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História Learn - O Imprevisto do Previsível


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá!^^

Bom, não vou nem perguntar se sentiram minha falta porque passei as férias att a fic e vocês devem ter enjoado da minha cara kkkkkk. De qualquer maneira, tirei esse tempo sumida pra colocar a cabeça no lugar, primeiro por causa da faculdade, minhas aulas começaram na semana passada e eu já tô ferrada T~T falta um ano e meio para me formar, então os professores tão colocando muito pressão na gente, a OAB tá na minha porta T~T. Segundamente kkkk, o atraso também aconteceu porque eu precisava melhor organizar esse capitulo, aqui eu vou utilizar um pouco do meu conhecimento de jurídico, mas como o processo nos tribunais é diferente em cada paz, ainda que o rito seja o mesmo, precisei tomar um tempo para fazer pesquisas. Lógico que não está igual ao ritual comum, que é muito mais moroso, porém está bem fiel ao jeito americano de julgamento. Agradecimentos especiais ao seriado American Crime Story: The People versus O.J.Simpson, ótima fonte de pesquisa <3

Enfim, depois desse meu tagarelar, espero que gostem do capítulo kkkkk ele é até especial para mim em vista da minha futura profissão XD. Perdão pelos erros não corrigidos e boa leitura <3.

Capítulo 31 - O Imprevisto do Previsível


 

 

A água do chuveiro era quente e caía como a chuva de verão sobre seu corpo, fazendo com que vapor subisse ao seu redor. O temporizador do chuveiro indicava que restavam dois minutos para encerrar o banho, ela não se importou, já havia se ensaboado e lavado os cabelos, sendo assim, aproveitava a água quente, descansando os músculos fatigados e a mente agitada.

Yuri tinha pouco tempo restando para tudo, como se tivesse se limitado aos ponteiros de um relógio, cronometrando até mesmo a respiração. Hoje era o grande dia, as pessoas da prisão diziam a ela. Um dia importante. Seria julgada daqui a quatro horas e pelo que sua advogada dizia, as coisas pareciam ter atiçado a imprensa do mundo inteiro. O circo estava prestes a pegar fogo.

Fazia tempo que um caso tão grande e escandaloso como o seu não estourava na mídia, se tornara uma nova celebridade. Estavam chamando o caso de “O Povo versos Y. Kwon”, portanto enfrentaria um tribunal do júri e, estrategicamente, isso poderia ser complicado por causa dos veículos midiáticos; eles estavam pintando um retrato psicopata e sociopata de Yuri, chamavam-na de terrorista, conheciam sua conexão com a guerrilha e isso apenas alimentava a possibilidade de ser uma terrorista. Ela estava tão exposta que as pessoas assumiam vontades suas, alegando que ela desejava provocar o caos no mundo, como se ele já não estivesse dentro de um. A usavam como um bode expiatório de todos os problemas que havia no planeta.

De qualquer maneira, Yuri tinha tomado a decisão de correr aquele perigo por vontade própria, aceitava o destino fatídico de ser exposta e ser tratada como uma miserável, um verme, uma escória da sociedade. Sendo assim não reclamava, limitando-se ao que precisava fazer.

Para sua infelicidade, no meio dessa confusão, se encontrava não apenas ela. Agora que tinha aliados passava a se preocupar com todos, principalmente as peças centrais nessa peça. Seohyun foi uma adição curiosa ao time de defesa, a doutora dizia que toda essa comoção midiática seria de ajuda no julgamento, ainda que parecesse o completo oposto. Usava do discurso positivista de que, se ela era uma sociopata, então por que prendê-la se podem tratá-la numa instituição psiquiátrica prisional em Nova Jersey? O pensamento a fazia rir sempre, não tinha como levar a sério os idealismos de Seohyun, mas também não podia esconder a dúvida que crescia no coração. Tinha se conformado tanto que iria perder aquela luta no tribunal, que era difícil aceitar o mínimo de positividade.

Não se importava com a sua liberdade, apenas queria acabar com Taecyeon. Aquela era a sua missão pessoal, se dispôs a isso, por isso que esperava.

Seria um dia bastante longo, pensou ao jogar o cabelo molhado que caía em sua fronte, sabia como funcionava o sistema judiciário e o quão procedimental é. No entanto estava pronta para o que pudesse vir ou estava se preparando para isso, pelo menos é o que gostava de acreditar.

A água parou de correr pelo seu corpo, tirando-a das reflexões, obrigando a abrir os olhos depois de muito tempo, o temporizador tinha cortado a água. Suspirou entristecida pelo fim do banho, tinha sido agradável ficar daquela maneira, os dedos das mãos e dos pés estavam até engelhados. Pegou sua toalha pendurada na divisória dos chuveiros, enrolou-se e pegou seus pertences de banho, saindo da ala dos chuveiros. Entrou na área seca para se trocar e encontrou a bolsa que a guarda lhe entregou antes de ir tomar banho. Tiffany tinha vindo mais cedo entregar-lhe roupas normais, não poderia sair com o uniforme da prisão.

Ao abrir a bolsa e pegar a blusa, sorriu ao perceber que Tiffany havia escolhido aquela peça de propósito. Dentre tantas blusas pretas em sua mala, a única verde foi escolhida. Enxugou-se com cuidado para não magoar alguns hematomas que ainda tinha nos ombros e nas costas, havia as ganhado após a luta contra Donghae, vestindo as roupas. Secou o cabelo e depois o penteou em frente ao espelho, pegou uma bolsa com sua maquiagem, mas achou melhor não apagar os hematomas, Yoona poderia usá-las no tribunal, apenas escondeu as olheiras que pareciam companheiras fiéis desde que foi presa.

Guardou as coisas na bolsa e antes de ser levada para fora do prédio, entregou seus pertences de banho à guarda que prometeu guardá-los caso voltasse. Yuri sorriu agradecida pela “gentileza” e se deixou ser guiada por um agente do FBI, que estava acompanhado por Tiffany, para o estacionamento atrás do bloco principal.

O vento estava ficando frio e cada vez mais forte, indicando a mudança de estação, surpreendendo-a com a rápida mudança. Tinha parado de prestar atenção na mudança das estações.

