua cabeça, fazendo assim a água cair toda sobre ele mesmo.
Jimin ainda me bateu fraco, mas não aguentou e começou a rir. A gente tinha molhado a cozinha toda.
— Ah seu idiota, olha o que fez!
— Não fiz sozinho. — Brinquei e Jimin acabou vindo me abraçar. Eu tentei me esquivar, afinal ele tava todo molhado, mas não consegui.
— Você não vai ficar sequinho.
— Ahhh!!! — Senti o friozinho quando sua blusa molhada tocou em mim. Mas acabei não resistindo em apertá-lo contra mim. Jimin também não sairia dos meus braços agora.
Ficamos assim por um tempo, apenas rindo até que Jimin se afastasse um pouco para me encarar. Nós não nos soltamos. Estávamos com os braços em volta da cintura um do outro, e Jimin me olhava com aquele rosto angelical dono do sorriso mais bonito que eu já pude conhecer.
— Yoongi…
— Sim?
— Os seus olhos… — ele falava, analisando-os.
— O que tem?
— Estão diferentes…
— Hã? Como assim?
— Diferentes… — ele falava divertido. — Não sei explicar.
— Hm… — Desconversei, desviando o olhar.
— Você está diferente hoje também, mas estou gostando. — Ele me abraçou mais forte. — Gosto quando você fica comigo. Quando a gente se diverte juntos. Estava sentindo tanta falta disso… — Sua voz antes alegre ia se tornando cada vez mais triste, e eu o apertei mais.
— Também estava sentindo falta disso.
Ele separou o abraço e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos, o que fez meu coração acelerar um pouco.
— Ainda sobraram aqueles vinhos… A gente podia tomar um pouco enquanto assistimos algum filme.
— Tomar vinho vendo filme?
— Sim! — Jimin sorriu bobamente abrindo a geladeira com a outra mão. — Aqui, acredita que eu ainda não tomei esses vinhos. — Mostrou três garrafas que estavam na parte debaixo da porta.
— Nossa, eu pensei que assim que tivesse saído daqui aquele dia você teria tomado tudo.
— Não! Fiquei esperando você pra gente terminar. — Jimin soltou minha mão para pegar uma das garrafas. — Você comprou a minha marca favorita, mas você teve que ir embora mais cedo…
— Foi…
Não consegui lembrar o porquê de sair da casa de Jimin naquele dia, o dia que estávamos comemorando… um aniversário? De quem? Dele? Eu estava na casa dele, havia comprado aqueles vinhos só pra a gente. E depois… me ligaram do trabalho? Sim, foi o que tinha acontecido. Um erro no sistema. Eu estava de plantão aquele dia, a empresa ia me ligar se tivesse precisando de algo. E foi o que aconteceu. Eu não tinha levado o meu computador pra casa do Jimin e por isso tive que sair mais cedo pra voltar pra casa. Isso foi no ano passado, não foi? Acho que foi…
— Ei Yoongi, vem cá. — Jimin me chamava na porta da cozinha, com uma garrafa já aberta e com duas taças na mão.
— Ah sim! Só não vá ficar bêbado!
— Posso ficar um pouco né? — Ele olhou a garrafa por um tempo.
— Seus pais voltam amanhã… você que sabe.
— Faz tempo que não bebo.
— Hm… — Eu sabia quanto era esse “tempo”.
— Ah! — Jimin pareceu ter se lembrado de algo. — Não! — Ele voltou para a geladeira e deixou a garrafa lá dentro. — Eu não posso beber.
— Hm? Por quê?
Jimin me encarou estranho. O que tinha dado nele?
— Jimin?
— Me desculpa.
— Por que está se desculpando.
— Eu não vou beber de novo. Eu… Eu disse que não ia mais beber e… Me desculpa.
— Ei! Tudo bem…
— Não, eu não posso. Eu me esqueci que eu não posso, eu só… Eu não sei o que deu em mim.
— Jimin… — Abri a geladeira novamente e peguei aquela garrafa. — Vamos beber.
— O quê?
— Vamos beber.
— Mas Yoongi…
— Parar de beber agora não vai fazer o tempo voltar. — Minha frase soou um tanto séria, mas eu acabei sorrindo para Jimin que havia se encolhido um pouco. — Beber também ajuda a aliviar…
— Yoon…
Abri a garrafa e enchi nossas taças, entregando uma para Jimin. Eu não queria que Jimin ficasse se sentindo culpado pelo que tinha acontecido. Ele não tinha que se restringir de nada. E muito menos me pedir desculpas.
