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História Lembranças dos Meus Anos - Aos 18


Escrita por: Milynha_Sh

Notas do Autor


Olá povo lindo do meu coração!

CHEGAMOS A NOSSA ÚLTIMA POSTAGEM DO ANO. OUWW YEAHH!!!!

Xent iria postar só na terça, dia 27/12, motivos? Estou completando um ano de spirit nesse dia! Nossa, em tão pouco tempo tanta coisa aconteceu né!? Lembro bem em como eu me viciei nisso aqui e até hoje eu tenho um amor platônico pela escrita dessa autora kkkkk

Mas enfim, resolvi postar hoje pq obviamente queria desejar um feliz natal para todos vocês, particularmente essa data de longe não é a minha favorita devido a certos acontecimentos, mas... nada me impedi de desejar Boas festas a todos vcs e um abençoado natal em família (ou com seus amigos ou com quem seja...), aproveitando também o ensejo para desejar feliz ano novo, que 2017 seja um ano de coisas boas para todos nós, muita paz, saúde, amor e realizações, que papai do céu continue iluminando nossos caminhos! Por isso, deixo um abraço carinhoso e cheio de amor para cada um dos meus leitores. E também um beijinho de chocolate né!

Bem, vamos a fic, chegamos ao nosso último capítulo, agradeço a todos que me acompanharam em mais essa história e em especial aos que comentaram, vocês não tem noção do grande incentivo que dão a nós autores toda vez que recebemos um comentário. Resumindo: fica aqui o meu sincero Obrigado, de coração!

Nos vemos nas notas finais, tenho recado sobre CFOAE!

Boa leitura!

Capítulo 6 - Aos 18


Fanfic / Fanfiction Lembranças dos Meus Anos - Aos 18

Londres enfrentava mais um surto de cólera e a população estava alarmada diante de tal epidemia, a doença intestinal era caracterizada por diarreia intensa e desidratação, seus efeitos eram rápidos e pessoas que acordavam sentindo-se bem pela manhã morriam antes de terminar o dia. O pior era que não existia cura conhecida.

Era a doença mais temida do século e não se conhecia suas causas, muitos achavam ser contraída ao inalar odores desagradáveis de matéria orgânica em decomposição. Essa ideia parecia fazer sentido, já que o rio Tâmisa, que corta Londres, exalava um cheiro horrível. Perguntava-se se era o ar fétido deste a propagar a doença e depois de um tempo passou-se a acreditar que sim.

Até o Parlamento, que adiava a construção de um novo sistema de esgoto para limpar o rio, foi obrigado a apressar as obras devido à onda de calor do verão. O mau cheiro do Tâmisa, que passava justamente em frente à Câmara dos Comuns, era tão forte que os políticos tiveram de colocar cortinas encharcadas de desinfetante nas janelas para tentar disfarçar o odor. Esse fato ficou conhecido como o Grande Fedor e em 18 dias ordenou-se a construção de um novo sistema de esgoto.

Em virtude de um forte resfriado que acometeu-me no último mês e a asma atacar como há anos não fazia, fiquei impossibilitado de resolver a missão da rainha que tinha como objetivo descobrir as causas da cólera. A lógica usada era que chegando ao seu fato gerador seria mais fácil descobrir sua cura, já que até agora todos os estudos para combater a doença foram falhos, visto que não se sabia ao certo contra o quê se estava lutando. Era como dar tiros no escuro.

Na minha incapacidade a Scotland Yard tomou frente da situação e ao que parece estava tudo sobre controle visto que as obras no rio haviam começado, presumo então que tiveram a confirmação de que a propagação era mesmo pelo ar. Apesar de tal ideia conter certo sentido para mim essa teoria ainda continha brechas, havia uma peça nesse quebra cabeça que não se encaixava.

Quando tivesse tempo, e cabeça para isso procuraria, o velho Randall para ficar a par da situação, mas no momento a única coisa capaz de ocupar minha mente é o mordomo sentado a minha frente. Pela primeira vez Sebastian havia me desobedecido, ordenei-o a resolver esse caso sozinho e ele simplesmente ignorou o meu comando, alegando que não arredaria o pé do meu lado enquanto eu não melhorasse e por conta própria redigiu uma carta a Victoria esclarecendo a situação. Não é preciso dizer que fiquei injuriado e sem falar com ele por um bom tempo. Minha honra como cão de guarda havia ido para a lama por um simples capricho desse demônio.