O estacionamento era um pouco pequeno e vazio, havia poucos carros estacionados. Nenhum deles era novo e reluzente, quase que sucateadas, por isso que a SUV preta se destacava no meio da paisagem. O coração de Yuri disparou acelerado ao ver que se tratava de um dos carros de Jessica. Tiffany mandou que ela seguisse em frente para o carro, enquanto que ela e o agente os seguiriam em outro, teria uma escolta. A morena lançou um olhar hesitante sobre a Hwang, que sorriu para incentivá-la, assim como segurança da Jung que esperava sua aproximação para abrir a porta. Com passos oscilantes foi em direção ao carro, quando se aproximou percebeu que o segurança foi o mesmo que a levou para dentro do carro depois que Tiffany a imobilizou, mas ele pareceu arrependido. Não o culpava, estava apenas seguindo ordens.

Yuri se preparou emocionalmente para entrar no carro, não queria levantar as esperanças baixas, mas queria encontrar Jessica dentro do carro. Ela nunca acreditou nas fabulas de que, se desejar muito algo, ele seria concedido, mas talvez por ser dia do seu julgamento o universo conspirou ao seu favor. Tendo seu pedido atendido, ao entrar, encontrou Jessica a esperando. Seu coração antes agitado perdeu de vez as estribeiras, não tinha mais controle dele.

Acomodou-se no banco e respirou fundo para conter-se, seu olhar deslizou sobre ela que a olhava fixamente em troca. Jessica usava um vestido preto com mangas longas e um salto fechado, elegante e refinada como sempre. Depois de passar tanto tempo confinada no ar insalubre da sua cela, Yuri notava que era uma oportunidade maravilhosa sentir seu cheiro, seu perfume forte dominava completamente o carro, inebriando-a, parecia ter mergulhado num campo cheio de flores. Por muito pouco não se jogou sobre ela para abraçá-la, se conteve a tempo quando escutou a porta do carro se fechar a suas costas.

Controlando os impulsos, desviou o olhar e se empertigou a afivelar o cinto. Depois de tanto tempo sem que pudessem estar juntas, será que seria rechaçada? Poderia tê-la afastado por causa dessa situação incômoda ao qual se colocou? Se envolver com Jessica definitivamente foi algo que aconteceu fora de seus planos.

Nesse instante de dúvida e incerteza, sentiu uma mão cair sobre a sua impedindo-a de continuar. Seu coração saltou num júbilo com o toque, desceu o olhar e viu que a mão dela tremia mais que a sua e estava fria. Imediatamente esqueceu o que fazia e voltou a olhá-la, segurando firmemente sua mão, não queria soltá-la. Sem precisar pedir, Jessica deslizou pelo banco, após desafivelar seu cinto de segurança, dando-lhe um abraço desajeitado. Sua cabeça caiu sobre o ombro da morena. Yuri suavemente acariciou seu cabelo macio e cheiroso, plantando um beijo no topo da cabeça, agarrando-a com força. O calor daquele abraço, de seu corpo, revigorou toda e qualquer esperança que pudesse existir em seu coração, por mais ínfimo que fosse. As dúvidas que pairavam em sua cabeça foram eclipsadas pela fragrância maravilhosa, Jessica dominava aos poucos qualquer sentimento pessimista e derrotista de Yuri, como se alertasse que ainda estava ali lutando por ela. Bobamente ela tinha desistido de tudo e aqui estava querendo retornar por causa dela. Era tão conflituoso...

O segurança fingiu não vê-las abraçadas quando entrou no carro e começou a dirigir em direção a Filadélfia, seguindo o ponto marcado no gps, que dava para o centro da cidade onde ficava o tribunal. Seria uma longa viagem, então daria privacidade as duas, ligou o rádio e colocou numa estação em que tocava músicas agradáveis, colocando num volume em que o impedisse de escutar a conversa no banco de trás.

Yuri não precisava perguntar o motivo de Jessica estar daquela maneira, dava para sentir pela tensão de seu corpo de que estava preocupada e que seu coração andava angustiado por sua causa.

— Você sabe que vou ficar muito puta se algo der errado hoje... — Ela falou com a voz abafada em seu pescoço, provocando cócegas, vendo a pele de Yuri se arrepiar.

— Sei sim, mas estou disposta a correr o risco e você? — Se afastou um pouco para olhá-la, vendo-a balançar positivamente a cabeça, ainda que tivesse soltado um grunhido, estava completamente contrariada. — Boa garota.

Disse em tom de brincadeira para dissipar a nuvem negra que pairava sobre a cabeça de Jessica, amansando a fera, fazendo-a grunhir novamente e terminar rindo, afastando-se para olhá-la. Jessica suspirou suavemente e tocou em seu rosto, acariciando-o, tomando o cuidado com as manchas amareladas e esverdeadas dos hematomas que estavam a se curar. Ela a observava melancolicamente, sentindo o coração derreter no peito ao ver que a morena gostou do seu toque, procurando por mais, fechando os olhos.

Seu rosto se adiantou, inclinando-se, plantando um beijo suave como o toque de uma pluma em seus lábios. Jessica estremeceu com a sensação avassaladora que dominou seu corpo, foi uma urgência ardente. Yuri procurou mais de sua boca, primeiramente beijando seus lábios, passando a língua entre eles, arrancando-lhe um doce suspiro. Em resposta, ela tomou seu rosto com as mãos e aprofundou o beijo, sentindo um calor estremecedor descer pela coluna. Jessica não compreendia em como tão pouco tempo pôde ficar daquela maneira por uma pessoa e em como um beijo poderia parecer tão gostoso ao ponto de querer mais, reagia ao magnetismo de Yuri, sentindo a eletricidade, uma estranha estática, atravessar seu peito e estremecer o coração aflito.

— Você não vai me convencer a aceitar essa loucura assim — Ela resmungou quando se separaram minimamente para respirar, vendo o sorriso que abriu no rosto da morena. Perdida ao admirá-la, deslizou os dedos entre seus longos cabelos negros, trazendo-a para perto, o máximo que o carro permitia.