Jimin me encarou por um tempo até aceitar a taça.
— Ele ia querer isso. — Falei com um sorriso. E eu sei que Jungkook ia querer ver o Jimin feliz não importasse como. Nem o meu irmão e nem eu iríamos concordar com Jimin se privando daquilo que gosta por se sentir culpado por algo que ele não teve culpa. Foi um acidente. Um acidente provocado por uma noite complicada, mas… não foi algo que deva pesar apenas nos ombros de Jimin. — Vamos beber e ver um filme e nos divertir.
— Tá. — Jimin sorriu um tanto sem graça, e fomos para seu quarto assistir alguma bobeira de comédia.
Assistimos aquele filme, mas mais conversávamos do que prestávamos atenção no que passava. Bebíamos o vinho de forma calma, mas logo a primeira garrafa terminou e veio a segunda. Jimin ria sozinho, contando coisas da faculdade que há um tempo eu não via. Me mostrava fotos e vídeos no celular e enquanto ele parecia distraído vendo alguma coisa no celular, acabei parando para admirar seu sorriso. Jimin estava com as bochechas coradas, e não que elas já não fossem vermelhinhas naturalmente, mas depois de beber muito, a cor delas realçava mais, e ele ficava tão fofo.
E como eu senti falta daqueles sorrisos mais sinceros e despreocupados. Jimin ficou tenso demais nos últimos meses, e mesmo que ele sempre tentasse parecer bem, só hoje foi que eu senti que seu sorriso estava leve.
— Oh! Ele não é lindo? — Jimin perguntou, mostrando algo no celular, mas não foi pra tela que eu olhei.
— Seu sorriso é lindo…
— Hã?
— Oi?
— O meu sorriso é lindo?
Eu falei aquilo alto?
— Ah… Sim.
Jimin acabou abrindo mais o sorriso, fazendo seus olhinhos desaparecerem, e meu Deus como alguém podia ser tão adorável?
— Você está bêbado Yoon-Yoon?
— Eu? Bêbado? Não.
— Está elogiando o meu sorriso, Yoon-Yoon.
— E você está me chamando de Yoon-Yoon.
— Eu gosto de te chamar de Yoon-Yoon.
— Você só me chamava assim quando a gente era mais novo.
— Teve outros momentos também, Yoon-Yoon.
— Okay, então vou te chamar de Chim-Chim agora. — Entrei na brincadeira, mas ao contrário do que imaginei, Jimin fechou o sorriso ao ouvir aquele apelido.
— Não…
— Por que não, Chim-Chim? — Fazia muito tempo mesmo que eu não o chamava assim. Desde que saímos do ginásio. Mas Jimin sempre pareceu gostar do apelido naquela época. Não entendi sua mudança de expressão agora. — O que foi, Chim-Chim?
— Para de me chamar assim.
— Hã?
Jimin acabou virando o resto do vinho que estava em sua taça. E voltou a encarar o celular em alguma rede social.
Não estava entendendo.
— Ei! — Me aproximei um pouco, tentando olhar em seus olhos. — Desculpa, não te chamo mais desse jeito.
— Hm…
— Jimin? Não fica chateado…
— Hm… — Ele fez um biquinho, e por Deus, como aquilo ficava fofo nele.
— Jimin? Jimin-ssi? — E agora ele acabou sorrindo de novo, e eu não me segurei. — Jimin-ssi você gosta né?
— Não. — Ele tentou parecer sério, mas não estava conseguindo segurar o sorriso.
— Jimin-ssiiiiiii. — Falei, já atacando sua barriga em cócegas. E agora não teve pra onde ele correr.
Jimin gritava para que eu o largasse, mas não iria obedecê-lo. Fazia cada vez mais cócegas e cada vez mais ele se contorcia na cama, tentando escapar de minhas mãos rápidas. Jimin tentava argumentar dizendo que ia acabar vomitando se eu não parasse, afinal ele havia bebido muito vinho, só que eu não me importei. Usei mais de minha força e o prendi ali enquanto aproveitava de sua risada.