Olhei-o de soslaio, ele olhava para as lojas que passavam por nós e fingia não perceber ser observado, mas sei que ele é totalmente ciente do meu olhar assassino sobre ele. A carruagem corria em direção a Phantom e essa vinda a Londres não me animou. Por mais que as obras no rio tivessem começado, ainda levaria algum tempo para tal trabalho produzir efeitos e eu não queria ser contaminado com essa doença horrível, por isso fiz questão de que Tanaka passasse bem longe da lá. Sebastian poderia defender-me de qualquer coisa, mas não poderia me privar de respirar, sendo assim de certa forma eu estava vulnerável se a suspeita de contaminação pelo ar estivesse correta.

Os empregados milagrosamente faziam silêncio na carruagem atrás, talvez fosse o medo por estar na capital, justamente o centro da doença. Até mesmo esse maldito demônio resolveu não me aporrinhar, o que é muito sábio de sua parte, pois eu ainda estou indignado com sua audácia e com nem um pingo de paciência para aturar o seu cinismo.

O coche parou em frente à Phantom, por mais que eu fizesse a maior parte do controle na mansão, ainda era necessário fazer visitas periódicas e verificar pessoalmente como estava o andamento da produção. Para piorar, o clima me deixou ainda irritado, fazia um calor insuportável mesmo em Londres, uma cidade fria, mas como era preciso abastecer a dispensa resolvi aproveitar a viagem e vir junto, uma hora ou outra eu teria que fazer isso, então não havia por que adiar o inevitável.

“Vá com os empregados fazer as compras, é o tempo que termino de fazer a vistoria.” Ordenei ao mordomo sem olhá-lo, toda vez que o encarava lembrava-me de sua desobediência e isso me fazia ter vontade de esganá-lo. “Ou será que você irá me desobedecer novamente?”.

Ele bufou e se fosse um humano tinha a certeza de que teria revirado os olhos. Demônio de bosta. “Quantas vezes eu terei que explicar que a minha única prioridade e responsabilidade é com a sua integridade, bocchan? Não me importo se pessoas estão morrendo por causa dessa doença, muito menos com os casos da rainha. O meu contrato é com você, não com ela”.

Segurei-me para não voar em seu pescoço. Sebastian às vezes tinha o poder de tirar-me do sério, em todos os sentidos possíveis e era realmente uma pena não poder matá-lo. Isso me dava ainda mais raiva.  Não importa o que eu fizesse, nada seria capaz de prejudicar essa besta. “Quando chegarmos na mansão colocarei você de castigo, terá bastante tempo encoleirado no porão para repensar essas suas atitudes e relembrar como responder corretamente ao seu mestre”.

“Como desejar.” Ele bufou novamente. Sabia o quanto ele detestava quando o rebaixava ao nível de ficar trancafiado que nem um animal enjaulado, ou pior, um cachorro na coleira. Pouco me importei. Ele estava merecendo. Peguei minha cartola e preparei-me para sair da carruagem, mas sua mão em meu braço me parou. “Bocchan?”.

“Hum?” Apenas olhei por cima dos ombros.

Em um movimento rápido ele segurou meu queixo e selou meus lábios, coisa que notei ser um vício para ele, vivia me beijando quando tinha a oportunidade e isso ainda parecia estranho, afinal, ele era um demônio, não deveria ser tão grudento assim. “Eu não demorarei, qualquer coisa não hesite em me chamar”.

“Hump!” O olhei frio e limpei propositalmente a boca, saindo da carruagem sem ao menos olhar para trás. Maldito. Se ele pensa que isso irá amolecer meu coração para livrá-lo do castigo, está muito enganado.

“Bom dia, mestre Phantomhive.” O porteiro gorducho me saudou, quase caindo da cadeira ao se levantar, apenas dei um aceno de cabeça e passei direto indo para o escritório.

“Oh senhor Phantomhive; não esperava por sua visita hoje.” Gerardy se levantou assim que viu entrar no escritório, de fato eu não havia avisado que viria, até por que não era preciso, essa é minha empresa, portanto, não preciso de permissão para visitá-la.