A necessidade que cresceu no peito de Yuri, fez com que grudasse mais os seus lábios, tomando-os num beijo exigente e sufocante, até um pouco doloroso quando mordiscou sua boca. As duas suspiraram em conjunto quando uma sensação deliciosa revirou o íntimo, eriçando cada pelo do corpo, fazendo com que se agarrassem com mais força na outra.

Ao se separarem, Jessica encontrou os olhos de Yuri faiscando intensamente, mas as duas não estavam no melhor lugar para continuar, infelizmente. Um intenso calor subiu pelo seu corpo, mas conseguiu se controlar. Suspirosa e ofegante, Jessica largou Yuri e afivelou o cinto, ficando ao seu lado, não queria sair tão cedo de perto dela. Yuri pegou na mão de Jessica, perdendo todo o humor. Aquele beijo fez com que tivesse certeza de que não tinham tido tempo suficiente. Contudo, aprendendo a se contentar com o que tinha, deixou um beijo delicado em sua bochecha, olhando-a com carinho.

Depois disso ninguém se sentiu a vontade para quebrar o silêncio, cada uma se confinou nos próprios pensamentos. Jessica deitou a cabeça em seu ombro, notando o quão estável e confortável era ficar assim.

A viagem durou duas horas e quando o carro parou em frente ao tribunal, uma procissão de jornalistas esperava a aparição da morena, preparando-se para transmitir e arrancar qualquer pronunciamento da acusada, que até então não havia aparecido em frente às câmeras. Yuri suspirou para tudo aquilo, sabia que isso era feito de propósito, alguém queria expor seu rosto para acanhá-la, fazer com que não consiga sair da prisão, temendo mostrar seu rosto. Tinha muitos inimigos querendo seu sangue naquele momento. Por outro lado, Jessica estava furiosa. Ficou resmungando o quanto odiava a atenção que aquilo havia chamado, olhou a morena e percebeu seu desconforto que, diferente dela, conseguia esconder. Abriu sua bolsa e tirou seus óculos escuros, era seu modelo favorito.

— Use isso — Passou os óculos para ela, que aceitou com o cenho franzido.

— Você não vai precisar?

— Tiffany pediu para que eu entrasse apenas quando você estiver lá dentro...

 Sorriu sem graça, envergonhada por não poder entrar no tribunal agarrada em sua mão. Para ela isso não importava, porém Tiffany foi enfática ao dizer que não deveria dar as caras, tinham de evitar arriscar expor o seu rosto, e se ela a desobedecesse a prenderia dentro de casa, sem deixar com que saia.

— Tudo bem, Jessica. Entendo o motivo e não te julgo — Yuri sussurrou compreensivamente e plantou um suave beijo em seus lábios, antes de colocar os óculos e sorrir para ela. — Como estou?

— Charmosa — Jessica riu fracamente de sua atitude, ela agia como se nada pudesse afligi-la, seu olhar desceu sobre a blusa e não evitou em sorrir, tinha a escolhido por achar que ficaria bem nela naquela manhã. Ficava feliz em ver que havia acertado. — Verde combina com você.

Seu sorriso e elogio arrancaram um último sorriso de Yuri, que pareceu um pouco encabulada, não era de seu feitio se sentir assim, mas um elogio vindo de Jessica não é qualquer coisa.

— Te vejo lá dentro... — Disse como se para confirmar, ter a certeza de que a veria novamente, agradecendo ao seu elogio anterior.

— Até logo. — E se beijaram mais uma vez.

Jessica se afastou da porta para que ninguém a visse lá dentro, dando espaço para a morena, que aguardou pacientemente o segurança abrir a porta e dar passagem para que a ré passasse pela multidão de pessoas. Foi um pouco complicado passar entre os jornalistas, flashes sendo jogados em sua cara, mas conseguiu passar com segurança. Na base da escada Yoona aguardava sua chegada e assim que eles pararam ao seu lado, passou o braço pelos ombros de Yuri e a levou consigo para dentro, falando algo em seu ouvido.

Os repórteres estavam alvoroçados pela entrada de Yuri, voltando-se distraídos para a porta do tribunal. Aproveitando-se dessa distração o segurança voltou para o carro e o levou para o lugar marcado, abriu a porta do lado de Jessica e a chamou para que o seguisse até os fundos do fórum.

Mais tranquila por não precisar enfrentar a tempestade de pessoas, Jessica se encontrou com Tiffany e Seohyun que aguardavam sua chegada. Assim que se aproximou, Tiffany vai até ela e pega em sua mão.

— Preparada? O julgamento vai começar daqui a pouco — Avisou e ao ver seu acenar positivo de cabeça, chamou Seohyun.

Juntas foram para dentro da sala onde ocorreria o julgamento, que ficava num andar superior. Havia muitos espectadores dentro da sala, além de muitos policiais que garantiam a segurança no local. Na parte da plateia, reservada para familiares e conhecidos da ré, só se encontravam as três mulheres, que se sentiram massacradas pelos olhares reprovadores das outras pessoas. Era como se elas também estivessem sendo julgadas por estar assumindo uma posição contrária a fluente.

Incomodada com o vazio a suas costas, Jessica olhou para frente, decidida a ignorar tudo, encontrando Yoona e Yuri que conversavam entre si em tom baixo para que ninguém as escutasse, já estavam sentadas no lado da mesa reservado a defesa. Quando terminaram de falar com a outra, Yuri direcionou seu olhar para trás e encontrou as meninas. Sorriu para Tiffany e Seohyun buscando tranquilizá-las, mas lançou um olhar preocupado para Jessica que suspirou em resposta. Yuri conseguia reconhecer seu olhar, ergueu minimamente seus lábios tentando mostrar que estava confiante. Nada poderia dar errado hoje, se mantinha positiva por ela e ninguém mais.

