História Lay Me Down (Ziam Mayne) - Thought

Zayn acordou na terça-feira com o som do despertador de Liam. Os dois estavam de bruços na cama, seus rostos coincidentemente de frente para o outro. Payne tinha os lábios espremidos num bico amassado pelo travesseiro, a respiração tranquila e os cílios lhe tocando as maçãs. Parecia que estava tendo um sonho bom, já que ainda não tinha despertado com o som insistente.

Malik foi quem desativou o aparelho e preferiu deixar o namorado cochilar um pouco enquanto ia ao banheiro, mas assim que fez menção de levantar o acastanhado abriu os olhos, confuso.

"Que horas são?" Perguntou aflito, um dos olhos fechados por preguiça de abrir os dois.

"Acabei de desligar seu despertador, amor." O tranquilizou, tossindo na sequência para clarear a garganta.

"Hum." Voltou a pressionar o rosto contra o travesseiro.

Zayn seguiu para o banheiro esfregando o rosto com as mãos, frustrado com o seu estado. Sua cabeça doía em pontos diferentes, e além de estar sensível, seu nariz estava tampado. Antes de mais nada ele precisava assoá-lo.

"Dormiu bem?" Liam entrou no banheiro, passando direto para o chuveiro.

"Dormi, amor." Assoou o nariz preguiçosamente. "E você?"

"Também. Sonhei que você tava aparecendo na televisão como jornalista."

"Verdade?" Fechou a porta do banheiro para que Liam não passasse frio.

"Uhum, eu não lembro de tudo, mas lembro que eu tava assistindo jornal e você apareceu."

"Imagina?" Riu fracamente. "Não vejo a hora de começar a trabalhar na minha área."

"Eu nunca te perguntei. Você já trabalhou?"

"Já, eu sempre trabalhei, na verdade. Só parei quando voltei a morar em Bradford depois de toda a merda porque minha mãe achava que eu não estava em condições."

"Desculpa, amor, mas faz quanto tempo que seu pai faleceu?"

"Três anos e seis meses." Respondeu com a boca cheia de pasta.

Liam assentiu quietamente, não querendo ser inconveniente. Eles não conversavam tanto sobre isso como Payne gostaria, então querendo ou não, era um campo minado.

"Vou preparar seu café, cuidado pra não se atrasar." Soprou um beijo para Liam antes de sair do banheiro e seguir para a cozinha.

Zayn adorava andar nu, mas adorava mais ainda ter essa liberdade por todos os cômodos da casa.

"I finally found you" Cantarolou lavando as mãos para começar a cozinhar. "Now my life is sweet like cinnamon, like a fucking dream I'm living in"

Malik colocou a água para esquentar e voltou para o quarto em busca de algum celular. Ele precisava de música, porque sua voz estava ruim demais para ser considerada naquele momento.

Depois de colocar as coisas na mesa e deixar o café passando, o moreno precisou voltar para o banheiro. Liam desafinou no falsete pelo susto que levou quando a porta foi aberta sem aviso prévio, fazendo o namorado rir de seu grito agudo.

"Cacete." Apoiou uma mão no peito, finalmente desligando o chuveiro.

"Perdão." Pegou um maço de papel higiênico para assoar o nariz.

"O cheiro de café já chegou aqui." Se enxugou de qualquer jeito antes de sair do box.

"E ta bom? Eu não to sentindo."

"Ta ótimo." Abraçou Zayn que estava de lado, pressionando um beijo estalado em sua bochecha.

"Achei que não fosse me beijar hoje."

"Nem se eu quisesse." Repetiu o ato, dessa vez mais perto da boca do moreno.

"Bem que você podia não trabalhar hoje." Se virou no abraço, ficando de frente para o namorado.

"Não ta se sentindo bem pra ficar sozinho?"

"Não, não é isso. Eu não queria ficar sem você." Passou o nariz pelo de Liam.

"Eu tinha te dito sobre isso, amor. Mas você insistiu tanto em vir."

"Qual seria a diferença? Você também não estaria em Bradford." Rolou os olhos.

"Meu bebê ta tão manhoso." Alisou as costas de Zayn. "E pelado." Beliscou sua bunda.

"Eu to de meia." Desfez o abraço lentamente, deixando que o namorado fosse se trocar.

"O que acha de eu passar aqui para irmos almoçar juntos?" Saiu do banheiro.

"Eu vou até lá encontrar com você para não perdermos tempo, acho que é melhor." Se apoiou no batente da porta para observar o namorado.

"Ah, então se troca pra ir me levar e você já fica com o carro."

"Okay." Concordou sorridente.

-

Liam tinha o pescoço sendo beijado repetidas vezes por Zayn, que o abraçava por trás no hall do prédio. Eles estavam esperando o elevador.

"Promete me ligar se acontecer alguma coisa?" Payne cortou o silêncio.

"Liam, eu to bem. Não vai acontecer nada." Garantiu, as mãos juntas às de Liam no bolso de seu moletom.

"Mas promete mesmo assim, vai. Você adora meter o louco pra cima de mim."

"Eu prometo, amor." Rolou os olhos levemente, dando um leve sobressalto quando a porta de um dos vizinhos fora aberta.

"Bom dia." Liam cumprimentou.

Era uma mulher branca com os cabelos tingidos num loiro quase branco, que não se importou em responder o cumprimento. Eles não sabiam se era porque ela era mal educada mesmo, ou porque eles eram um casal homossexual. De qualquer forma, preferiam acreditar na primeira opção e ficar de boa.