Gerardy era um homem já na casa dos cinquenta anos, era baixo e gordo, e sua falta de beleza era compensada com a grande capacidade intelectual e era exatamente isso que importava, por isso o contratei e coloquei como meu braço direito dentro da empresa. Ele era meus olhos enquanto eu não vinha aqui e era muito bem pago para isso.

“Hoje eu não estou no meu melhor dia, por isso vamos direto ao que interessa, os balanços do mês já estão prontos?” Acabei com o rodeio, depois de tantos anos trabalhando para mim, ele já estava acostumado com meu pavio curto.

“Eu estou quase terminando, se quiser olhar o que está acabado fique a vontade. Eles estão em cima daquela mesa.” Ele apontou para uma das mesas que tinha na sala, sem perder tempo puxei a cadeira e a pilha de papel para começar a analisar, não podia perder tempo, pois ainda tinha que verificar a produção.

Analisar tantos papéis todos os dias era desgastante e já foram várias as vezes que cheguei a sonhar com balanços e relatórios, fazendo nos sonhos os cálculos que tinha feito durante o dia. Isso além de me gerar um grande estresse estava acabando com minha vista, provavelmente daqui há mais uns anos precisarei usar óculos. Os segundos se tornaram minutos e quase já se passa uma hora que eu revisava aqueles números. Tirei meu terno e desabotoei os dois primeiros botões da camisa. Nesmo não sendo adequado me desleixar desse jeito, era impossível aguentar esse calor estando empacotado. Eu estava derretendo.

“Aparentemente está tudo em ordem.” Disse assim que terminei, batendo os papeis em cima da mesa para organiza-los. “Me informe assim que terminar esses que está fazendo, agora me leve a área de produção”.

“Certamente.” Ele levantou ajeitando a calça na cintura, a barriga proeminente fazia com que ela baixasse e o cós sumisse debaixo de tanta gordura.

Já na produção o calor estava ainda mais insuportável, estava extremamente abafado e logo o suor que apenas umedecia minha pele começou a escorrer, a garganta ficou seca e quase sem saliva para engolir. Tinha que providenciar urgentemente um sistema de ventilação mais eficaz, esse calor intenso com certeza afetaria o rendimento dos funcionários.

“Verificamos que uma das caldeiras não está funcionando corretamente, mas já tomamos medidas quanto a isso e um técnico está vindo concertá-la...” Ele começou a me colocar a par do que acontecia na área de produção, mostrou-me todo o maquinário e alas adjacentes, fora a caldeira com defeito estava tudo dentro dos conformes, para meu alívio, assim poderia sair logo dali.

Voltei novamente para o gabinete enquanto ele continuou na produção dando ordens para alguns empregados, peguei meu terno e cartola pendurados no cabide, notando que havia uma jarra ainda cheia de água em cima de uma mesa escorada a parede. Não acostumo consumir nada fora de casa e muito menos sem passar pelas mãos de Sebastian, mas minha sede era tanta que não pude resistir, tomei mais da metade da água, hidratando meu corpo que parecia clamar pelo líquido.

Quando sai Sebastian já estava a porta, abriu imediatamente a porta da carruagem para que eu entrasse e depois entrou também. O veículo entrou em movimento e recostei minha cabeça na parede próxima à janela para pegar o vento que mesmo morno conseguia aplacar o calor.

“Não acho que esteja tão quente a ponto de você precisar andar nessas condições.” Ele falou sério.

“Do que está falando?”

“Da sua camisa, não acha que tirar o terno já seria o suficiente?” Ele fechou a cara, me olhando com aquele olhar sombrio que só ele tinha.

“Vou fingir que não ouvi isso. Não irei discutir o assunto com alguém que nem humano é.” Voltei novamente minha atenção para a janela, fechando os olhos e aproveitando o vento. Era só o que me faltava, um ser que não sabe das fraquezas de um corpo humano contestar os meus modos.

Fui surpreendido com o toque de suas luvas no meu peito, ele estava na minha frente fechando os botões que estavam descasados. “Eu vou falar apenas uma vez, por isso preste bem atenção bocchan: apenas eu tenho o direito de olhar o seu corpo”.