 Uma porta perto da bancada elevada, reservada a maior autoridade do tribunal, se abriu e um homem negro, alto, no auge de seus quarenta anos, entrou no tribunal com sua longa toga preta e se sentou atrás da bancada. Seu olhar severo caiu sobre todo mundo, principalmente sobre Yuri, como se estivesse ciente de que iria acusá-la sem precisar de todo aquele teatralismo. O júri entrou em seguida, era um grupo de dez pessoas, a grande maioria eram mulheres, o que fez Jessica lembrar o que Yoona havia dito sobre ter uma chance de conseguir algo, caso a bancada do júri tivesse uma maioria feminina. As mulheres se solidarizavam com outras mulheres, mas não sabia se isso iria funcionar particularmente naquele caso. A correnteza estava na direção oposta da Kwon, porém isso não tirava suas esperanças, custava nada tentar.

— Todos de pé — A voz séria e dura do meirinho exigiu com que todo mundo se erguesse, passando a fazer o ritual tradicional de início da audiência.

Num único pedido educado, o juiz exigiu que todos se sentassem após a apresentação da ré e da parte acusada, dando a deixa para que o promotor, em vista de que foi ele, como representante do Estado, que entrou com denuncia contra a ré, começasse.

Estava dado o início ao teatro.

 

*

 

Yoona escutava toda a apresentação da acusação com atenção, tomando anotações das partes importantes que poderia contradizer ou reverter ao seu favor, sua cabeça estava focada e friamente analisava as oportunidades que poderiam ser abertas quando tivesse a chance de réplica. Era apenas um julgamento inicial que poderia dar em nada — esperava que desse em nada —, mas se a acusação apresentasse uma convincente dúvida ou prova que convencesse o juiz do perigo que Yuri trazia a sociedade, com certeza receberiam uma sentença imediata. Eles não deixariam passar batido os seus crimes e iria utilizá-los para condená-la.

Ao seu lado escutou a morena se remexer na cadeira que rangeu sobre seu corpo. Ela pareceu desconfortável com algo e ao erguer o olhar para frente, encontrou a foto dos pais de Yuri num retroprojetor que o promotor usava para causar uma comoção maior no júri.

Sabendo que olhar aqueles rostos a deixava vulnerável, deslizou discretamente a mão embaixo da mesa e tocou em sua mão, chamando a atenção de seus olhos. Yuri tentava controlar a raiva, odiava ver um desconhecido contando sua história para pessoas desconhecidas, usando-a como base de uma tese de acusação. Se obrigou a respirar fundo para manter a expressão calma no rosto, sabendo que as pessoas estariam a olhando naquele momento. Contudo Yoona sussurrou para que não se segurasse, aquela era a hora de sensibilizar o júri com sua história, então relaxou um pouco a expressão.

Quando o promotor terminou sua apresentação, depois de pintar uma personalidade cruel e vilanesca para Yuri, o juiz deu dez minutos para que a defesa se pronunciasse, o mesmo tempo que a acusação teve para se expressar.

Yoona respirou fundo, evitando que o nervosismo tomasse conta da voz e lentamente se ergueu da cadeira, ajeitando os botões de seu chique terninho.

— Excelência, acredito que há precipitações e pré-julgamentos quanto a minha cliente e sua “personalidade”. O promotor está dizendo que ela é um grande mal à sociedade e que necessita ser combatido, como uma vilã de um filme de super-herói — Se dirigiu para frente da mesa, tomando o palco como seu, chamando a atenção de todos. — Não alego que minha cliente é inocente das acusações aqui aclamadas, muito pelo contrário, ela é uma vítima.

Suas alegações acabaram causando uma leve desorientação nas pessoas dentro do tribunal, fazendo um burburinho correr pela bancada do júri, ela lançou um olhar de esguelha sobre eles e viu as expressões de desagrado. Tinha alcançado o efeito que queria.

Tiffany, que até então estava em silêncio na plateia, acabou soltando uma risadinha, tendo que escondê-la com a mão sobre a boca. Aquele era um jogo bastante perigoso, mas finalmente o plano de Jessica e Yoona estava sendo colocado em prática. Olhou para a amiga sentada ao seu lado e descobriu que ela não tirava os olhos de Yuri, parecia aflita, mas não demonstrava descontentamento ou preocupação, na verdade estava um pouco intrigada. Seohyun se agitou do outro lado, sabendo que em breve a advogada usaria o que havia preparado para ajudar Yuri.

Yoona andou até a mesa do retroprojetor e trocou o pendrive do promotor pelo seu, colocando na tela algumas notícias antigas, exatamente do caso do assassinato da família de Yuri.

— Não vou entrar novamente na história da minha cliente, pois aparentemente Dr. Heddwin a conhece mais do que eu. — Usou da ironia, afetando o promotor, que se ajeitou sobre a cadeira e soltou os botões do paletó. Depois de olhá-lo rapidamente, Yoona se voltou para o retroprojetor e continuou: — Contudo, certos detalhes ficaram omissos... Acho que ele não mencionou o fato de que a família da minha cliente foi morta num “incêndio”, quando tinha onze anos de idade e que mesmo sendo resgatada, o governo coreano a declarou como morta — Se voltou dessa vez para o júri e apontou para os papeis que mostrava na projeção. — Isso é estranho não concordam? Por mais que ela seja filha de um ex-líder revolucionário, por que declará-la morta? Uma criança desamparada como ela, esquecida pelo governo de seu país natal... Eu até entendo porque se aliou a uma milícia que propunha destruir tal governo, que ao seu olhar era mal e ineficaz.

— Protesto, excelência! — O promotor a interrompeu, ficando vermelho com todas as acusações. — O que a Dra. Im está tentando fazer é sem sentido, não deve ser questionado nesta audiência! Ela busca culpar as inescrupulosas ações da Srta. Kwon com fatos sem provas!

— Sem provas? Então você prefere que te dê uma cópia dos arquivos? — Andou até sua mesa e tirou as cópias de uma pasta, deixando uma na mesa do promotor e outro para o juiz. — Se preferir, vossa excelência, pode mandar isto para análise com um perito de sua preferência, mas dificilmente se deve desconfiar da fé que botamos nas mãos do governo, certo?

No final olhou o promotor que engoliu em seco, observando-a retornar a mesa. O juiz olhou os papeis e não questionou nada, indubitavelmente eram relatórios oficiais do governo americano que recebeu o relato do governo coreano sobre o caso da família Kwon. Era um atestado de óbito de toda família que foi obliterada numa missão. Certamente tinha algo que, caindo nas mãos da mídia, poderia causar um problema maior do que tinham em mãos.