E quanto mais Jimin ria, mais animado meu coração ficava. Ele conseguiu segurar meus braços em algum momento e eu acabei o abraçando, e agora um não soltava o outro. Ríamos bobamente, e então nos encaramos. Jimin estava radiante como há muito tempo eu não via. E enquanto controlávamos nossas respirações, eu o vi ir fechando os olhinhos de um jeito bem cansado. Seu rosto estava mais vermelho e do jeito que ia, Jimin dormiria logo.
— Ei… — Chamei baixo e tentei levantar, mas Jimin não me soltou. — Eu não vou mais fazer cócegas.
— Mentira… — Ele disse ainda de olhos fechados.
— Sério. Eu cansei também.
— Então fica aí.
Eu neguei com a cabeça. Estávamos cansados mesmo. Eu principalmente depois da noite que tive. E por isso, apenas deixei que minha cabeça descansasse na curva do pescoço dele que parecia confortável abaixo de mim.
Em pouco tempo Jimin me soltou e eu senti suas mãos em meus cabelos em um carinho bem gostoso. E a medida que seus dedos apertavam minha nuca, eu sentia seu rosto pressionando o meu. Acabei levantando a cabeça de novo e agora Jimin me encarava. Mas o contato visual não demorou muito tempo.
Jimin fechou os olhos de novo e agora… Eu acabei olhando pros seus lábios. Eu podia sentir o cheiro do vinho que vinha de sua boca e ah… aqueles lábios…
Eles estavam vermelhos, molhados e entreabertos… tão convidativos. E o jeito como Jimin estava agora era como se estivesse me dando permissão para beijá-lo. Minha mente trabalhou na ideia por um segundo até achar que aquilo era a coisa mais impossível do mundo.
Jimin nunca me daria tal permissão. Jimin nunca me olharia de outra forma.
Ainda mais agora.
Tentei me afastar um pouco, mas Jimin me puxou, fazendo nossos tórax se encostarem. Ele mantinha os olhos fechados e uma adrenalina estranha tomava conta de mim.
— Jimin… — Chamei baixinho, mas Jimin não me respondeu. Sentia seus braços em volta do meu corpo e uma parte de mim queria se deixar levar e experimentar aqueles lábios tão… lindos. Mas uma voz dentro de mim continuava a pedir para que eu parasse. Eu não podia fazer aquilo, não podia me aproveitar daquela situação. Da fraqueza de Jimin.
Não, não, não. Eu estava viajando. Por mais bêbado que Jimin pudesse estar, nunca que ele tentaria algo assim comigo. Éramos amigos. Apenas amigos. Eu não podia cogitar uma ideia maluca como aquela. Jimin só estava manhoso e carente, e isso não significava que ele queria mais do que um abraço e um aconchego de um amigo que, além de tudo, era irmão de seu ex-namorado que havia morrido em um acidente horrível.
Me afastei um pouco quando não senti mais a pressão de seus braços em mim e estranhei Jimin continuar de olhos fechados. Ele estava dormindo?
— Jimin? — Chamei de novo, mas agora eu tinha certeza de que ele estava mesmo dormindo.
Levantei devagar, terminado de soltar seus braços do meu pescoço e fui desligar a TV que ainda passava alguma coisa. Meu coração estava disparado agora. Eu só podia mesmo ter ficado maluco… Onde já se viu?
Neguei com a cabeça e peguei o controle da TV. Se eu tivesse dado ouvidos aos meus impulsos doidos eu teria cometido o pior erro da minha vida. Jimin me odiaria…
Desliguei a TV e assim que vi meu reflexo na tela, novamente senti aquele frio na espinha.
Quem segurava o controle naquele reflexo não era eu. Era… Ele…
— AAAHHH! — Gritei tropeçando na cama atrás de mim, já caindo nela.
— O QUE FOI? — Jimin acordou na hora, quase pulando da cama pelo susto que levou. — Yoongi? O que foi?
Eu não consegui responder. Minhas mãos estavam tremendo e meu coração parecia que ia pular pela garganta.
— Yoongi? — Senti um toque em meu ombro e me afastei na mesma hora, gritando de novo. — Ei!
— AH! — Olhei para Jimin e então para a TV que agora não tinha nada além do meu reflexo e o de Jimin. Meu Deus…
— Yoon?
— Jimin?
— O que foi? Parece que você viu uma assombração…
— Eu? Ah… — Coloquei a mão no peito e tentei normalizar meus pulmões e coração. Apertei os olhos com força por alguns segundos. Minha cabeça já estava doendo.