Meu queixo quase caiu, se havia alguma dúvida está foi sanada, Sebastian Michaelis oficialmente estava com ciúmes. Era a primeira vez que ele demonstrava essa reação, e nem sabia que ele era capaz de sentir tal coisa. Lógico que eu não poderia deixar passar essa oportunidade para fazer troça. “Meça as suas palavras, demônio! Como será quando eu me casar? Vai querer que eu peça para Elizabeth colocar uma venda toda vez que formos para a cama?”.

Sorri faceiro vendo sua cara enrijecer, mesmo não amando Elizabeth como mulher eu não me importava nem um pouco em desposá-la, no final isso me traria algum proveito, pois tornaria a existência desse demônio um verdadeiro inferno. Ah Sebastian, o seu maior pecado foi demonstrar sentir ciúmes de mim.

Seus dedos apertaram fortemente minha camisa e seus olhos ficaram mais claros, porém não chegaram a ficar no magnífico vermelho vibrante. Ainda castigando minha camisa de tecido fino ele ficou pensativo por um instante, com se tramasse algo em sua mente e depois em questão de segundos se recompôs, soltando minha roupa que agora além de suada estava amarrotada também e sentou em seu lugar novamente, com a cara de uma estátua. Deu-me vontade de rir, alem de bipolar era infantil.

S&C

Definitivamente alguma coisa não havia me caído bem, um grande desconforto abdominal me acometia desde que cheguei de Londres e o vômito e diarreia acabavam comigo, nunca antes tinha ido tantas vezes ao banheiro em um único dia. Era estranho, não havia comido nada fora da mansão e nada além do que estou acostumado a comer, sendo assim era quase certo não se tratar de uma simples dor de barriga.

Na verdade, parando para analisar era bem óbvio o que estava acontecendo, tudo indicava que eu havia contraído cólera, todos os sintomas apontavam para isso. O estranho era que apenas eu e Meirin estávamos assim, os outros empregados estavam bem de saúde, então a suspeita que rondava minha mente estava correta, não era o ar a propagar a doença, pois caso fosse Bard, Finnyan e Tanaka também estariam doentes já que fizemos o mesmo trajeto.

O suor frio me apoderou novamente e minhas batidas cardíacas aceleraram, eu iria vomitar outra vez. O jato veio forte, rasgando meu peito e queimando minha garganta já castigada por tanto esforço. Recostei a cabeça no vaso, a tontura fazia tudo girar ao meu redor e a fraqueza dava a sensação de desmaio.

“Bocchan.” Sebastian entrou apressado, tinha a expressão consternada. “O médico está aqui. Venha.” Ele me pegou no colo, minha vontade era de afastá-lo, não queria que ele me visse nesse estado deplorável, era vergonhoso. Eu parecia mais morto do que vivo.

Ele me colocou na cama, tendo extremo cuidado ao me acomodar. O doutor começou com o exame e me fez várias perguntas, no final seu diagnóstico não foi muito diferente do que eu imaginava, eu realmente estava com cólera. O velhinho ministrou alguns remédios para amenizar os sintomas, isso era tudo que podia fazer, o resto era com meu corpo já que não havia medicamentos para a cura da doença. Ou o meu corpo reagia por contra própria ou era certo que em poucas horas eu morreria, a desidratação acabaria me matando.

O doutor saiu do quarto sendo acompanhado por Tanaka, iria examinar Meirin e mesmo sendo uma criada eu estava preocupado com ela. Já sabia que ela morreria, era a isso que Grell se referia quando disse que em breve visitaria a mansão. “Sebastian...” Minha voz saiu parecendo um gemido, eu quase não tinha forças para falar.

“Eu estou aqui, bocchan.” Ele sentou ao meu lado e segurou minha mão fazendo um carinho no dorso, seu olhar era apreensivo, preocupado, ironicamente parecia está com mais medo do que eu.

“Meirin comeu alguma coisa na rua quando fomos à Londres? Vocês chegaram perto do rio ou foram a algum lugar fora do comum?” Questionei, eu não morreria sem saber a verdadeira causa da doença que ceifaria minha vida.