— Protesto negado, a defesa pode prosseguir. — O juiz falou com dificuldade ao engolir um bolo indigesto preso na garganta, sentindo vergonha cobri-lo, mas logo voltou a manter postura pétrea.

— Obrigado, vossa excelência.

Yoona agradeceu e retornou para o retroprojetor, continuando sua tese. Ao virar-se para o júri, encarou cada rosto e tentou manter-se intimidadora, como se fazendo com que sentissem vergonha, que a culpa seria deles.

— Minha cliente infelizmente não teve como retornar a vida normal, após ser considerada morta. — Disse em tom de chateação, suavemente, alcançando o ápice de seu calculado discurso. — Ela estava sendo perseguida pelo governo e precisou entrar numa profissão perigosa como assassina de aluguel para se esconder, o que funcionou muito bem durante anos — Voltou-se para o retroprojetor, passando mais arquivos, voltando a falar num ritmo mais acalorado. Mudava constantemente o ritmo de seu discurso, para causar impacto no júri. — Diferentemente de como estão a acusando, nenhum de seus ataques aconteceram em nome da guerrilha. Na verdade, ela havia sido contratada por nomes influentes: empresários, milionários e até mesmo líderes de organizações governamentais financiavam seus assassinatos.

Impiedosamente, não se importando com a bomba que estava jogando nas mãos das pessoas, ela continuou a passar os slides e contar o que havia descoberto. Mais e mais documentos que expunha a sujeira por trás dos panos, colocando em dúvida a missão de acusar Yuri. Ninguém pensaria duas vezes antes de escrever seu voto no papel.

— O que vemos aqui é: vocês precisam dela. Usam-na como querem e ainda tentam julgá-la como terrorista, assassina, maníaca, psicopata... A chamaram de tantos nomes esses dias, mas será que todas elas são verdadeiras? Vocês a acusaram antes mesmo de entendê-la, de descobrir suas motivações — Não aguentando se manter imparcial quanto a tudo, ergueu minimamente um dos cantos de sua boca, tomando fôlego para encerrar. — Por isso, pensem bem a quem vocês estão tentando proteger. Mentiras ou uma pessoa que foi renegada de uma vida por culpa das ações de seu pai. Ela é vitima das ocasiões, dos nossos governos. — Voltou a insistir no tópico, vendo cada vez mais as pessoas se voltando umas para as outras, incomodadas com as acusações que foram completamente subvertidas. Yoona olhou para o juiz e se viu satisfeita. — Acho que é tudo por enquanto, vossa excelência.

Depois de surpreender todo mundo com as provas que havia angariado, ela se virou para mesa, seu olhar se encontrou com o de Jessica e pode ver que ela ria da situação. Tinha chocado todo mundo, tanto que ninguém ousava dizer uma palavra.

Pobres coitados que não sabiam que aquilo estava só começando.

Ao recobrar a dignidade que pareceu ter perdido durante a apresentação da defesa, o juiz abriu a oportunidade de tréplica para a acusação. O promotor pensou durante uns silenciosos segundos, até que deixou claro não precisar, ele estava tonto com o tamanho das acusações. Sendo assim, como próximo passo, o juiz não teve outra opção além de dar espaço para as testemunhas.

Primeiro as testemunhas da parte acusadora foram chamadas, isso pareceu erguer o ego do promotor que fazia perguntas agressivas e pontuais para técnicos, possíveis testemunhas dos crimes cometidos por Yuri... A morena sabia que todas aquelas pessoas eram testemunhas falsas, seus crimes não deixavam rastros. Yoona rapidamente, quando permitido a chance, levantou suspeitas sobre a veracidade dos relatos e das testemunhas arroladas pela promotoria, deixando pairar sobre o tribunal suas suspeitas.

Yoona não se deixava abalar por nada e, para sua satisfação, quando dada à oportunidade para chamar suas testemunhas, se levantou e disse:

— A defesa gostaria de convocar a Dra. Seo Juhyun como testemunha, vossa excelência. — Falou para o juiz que deu a ordem para que a testemunha entrasse.

Naquele momento, Seohyun tranquilamente se ergueu da cadeira e seguiu até a bancada das testemunhas, sentando-se graciosamente depois de fazer seu juramento, vendo Yoona se aproximar com um pequeno sorriso no rosto.

— Tudo bem, Dra. Seo? — Questionou mesmo sabendo que a resposta seria um sim.

— Por favor, me chame de Seohyun. Está tudo bem, Dra. Im — Formalidade, ela era assim até mesmo quando estavam combinando e discutindo na noite anterior, se poderia e estaria disposta para ser testemunha do caso. Yoona sorriu para ela.

— Pode prosseguir, vossa excelência. — Yoona ofereceu sua testemunha, indo se sentar ao lado de Yuri, que estava atenta no julgamento.

Solenemente, como se estivesse disposto a estraçalhar a alma de um inimigo, o promotor ajeitou a gravata e seguiu até Seohyun, olhando-a fixamente para deixá-la desconfortável. Contudo, a doutora já estava preparada para esse tipo de atitude prepotente e sorriu levemente, fazendo com que ele baixasse a bola.

— Poderia nos dizer seu nome completo e profissão, por favor — Ele pediu e desviou o olhar para o júri.

— Me chamo Seo Juhyun, sou formada em psicologia pela Universidade Nacional de Seoul. Tenho mestrado e doutorado em criminologia, atualmente trabalho no departamento da psiquiatria da Lucius. — Disse detalhadamente, pragmática, mostrando que estava disposta a cooperar e ainda por cima sendo sincera.

Sua posição pareceu acender o olhar do promotor, que abriu um sorriso.

— Então quer dizer que a senhorita trabalha para a Lucius, empresa onde a ré trabalhou durante exatos três meses?

— Exatamente.

A afirmação foi tão logica e seca, que o promotor ficou um pouco sem graça, mas logo ficou agitado.

— Isso significa que já teve contato com a Srta. Kwon, certo? Que tipo de relação vocês tinham?

