Temari estendeu ao irmão o primeiro relatório da missão que tinha incumbido a ela na noite anterior: uma lista dos membros de sua equipe, as habilidades de cada um e as primeiras ordens que tinham recebido dela. Por alguma razão, sentia-se mal por isso. Investigar Sakura era necessário, era o esperado, deviam ter iniciado essa busca antes de convidá-la para viver embaixo do mesmo teto que o Kazekage. E ainda assim sentia que não era correto. Gaara olhou o documento com displicência e o guardou em uma das gavetas de sua mesa. Era evidente que ele também não estava à vontade com isso. Mas era o Kazekage e cumpria seu dever para garantir a proteção da vila. Pela primeira vez, via o título pesar sobre os ombros dele.
— Kankuro receberá alta hoje. – Avisou.
— Irei buscá-lo assim que terminar...
— Não. – O interrompe. – Você disse que levaria Sakura ao jardim hoje.
— Eu posso fazer as duas coisas. – Diz olhando-a.
— Se for buscar Kankuro primeiro, terá pouco tempo para mostrar o jardim a Sakura porque já será muito tarde. – Insiste. – Deixei instruções para que sirvam o jantar de vocês mais cedo. Eu vou buscar Kankuro e quando chegarmos espero não encontrar nenhum dos dois.
Saiu da sala rapidamente para que Gaara não pudesse protestar. Estava colocando grandes expectativas nessa ida ao jardim. Além do lugar ser muito romântico, Gaara amava aquelas plantas. O único momento em que seu irmão parecia ser humano era quando estava agachado frente a um pequeno cacto cuidando dele como se fosse algo precioso. Queria que Sakura visse isso, que visse esse lado terno de Gaara. E que com isso as coisas avançassem entre os dois.
Embora, depois do que viu a noite, não achava que eles precisassem de muita ajuda. Ou melhor, que Sakura precisasse. Ela transpassava a defesa absoluta de Gaara como se não existisse nenhuma barreira. Não só Gaara tinha permitido que o tocasse como também tinha iniciado um contato. Tinha tardado anos em conseguir dar um beijo na testa de seu irmão caçula e Sakura tinha beijado sua bochecha sem mais. Como se fosse natural, um costume. Estava tão feliz, apesar de um pouco enciumada. Mal podia segurar sua língua em sua boca, precisava contar para Kankuro.
Agora que pensava a respeito, devia ter agido mais como Sakura em seu próprio relacionamento. Esperou que Shikamaru tomasse a iniciativa para tudo. E como o bom preguiçoso que era, ele tinha demorado muito. A espera de agora era o pedido de casamento. Pensou que pediria no dia dos namorados, depois no festival do amor e com isso se passou o ano sem que o pedido chegasse. Sabia que ele queria, mas estava receoso com a situação deles. Eram de vilas diferentes e ambos ocupavam cargos de confiança. Ele era o conselheiro do Hokage como ela era conselheira do Kazekage, e mais, sua irmã. Sabia que devia ser ela a abandonar tudo por ele. Gaara tinha Kankuro enquanto Naruto era um completo idiota e precisava de Shikamaru.
Devia pedi-lo em casamento. Sim, a próxima vez que encontrasse com ele iria pedi-lo em casamento e acabar com aquela espera. Era uma Sabaku no e não iria ficar esperando um noivo molenga e preguiçoso tomar a atitude de fazer o que os dois queriam. Assim que juntasse Sakura e Gaara, se demitiria de seu cargo de conselheira, enviaria um pedido de transferência a Konoha e apareceria na porta de Shikamaru com uma mala definitiva. Riu imaginando a cara dele. Era um estrategista, pensava em todos os detalhes e dez passos à frente. E Temari achava muito divertido deixá-lo desconsertado e sem reação. Surpreendê-lo.
Acenou para Kayra quando passou por ela, indo em direção ao quarto de Kankuro. Ela e Sakura haviam desenvolvido uma amizade que, em sua opinião, se devia a admiração de uma pela outra. Sakura sempre tecia elogios à enfermeira sobre suas habilidades em ninjutsu médico. E em sua última visita a Kankuro, conversou com Kayra sobre Sakura. Segundo ela, Sakura era uma médica talentosíssima e lhe ensinava algumas coisas a cada encontro das duas. Vendo os olhos brilhantes de Kayra, não tinha pensado que as habilidades de Sakura poderiam ser perigosas. Mas agora que Gaara havia levantado a suspeita, ninjutsu médico não servia apenas para curar, era uma arma muito perigosa em um campo de batalha. Gaara tinha razão em mandar investigar Sakura, por mais que não gostasse disso. Se Sakura tivesse intenção de fazer mal, com seus conhecimentos médicos poderia devastar Suna.
— Por fim! – Diz Kankuro ao vê-la. – Pensei que tinham se esquecido de mim.