— Yoongi! — Jimin chamou alto, tocando novamente em meus ombros.
— Ji-Jimin… Eu não sei… E-eu… — Tentei falar mais controlado, mas nem processava direito o que saía da minha boca. — Eu vi…
— Viu o quê? — Ele perguntou preocupado e eu só conseguia olhar para a TV onde não tinha mais nada de estranho. — Yoongi, você está me assustando…
— Eu não sei, mas acho que… foi a bebida.
— Hã?
— Acho que bebi demais. Devo está vendo coisas. — Sorri falso. Não queria assustá-lo mais do que já havia feito. E não queria falar sobre Jungkook agora. — Me assustei com algo que passou na TV.
— Oh… Nossa… Você quase me mata do coração agora. — Disse, colocando uma das mão no peito. — Até acabou com o meu sono.
— Me desculpe…
Jimin levantou e foi cambaleando para o banheiro. O segui com os olhos até a porta do cômodo ser fechada, e então voltei a olhar aquele aparelho em minha frente. Apenas meu reflexo estava ali. Por que isso estava acontecendo?
Por que estou vendo você, Jungkook?
-----§§§-----
Já eram quase cinco da tarde do dia seguinte e Jimin fazia o possível para que eu continuasse ali mesmo sabendo que seus pais logo voltariam pra casa. E por mais que eles tivessem me deixado ficar por uns dias, eu já começava a me incomodar pela forma como eles me olhavam. Seokjin já havia me enviando mensagem falando sobre me ajudar com as coisas em meu apartamento e eu queria voltar logo para agilizar tudo isso.
Mas eu também não queria deixar Jimin. Ele estava cada vez mais próximo, me abraçando direto, tocando em minhas mãos e em meus cabelos… Jimin sempre foi de conversar tocando nas pessoas, e eu gostava disso, mas ultimamente ele estava ainda mais “próximo”. Eu sabia que ele estava bem mais carente depois do acidente e até digo que gostava de receber toda aquela atenção a mais. Mesmo que sentisse um peso enorme nas costas por isso. Ainda mais depois de ontem.
— Bom Jimin… Obrigado por ontem e hoje, mas eu vou precisar ir. Daqui a pouco os seus pais retornam e acho que é melhor não estar aqui quando eles chegarem.
— Ah, mas eles não deixaram que você ficasse?
— Mas eu já estou melhor. E eu vejo que eles veem isso e querem que eu volte pra minha casa.
— Mas eles te disseram algo?
— Não, mas eu não sou cego.
— Ah… É o meu pai, não é? Eu acho que ele está te aceitando melhor…
Sorri para Jimin. A mãe de Jimin até que era bem legal comigo, afinal ela era amiga da minha mãe também, mas o pai de Jimin… Mesmo tendo visto a gente crescer, o cara passou a olhar estranho pra gente depois que Jimin e Jungkook começaram a ficar mais “juntinhos”. E claro que isso também se refletiu pra mim.
— Pode ser, mas acho melhor não abusar muito.
— Ah não… Fica mais. — Jimin segurou minha mão com força. — Você pode terminar de arrumar o apartamento amanhã.
— Aí amanhã você fala pra eu deixar pro outro dia também.
— Talvez. — Jimin sorriu sapeca e eu tive que girar os olhos. Jimin era uma figura mesmo.
— Não, mocinho. Eu preciso voltar, de verdade. O Jin vai pra lá mais tarde.
— Ah não…
— Jimin…
— Tá bom. Mas me promete que vai viajar comigo nas férias.
— Se não for pro Japão… eu prometo sim.
— Vai ser pro Japão.
— Jimin…
— Eu já falei que dou um jeito. Não se preocupa com gastos por agora.
Acabei respirando fundo. Eu não ia discutir mais uma vez sobre aquela viagem. Eu não queria que Jimin pagasse tudo pra mim, ou melhor, o seu pai. Tentei deixar de lado o assunto, dizendo que ia pensar melhor, e só assim foi que Jimin me deixou voltar pra casa.
Assim que cheguei, não demorou para que Jin viesse pro apartamento. Conversamos um pouco e tentamos acertar como seria sua mudança pra lá. Jin estava animado com a ideia, e eu preocupado de alguma forma. Haviam se passado apenas três meses desde que Jungkook se foi e só de pensar em outra pessoa ocupando seu quarto me dava uma sensação ruim. Mas eu tinha que superar sua perda logo.