— Somente profissional — Seu olhar rapidamente desviou para Yuri e retornou sobre o promotor, que esperava uma reação que denunciasse que ela e Yoona haviam combinado alguma coisa e que aquilo não passava de uma armação. Porém ela se mostrou mais calma do que nunca. — A Srta. Presidente havia recentemente contratado a Srta. Yul e, por ser uma regra da empresa, precisei fazer uma avaliação psicológica. Nos encontramos algumas vezes nos corredores da empresa, mas não passávamos nada além de conhecidas.

— Posso afirmar, então, que você se tornou a psicóloga da ré?

— Acredito que sim.

— Se é assim, por favor, nos fale um pouco sobre as condições psicológicas de Kwon Yuri.

Seohyun soltou a respiração, percebendo que aquele homem não se sairia satisfeito até estraçalhar Yuri e não falasse algo que afagasse seu ego. Ele estava em busca de qualquer coisa que pudesse destruir a imagem de vítima que Yoona ergueu no julgamento.

— Não há muito que falar — Falou ao desviar o olhar para as mãos, erguendo-o na direção do júri. — A empresa precisava dela para um trabalho e ela parecia ser extremamente competente. Tinha uma cabeça bem centrada, era competente e íntegra. Nada mais, nada menos...

— Ela não demonstrou nenhum comportamento que pudesse ser considerado desvirtuoso? — Tentou encontrar uma brecha em seu testemunho, espreitando toda e qualquer fraqueza sua, contudo Seohyun já estava preparada para isso.

— Se está se referindo a qualquer distúrbio mental ou psicótico, não. Ela tinha uma mente sã — Disse e isso abriu brecha para ele, mas logo continuou a falar. — A Srta. Yul não nos prejudicou durante seu tempo de serviço mesmo se estivesse trabalhando para a guerrilha. Ela fazia seu trabalho e não agia desonestamente. Tinha seus segredos... Mas quem não tem?

O tom de ironia recaiu sobre o recinto, calando a todos que encararam atônitos a tranquila e quieta de Seohyun. Ninguém poderia imaginar que ela pudesse se valer de uma atitude disfarçadamente agressiva, quando aparentava o oposto.

— Não tenho mais perguntas, vossa excelência. — O promotor se calou antes que a garota pudesse dizer qualquer outra coisa, fazendo com que o juiz a liberasse.

Então, tendo sido acabada o recolhimento dos testemunhos, o juiz declarou que a audiência entraria em recesso para almoço, como também para que o júri deliberasse. Eles diriam se seria ou não possível haver um resultado ainda hoje.

Contra fatos, não há argumentos, Yoona pensou debochadamente ao recolher suas coisas, levantando-se com Yuri. Como a morena ainda estava de custódia, guardas as seguiram para dentro de uma sala no fórum, mantendo-a guardada pelo lado de fora. A Im se sentou no sofá após se servir de um copo de café numa mesa que havia por lá, observando a Kwon se sentar num sofá e passar a mão no rosto depois de soltar um longo suspiro.

— Preocupada? — Perguntou enquanto bebericava o café, chamando seu olhar.

— Nem um pouco... Você está bem tranquila, literalmente deixou o promotor sem palavras — Riu suavemente e se virou para olhá-la quando a viu se sentar ao lado, tirando o copo de sua mão.

— Ninguém resiste ao meu charme.

Piscou um olho de maneira cúmplice, brincando com a situação que provocou. Suas palavras foram fortes no tribunal. Yoona deixou que ela bebesse seu café, vendo-a fechar os olhos, saboreando o gosto adocicado do escuro e forte café.

— Tenho certeza de que esse café não é tão bom assim, mas eu senti falta do café — Expressou sua admiração, fazendo Yoona gargalhar em troca, até parecia que ela havia ficado presa durante anos e não dias.

Ainda que o lugar não fosse o melhor para vê-la relaxar, gostava de ver aquele seu lado brincalhão e leve, tinha se acostumado com seu lado obscuro, o lado que evitava que as pessoas se aproximassem.

A porta da sala é aberta após o término da conversa, chamando a atenção das duas. Antes mesmo que Jessica, Tiffany e Seohyun entrassem na sala, assim que a porta fechou atrás delas, Yuri devolveu o café para Yoona e se levantou indo diretamente abraçar a Jung. Elas ficaram um bom tempo abraçadas. Sabiam que estavam sendo observadas pelas outras mulheres, mas não se importaram naquele instante.

— Falta pouco — Jessica suspirou nos braços de Yuri, se afastando para olhá-la.

— É, falta pouco mesmo... — A morena respondeu com um sorriso e tirou algumas mechas de seu cabelo do rosto, colocando-os atrás da orelha. — Já disse que você é linda?

Jessica não podia acreditar que estava escutando isso vir dela naquela hora. Ela era tão impulsiva, que acabou gargalhando a contragosto. Como poderia agir assim mesmo sabendo que isso poderia acabar dando tudo errado? Yoona tinha feito uma jogada digna de mestre, mas não havia garantias de que ela iria se safar de uma prisão perpetua. Mesmo assim, ainda tensa com o julgamento, acabou rindo e falou:

— Não, nunca disse.

— Então já não era tempo — Yuri sorriu e voltou a abraçá-la, sentindo que todas as preocupações, as dores do corpo, até a sonolência foram jogadas longe com seu abraço. Adorava tê-la dentro deles. Quem sabe, pensou, depois de terminar isso tudo elas não poderiam ter uma vida tranquila. Havia um acorde de esperança em seus pensamentos, como se a sorte estivesse tocando uma melodia em sua cabeça, poderia tudo dar certo para ela. — Aonde você quer ir? Estou perguntando para o caso de eu ser absolvida...

— Polo Norte, quem sabe assim, eu te isolando lá, você não entra em encrencas — Resmungou ao levantar a cabeça e se esticar para deixar um selinho em seus lábios.

— Ótima escolha — Devolveu o beijo e então se virou para o grupo, que silenciosamente as observava. Sorriu para todas e foi se sentar em outro sofá junto com Jessica.

Tiffany, embora tivesse suspeitado sobre o relacionamento das duas, não conseguiu evitar a surpresa. Acabou rindo das duas e tocou na mão de Yuri, movendo silenciosamente a boca, dizendo que adorou a cena, fazendo-a revirar os olhos e sorrir maliciosamente.