— O médico disse que só te liberaria ás 18h, ainda são 17h. – Se defende. – Volte a deitar, não sairemos daqui tão cedo.
— Deitar? – Reclama. – Eu quero sair daqui imediatamente.
— Não, Kankuro. – Nega, fazendo-o levantar os braços em frustração. – Eu disse a Gaara para ir direto para casa jantar e levar Sakura ao jardim. – Explica. – Se chegarmos cedo, eles não vão jantar a sós como eu planejei.
— Se tratando do Gaara... – Diz se sentando na cama. – A sós ou acompanhados, não faz diferença.
— Isso é o que você pensa. – Fala animada. – Ontem ele até recebeu um beijo.
— Na boca?!
— Não, pervertido. – Revira os olhos. – Eles estavam conversando sozinhos ontem de madrugada e Sakura deu um beijo de boa noite na bochecha dele.
— E você estava espiando, claro.
— Foi uma coincidência, não fui à cozinha com essa intenção.
— E também não foi embora quando viu os dois. – Acusou.
— O fato é que deixá-los sozinhos é uma coisa boa.
— Temari, não se iluda. – Suspira. – Ele provavelmente estava com a armadura de areia.
— Aí está outro engano seu. – Diz divertida. – Não estava e ficou um tempão tocando o próprio rosto.
— Parecia estar com raiva? – Perguntou. – Não posso negar que estou surpreso.
— Nada de raiva, tinha um sorriso bem grande.
— Um sorriso grande? – Balança a cabeça. – Temari, acho que você sonhou com isso.
— Não sonhei, idiota. – Bate na cabeça dele.
— Ai. – Reclama, massageando a cabeça. – Eu ainda estou em recuperação. – Lhe recordou.
— Eu perguntei a ele sobre Sakura, já que certa pessoa é um inútil conseguindo informações.
— Ei, ele disse que conversaríamos quando eu estivesse em casa. – Se defende. – E Sakura veio com ele, Gaara não ia me dizer nada na frente dela.
— De qualquer forma... – Continua. – Ele disse que Sakura é especial.
— Ela é. – Concorda Kankuro.
A tristeza na voz dele era ainda mais evidente do que o sorriso que ele tinha no rosto. Talvez Kankuro não fosse um lobo solitário afinal.
~O~
Sakura encarava Gaara com a surpresa estampada em seu rosto. Tinha dito que Temari se atrasaria e que não deviam esperar por ela porque depois do jantar iriam ao jardim. Temari a tinha enganado. Pela manhã, depois que Gaara saiu para trabalhar, havia pedido que colocasse a mesa cedo, apenas para dois, e que tudo tivesse um clima bem romântico. Pensou que Shikamaru estava a caminho e Temari queria jantar a sós com ele antes do irmão chegar, mas agora recordava que em nenhum momento Temari falou de Shikamaru, nem mesmo quando perguntou se era para ele o jantar especial.
Mataria Temari quando encontrasse com ela. Tinha preparado a mesa com uma louça cara e até colocado velas. E para piorar, Gaara não tinha ido para o quarto tomar banho antes de jantar como sempre fazia, porque não podiam ir para o jardim tarde ou a lua já não estaria em posição de iluminar o lugar e acabariam por não conseguir ver nada. Com isso, não teve tempo de desfazer a mesa ou tirar as velas e viu quando Gaara se deteve frente à mesa encarando tudo. Encolheu-se esperando o olhar dele e suas palavras.
— Temari?
Foi tudo o que ele disse e, seu sim foi mais um suspiro aliviado. Devia saber que Gaara conhecia a própria irmã. Ele indicou que se sentasse e o fez, sentindo-se envergonhada pela situação. Ainda mataria Temari quando a encontrasse. Começou a se servir, mas se deteve quando as luzes da cozinha se apagaram. Olhou para a lâmpada no teto, confusa, mas logo Gaara ganhou sua atenção quando com um isqueiro acendeu cada uma das velas. Então ele lhe olhou e esperou que terminasse de se servir antes de fazer o mesmo.
— Como foi seu dia?
Ele parecia um pouco sem jeito em perguntar, como se não tivesse certeza de como iniciar um diálogo com ela. Sorriu para tranquilizá-lo. Estava se sentindo tão pouco a vontade com aquela situação quanto ele. Teria que matar Temari antes dele ou não sobraria nada de Temari para ela matar porque Gaara certamente tinha planos de “conversar” com a irmã.
— Kayra chegou logo depois que você saiu, me verificou e me fez outra infusão de chakra. Dormi o resto da manhã. – Conta. – Depois do almoço, quando terminou o turno dela, ela veio treinar alguns jutsus. Conversamos sobre um paciente dela que não está respondendo bem ao tratamento e sobre algumas plantas que ela quer tentar plantar na estufa do hospital.
