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História Leather Lady - Andrea, vá embora!


Escrita por: mills_trevosa

Capítulo 22 - Andrea, vá embora!


POV - Narrador

O jantar transcorreu tranquilamente, como era de se esperar. As gêmeas demonstraram a todo instante o quanto estavam felizes por terem a morena ali com elas, como se aquele fosse o melhor dia de suas vidas. As conversas foram alegres e muitas alfinetadas saudáveis foram desferidas por todas. As gêmeas já estavam em seu quarto, pois de acordo com sua mãe, já estava na hora de dormir. Mas, não se deram por vencidas antes de convencerem Andrea de que era uma boa ideia dormir ali, afinal já estava tarde e por mais que Roy fosse levá-la até sua casa, não era nada bom perambular sozinha por aí. E, apesar de Miranda ter plena certeza de que tudo aquilo fazia parte de um plano traçado por suas pequenas pestinhas, acabou corroborando com a ideia e fazendo Andrea aceitar passar a noite ali. A editora tinha acabado de sair do banho e estava hidratando sua pele, como fazia todas as noites. A camisola que estava usando naquela noite era preta e curta, indo até metade de suas coxas.

— É, sem dúvidas, a melhor visão que se pode ter antes de ir dormir — Andy falou, ainda da porta, assustando sua chefe.

— Achei que já estivesse deitada — comentou, enquanto tentava acalmar seu coração, mas sem parar o que estava fazendo.

— E eu estava — a morena se desencostou do batente, fechou a porta e começou a caminhar em direção a cama — Deitadinha e pronta para dormir, mas não estava sendo uma tarefa fácil ter você no quarto ao lado e não vir te dar um boa noite decente — subiu na cama e de joelhos, se aproximou de Priestly, que estava sentada na lateral oposta a que Andy subiu.

— E como seria esse boa noite, senhorita Sachs? — em seus lábios um sorriso leve brincava. Ela podia sentir a atmosfera que Andrea estava criando, começar a atingir seu corpo.

— Não sei… — seu corpo estava muito perto do de Miranda, ela podia sentir o calor que irradiava de Priestly — Posso te ajudar a passar creme nessa sua pele perfeita — disse isso e depositou um beijo molhado no pescoço alvo a sua frente, fazendo a editora soltar um leve gemido com o ato.

— Apesar de achar essa ideia maravilhosa, terei que, gentilmente, declinar a sua oferta — falou com sua voz baixa e um tanto fraca — Não acho uma boa ideia lhe fazer gritar com as minhas filhas dormindo no quarto ao lado — um arrepio subiu pela coluna de Andy com aquelas palavras.

— Já é difícil para o meu corpo entender que não terá você essa noite, você ficar me falando essas coisas, não ajuda em nada — deixou o peso do seu corpo cair em seus tornozelos e assistiu a mais velha se levantar, colocar seu creme na penteadeira que havia ali e se aproximar outra vez.

— Não é uma tarefa fácil para mim também, mas teremos que ser fortes, querida — levou sua mão direita até o rosto de Sachs e deixou um carinho ali. Miranda jamais cansaria de olhar para Andrea, jamais. Seu polegar acarinhou os lábios carnudos e instintivamente, seu corpo se curvou na direção de sua assistente e seus lábios se encontraram. O contato fora intenso, fazendo ambas soltarem um gemido fraco — É melhor pararmos, antes que eu mude de ideia sobre preservar a sanidade de minhas filhas — brincou e Andy sorriu.

— Tudo bem! Terei que me resolver sozinha então — desceu da cama e ficou em frente a mais velha. Miranda estreitou os olhos para Andy. Se olharam por algum tempo, até a editora resolver responder.

— Essa é uma boa ideia, meu bem… — sorriu de lado — Tente não ser muito barulhenta, eu tentarei fazer o mesmo — a morena fez uma cara desacreditada e Miranda riu — Você não é a única aqui com necessidades a serem atendidas.

— Eu sei, mas é desumano você me deixar com essa visão na cabeça! — protestou.

— Então é justo que você me deixe com a visão de você se masturbando, mas ao contrário é desumano? — Sachs assentiu, fazendo Priestly rir ainda mais — Encare isso como algo para lhe incentivar e alimentar sua imaginação.

— Você é má, Miranda Priestly!