Ninguém quis falar, permitindo que o silêncio caísse sobre o recinto, até que Seohyun se voluntariou para comprar comida. Ninguém deveria ficar com fome enquanto esperavam.

Yoona olhava para Yuri e Jessica abraçadas. A Jung estava quase adormecendo agarrada na Kwon, enquanto que a morena afagava seu braço e os cabelos. A maneira como a segurava era tão protetora, que ficou sem palavras. Nunca a tinha visto tão feliz como naquele momento, como se tivesse encontrado a paz por breves minutos ao velar o sono de Jessica. Ela se levantou do sofá e seguiu Seohyun, a encontrando no corredor.

— Posso ir ajudar você? — Perguntou levemente incerta sobre o que pensar naquele momento, não sabia dizer se estava incomodada, com raiva ou se frustrada.

— Adoraria — Seohyun sorriu amavelmente e continuou pelo caminho.

Yoona não queria conversar, então apenas seguiu Seohyun pelas ruas da Filadélfia, vendo-a sorrir com uma serenidade que a fazia sentir inveja. A garota era muito jovem — Yoona não era tão velha assim, existia somente um ano de diferença entre elas —. Sentia que havia envelhecido rápido demais se comparado a outras pessoas de sua idade, e que praticamente acabou se esquecendo como era se deixar levar pelas sensações boas que a vida poderia trazer; não se preocupar com o futuro e apenas seguir em frente com a cabeça erguida, assim como Seohyun fazia.

Esse sentimento, essa sensação, era algo que definitivamente não sentia desde que terminou com Yuri.

Agora que parava para pensar, não tinha mudado desde então. Ficou apenas perseguindo uma pessoa que acreditou amar profundamente, como um cachorro persegue o próprio rabo, enganando Taecyeon e colocando em risco sua vida em troca do seu egoísmo. Porque não superou a perda, perseguindo o “eu” assustado de Yuri que se afastava cada vez mais dela.

Unnie? — Yoona acordou dos pensamentos ao ser chamada por Seohyun. Ela parou de andar ao vê-la fazer o mesmo, olhando-a intrigada. — Aconteceu alguma coisa?

Ela tinha parado no meio do caminho, chegando a barrar o caminho de outras pessoas, olhando o concreto da calçada de maneira vaga. Seohyun a olhava com um pouco de preocupação, então, ciente de que precisava por um fim àquilo, sua peleja mental era denecessária, Yoona sorriu.

— Nada aconteceu — Ajeitou a alça da bolsa no ombro. — Vamos em frente.

Disse e começou a andar, deixando Seohyun levemente confusa. Ela não olharia para trás.

 

*

 

Aproveitando que estavam sozinhas, vendo que Jessica dormia profundamente escorada em Yuri, Tiffany parou para pensar sobre as duas e acabou sorrindo para o nada.

— Quando isso começou? — Interrogou a meia voz para não perturbar a Jung, atraindo a atenção da Kwon, indo se sentar na ponta do sofá.

— Eu não sei quando exatamente — Se referiu a tudo, desde quando se conheceram, até o momento em que a beijou pela primeira vez. Os fatos corriam em sua cabeça, erguendo memórias de não muito tempo atrás quando buscava afastá-la, achando que não passavam de desconhecidas. Se tivesse sido um pouco mais esperta, teria notado o quão rápido tinha caído por Jessica. Um sorriso sem graça se abriu no rosto com o pensamento. — Fazia um tempo que a gente estava se acertando...

— Nunca pensei que iria dizer isso, mas vocês formam um belo casal. — A Hwang disse em um tom de humor amistoso, deslizando o olhar pelas duas. Não estava mentindo, gostava de ver a maneira protetora que Yuri tinha sobre Jessica e a expressão confortável no rosto da Jung.

— Penso o mesmo de você e Taeyeon...

Ela retrucou com bom humor, tentando provocá-la, olhando e sorrindo para Tiffany. Contudo seu bom humor se esvaiu junto com um suspiro que escapou pelos lábios, elas precisavam ter uma conversa séria:

— Ele vai vir atrás de mim, Tiffany — Notando que isso tinha a confundido, afinal mudou drasticamente o assunto, tratou de se explicar com mais clareza, dando uma olhada em Jessica para garantir que ela não estava escutando. Não poderia deixar que isso chegasse aos seus ouvidos, certamente iria querer se envolver caso soubesse e tendo ela no meio seria um empecilho para seu plano. — Meu irmão adotivo, Taecyeon... Ele é o atual líder da guerrilha e vai vir atrás de mim para me matar.

A novidade acendeu o olhar de Tiffany que logo encaixou as peças no quebra cabeça.

— Foi por isso que você se entregou dessa maneira? — Yuri confirmou com um aceno de cabeça, Tiffany mudou de posição no sofá, parando para pensar. — Vou preparar uma emboscada para ele. Ninguém chegará perto de você.

— Não, Fany... Eu quero que ele chegue. — Encarou-a profundamente nos olhos e se inclinou com cuidado para que Jessica não acordasse, aproximando-se de Tiffany, segredando seus planos. — Quando Taecyeon aparecer, você poderá pegá-lo. Apenas fique de olho em mim.

Tiffany esticou a mão e agarrou a sua, apertando-a com força.

— Pode contar comigo.

— Obrigado por tudo, Tiffany.

— Agradeça quando tudo terminar, Yuri-ah.

E então, com aquela promessa, as duas sorriram para outra, passando a conversar coisas banais, que nesse caso Tiffany contava tudo o que aconteceu durante esses dias que a morena estava isolada. Boa parte das coisas envolviam Jessica e em como ela passou esses dias envolvida na tese de defesa de Yoona, ajudando com o que podia sem colocar seu nome em risco. Já bastava a Lucius estar envolvida, ela não precisava sujar seu nome, ainda que quisesse.

Yoona e Seohyun retornaram com a comida momentos mais tarde, trazendo sacolas com hambúrguer e refrigerante gelado. Yuri acordou Jessica e assim partilharam de uma refeição tranquila.

