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História Lendo o último olimpiano - Filho de coruja, corujinha é


Escrita por: PS_Jay

Notas do Autor


Oie!!

Esse capítulo é basicamente conversa. Eu ia colocar uma parte da leitura junto, mas acabaria demorando muito, então decidi separar.

Capítulo 13 - Filho de coruja, corujinha é


Fanfic / Fanfiction Lendo o último olimpiano - Filho de coruja, corujinha é

O passado – Maio de 2006 

Acampamento Meio-Sangue 

 

Ainda nem havia amanhecido direito quando os filhos de Atena se reuniram no refeitório, sentados à mesa de sua mãe com várias anotações espalhadas na superfície de madeira. Cadernos abertos, folhas de papel ofício, post-its rabiscados, diagramas e mapas compunham o arsenal de fatos que Michel, Jane, Cristine, Gustav e Daniel haviam juntado noite passada, antes de dormir. 

    Com exceção de Quíron, que permanecia de pé ao lado da mesa principal, absorto em algum livro qualquer, eles eram os únicos no refeitório. Ao que parece, nenhum outro campista era suficientemente louco de se levantar antes do sol nascer para passar seu tempo livre traçando teorias. Muito menos quando essas teorias se revelavam cada vez mais inconclusivas, e, ao invés de os conduzirem a pontos finais, ramificavam-se em mais perguntas.

Com frustração, Jane fechou o livro de mitologia grega que tinha aberto, deixando marcada a página sobre o Titã Jápetus e afastando o grande exemplar com o nariz franzido.

    – Estou com fome –  ela reclamou pela milionésima vez. 

    – O café da manhã já vai sair – replicou Cristine, com a paciência e a delicadeza de um elefante. Em sua parte da mesa, ela organizava anotações de acontecimentos importantes em ordem cronológica, catalogando-os com cores chamativas e diversas, como se isso fosse, de alguma maneira, ajudar em alguma coisa. – Por que você não continua sua pesquisa? – sugeriu ela. 

    – Não consigo pensar quando estou com fome – objetou Jane, encarando Cristine com um olhar severo. – E a única coisa que eu consigo encontrar nestes livros é um monte de ilustrações de deuses pelados! 

    – Shhhhhh! – Alarmou-se Michel, olhando para todos os lados como se esperasse que um raio atingisse o chão do refeitório. – Cuidado com o que fala! 

    – Os deuses não estão no acampamento, Michel. 

    Era verdade. Após a finalização da leitura, no dia anterior, os deuses haviam sumido no ar, voltando, provavelmente, a seus tronos no Monte Olimpo. A mãe deles, Lady Atena, havia levado o livro consigo, prometendo guardá-lo em segurança até o momento em que eles voltassem a ler. 

    – Mas isso não significa que eles não escutam – Michel confidenciou aos sussurros. Jane revirou os olhos, murmurando: 

    – Eu gostaria de saber qual é a obsessão dos mortais em desenhar genitais divinas. 

    – Shhhhhhhh! 

    Do outro lado da mesa, Gustav – o filho mais novo de Atena – abafou uma risada com as mãos, achando a discussão infantil de seus irmãos bem mais interessante que passar a limpo as anotações apressadas do dia anterior. Ele tinha certeza de que Daniel só havia lhe dado essa tarefa para que ele tivesse algo com que se ocupar, embora o próprio Gustav julgasse isso como perda de tempo e um desperdício total de seu intelecto. 

    – Por que estamos fazendo isso mesmo? – ele perguntou. Nem as discussões mais bobas poderiam entretê-lo por tempo suficiente para inibir seu aborrecimento. 

    – Precisamos de respostas – disse Daniel, com o rosto enfiado em seja lá o que ele estava fazendo. 

    – Não é assim que vamos conseguir. 

    Cristine ergueu o olhar cinzento afiado de seus post-its diretamente para Gustav. 

    – E você diz isso por…? 

    – Nem temos informação suficiente ainda! 

    – Já lemos cinco capítulos. 

    – lemos cinco capítulos – corrigiu-a Gustav, cruzando os braços sobre a mesa teimosamente. – E eu duvido que tenhamos chegado na página cem! Como vocês querem obter respostas se muitas coisas ainda não foram reveladas? 