— Achei que a essa altura, já soubesse disso, Andrea — a editora deixou um beijo estalado no canto da boca de Andrea e se afastou — Tenha uma ótima noite de sono! — desejou com a voz repleta de ironia.

— Obrigada! Pra você também, Miranda — sorriu sem graça e se afastou, indo em direção a porta do quarto. Antes de sair, olhou outra vez para a editora e respirou fundo. Fechou a porta com um sorriso bobo nos lábios e seguiu para o quarto de hóspedes, que ficava naquele mesmo andar. Estava aérea, por isso não percebeu a movimentação em frente a porta, só notou que não estava mais sozinha, quando uma voz atingiu seus ouvidos.

— Aí está ela! — Caroline soltou — Eu disse a você, Cassy, ela não iria resistir.

— Te devo 10 dólares! — respondeu. Andy estava assustada, não sabia se as gêmeas estavam ali a muito tempo, muito menos como explicaria o que estava fazendo naquele lado do corredor, que claramente só levava ao quarto de Miranda — Desmancha essa cara e não faça escândalo. Venha, vamos conversar! — a pequena Miranda pegou Andrea pela mão e a conduziu até a entrada do quarto que dividia com sua irmã. Assim que adentraram o quarto, a porta foi fechada e uma das gêmeas conduziu a morena até a cama, fazendo-a se sentar, enquanto ficava em pé, esperando sua irmã.

— Precisamos conversar, senhorita Sachs! — Andy engoliu em seco. Sentia que estava encrencada, mas não conseguia responder. Tinha receio das gêmeas não a quererem mais por perto, porque haviam descoberto sobre seu caso com Miranda.

— Eu não… — bufou e levou uma das mãos ao rosto — Me desculpem! Isso é tudo o que eu posso falar, sei que nada que eu disser vai ser o suficiente.

— Nem tente se desculpar, Andrea! Nem tente! — Cassidy soltou e sua voz saiu como a de sua mãe.

— Meninas eu… — Caroline a interrompeu.

— Achou mesmo que não notaríamos? — a pergunta foi retórica — Tá falando sério?

— Nós somos filhas de Miranda Priestly, nada passa despercebido por nós — cruzou os braços à frente do peito e viu sua irmã fazer o mesmo — Como pôde?

— É, Andrea, como pôde?

— Eu não, meninas … — suspirou pesadamente — Eu não planejei me apaixonar por ela — abaixou a cabeça e esse ato a fez perder a cara satisfeita que as gêmeas fizeram.

— E você acha que acreditamos nisso? — Caroline perguntou — Desde quando?

— Acho que desde sempre, mas eu só percebi recentemente — soltou, ainda de cabeça baixa.

— Ela sabe? — negou — E quando pretende contar? — a voz estava mais calma.

— Eu não pretendo contar — falou baixo, mas foi ouvida.

— COMO É? — Cassy não conseguiu se conter. Andrea se assustou com a voz alterada da garota e ergueu sua cabeça — Tá dizendo que ama a mamãe e não vai contar a ela? Qual seu problema? — Andy franziu a testa, não entendendo o que estava acontecendo. O sorriso travesso que não esperava encontrar, estava presente nos lábios das duas. 

— Vocês… — encarou as gêmeas — Não estão bravas?

— É lógico que estamos! — responderam em uníssono — Mas porque não contaram pra gente!

— Contamos o que? — Sachs ainda estava um pouco confusa, apesar de suspeitar do que elas falavam.

— Eu vi vocês duas se beijando no escritório da mamãe hoje, Andy! — se sentou ao lado da morena e Carol sentou do outro lado, deixando-a no meio das duas.

— Merda! — resmungou — Nós não estamos juntas — disse com a voz fraca. Constatar aquilo era doloroso.

— Não? — a mais nova perguntou e Andy negou com a cabeça

— Então porque se beijaram? — Carol acrescentou.

—  Nós não… Não é como estão pensando.

— É apenas casual? — a pergunta da gêmea mais velha deixou Andrea surpresa, pois por mais que soubesse que elas eram espertas, ainda assim eram apenas pré-adolescentes. Vendo que Andrea não respondia, a garota prosseguiu — Nós sabemos que adultos se encontram casualmente, Andy. Entre vocês é assim?

— Digamos que sim!

— Mas você queria que fosse mais — Cassy não perguntou, era uma afirmação — Dá pra ver que você gosta dela.

