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História Lembranças - Presente


Escrita por: staargirl

Capítulo 15 - Presente


-Dave vai adorar!

Pensei alto enquanto saía da única loja de discos do bairro com o mais novo lançamento do Kansas e desde que ele havia comentado semanas atrás o quão louco estava para ouvir, só pensei em comprar e lhe dar de presente, agradá-lo de todas as formas possíveis, retribuir de alguma forma todos os espasmos e sensações incríveis que ele me proporciona, porque queria o deixar minimamente feliz com um presente aleatório em um dia qualquer...porque eu queria que toda vez que ele ouvisse Kansas...lembrasse de mim, porque eu adorava vê-lo sorrindo, porque eu adorava passar as tardes com ele em minha cama falando coisas aleatórias enquanto me ajudava no dever de casa, porque eu...porque eu o adorava de todas as formas possíveis e queria que ele me adorasse também e acreditava que o fazia quando ele retribuía meus sorrisos ou largava seu amigo imbecil para me fazer companhia.

- Dave vai adorar! – pensei ao ir da loja direto para sua casa, sabendo que ele não ficaria bravo se eu aparecesse por lá ao julgar suas atitudes carinhosas na última semana e com isso, embalei o disco e o coloquei embaixo do braço, seguindo pelo caminho claro do entardecer com um sorriso idiota no rosto, acenando e falando com todos que passavam ao meu lado, mesmo que eu não conhecesse, um “boa tarde” não faria mal a ninguém, sorri novamente, sorri ao lembrar de coisas aleatórias como quando ele acariciava minhas bochechas, sorri ao atravessar o sinal, sorri ao passar pela faixa de pedestres lembrando do seu cheiro amadeirado, de como ficava estonteante com suas jaquetas de couro, lembrando do gosto doce de sua boca volumosa e delicadamente bem desenhada. Sorri de novo. Sorri ao imaginar sua reação. Sorri a imaginá-lo escutando-o com empolgação e me ensinando sobre música, podendo ver o brilho em seus olhos ao tratar de algo que gosta tanto, uma paixão verdadeira e tenho plena certeza de que meus olhos ficam da mesma forma quando olho para Dave. Uma paixão.

Toquei a campainha mantendo o sorriso que fiz questão de aumentar quando a porta foi aberta e nem a imagem bruta e cruel da mãe de Dave me fitando com desgosto me fez relaxar as bochechas  - Dave está? – ela não disse uma mísera palavra, na verdade nem ao menos me escutou, apenas saiu do caminho, dei de ombros e entrei.

Varri os olhos pela sala, constatando que ele não estava na sala e nem na cozinha. Sorri ao olhar para escada, sorri ao lembrar de quando as subi pela primeira vez em uma situação não muito confortável pendurado em Dave, sorri ao imaginar que ele estivesse em seu quarto e de que eu poderia deitar em seus lençóis e fazer parte do seu ambiente, mesmo que minimamente, eu me sentiria parte dele, me sentiria mais incluído em seu mundo.

Cheguei em seu quarto, pude ouvir o som alto da música pesada saindo por entre as frestas da porta. Sorri com aquilo. Empurrei levemente e segurei o disco com satisfação, prestes a entrega-lo. Encontrei o quarto pouco habitado, levantei o rosto. Meu peito encolheu com a sensação estranha de puro desapontamento ao ver o amigo “estranho” de sempre de Dave sentado em sua cama, os cabelos pretos enormes e lisos deixando-o mais amedrontador. Vasculhei o quarto. Dave não estava lá.

Quis correr para que ele não me visse. E se Dave ficasse bravo comigo por que o estranho me viu em sua casa? E se...Muito tarde. Ele levantou o olhar e soltou o típico olhar junto com o riso irônico de sempre – Pensei que nunca fosse te ver por aqui – gritou ultrapassando o volume da música. Congelei com sua fala. O que ele queria dizer? Dave havia contado sobre nós? E por um momento essa ideia me deixou feliz...Dave havia contado sobre nós. Se ele havia contado é porque não se envergonha...Dave havia contado sobre nós. Dave havia falado de mim para alguém!

Precisei esconder a alegria crescente em meu peito.

- Dave está? – continuei perto da porta, temendo dar qualquer passo.

- Está vendo ele aqui? – arrogante e irônico como sempre. Abri a boca sem saber como reagir  e dei meia volta, destinado a voltar quando Dave estivesse e lhe perguntar o que tinha falado sobre mim – Michael- outro grito e quando me dei conta ele já estava ao meu lado, com a respiração quente fazendo com que a minha falhasse de puro pavor – O que tem aí?

- Na...- tentei responder e esconder, mas ele foi mais rápido e tirou o disco das minhas mãos, soltando um riso estranho assim que visualizou a capa – Não estraga- fitei o chão.

- Dave vai...sutar com isso! – outro riso irônico – Pobre garoto – pousou a mão em meu ombro e fez uma expressão tristonha- Não sabia que vocês já estavam até trocando presentes! Deixa que eu entrego pra ele.

- Prefiro entregar pessoalmente.

- Lars – ele sabia meu nome? Dave realmente havia contado sobre mim, ainda mais, claro que sabia, ele estudava na escola há séculos e eu costumava ser o mais popular poucos meses atrás –Quero ser legal com você- estranhei suas palavras, o garoto continuava amedrontador – Você gosta dele? –continuei quieto – Sou o melhor amigo dele, Dave me conta tudo – quase sorri com isso, é oficial, Dave contou de mim para ele e se Dave confia nele, então eu posso tentar gostar um pouco do tal Michael.