    – É por isso que estamos pesquisando – respondeu Michel, tentando interromper a discussão que se formava antes da mesma estourar. Pelo canto do olho, ele já podia ver Cristine ficar vermelha. 

    – Mas nem sabemos o quê pesquisar – argumentou Gustav, e agora que ele havia começado, seria difícil parar, mesmo com o olhar de aviso que Jane estava lhe lançando do outro lado da mesa. – Não existe um guia de viagem no tempo para semideuses. E ficar teorizando sobre coisas que não sabemos vai nos levar a respostas erradas. 

Cristine fechou um de seus cadernos de anotações com força. 

– E como você pode saber disso, sabichão? 

– Não temos todas as informações, Cristine! 

– Justamente por isso estamos procurando adivinha o quê? Informações!

    – É. Informações que estão você sabe onde? No livro. 

    – O livro está sendo lento demais. 

    – Nós não precisamos ser um bando de sabe-tudo irritantes e nos matar para descobrir as coisas antes de todo mundo! 

    – Você me chamou de quê? 

    – Argh! – Exclamou Gustav fervorosamente. – Não dá para argumentar com você. Se Annabeth estivesse aqui, ela ficaria do meu lado. 

    – Infelizmente para você, Gustav – Cristine sibilou, cruzando os braços rente ao peito – Annabeth preferiu passar a manhã com os novos amigos dela em vez de pesquisar com a gente. 

    Um silêncio estranho e pesado caiu sobre a mesa do Chalé de Atena. Michel e Jane trocaram olhares rápidos entre si antes de focar suas atenções em Cristine e Gustav – a primeira ainda raivosa, o segundo repentinamente confuso. Daniel, ao contrário de seus irmãos, não parecia nem um pouco afetado pela discussão e ainda rabiscava algo em seu próprio caderno, com a língua entre os dentes. 

    – Não entendi qual o problema nisso – Gustav falou, agora mais suavemente.

Cristine revirou os olhos, bufando. 

– Você não entende. 

– Isso é por causa de Percy? – o garoto insistiu. – Sei que ele é filho de Poseidon, mas… 

    – Exatamente – disse Cristine. – Você sabe o que Poseidon fez com nossa mãe. Annabeth ser amiga dele é uma falta de respeito. 

    – Er… – Jane pigarreou, olhando para Quíron de maneira nervosa, embora o centauro não tivesse dado nenhuma indicação de que ouvira a conversa. Ele estava do outro lado do refeitório, inclusive, mas Jane não queria arriscar uma reprimenda. – Acho que você está exagerando um pouco, Cristine. 

    – Não estou exagerando! Annabeth… 

    – Shhhhh! – chiou Michel, dando uma cotovelada em Cristine para que ela ficasse quieta. Sob o olhar irritado que ela lhe enviou, ele apontou freneticamente para o lado. Um outro campista estava entrando no refeitório, caminhando bem ao lado da mesa de Atena. 

    Sob o sol da manhã, os cabelos castanhos de Samantha ficavam parecendo vermelhos, e seu olhar travesso brilhava com intensa diversão. Ela sorriu como quem sabe das coisas. 

    – Desculpe – disse, sem soar nenhum pouco arrependida. – Não quis atrapalhar sua discussão. 

    – Não estávamos discutindo – murmurou Cristine. As sobrancelhas de Samantha arquearam quase provocadoramente. 

    – Não? Acho que me confundi. 

    – O que você está fazendo aqui? – perguntou a filha de Atena. Samantha indicou as mesas do refeitório ao redor com as mãos. 

    – Vim tomar café. – Ela analisou os livros e os papéis que lotavam a superfície da mesa e apontou-os com o queixo. – O que vocês estão fazendo aqui? 

    Cristine juntou rapidamente seus post-its. 

    – Nada! 

    – Pesquisa – respondeu Michel. 

    – Lendo! – disse Jane. 

    – Argh – Gustav grunhiu. 

    – Oooooook né – Samantha anuiu lentamente. Ela então olhou para a extensa folha de cálculos que Daniel preenchia, sabendo que ele era o único que não havia respondido sua pergunta. – E você, faz o quê? 