— Você não é muito boa em esconder as coisas — riram — Por que não conta pra ela?

— Eu não quero estragar o que temos e tenho certeza de que se ela souber que estou nutrindo sentimentos reais por ela, ela vai se afastar.

— Às vezes, vocês adultos são muito burros — Carol falou e Cassy concordou — Você acha mesmo que estaria aqui se a mamãe não gostasse realmente de você?

— E não estamos falando daquele gostar só por gostar. Ela gosta de você do mesmo jeito que você gosta dela, eu aposto.

— Mas, ela não vai dizer, não se não tiver certeza de que você sente o mesmo por ela — Caroline completou.

— Como podem saber?

— Conhecemos a mamãe! Ela parece ser toda durona assim, mas é só uma forma de se proteger — olhou para Andy, que a olhou de volta — Ela é muito amorosa, Andrea! — ficaram em silêncio por alguns minutos, até que a morena resolveu quebrar.

— Vocês não se importam com o fato de ser uma mulher se envolvendo com a mãe de vocês?

— Lógico que não! — Cassidy respondeu com um tom de voz incrédulo.

— Mamãe se envolveu com muitos homens, mas sabíamos que não era real. Percebíamos que ela não era feliz e que, muitas vezes, fazia mais para nos dar uma figura paterna — respondeu Carol.

— Ou para não chamar atenção da mídia — a mais nova corroborou — A tia Cate já nos contou muitas histórias da mamãe e todas envolvem mulheres — riram.

— Quando nos aproximamos mais de você, a primeira coisa que comentei com a Cassy foi que seria muito legal ter você como madrasta, mas você estava com o Nathaniel e achamos que não gostasse de mulher.

— Eu também achei, mas quem resiste a Miranda Priestly? — riram outra vez. Ficaram silêncio mais algum tempo — Bom, já está tarde e vocês precisam ir dormir, aliás já deviam estar dormindo. Se a Miranda descobre que sou cúmplice da noite insone de vocês e que estávamos conversando sobre algo que, tecnicamente nem existe, eu estou ferrada — as gêmeas sorriram e Andrea se levantou — Vamos, Priestlys! Pra cama! — as ruivas se deitaram.

— Fala com ela, Andy! — Cassy falou.

— Boa noite, pequena Miranda! — beijou a testa da garota.

— Não desiste, Andy! — Carol falou, assim que a morena se aproximou de sua cama — A mamãe merece ser amada por alguém como você — completou. Aquela fala pegou Andrea desprevenida, realmente não esperava por aquilo.

— Boa noite, Carol! — beijou a testa dela e caminhou em direção a porta. Assim que encostou a porta atrás de si, Andrea respirou profundamente e olhou em direção ao quarto de Miranda. Estava tentada a ouvir o que as gêmeas tinham dito, mas achou melhor não. Pelo menos não naquela noite.

******

O relógio ao lado da cama, já marca 07h30 da manhã. Precisava levantar ou ficaria maluca caso passasse mais alguns minutos naquela cama. A noite em claro havia sido regada de pensamentos que a morena realmente preferia não ter tido. O dia anterior e a forma como Miranda a estava tratando ultimamente, somado a conversa que teve com as gêmeas, borbulharam em sua mente durante toda a madrugada, fazendo-a não conseguir pregar os olhos. Precisava sair daquela casa. Precisava colocar sua mente no lugar. Se levantou, lavou o rosto, escovou os dentes e colocou a roupa que usou no dia anterior. Saiu do quarto e desceu em direção a cozinha, tentaria beber um gole de café, pelo menos. Quando adentrou o recinto, deu de cara com Miranda sentada em uma das pontas da mesa.

— Bom dia, Miranda! — a saudou enquanto se aproximava um pouco mais.

— Bom dia, Andrea! — a editora ergueu os olhos do jornal que lia e mediu a morena da cabeça aos pés — Saindo de fininho?

— Quase isso! — respondeu e se sentou na cadeira mais próxima de Priestly — Onde estão as gêmeas?

— Ainda dormindo! Pelo o que conheço daquelas duas, só irão acordar depois das 08:30 — respondeu e retirou o óculos para olhar para sua assistente — Você as cansou bastante ontem. Fazia tempo que não dormiam tanto.

— Ponto pra mim então! — sorriu fraco.