— Eu recebi o pedido. – Diz pensativo. – Mas ela não atendeu ao requisito de adicionar o apoio escrito de um dos médicos.
— Entendo que para fazer esse investimento você precisa de um motivo maior do que o desejo de uma enfermeira e que eu não posso apoiá-la formalmente. – Diz sem olhá-lo. – Mas posso te dar minha opinião profissional, se quiser ouvir.
— Eu não conheço sua formação médica. – Implica, ganhando um olhar raivoso. – Mas posso ouvi-la.
— As plantas que ela quer colocar na estufa são simples, baratas e fáceis de conseguir nos países vizinhos. – Explica. – Porém ter uma fonte própria delas torna Suna mais independente.
— Pelo que vi essas plantas não são usadas para nada especial e em Suna solo fértil não pode ser desperdiçado.
— Nada é especial quando se tem em abundância, Kazekage, as coisas se tornam importantes quando estão em falta. – Comenta. – Imagine o hospital sem esparadrapo, gazes ou algodão. São todas coisas simples, baratas e acessíveis no momento, mas que causariam um caos se em falta. – Explica. – Do mesmo jeito que você se preocupou que Suna tivesse o seu próprio fornecimento de esparadrapo, gazes e algodão, eu acho que deveria considerar a proposta de Kayra com cuidado.
— Entendo. – Diz encarando-a com um pouco de admiração. – Você pode defender uma das plantas que ela sugeriu?
— De maneira simples e sem termos técnicos. – Começa. – O principal remédio para dor usado em Suna atualmente é importado da aldeia do Rio. Devido às necessidades muito específicas da planta usada para fazer esse remédio, foi impossível cultivá-la aqui. – Explica. – Uma das plantas que Kayra sugeriu é a base de um analgésico. Obviamente, menos efetivo e com efeitos colaterais, porém barato e fácil de fazer. Perfeito para uma emergência.
— A estufa tem outras plantas que podem ser usadas como analgésicos.
— Sim, mas em um momento de crise não seria mais prudente usar um analgésico barato para uma dor de cabeça e guardar o mais caro para uma ferida?
— Tem razão. – Concorda. – Vou considerar a proposta. Com cuidado. – Completa sorrindo discretamente. – Falarei com outros médicos e enfermeiros.
Sakura sabia que ele consideraria a proposta de Kayra com cuidado, mesmo antes de expressar sua opinião sobre ela. Gaara era um Kazekage extremamente preocupado com o povo e a saúde de Suna tinha melhorado muito durante seu governo. Ele tinha investido muito na estufa, mesmo com o conselho martelando na cabeça dele que o dinheiro poderia ser melhor empregado em outra área. Gaara era jovem, mas ninguém podia colocar em dúvida sua habilidade de governar, era o melhor líder que Suna havia tido.
— E como foi o seu dia?
— Reuniões, pilhas de papéis para ler e assinar, missões para distribuir. – Lista, desinteressado. – O de sempre.
— Você gosta de fazer tudo isso, não? – Pergunta interessada. – Tirando reuniões com o conselho.
— Sim. – Suspira. – É estressante, mas na maior parte do tempo é gratificante. – Explica. – O povo é minha responsabilidade e eu gosto de cuidar dele.
— Você faz isso muito bem.
O elogio o constrangeu um pouco e Sakura só pode achar graça disso. Não era um homem inseguro, tinha plena consciência de que tinha habilidades incríveis, mas não se vangloriava delas e se constrangia quando alguém as ressaltava. Tinha inclusive conseguido fazê-lo corar algumas vezes, principalmente quando elogiava as habilidades sexuais dele. Certamente ele já não corava com isso. Tinha sido a primeira dele, mas agora ele devia ter uma extensa lista de ex-namoradas.
— Vamos ao jardim? – Pergunta ignorando o ciúme e a tristeza que sentia. – Vou pegar meu vaso.
Agarrou o vaso que tinha deixado na janela da cozinha e seguiu Gaara para fora da casa. Quando achou o vaso abandonado no porão da casa, tinha ficado com raiva. Gaara tinha deixado morrer a plantinha que tinha dado a ela quando começaram a namorar. Tinha sido injusta em direcionar sua raiva a ele. É claro que ele não se lembrava daquela planta, ele provavelmente nem se lembrava de que havia um escritório no porão já que Sakura era quem costumava utilizá-lo.
Havia posto uma nova planta e deixaria o vaso no jardim deles para que Gaara se lembrasse de cuidar dela. Ele não saberia o significado, mas ela sim. Quando teve que partir a primeira vez, não pode deixar nada seu com ele. Sakura tinha partido cheia de lembranças e o deixado apenas com o vazio. Mas agora, nessa segunda oportunidade, procuraria deixar com ele boas recordações dela.
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