– Eu quero descobrir exatamente de que ano, no futuro, esse livro veio – respondeu ele, estalando a língua entre os dentes sem desviar os olhos do papel. Pela crescente empolgação com a qual falava, ele estava esperando que alguém fizesse essa pergunta a muito tempo. – Aparentemente, considerando as informações que a carta e o livro nos deram, o que está acontecendo deve se passar em agosto, daqui a uns quatro anos. Calculando os meses junto da distorção de tempo teoricamente necessária e ignorando as setenta e quatro lacunas de períodos de dias que eu encontrei… 

    – Oh, calma aí! Eu só perguntei o que você está fazendo. 

    – E foi o que eu respondi – falou Daniel, erguendo, finalmente, os olhos do papel para encarar o rosto de Samantha. 

    – Podia ter parado na primeira frase. Sabe, nem todo mundo quer uma explicação detalhada das coisas. 

    – O que você quer então? – Cristine interrompeu rudemente, ignorando a boca aberta, estupefata, de Daniel e suas sobrancelhas franzidas. O garoto encarava Samantha como se não pudesse compreender suas palavras. Afinal, por que uma pessoa não iria querer uma explicação detalhada? 

Alheia a guerra interior de Daniel, Samantha encolheu os ombros levemente para Cristine. 

– Eu ouvi sua discussão quando entrei. Queria vir conversar. Não tem ninguém do chalé de Hermes aqui ainda e eu não gosto de comer sozinha. 

– Não estávamos discutindo – Cristine insistiu teimosamente. – E ninguém te disse que é falta de educação ouvir a conversa dos outros? 

– Vocês não estavam sendo exatamente discretos – apontou Samantha. 

– Tanto faz – Gustav interrompeu antes que Cristine pudesse continuar sua verborragia irritante de réplicas. – Você disse que ouviu a conversa. Por acaso sabe onde está Annabeth? 

– Não – a outra garota respondeu, jogando para trás os cabelos que haviam caído sobre o rosto. – Mas sei que ela não está com Jackson. 

Agora, todos os filhos de Atena prestavam total atenção em Samantha. Michel esticou um pouco o pescoço, subitamente interessado.

– E como sabe? 

– Eu vi ele na orla da praia quando estava vindo para cá. Estava sozinho. 

– Annabeth pode ter encontrado ele depois de você sair – Cristine apontou arrogantemente, abrindo um sorrisinho de lado convencido para Samantha. A outra garota apenas sorriu com doçura. 

– Duvido muito. 

– Por quê? 

– Porque ele está entrando no refeitório agora mesmo – e ela indicou uma das entradas com a mão, bem próxima a eles. 

De fato, lá estava Percy Jackson, em toda sua estatura infantil de criança, com os cabelos muito escuros apontando para todos os lados e os olhos muito verdes grudados no chão. Ele caminhava com as mãos nos bolsos, de postura curvada e parecendo um tanto distraído. Enquanto andava, ele esbarrou o quadril na mesa vazia de Apolo, o que deveria ter doido bastante. 

– Ei, Jackson! – Samantha chamou, praticamente assustando o outro garoto. Os "shhhhhhh!" de Michel e o silvo "o que você está fazendo?" de Cristine não a impediram de pedir para Percy se aproximar. 

Ele olhou para eles, confuso, e, com os braços grudados contra o corpo, aproximou-se lentamente. Durante todo o percurso, os cinco filhos de Atena o encaravam, assemelhando-se a um bando de corujas julgadoras. 

– Sim? – questionou o garoto ao parar ao lado da mesa repleta de documentos e diagramas. Samantha abriu-lhe um sorriso gentil. 

– Você por acaso sabe onde está Annabeth? 

Percy piscou, parecendo um tanto surpreso com a pergunta repentina, e balançou a cabeça. 

– Não... – disse ele, incerto, encarando os rostos dos filhos de Atena um a um. – Vocês são os irmãos dela. Não deveriam saber? 

Cristine estalou a língua no céu da boca, parecendo cada vez mais descontente.

– Então ela não estava com você? – perguntou, rude.

– Já disse que não. Eu estava na praia. Não a vi. 

– E o que você estava fazendo na praia? 

As sobrancelhas de Percy se arquearam e ele observou Cristine intensamente.

– Isso é algum tipo de interrogatório?