— Todos os pontos para você, querida! — Miranda se esticou um pouco e deixou um selinho nos lábios carnudos de Andy, que não esperava por aquela atitude — Aliás, não imaginei que vocês gostassem do mesmo estilo musical.

— Achei que isso estava implícito em todo meu ser — riu e Miranda entortou um pouco o nariz — Eu até aceito você falar de Jessie, mas não ouse falar do Bruno.

— Não irei dirigir uma palavra ofensiva sequer a esse rapaz. Não quero correr nenhum risco — riu e Andy a acompanhou — Por falar nisso, foi um excelente show. Fiquei impressionada com sua dedicação.

— Vale de tudo para arrancar um sorriso daquelas pestinhas, imaginei que elas iriam gostar — suas bochechas começaram a ficar mais vermelhas.

— Elas adoraram, não tenha dúvidas! — se olharam por algum tempo — Algo me diz que onde saiu aquela performance, tem mais.

— Pode apostar que sim! — Andy abriu um largo sorriso e se perdeu nos olhos azuis e atentos que lhe observavam. De repente, as batidas de uma música começaram a tocar em sua cabeça. Seu sorriso travesso apareceu.

— Por que está me olhando com essa cara, Sachs? — questionou divertida, afinal já esperava que viesse algo inusitado de Andrea.

— Tem uma música do Bruno, que me faz lembrar de você — seu semblante era divertido. Miranda fingia prestar atenção no jornal, mas já não sabia quais palavras tinha lido e quais não tinha. A editora apoiou o cotovelo na mesa e o rosto na mão, deixando seu rosto totalmente virado para Andy.

— Não sei se será prudente da minha parte perguntar qual seria essa música — sorriu frouxo.

— That's What I Like — respondeu e aproximou um pouco mais seu rosto do de Priestly. Miranda, silenciosamente, a incentivou a continuar e a morena cantarolou o refrão da música, mesmo que um pouco fora do ritmo.

Gold jewelry shining so bright/ Estas jóias de ouro brilhando tanto
Strawberry champagne on ice/ Champanhe de morango no gelo
Lucky for you, that's what I like/ Sorte sua que é disso que eu gosto
Sex by the fire at night/ Sexo perto da lareira durante a noite
Silk sheets and diamonds all white/ Lençóis de seda e diamantes, todos brancos
Lucky for you, that's what I like, that's what I like/ Sorte sua que é disso que eu gosto


— Eu desisto de tentar entender como essa sua mente correlaciona as coisas, Andrea! — sorriu e deixou outro selinho nos lábios carnudos — Não tem razão alguma para essa música fazer com se lembre de mim.

— Como não, Miranda? — estava indignada — Ela demonstra e exala poder, você é a personificação do poder, Miranda Priestly — sua voz saiu mais cadenciada. A mais velha balançou a cabeça em negativa, enquanto sorria mais.

"Essa mulher é extraordinária!"

Se sentiu um pouco juvenil com aquele pensamento e com a sensação que sentiu começar a se apossar de seu estômago. Não estava com fome, havia acabado de comer. Só poderiam ser as malditas borboletas que todos falavam. Se repreendeu mentalmente, não podia demonstrar tanto assim. Precisava se conter.

— Já está de saída? — mudou de assunto, quebrando um pouco o clima em que estavam.

— Sim! Preciso ajeitar algumas coisas em casa… — coçou a garganta. Não era uma total mentira, mas também não era uma verdade absoluta. Precisava mesmo era sair dali — E se as meninas acordarem antes de eu ir, jamais conseguirei ir embora.

— Será uma tarefa árdua, com certeza! — concordou — Mas, antes de ir, coma alguma coisa e beba uma xícara de café — pegou uma das xícaras que estavam dispostas em cima da mesa, colocou uma quantidade considerável de café e a colocou na frente da morena, lhe incentivando.

Andrea assistiu aquele gesto e teve plena certeza de que precisava, o mais rápido possível, sair daquela casa. Estava começando a se sentir sufocada ali dentro e isso estava lhe deixando maluca. Precisava respirar longe de toda aquela atmosfera que Miranda criava. Precisava de espaço, de silêncio e, principalmente, precisava que seu sexo parasse de pulsar loucamente.