Fiz que sim com a cabeça.

- Own! – foi irônico ou talvez eu não o conhecesse e ele fosse sempre assim – O filho da mãe foi longe mesmo!

- O que disse?

- Ah nada demais, só que na última conversa que tive com Dave a seu respeito – corei – Ele só sabia falar “fui longe demais, longe demais” – imitou o tom arrogante que Dave não usava há tempos.

- Pode me devolver o disco? – eu estava ainda mais ansioso para entrega-lo pessoalmente. Tentei pegar a embalagem mas acabei desistindo- Ou ao menos dizer que passei por aqui e mandei um presente? Por favor.

- Como quiser- deu de ombros e foi até o colchão, senti inveja dele por isso –Gostou? – levantou uma guitarra preta com adornos avermelhados que estava ao seu lado – É o novo brinquedinho dele.

- Você não deveria mexer nas coisas dele.

Michael sorriu- Sabe quanto ele pagou nesta belezinha aqui?

 Dei de ombros. Só querendo que ir embora ou que Dave chegasse logo e torci para que ele dissesse que o disco era um presente meu e não levasse o crédito.

- Duzentas coroas- alisou a guitarra enquanto falava.

- Legal – sussurrei já perto da porta.

- Vai ficar demais quando ele a usar nos nossos próximos shows – sorri e continuei na porta- Quanto você vale?

- Como? – que tipo de pergunta babaca era aquela?

- Qual o seu preço?- sorriu – Se eu soubesse que teria ido tão longe – outro riso – Teria dado bem mais! Filho da mãe estava certo mesmo – outro riso, esse mais alegre e normal.

- Do que está falando? – me aproximei mesmo que sentisse minhas pernas tremerem.

- Deveria se orgulhar, você custou essa guitarra! – apontou para o instrumento – Quer dizer, você custou duzentas coroas, Dave soube bem o que fazer com a grana que ganhou.

- O quê? O que tenho a ver com a merda da guitarra? Qual é o seu problema?

- O problema não é meu, é seu- falou e virei, o fitando e saindo de perto da porta- Vamos lá, não é tão burro, Lars- soltou meu nome em um sussurro – Em que conto de fadas você vive para acreditar que alguém começa a gostar de você de um dia para o outro sem uma justificativa plausível? Até o acampamento ele te odiava e subitamente no segundo dia ele está “fugindo de alguém que quer amar?” Está completamente apaixonado – gargalhou – Por você?

As conversas. Os dois me encarando e sorrindo no refeitório.

- E de um dia pro outro ele se declara aos seus pés? – continuou falando e bateu no colchão  de tanto que ria – Não sabia que poderia ser tão tolo, me desculpa.

- V-você pagou pra ele ficar comigo?- travei o queixo. Respire. Respire. Respire.

- Nós apostamos – ele se aproximou e afagou meu ombro –Tudo bem, tudo bem, reconheço que você merece desculpas , merece uma explicação, me deixe lembrar como começou- coçou o rosto e cruzou os braços numa pose completamente falsa-Ah, claro! O dia em que você e seus amigos resolveram acabar com a nossa festa, você perseguindo Dave, Dave te ridicularizando, Dave me contando tudo, te encontramos casualmente no acampamento e resolvemos brincar um pouco. Gostou da piscina particular? Do show no banheiro quando ele te escondeu de mim para deixar tudo mais interessante e fazer com que me visse como o vilão da história! Caramba, nós somos bons, deveríamos ser atores! O que acha, Lars? Foi bem convincente, não?- outro riso – Confesso que estávamos só de tiração, mas depois do dia da montanha resolvi tornar o jogo mais interessante e colocar um dinheiro no meio, tipo pôquer, sabe? Ver até onde Dave ia, e então aquele dia tenso em que apareceu aqui e quase estraga tudo, aliás fizemos um bolão com os meninos da banda para ver por quanto Dave te levava pra cama, ele recusou trezentas coroas, acredita? “ Não, isso não, não vou foder com ele, é nojento! Não vou nem chegar perto de tocar nele dessa forma, argh! Vamos fazer só o combinado” – imitou o sotaque de Dave.

Não pisque. Não pisque.

- Todo mundo sabe?

- Claro! Foi divertido. Deveria ver Dave contando as idiotices que fazia, o que ele falava para te fazer cair direitinho, derreter por ele – falou e recuei com força de sua mão em meu ombro ao mesmo tempo que o olhar embaçado derrubou uma lágrima que pingou com agressividade no chão de seu quarto- Não chora! Para! Cresce um pouco, foi divertido! Olha só... não sou o vilão, acredite, fiz uma boa ação lhe contando isso, depois que conseguiu grana, Dave só iria te ignorar, pelo menos estou lhe explicando o porquê e vou convence-lo de não seguir o combinado.

- Que combinado?

- Não importa- afagou meu ombro, desviei com mais força, quase o deslocando- Fique com isso – enfiou o disco em meu braço imóvel- Dave não vai querer mesmo, a propósito, ele odeia Kansas.

- Temos um show n...- Dave apareceu na porta, abaixei o olhar – Lars – veio até mim – O que faz aqui?

Estendi a mão e sem reação alguma, empurrei o disco em seu peito e saí.

 


Notas Finais


Postei e saí correndo
O que estão achando?


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