— Bom… Eu vou tomar um banho e aí a gente sai pra comer alguma coisa. — Disse Jin já levantando do sofá.
— Pode usar o banheiro daqui. Não precisa ir até sua casa.
— Oh! Já posso usar o seu banheiro?
— Seu também. Você vai morar aqui agora, né…
— Pois é, né? Então okay.
— E se você não se importar… pode usar algumas roupas do meu irmão. Acho que tem umas que cabem em você.
— Será que tudo bem usar?
— Sim. Tem muita coisa nova…
— Certo. Então vou indo.
Depois que Jin entrou no banheiro, fui até o antigo quarto de Jungkook e mexi em algumas das caixas onde estavam suas roupas. Doaria uma boa parte delas. Sentei naquela cama enquanto olhava para as peças que caberiam bem em Jin, e aos poucos, lembranças das vezes que vi Jungkook usando cada uma daquelas roupas vinham em minhas lembranças.
Muitas delas, o Jimin estava sempre presente. Como uma vez onde ficamos em casa estudando juntos.
Tudo ia bem até Jimin dizer que dormiria ali por aquela noite, e no meio da noite… acabei ouvindo os dois.
Acabei deitando naquela cama… A cama onde Jimin já passou boas horas… Fechei meus olhos e podia ouvir o barulho do chuveiro enquanto o cansaço dos dias voltava a me atingir. E por mais que tivesse dormido muito bem na casa de Jimin, o peso sobre meu corpo não tinha ido embora.
Inspira e expira. Inspira e expira. Ia tentando manter o foco na respiração para que não acabasse dormindo ali. O som do chuveiro ia ficando distante, e cada vez mais distante. A sensação de relaxamento ia chegando. Eu ia mesmo dormir ali?
Acorda Yoongi. Temos que ir comer com o Jin.
Acorda…
Tentei abrir os olhos, mas não consegui. Meu corpo estava dormente de novo?
Inspira. Expira. Inspira. Expira. E cada vez que tentava inspirar, menos ar entrava em minhas narinas.
Não… isso não ia acontecer de novo, ia?
Minhas mãos começaram a suar, e antes que eu pudesse me desesperar mais, senti meu corpo ser rasgado por dentro. Quis gritar, mas apenas as veias do meu pescoço pulsaram e nenhum grito saiu.
Meus pulmões cada vez trabalhavam mais rápidos, mas inutilmente conseguia respirar. Abri a boca tentando puxar mais ar e parecia que o meu coração ia pular pra fora do peito. Dessa vez, por mais que eu quisesse me mover, todas as minhas forças pareciam ter ido embora. Não era como se tivesse um peso em cima de mim, era só que meu corpo não tinha força alguma.
Ouvi o barulho do chuveiro parar e, pelo menos, o Jin me ajudaria agora.
Fiquei não sei quanto tempo naquele estado. Apenas ouvia tudo ao meu redor. A porta do banheiro foi aberta e passos vieram na direção do quarto onde estava.
— São essas roupas aqui? — Jin perguntou, e lógico que eu não consegui responder nada. — Essas roupas parecem mais suas do que do seu irmão. — Jin riu. — Olha o tamanho delas. Mas beleza, vão servir.
Jin… me ajude! Ele não tinha percebido que eu estava capotado em cima da cama?
— Ei! — Senti como se ele tivesse batido na cama. — Tudo bem? — Ele me viu agora. — Está cansado? — Sua voz começou a ficar distante. Eu ia apagar? Tentei abrir a boca, mas foi inútil. — Vamos! Levanta daí. — Assim que ele falou isso, meu corpo ficou ainda mais leve.
Jin! Eu não consigo me mover! Não está vendo isso?
— Você tá com uma cara péssima, viu? — Os passos continuavam pra lá e pra cá. Sua voz se distanciando cada vez mais. — Se arruma logo.
Talvez eu pudesse me arrumar se conseguisse sair daquela cama. Será que ele não percebia isso? Por Deus! Tentei arrumar forças ao menos para abrir os olhos. E depois de muita luta, consegui enxergar a porta aberta do quarto. Vi Jin passando rapidamente, e depois… um vulto preto o seguiu.
O vulto… era… ele?
Senti o mesmo medo da última vez, e então apaguei.
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