“Não fizemos e nem fomos a lugares fora do que estamos acostumados a ir e ela não comeu nada na rua.” Ele ficou pensativo, como se estivesse remoendo alguma coisa na mente. “Na verdade ela tomou um copo de água em uma das lojas. Ela estava com muita sede”.

‘Água? Sim, água. Eu também havia tomado água na empresa, isso foi a única coisa que eu consumi fora de casa’

“Os outros empregados tomaram água também?” Perguntei para confirmar minhas suspeitas, isso explicaria o fato de apenas eu e ela estarmos doentes.

“Não. Apenas Meirin tomou. O bocchan acha que a água é que esteja contaminando a população?” Ele seguiu a minha linha de raciocínio. Maldito. Se tivesse me obedecido e feito as investigações que pedi eu não estaria nessa situação.

“Essa é a única explicação, nós não passamos perto do rio e eu tomei água na Phantom. Ao que parece é a água que está contaminada.” Gemi sentindo a náusea atacar novamente, o pior era que a vontade de evacuar se fazia presente também. “Rápido, me leve ao banheiro”.

Não foi preciso segunda ordem, e em um piscar de olhos eu já me encontrava no outro compartimento ao pé da louça.

“Saia.” Ordenei antes de dar o primeiro jato de vômito e rezava para não evacuar na frente dele. Isso seria humilhante demais, mas estava difícil segurar.

“Eu não deixarei você sozinho, bocchan.” Ele passava as mãos na minha costa, de cima para baixo.

“DROGA, SEBASTIAN! SAIA, AGORA. É UMA ORDEM!” Gritei com o resto de forças que tinha. “Eu quero ficar sozinho”.

“Esta bem, estarei do lado de fora” Ele levantou e saiu fechando a porta.

Mal deu tempo de sentar no vaso.

S&C

Da cama eu olhava para a janela que estava aberta, o dia aos poucos estava clareando. Havia passado uma madrugada infernal, os remédios ministrados pelo médico não surtiram efeito algum e pelo tanto que já vomitei e defequei não será de admirar que quase não haja líquido em meu corpo, também não tenho mais forças para sentar e nem minhas pernas eu sinto. Estou conformado em morrer. Logo entrarei em choque e tudo acabará.

“Trouxe um pouco de sopa, bocchan.” Sebastian retornou, carregava uma bandeja com um prato em suas mãos. Colocou a bandeja em cima do criado mudo e me acomodou melhor em cima dos travesseiros, eu parecia um boneco humano. Pegou o prato e fez menção de levar a colher com sopa a minha boca.

“Não quero comer.” Informei fraco e quase sem voz. Eu estava com fome, mas estava tão debilitado e com o estômago fraco que o cheiro de comida me dava ânsias de vômito.

“Se você não comer, não irá melhorar.” Não sei se ele falava isso para me convencer que eu ficaria bom ou se para dar esperanças a si próprio de que tudo acabaria bem. Levou novamente a colher aos meus lábios e com muito esforço eu tentei engolir já que possivelmente essa era a última refeição que eu comeria feita por suas mãos.

“Como está Meirin?” Ele suspirou repousando a colher sobre o prato, parecia hesitar em responder.

“Faleceu nessa madrugada.” Pegou mais uma colherada e colocou rentes meus lábios, esperando que eu os abrisse.

Depois disso ficamos em silêncio, ele com os pensamentos dele e eu com os meus. Não imaginei que seria assim o meu fim, morrer com essa aparência horrível. Eu já estava cansado dessa situação, o sofrimento era medonho e se fosse para morrer preferia que fosse logo, não queria ficar numa situação mais vergonhosa do que já estava. Minha pele estava ressecada e com um tom esverdeado, perdi peso e minha aparência era a de um moribundo, me doía que Sebastian me visse assim. Feria meu orgulho.

“Perdoe-me bocchan. Isso tudo é minha culpa, eu o coloquei nessa situação quando desobedeci sua ordem.” Depositou o prato vazio no criado, pegou minha mão novamente e ficou segurando delicadamente, como se não quisesse de alguma forma me machucar. Seus olhos demonstravam que verdadeiramente estava arrependido.