******

O dia passou lentamente e naquele domingo, nem mesmo seus desenhos e filmes conseguiram lhe distrair. Sua mente estava uma completa bagunça e seu rosto estava levemente marcado pelas lágrimas que não conseguiu segurar. Não podia acreditar que estava vivendo aquilo, mas ao mesmo tempo, assumia a todo instante para si mesma que era mais que óbvio, desde o começo, que aquilo iria acontecer. E, repassando em sua mente os momentos ao lado de Miranda, tudo ficou mais evidente. Os trejeitos da editora mudando gradativamente, a forma como a tratava, como a olhava e, principalmente, como seu corpo respondia. Era automático como tinha reações espontâneas a tudo que Miranda fazia. Seu corpo já entendia que a amava. Seu coração demonstrava que estar ao lado de Priestly lhe causava uma leve arritmia. Mas sua mente, essa a traiu durante todo esse tempo, fazendo-a acreditar que tudo aquilo não passava de algumas alucinações. Não acreditava que aquele sentimento pudesse ser recíproco, mas qual seria a desculpa para estar tendo o acesso tão livre às gêmeas. O fato de agora ser submissa da editora poderia ter ajudado com isso, mas duvidava muito disso. Sabia como Priestly era com as filhas e tinha plena certeza de que não iria conseguir se aproximar das filhas dela tão fácil.

Todas aquelas possibilidades e questões estavam esgotando o que sobrou de energia em seu corpo. Estava exausta! Sua mente implorava por silêncio e seu corpo por descanso. Sem perceber, acabou pegando no sono, deitada em posição fetal em seu sofá.

"Adentrou a casa de Miranda, mas estava tudo em um absoluto silêncio. As gêmeas pareciam não estar em casa e as paredes pareciam cinzas. Nada tinha cor. Andrea chamou por Miranda algumas vezes, mas não obteve resposta. Olhou em direção a escada e seus olhos caíram no quadro que escondia o cômodo tão conhecido por ela. Caminhou até ele e tentou usar sua digital para abrir a porta, mas não funcionava. Era como se aquela porta jamais tivesse existido. Como se nada tivesse sido real. Se virou, na intenção de sair dali, mas ao invés de encontrar a porta de saída, Andy encontrou a mesa de Miranda. Não estava mais na mansão e sim em sua sala na Runway. A editora estava concentrada, como todos os dias e parecia lhe dar ordens que, por mais que tentasse, não conseguia ouvir. Pôde assistir a mão alva retirar o óculos do rosto que tanto amava admirar e o colocar em cima da mesa. Os olhos azuis faiscavam em sua direção, como quando chegou na revista. Miranda a mediu da cabeça aos pés e Andrea sentiu um arrepio doloroso percorrer seu corpo. Era diferente do que se lembrava. Olhou para si mesma, tentando entender o que tanto a editora olhava e se encontrou vestida com suas antigas roupas. As tão temidas roupas de lojas de departamento. Após a inspeção, Priestly não lhe olhou mais e só então Andy ouviu sua voz.

— Isso é tudo! — soltou e logo em seguida fechou o livro que estava a sua frente, causando um barulho forte e seco contra a mesa."

Andy acordou assustada. Seu coração batia acelerado dentro do peito e o suor escorria por suas têmporas. Aquele sonho havia acabado de arrancar o resto de sanidade que achava que tinha. O baque tinha sido real. Tudo tinha sido real de um jeito que Andrea podia sentir em sua pele. Era como se tivesse acabado de ouvir a editora falar, como se toda aquela frieza tivesse acertado em cheio seu peito. Uma batida seca e forte na porta de seu apartamento, fez a morena se assustar.

— Ai que merda! — bufou e se levantou, indo em direção a porta, para saber quem poderia ser. Ao abrir, não soube como reagir, muito menos o que dizer.

— Oi, Andy! — Lilian a saudou, com a voz um pouco receosa.

— Oi, Lily! — não sabia se era a melhor escolha no momento, mas deu passagem para sua amiga entrar — Está tudo bem?

— Ia te fazer a mesma pergunta, você não está com a cara muito boa — pontuou.

— Só estou com a cabeça cheia e você? Também não me parece muito bem.

— Eu queria conversar com você, mas não aqui — respirou fundo quando assistiu a morena cruzar os braços em frente ao peito — Podemos ir para um outro lugar? — Andy ponderou aquele pedido. Não era a melhor das alternativas, afinal na última vez que se encontraram, a conversa não havia sido muito amigável, mas ficar em casa remoendo todas suas questões, também não iria lhe fazer bem.