O elevador chegou quase em seguida, e quem entrou primeiro foi a mulher. Zayn e Liam se entreolharam como se perguntassem que porra estava acontecendo, mas Malik não deixou de abraçar o namorado só porque uma mulher homofóbica estava por perto. Àquela altura ele já sabia que era isso porque a expressão de nojo que ela carregava estava causando repulsa no próprio moreno.

"Que horas você sai pra almoçar?" Malik questionou seu namorado, os olhos fechados por pura preguiça.

"Meio dia em ponto." Apoiou a cabeça na parede de metal. "Pra onde nós vamos?"

"Não sei ainda, vou pesquisar quando voltar. Alguma sugestão?"

"Não, nenhuma."

A mulher desceu no térreo sem abrir a boca para nada, levando toda a energia ruim consigo. A reação de Zayn e Liam fora rir, simplesmente. Em certos momentos era preciso rir para não chorar.

"Será que ela já ouviu a gente?" Malik questionou ao que desceram no subsolo.

"Sinceramente, eu acho que sim. Nosso apartamento é do lado do dela, e a janela do banheiro faz os sons chegarem com mais clareza."

"Nosso apartamento?" Sorriu bobo assistindo Liam mudar de cor.

"Eu falei nosso?" Tossiu falso fazendo o namorado gargalhar ao que destravava as portas do carro com o controle.

"Não precisa ficar com vergonha, eu gostei." Entrou pelo lado do motorista.

"É que eu me sinto em casa quando você ta aqui. Saúde, amor."

"Obrigado." Se recompôs. "Acho que é porque a gente se ama, porque eu também me sinto em casa aqui com você."

"Isso não é estranho? Não faz nem um ano que estamos juntos e eu te amo tanto que nem sei dizer."

Zayn sorriu encantado, se concentrando em sair da vaga.

"Você acredita em vidas passadas?" Malik perguntou, puxando um cigarro de seu maço.

"Não sei, nunca parei pra pensar nisso. Você acredita?" Abriu sua janela.

"Bom, sim." Acendeu o cigarro e jogou o isqueiro no console. Eles estavam esperando o portão do prédio terminar de abrir.

"Me explica?"

"Meu pai dizia que a nossa alma é eterna, e que em cada existência nascemos em um corpo emprestado. Por isso ele nunca gostou das minhas tatuagens." Sorriu sereno.

"Isso é muito brisa."

"Muito! Imagina que louco se a gente lembrasse das outras vidas?"

"Seria como se vivêssemos pra sempre com as mesmas questões, que desesperador."

"Por isso que eu digo, o universo é muito foda. Quando morremos é como se as coisas que fizemos nessa vida fossem apagadas no navegador, mas continuassem no HD. E são elas que formam o nosso carma."

"Isso também foi o seu pai que disse?" Perguntou, orgulhoso.

"Não, isso eu concluí sozinho. Eu juro que quando era mais novo, costumava tirar horas do dia para estudar." Passou a manga de seu moletom sob o nariz.

"Você é inteligente, amor." Apoiou o braço nos bancos de modo que conseguisse mexer nos cabelos do moreno.

"Obrigado." Sorriu sincero. "Acho que se eu não fosse, não teria conseguido ficar com você."

"Não, aí já é ser cara de pau." Riu abertamente. "Isso você é bastante."

"Vai dizer que não gosta?" Sorriu convencido, acabando por ganhar um tapa na cabeça. "Ai! To mentindo?"

"Não." Acarinhou onde havia batido. "Eu te amo de qualquer jeito."

"Ótimo." Fungou. "Tem papel aí?"

"Mudando de assunto, quando você começou a fumar maconha?" Tirou do porta-luvas uma caixa de lenços, entregando dois para o namorado. "Saúde."

"Acho que com uns dezessete anos, não tenho certeza." Assoou o nariz com uma das mãos, usando a outra para segurar o cigarro e guiar o volante. "Foi com o Louis, mas ele já fumava antes. Eu meio que não queria provar porque sabia que ia gostar."

"Você nunca pensou em tipo parar de fumar?"

"Tudo?" Zayn questionou. Liam assentiu. "A única vez que pensei em parar de fumar maconha foi quando percebi que não conseguia mais me concentrar nas aulas."

"Sério? E conseguiu?"

"Consegui, fiquei nessa por cinco meses. Eu tava tranquilo, só que gastava muito mais dinheiro com cigarro do que outra coisa." Riu fracamente.

"Cigarro faz mal pra caralho." Franziu o cenho. "Por que voltou pra maconha?"

"Porque eu não conseguia mais resistir ao cheiro, e bem, Louis fumava direto e ele era minha única companhia. Logo, eu sempre estava por perto." Deu de ombros.

"Ah, amor. Você foi bem resistente, cinco meses é muito tempo."

"Eu não acho não, não gosto de maconheiro." Deu o último trago em seu cigarro antes de descartá-lo.

"Você falando assim me deixa sem saber se rio ou não falo nada."

"Pode rir, eu gosto do som." Soprou a fumaça.

"Eu to surpreso com todo esse diálogo que estamos tendo antes das dez da manhã, de verdade."

"Eu também."

Liam gargalhou.

"Mas voltando ao começo, eu acho que a única explicação para eu te amar tanto hoje, é porque nossas almas já se encontraram e nos amamos em outras vidas."

Dessa vez o acastanhado riu envergonhado e aproveitou o semáforo para deixar um selinho demorado nos lábios do namorado.

"Você é incrível."