“Que bom que você reconheceu o seu erro, então para compensar a sua falha lhe darei uma última ordem e espero que você a obedeça...” Olhei-o sério e pelo visto ele percebeu o que eu ordenaria, pois arregalou minimamente os olhos. Apesar de nervoso e com o coração a dar galopadas, eu estava preparado, a morte certamente era melhor do que continuar com essa tortura. “Não há porque me manter nesse sofrimento, certo?”.

Ele baixou o olhar, pela primeira vez não ousando olhar para mim. Sabia que eu estava certo quanto a isso. “Sim, não há sentido continuar com isso, você não aguentará mais que algumas horas”.

“Que bom que você entendeu. É uma ordem, Sebastian: Acabe com meu sofrimento. A minha alma é sua” Tentei soar firme, mas como qualquer humano eu estava apreensivo.

“Como o esperado do jovem mestre, sempre gentil” Colocou a mão no peito fazendo uma pequena reverência e depois tirou as luvas com os dentes, sorri fracamente, eu adorava quando ele fazia isso. Era tão... Sebastian.

“Irá doer?” As palavras saíram da minha boca sem controle, era para ser apenas um pensamento.

“Sim, um pouco.” Me olhou dando um sorriso terno e tirou meu tapa-olho “Eu serei gentil o quanto possível”.

“Não. Faça ser doloroso o tanto que puder. Crave a dor em minha vida... em minha alma.” Se era para doer, então que fosse intenso. A única dor que eu queria sentir era a proporcionada por ele, que cravasse sua marca em mim até meu último suspiro.

Ele pareceu ficar surpreso e seu olhar sereno parecia diferente do habitual, mas não consegui desvendá-lo, não sabia dizer se estava feliz ou triste com minha morte. “Yes, my lord.”

Sua mão do contrato veio para meus cabelos, afagando meus fios que agora tinham uma aparência opaca. Deslizou os dedos por meu rosto e sua face se aproximou da minha, até seus lábios pararem próximos aos meus. Suas íris vermelhas cravadas nas minhas azuis, contemplei uma última vez aquela coloração tão única e então fechei meus olhos. No fundo eu estava feliz, seria eternamente parte dele.

Nossos lábios finalmente se encontraram e sua mão repousou em minha cabeça, uma incrível sonolência começou a me tomar e fui perdendo a consciência aos poucos. Era uma experiência única, como se estivesse levitando, a morte era assim? No final, morrer não era tão ruim.

“Durma bocchan, o seu sofrimento acabou”.

S&C

A sensação era estranha, não sabia se fazia frio ou calor, era como se não existisse temperatura. Não sabia dizer se o pássaro estava longe ou perto, mas eu conseguia ouvir nitidamente o seu canto, assim como o barulho da água que caia do chafariz, alguns gatos miando no quintal, o cortador de Finnyan que provavelmente estava aparando as árvores no jardim... Era uma confusão de sons, uma mistura agonizante onde não conseguia diferenciar o que estava longe e o que estava perto.

Ainda de olhos fechados movi minhas mãos pela cama, meus dedos deslizaram pelo lençol fino e consegui sentir cada trançado do tecido, como se fosse capaz de sentir cada minúsculo buraco entre eles. Abri meus olhos aterrorizado. Afinal, o que estava acontecendo? Eu deveria está morto!

“Finalmente você acordou... bocchan.” Sebastian estava parado de frente para a janela do quarto, olhando alguma coisa no jardim.

“Sebastian...” Sentei na cama, incrivelmente me sentia renovado e com um turbilhão de sensações me assombrando. Os sons. O tato. As cores. Os cheiros... Ah cheiro de Sebastian, mesmo a certa distancia conseguia senti-lo como se estivesse perto de mim. Estava tudo mais intenso. “O que significa isso?”.

“Não está claro?” Ele olhou por cima do ombro sorrindo para mim.

Não era possível que isso estivesse acontecendo. Era impossível, pelo menos até agora. Em um ímpeto me levantei correndo para o banheiro, pegando um susto com minha velocidade, se meu coração ainda fosse humano com certeza já teria enfartado tamanha a descrença. Vagarosamente fiquei de frente com o espelho. A imagem refletida era de um ‘eu’ diferente, a fisionomia era a mesma, mas só que diferente de antes.

Eu estava resplandecente, minha pele viçosa, os cabelos sedosos, o símbolo do contrato ainda existia nos meus olhos brilhantes... era estranho. Era como se a mesma áurea de Sebastian estivesse em mim. 