— Me dê 20 minutos para me arrumar. Eu já volto! — descruzou os braços e fechou a porta, que até então estava aberta — Bom, você já conhece tudo, então fique a vontade — falou sem muita vontade e se retirou.

Sachs alcançou seu quarto e seguiu direto para o banheiro tomou um banho rápido, sem molhar seus fios e logo já estava em frente ao seu guarda-roupa. Tirou de dentro dele uma calça preta skinny no modelo destroyed, uma regata preta básica de alças finas e uma jaqueta de couro preta. Não estava afim de se arrumar pra valer, aquilo tinha de servir. Calçou uma de suas botas de cano baixo, pegou seu celular e voltou para a sala.

— Parece que estamos indo para um velório — Lily tentou brincar, mas o semblante de Andy não se mexeu, então preferiu se calar.

O caminho, desde o apartamento de Andrea até o carro de Lilian, fora feito em completo silêncio e a morena já estava se arrependendo de ter aceitado sair de casa. Dentro do carro, a mulher tentou puxar alguns assuntos, mas a falta de interesse de Sachs em participar, a fez desistir. Não demorou muito para chegarem a um restaurante simples, mas que sempre gostaram de ir. Se sentaram e Andrea olhou para sua amiga, esperando que ela iniciasse o diálogo.

— Eu trouxe você aqui hoje, Andy, porque eu preciso me desculpar com você — a morena nem se mexeu. Seus braços estavam apoiados na mesa e suas mãos tinham os dedos entrelaçados — Não tenho sido uma boa amiga.

— Sério? — foi sarcástica — Juro que não percebi!

— Já está sendo bem difícil sem você sendo um poço de acidez, Andy. Colabore — sua voz saiu baixa e até um pouco suplicante. Andrea respirou fundo, precisava se conter. Apesar de estar chateada e magoada com a amiga, ela não tinha culpa de sua cabeça estar uma enorme bagunça.

— Okay… Me desculpe! — Lily assentiu e voltou a falar.

— Naquele dia, na sua casa, eu não deveria ter falado daquele jeito. Mesmo querendo te alertar e te proteger, eu poderia ter usado outras palavras, não queria ter sido rude.

— Mas, não conseguiu Lilian! — usou o nome dela e isso a pegou desprevenida — E além de ter sido rude, você usou um discurso machista que, sinceramente, eu achei que jamais ouviria de você. Sempre tão a favor dos direitos das mulheres e tudo mais — seu gênio estava a solta, sabia disso e sabia também que precisava tentar se contar, mas aquele não estava sendo um dia bom.

— Eu sei! Fui uma babaca — constatou.

— Para dizer o mínimo.

— Eu não tinha o direito de dizer o que disse. Se você se apaixonar por ela, pode muito bem lidar com isso — Andy sorriu sem vontade. Estava na merda mesmo, pois estava apaixonada por Miranda e não estava sabendo lidar com nada — E como você mesma disse aquele dia, ela não é obrigada a corresponder seus sentimentos e isso não a torna um monstro — respirou fundo. Andy estava caindo outra vez em seus pensamentos conflituosos e isso era tudo o que ela não queria — Mas, existe a possibilidade dela se apaixonar por você também. Qualquer um que se apaixonasse por você teria sorte, Andy. Você é… — a morena parou de ouvir toda e qualquer palavra que sua amiga proferia. Aquele era o assunto delicado que Sachs não queria falar, que não podia falar.

As palavras das gêmeas não saíam da cabeça de Andrea e ela se perguntava como duas pré-adolescentes poderiam ser tão coerentes em alguns assuntos. Tudo bem que os sentimentos dela por Miranda poderiam ser vistos até por um poste, agora ela podia enxergar isso, mas eram as filhas de Miranda e não qualquer pessoa. Ter consciência de que até Caroline e Cassidy sabiam do que sentia, a fazia pensar que sua chefe também sabia. Ou pelo menos deveria suspeitar. Sua cabeça latejava com tantos pensamentos intensos e conflituosos pairando em sua mente. Um suspiro profundo saiu de sua garganta.