– Não, Percy – apressou-se a dizer Jane, interrompendo sua irmã antes que ela sequer pudesse abrir a boca. – Só não vimos Annabeth hoje de manhã. Estamos preocupados e achamos que ela poderia estar com você.

Percy piscou, pensativo, e naquele curto instante em que Samantha pode analisar seus olhos verdes observadores, ela teve certeza de que Jackson não era tão estúpido quanto aqueles cinco filhos de Atena pensavam que era.

– Bem – ele considerou. – Já perguntaram por ela no chalé de Afrodite?

– E o que raios ela estaria fazendo no chalé de Afrodite? – questionou Cristine. Percy deu de ombros, ainda com ambas as mãos dentro dos bolsos.

– Ontem a noite ela estava combinando com Silena de conversar.

Cristine o analisou duramente.

– E como você sabe?

– Ela falou – disse Percy, olhando mais uma vez para cada filho de Atena em particular. – E ela estava do lado de vocês quando disse isso.

A singela cutucada não passou despercebida por Samantha, e com toda certeza nem pelos outros cinco semideuses. Jane, Gustav e Michel reconheceram que, de fato, Annabeth esteve conversando com Silena noite passada bem ao lado deles, mas nenhum prestou atenção. Cristine apenas fez cara feia, teimosa como sempre, e Daniel encarou o filho de Poseidon com os olhos semicerrados.

– Seja mais humilde, Jackson – ele resmungou. – Só porque você sabe o que vai acontecer no futuro, não significa que pode falar assim com a gente.

Samantha balbuciou, surpresa:

– Juro que não entendi sua lógica.

Percy pareceu estupefato.

– E quem disse que eu sei o que vai acontecer no futuro?

Daniel revirou os olhos.

– Sério? É a sua voz sem corpo que tem falado com a gente.

– E o que tem a ver?

– Você com certeza sabe de algo que não está nos contando – elucidou Cristine, impaciente. – De que ano do futuro você é? Como e por quê está aqui? Qual o sentido desses livros?

– Eu não sei de nada disso.

– Ora, qual é! – Daniel riu. – Você realmente quer que acreditemos? Vamos, diga-nos o que seu outro eu te contou.

– Ele não me contou nada! – Percy rosnou, indignado. – Eu sei ainda menos que qualquer um de vocês!

– E ainda assim, você está no centro de tudo – apontou Daniel. – O que nos faz pensar: ou você não quer compartilhar o que sabe, ou só é muito tapado mesmo.

Percy piscou, surpreso. Jane guinchou, olhando nervosamente para Quíron do outro lado do refeitório.

– Daniel! Isso não é necessário! – repreendeu ela.

– Ele não está cooperando! – Rebateu seu irmão.

– Eu não tenho com o que cooperar – Percy falou, e sua voz calma e fria nunca esteve tão parecida com sua versão futura. – Se o motivo de vocês terem me chamado foi para me encher de perguntas, então vou embora.

Com os olhos duros, mandíbula pressionada e as costas tensas, ele se virou.

– Deveríamos saber que você seria inútil – sibilou Cristine. Jane deu-lhe um cutucão por baixo da mesa, olhando nervosamente de Quíron para Percy.

O filho de Poseidon não parou de caminhar; ele nem sequer olhou por cima do ombro quando respondeu:

– Sabe de uma coisa? Vocês, filhos de Atena, tem que aprender que não precisam saber de tudo.

Um silêncio pesado acompanhou os passos de Percy conforme ele sumia pela saída do refeitório. Samantha assobiou, observando as costas do filho de Poseidon desaparecerem de vista.

– Assim – ela considerou –, Jackson pode estar certo.

– Você não sabe de nada, indeterminada – insultou Daniel rudemente.

Samantha o encarou com calma, sem expressar irritação ou mágoa, e abriu um sorriso conhecedor. Dirigindo-se à mesa de Hermes, ela esticou o pescoço e falou por cima do ombro:

– Aparentemente, nem vocês.

E, dando as costas a um bando de corujinhas incrédulas, ela graciosamente se sentou para tomar seu café da manhã. 


Notas Finais


Acabei levando o capítulo inteiro como um treino de diálogo, por isso se vocês tiverem alguma crítica ou posicionamento, especialmente sobre a fluidez das falas, eu ficaria feliz em ouvir. Até o próximo!


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