“E então, como se sente?” Ele apareceu a minha costa, repousando as mãos em meus ombros e olhando para mim através do reflexo. Eu não respondi, estava bem claro que me sentia ótimo.

"Porque não fez isso antes? Porque me deixou sofrer?" Perguntei ainda confuso. Já que era para acabar assim não era preciso me deixar passar por todo aquele tormento.

"Digamos que 90% de mim ainda estava em dúvida se realmente queria passar a eternidade ao lado de uma pessoa tão mimada e arrogante." Me olhou sádico, surpreendendo-me com seu descaramento.

"Quê?" Fechei a cara sentindo-me ofendido. "Já que é assim por que me transformou?" Perguntei emburrado e ainda não acreditando no que acontecia. Não acreditava que isso fosse real.

“A resposta não é obvia? É porque...” Ele baixou malmente a cabeça, apenas o suficiente para sussurrar em meu ouvido. Corei e meus lábios adquiriam um sorriso bobo. Nunca imaginei ouvi isso de uma criatura como ele.

“Você é realmente um demônio idiota!”

Conde Ciel Phantomhive

Julho de 1894

Lembrança dos meus dezoito anos

S&C

Atualidade

As gaivotas voavam de um lado para o outro fazendo um barulho azucrinante, o sol baixava no horizonte e o mar adquiria uma iluminação alaranjada misturada ao azul. Ciel olhou uma última vez os papeis bem conservados em suas mãos, as letras bem desenhadas em frases perfeitamente alinhadas devido a um tutor super rígido. Mesmo em sua caligrafia Sebastian não tolerava falhas.

Ainda não acreditava que havia guardado tais recordações por tanto tempo, as lembranças da sua vida humana, de todas as aventuras que um dia viveu como conde Phantomhive. Um discreto sorriso surgiu em seu rosto, certamente eram boas recordações. Infelizmente teria que se desfazer delas, pois por muito pouco Sebastian não as descobriu alguns dias atrás e para não correr o risco dele ler suas memórias, achou que estava na hora de se desfazer daqueles papéis. A tristeza de perdê-los com certeza era menor que a vergonha de um certo demônio xereta encontrá-los.

Enrolou os papeis e colocou dentro de uma garrafa, mesmo havendo modos mais práticos de descartá-los achou que seria uma pena perdê-los assim, que eles simplesmente deixassem de existir. Quem sabe um dia alguém encontrasse essa garrafa e revivesse as aventuras que um dia passou. Provavelmente pensariam se tratar de um romance de contos de fada gay, afinal, realmente era uma historia digna de um livro, um romance entre um conde e um demônio. Só mesmo na ficção.

Colocou a rolha na boca da garrafa e sem pensar a atirou o mais longe que conseguiu, se hesitasse um pouco sequer acabaria desistindo da ideia. Viu o vidro sumir no horizonte. Suspirou, estava na hora de voltar, Sebastian já deveria ter notado o seu sumiço.

“Finalmente. Pensei que você passaria o resto da noite olhando para aquela garrafa.” Sebastian estava sentado na areia alguns passos atrás e deu um belo susto no mais novo.

“Há quanto tempo você está aí, seu demônio abusado? Privacidade é algo necessário de vez enquanto, sabia?” Brigou tentando disfarçar a vontade de enfiar a cabeça na areia, pelo visto o moreno havia visto tudo, inclusive a sua cara de idiota enquanto lia os papéis.

'Será que ele também já leu o conteúdo das cartas?' Pensou.

“Ah sim, privacidade! É realmente engraçado ouvir isso de você, ah como o meu bocchan é egoísta.” Sorriu ao vê Ciel virar o rosto emburrado. Perto do ex-conde privacidade era algo que Michaelis não tinha, nem em seus próprios pensamentos.

“Se você já estava aqui por não se sentou comigo?” Questionou.

“Porque eu estava lhe dando privacidade.” Respondeu cínico e se aproximou. Havia percebido que seu bocchan estava num momento íntimo com suas preciosas lembranças, estas que a todo custo tentava esconder e, para não irrita-lo, fingia não saber da existência de tais memórias.