Yuri parou um instante para observar a todas, percebendo que aquela poderia ser sua última refeição com todas elas. Ainda havia chances de sair culpada. O júri pode não ter se convencido que era uma vítima — o que definitivamente não era, pelo menos não totalmente —, e caso seja considerada culpada perderia a liberdade, pegaria uns bons anos de prisão. Preferiu guardar os pensamentos para si, não queria estragar tranquilidade que caía sobre elas, muito menos preocupar desnecessariamente Jessica.

Inconscientemente seus dedos correram pelo cabelo de Jessica que caia em suas costas, ela não tinha se preocupado em fazer os cachos grossos e pesados, deixando-o liso. Sorriu minimamente quando a viu se inclinar para pegar uma batata frita e reclamar de Tiffany, pedindo para que deixasse batata frita para ela e Yuri. Não queria chamar sua atenção, temia acabar revelando seus pensamentos quando seus olhares se encontrassem, então parou o que fazia. Por mais pessimista pudesse parecer, sentiria falta de Jessica. Aos poucos estava se acostumando a ela, sem mencionar que tinha acabado de conhecê-la de verdade...

Se olhasse ao seu redor, Yuri poderia perceber que estava se despedindo de todas, como se algo estivesse se encerrando. No entanto, tinha a sensação de que estava apenas começando.

 

*

 

A sala do tribunal foi sendo preenchida aos poucos, ninguém tinha pressa para entrar. Tiffany, Seohyun e Jessica sentaram no mesmo lugar de antes, surpreendendo-se ao ver que outras pessoas tomavam os outros assentos as suas costas, ainda que poucas fossem. Demorou um tempo para que o júri tomasse seu lugar, o juiz apareceu por último, fazendo todo mundo se levantar e depois se sentou em sua cadeira, sendo seguido pelos outros.

O estômago de Jessica se contorceu na barriga, voltando a ficar agitada com a espera. Seu olhar caiu sobre a mesa do réu, justamente sobre Yuri que estava focada na figura do juiz.

— Vamos à leitura dos votos do júri — O juiz dá a largada, olhando o representante do júri se erguer com o papel da decisão em sua mão.

Jessica segurou a mão de Tiffany, tudo dava volta em ansiedade, sentia que seu plano de defesa havia dado certo e Yoona estava confiante, então acreditava que daria certo, tinha que dar...

— A decisão do júri, por sete a três — O representante parou de ler, baixou o papel e ergueu o olhar sobre Yuri. — consideramos a ré culpada por seus crimes.

Disse depois da pausa, engolindo em seco, e voltou a se sentar. Pela sala se escutou os murmúrios dos espectadores, a grande maioria não sabia dizer se estavam surpresos ou satisfeitos com o resultado. A defesa tinha ido muito bem, então era um pouco incompreensível o resultado.

Yuri e Yoona não se moveram um centímetro assim que terminada a leitura, o juiz ainda havia de tomar sua decisão e ele seria o responsável pela dosimetria da pena. Embora a advogada Im não quisesse admitir, aquele resultado já era de se esperar, tinha sido uma das possibilidades que havia levantado. Afinal a morena tinha cometido muitos crimes.

Portanto, quebrando o silencio, o juiz pegou um papel onde fez as anotações para o caso do júri ter condenado Yuri e começou a ler seu discurso.

— Sendo assim, eu, como representante da lei do Estado da Pensilvânia, condeno a ré pelos crimes de homicídio, roubo de informações, falsidade ideológica e de identidade, e afiliação a grupos criminosos... A pena nesse caso é... — O juiz parou de ler o papel, subindo o olhar deixou que ele caísse sobre a ré, que o encarava de volta.

O escrivão não parava de digitar, transcrevendo suas palavras no documento oficial, fazendo o som do teclado do computador ecoar pelo recinto. O silêncio era opressor, havia gente que não respirava e nem piscava de tensas, esperando pacientemente o juiz tomar seu fôlego, pegando o martelo para bater a sentença.

— A pena nesses casos é a sentença de morte — A incredulidade caiu sobre o grupo a favor de Yuri. A decisão fez com que Jessica soltasse um grunhindo, sentindo que não podia mais respirar. Tudo tinha saído do controle. — Portanto, devido à gravidade das acusações, Yuri Kwon será executada no sábado por injeção letal, às duas horas da tarde.

Quando batido o martelo, deu-se por encerrada a audiência, não havia mais chances de dentro daquele tribunal sua decisão ser questionada. O juiz recolheu apressadamente suas coisas e saiu da sala sem cumprimentar ninguém. Os jurados correram para dentro da porta atrás da bancada, sendo escoltados por policiais, desaparecendo também. Ninguém queria ficar para a balbúrdia que tomou a plateia. Muitas pessoas se ergueram indignadas com o julgamento, elas não concordaram com a sentença de morte e começaram a protestar, obrigando aos policiais terem de intervir.

Yoona se deparou com o olhar agitado do promotor, que lançou um enorme sorriso vencedor e saiu da sala escoltado. Ele certamente falaria com a imprensa sobre a grande vitória obtida naquele dia. Guardas vieram algemar Yuri após a decisão, querendo evitar que a confusão instaurasse dentro do tribunal. Ela não pôde se despedir de ninguém. Jessica se levantou para impedir que a levasse. Aquilo estava errado, pensou inconsolada, mas não conseguiu seguir em frente. Tiffany a impediu, sussurrando em seu ouvido para que não intrometesse, segurando seu braço. Não era hora para fazer besteiras. A situação estava saindo do controle e a confusão apenas crescia, obrigando que se retirassem às pressas.

Antes de ser levada embora, Yuri olhou Jessica com um pedido de desculpas queimando em seus lábios. Ela não tinha planejado a execução, não sabia se isso daria tempo para que Taecyeon chegasse antes da execução, ele precisava aparecer ou então todo o seu plano terá se mostrado uma completa estupidez.

Sendo assim, querendo evitar os arrependimentos, deu seu último sorriso para Jessica. Esperava vê-la ao menos uma vez antes de morrer.


Notas Finais


Só tenho a dizer que falta muito pouco pra acabar XD kkkkk vamos em frente <3

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