— Andrea! — a voz de Lily a retirou de seus devaneios — O que foi? — Andy franziu a testa, como quem questiona qual o real motivo daquela pergunta — Você ficou quieta do nada, como se estivesse pensando em algo muito importante e depois bufou, como se estivesse nervosa — explicou. Andy olhou para sua amiga e naquele momento ela soube o que precisava fazer para aquietar seu coração. Não aguentaria passar nem mais um segundo com aquela dúvida em sua mente e aquele aperto em seu peito.

— Me desculpe, Lily! Eu preciso ir — informou, já se levantando. Lilian a olhou confusa.

— Aonde você vai? São quase dez da noite, Andrea… — tentou advertir sua amiga, mas foi em vão. A morena já estava longe para lhe ouvir.

Assim que alcançou a calçada, Andy acenou para o primeiro táxi que passou e, por sorte, ele estava sem passageiros e parou para levá-la até o seu destino. A morena informou o endereço ao motorista, que estranhou o fato dela estar querendo, praticamente, atravessar Nova York tão tarde. Quase quarenta minutos depois, o carro estava estacionando em frente a casa que Andrea conhecia muito bem. Após pagar pela corrida, a morena desceu e respirou fundo quando seus pés tocaram a calçada. Caminhou até o portão e sua entrada logo foi liberada, afinal nas últimas semanas havia frequentado bastante aquela casa. Somente quando estava diante da imponente porta de madeira, que a morena se perguntou se era uma boa ideia estar ali. Não teve muito tempo para pensar, pois mesmo sem ter batido, sua presença foi notada e a porta já estava sendo aberta.

— Aconteceu algo? — a voz de Miranda saiu séria e preocupada.

— Não, eu só… É — gaguejou um pouco e pôde ver as sobrancelhas de Priestly franzir — Me desculpe, Miranda! Eu não deveria… — fora interrompida.

— Você não viria até aqui, a essa hora da noite por nada, Andrea — se afastou um pouco, abrindo a porta e dando passagem para a morena — Entre!

— Eu não quero atrapalhar! Sem contar que você já deve estar indo dormir — tentou rejeitar, mas sabia que não conseguiria mais recuar.

— Andrea, entre logo… — soltou e Andy caminhou para dentro — Pelo menos assim posso distrair um pouco minha mente do trabalho — sorriu leve.

Andy adentrou por completo a casa de Miranda. Suas mãos suavam e ela se perguntou porque não pôde se conter, ouvir sua amiga e continuar onde estava. Agora não podia mais ir embora sem parecer uma maluca e não sabia se estava pronta para falar o que gritava em seu peito.

— Andrea, não fique me olhando com essa cara, fale logo… O que veio fazer aqui tão tarde? Estou começando a ficar preocupada! — questionou, fazendo Andy engolir em seco e entender que nada do que inventasse convenceria Priestley e que sua única saída era colocar pra fora seus sentimentos.

— Bom, eu… — Andrea coçou a testa, tentando organizar seus pensamentos e consecutivamente as palavras, não sabia como começar — Eu nem sei como dizer isso sem parecer uma maluca.

— Você já está parecendo uma maluca — soltou, na intenção de fazer Sachs rir, mas notou que os músculos do rosto da mulher nem se mexeram — Você está me assustando, Andrea! Está tudo bem? — era inegável o quanto se conheciam. Depois de tantas semanas dominando e sendo dominada, a relação das duas evoluiu e obviamente se preocupavam uma com a outra.

— Já tem um tempo que tem algo dentro de mim e eu sinto que se não falar, se eu não colocar pra fora, vou explodir — um arrepio frio subiu pela coluna da editora. Ela sentiu o clima mudar, ela sabia sobre o que Andrea queria falar, mas não queria ouvir — Sabe, eu sei que isso vai parecer loucura e que eu não deveria estar dizendo isso — soltou um riso nervoso — Aí meu Deus! O que eu estou fazendo? — perguntou para si mesma, mas alto o bastante para Priestly ouvir.

Um silêncio se formou entre as duas, enquanto se olhavam sem piscar por um segundo sequer. Miranda estava em choque, não imaginava que Andrea poderia gostar realmente dela um dia, mas ao mesmo tempo, queria muito que isso acontecesse.

— Já tem algum tempo que eu percebi isso, mas não queria acreditar. Eu não queria que fosse verdade… — começou a falar com a voz baixa e derrotada — E o motivo de não querer é simplesmente por saber que nada disso seria recíproco. Afinal, onde já se viu, Miranda Priestly apaixonada por mim, uma simples assistente — aquelas palavras fizeram um frio intenso atingir a barriga de Miranda.