“Privavidade... Sei!” Ciel respondeu sarcástico e passou direto, fingiria que não estava com vergonha, assim seria menos vergonhoso do que se demonstrasse que estava.

Curiosamente era entre uma alfinetada e outra que os dois viviam, era um amor meio sádico e bipolar. As vezes estavam um amor de demônio um com o outro e em outras se estranhavam que nem cão e gato. Na maioria das brigas eram por causa dos contratos. Sebastian ficava possesso quando Ciel se deitava com algum dos contratantes e o menor por sua vez fazia isso de propósito justamente para atormentá-lo.

Assim como em todo relacionamento, nem tudo era um mar de rosas e houve um tempo em que eles ficaram três anos sem se falar. Ciel descobriu que inacreditavelmente Michaelis era um demônio sensível e ressentido, tanto ao ponto de ficar magoado, quando na época, após uma sessão de sexo na cobertura do apartamento, perguntou ao menor se ainda era ‘apenas sexo’, já que quando dizia que o amava Ciel sempre dava um desdobro e mudava de assunto. O que Sebastian não sabia era que isso em parte era por pirraça e em outra porque o Phantomhive tinha vergonha de admitir os próprios sentimentos.

O caso foi que Ciel respondeu que sim, que era apenas sexo e que este estava esfriando e ficando sem graça. Obviamente que ele estava brincando apenas para aporrinhá-lo, mas Sebastian levou a sério e foi como se o mundo tivesse acabado. Até hoje o menor ainda sentia vontade de rir da expressão que ele fez. Foi impagável.

Infelizmente como as vezes o destino nos prega peças e nos faz pagar na mesma moeda, o ex-conde teve que provar de seu próprio veneno e aprender a medir muito bem as palavras antes de dizê-las. Sebastian em seu estado 'normal' era um amor, mas quando estava magoado era o verdadeiro diabo, pior que uma mulher traída. O tiro havia saído pela culatra e ele teve que pisar em cima do meu orgulho para fazerem as pazes. 

Sim, Ciel havia se declarado! E foi a situação mais ridícula e vergonhosa pela qual já havia passado. Quanto a Michaelis, parecia enxergar um monte gatos em sua frente de tanto que seus olhos brilharam ao ouvir a declaração.

“Você fez o que te pedi?”.

“Sim. O bolo está na geladeira.” Ele sorriu malicioso, alertando o menor no mesmo instante de que escondia algo. Mesmo não precisando mais de alimento humano, doces era algo que Ciel não abria mão e Sebastian sabia se aproveitar muito bem disso. “Mas está sem a cobertura”.

“Como? Por que está sem a cobertura?” Franziu o cenho, ele realmente estava certo, seu mordomo aprontava algo.

O moreno se aproximou sorrindo safado, do jeito que sabia que Ciel gostava e o fazia ter arrepios. “Porque eu tenho modos mais interessantes de você degustá-la.” Puxou-o pressionando seu quadril contra o dele e apertando forte sua nádega.

Ciel sabia muito bem o lugar onde ele iria jogar a cobertura e ele não tinha como reclamar, pois era totalmente adepto a ideia. Ah... Ele nunca pensou que a eternidade de um demônio pudesse ser tão... Interessante.

Sebastian Michaelis e Ciel Phantomhive


Notas Finais


É isso aí meu povo, Ciel virou um demônio! Como em CFOAD muitos leitores pediram para mim fazer o ele virar um demônio (o que não aconteceu), criei essa fic pensando justamente nesses pedidos, então espero que tenham gostado, se não gostaram fazer o que né, é a vida kkkk

Quanto a CFOAE irei postar dia 5 de janeiro, será nossa primeira postagem do ano e pelo menos para mim é uma data especial, é meu aniversário! Isso mesmo! Estarei de berço! O niver é meu, mas os presenteados serão vcs. Que clichê kkkkkkkk Então para quem acompanha essa fic ela se atualizada no referido dia!

Isso se a diaba da minha Internet funcionar, tô usando a da vivo pra postar esse cap (traduzindo: acabando com o meu plano ao rotear pro note, o que eu não faço por vcs) pq o wifi depois que deu umas trovoadas bacana pelas bandas de cá só entregando na mão de Deus para ela da sinal de vida.

É isso, bjs e até ano que vem!


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