"Andrea está apaixonada por mim? Não! Isso é impossível!"

— Eu tentei, de todas as formas, dizer para mim mesma que isso era coisa da minha cabeça e que jamais iria acontecer — nesse momento, Andy ergueu sua cabeça e olhou diretamente nos olhos azuis de Miranda — Nós duas, jamais iria acontecer. Não como eu tenho fantasiado nessa minha cabeça fértil — riu sem a menor vontade — Você me tem como sua submissa e eu amo isso. Amo o fato de servir você naquele quarto ou em qualquer lugar que possamos ser Donna e Amita. Você me inseriu num universo que eu não imaginei que iria gostar tanto, me apresentou coisas que eu nem sequer sabia que existia e eu agradeço por isso — as lágrimas já tomavam conta de seus olhos, enquanto a mulher a sua frente permanecia estática — Eu amo ser a sua submissa e adoraria continuar sendo, mas eu sei que depois de colocar pra fora o que eu tenho para dizer, não poderemos voltar atrás. Eu não poderei voltar atrás.

Andy passou uma das mãos no rosto e seguiu com ela para seu cabelo. Ela não podia acreditar no que estava fazendo. Não conseguia calcular quais seriam as consequências daquele ato tão impensado, porém tão esperado e adiado. Tinha plena certeza de que sua convivência com Miranda acabaria no instante em que falasse as palavras que estavam presas em sua garganta. Sabia que nunca mais a veria, a não ser é claro, na capa de alguma revista ou na televisão, sendo a rainha que sempre foi. Nunca mais tocaria sua pele e nunca mais a teria como sua dominadora.

— Andrea, eu não acho que… — tentou protestar, mas fora impedida.

— Eu te amo, Miranda! E não importa o que digam ou até o que você ache, esse sentimento existe em mim e eu sei que ele permanecerá aqui — todas as proteções um dia criadas por Miranda, foram abaixo com aquela revelação. A editora se sentiu exposta, despida e vulnerável. Se perguntava como uma mulher, com palavras tão simples, poderia a desarmar dessa forma. Uma onda de pavor passou por seu corpo e a editora sentiu tudo o que um dia achou ter enterrado, voltando a lhe assombrar — Miranda, eu não espero que… — Priestly ergueu a mão, claramente pedindo para a mulher a sua frente se calar.

— Eu preciso que você vá embora, Andrea! — sua voz saiu firme. A morena não se mexeu, apenas respirou fundo, olhando-a. O silêncio durou por alguns instantes. Miranda não sabia o que dizer, muito menos o que sentir. Seu coração parecia querer rasgar o seu peito e as lágrimas já estavam querendo saltar de seus olhos. Sua mente estava uma bagunça. Aquilo não podia estar acontecendo. Andrea sentia um buraco se abrir abaixo de seus pés e seu peito se contorcer. Era a primeira vez que falava aquilo em voz alta, era a primeira vez que assumia que amava Miranda de uma forma tão concreta. Por mais que esperasse por uma recusa por parte da editora, aquelas palavras foram demais — Andrea, vá embora! — falou outra vez. Sua voz estava fraca e falha, demonstrando todo o seu estado de espírito. Andy balançou a cabeça em concordância e sorriu sem vontade. Olhou para os seus pés, enquanto enfiava suas mãos nos bolsos de sua calça.

— Eu tentei não aparecer aqui e expressar tudo isso que estou sentindo, mas foi impossível. Eu não conseguia mais guardar isso comigo, Miranda — ergueu a cabeça. Seus olhos vermelhos evidenciavam o quanto aquele momento estava lhe trucidando — Mas eu não consigo mais. Não consigo esconder de mim, não consigo fingir que não estou sentindo tudo isso dentro de mim. Seria cruel demais continuar ao seu lado, sentindo tudo isso, sem que eu me expressasse — seu sorriso era doloroso — Eu sei que para você não é assim e que nunca será, mas eu precisava lhe dizer isso. Me sinto melhor por colocar para fora — suspirou profundamente,  caminhou em direção a porta e a abriu — Obrigada por me proporcionar as melhores semanas da minha vida, Miranda! — após dizer isso, Sachs fechou a porta atrás, deixando Priestly estática no mesmo lugar.



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