O restaurante escolhido por Seokjin era pequeno, mas muito aconchegante. Quando as costas de Jungkook descansaram na cadeira almofadada, um suspiro de deleite lhe escapou, assim como o pequeno elogio que separou seus lábios.
— Era disso que eu precisava.
O estabelecimento bem decorado tinha uma música clássica soando baixinho por pequenas caixas de som, um cheiro de comida espetacular vindo da cozinha e um salão principal quase cheio, mas muito organizado. As pessoas que ali estavam, pareciam cochichar, na intenção de manter o ambiente o mais agradável possível.
— Gostou da escolha? — A voz de Seokjin foi quem tirou Jungkook da sua atenta admiração ao local.
Virou o olhar na direção do amigo, vendo-o abrir o cardápio. Repetiu o ato, antes de respondê-lo.
—Sim, é tão agradável aqui. — Voltou a olhar em volta, se sentindo estranhamente acolhido. Contudo, não tardou a voltar para a realidade. — Mas creio que minha opinião sobre o restaurante, não seja a pauta da nossa conversa. Estou certo?
Um sorriso torto curvou os lábios do mais velho. Seokjin acenou para um garçom, e enquanto aguardava a aproximação do mesmo, assentiu para o amigo.
— Nós estamos aqui para falar de Jimin e dos acontecimentos de hoje, Jungkook. Há muitas coisas causando confusão na minha cabeça.
Antes que Jungkook pudesse questionar quais coisas eram essas, o garçom se aproximou, fazendo-o escolher o que iria comer, antes de voltar a pensar na conversa recém iniciada. Quando o gentil rapaz se afastou, retornou ao assunto.
— Eu tenho tantas dúvidas quanto você, Jin. Se não mais. — Amassou o guardanapo depositado sobre a mesa, se sentindo nervoso — Até hoje cedo, eu acreditava que Jimin estava em Washington. É nisso que eu tenho acreditado desde que ele foi embora, sabe? A minha ficha não caiu ainda, eu ainda não entendo como ele pode estar aqui, depois de tanto tempo e principalmente, como ele chegou a esse ponto. — Referindo-se ao estado de saúde de Jimin, Jungkook suspirou.
O melhor amigo imitou o ato de suspirar. Recostando-se contra a cadeira, Jin passou as mãos pelo cabelo, bagunçando-o, ato que Jungkook sabia ser uma demonstração de cansaço e nervosismo.
— Você tem certeza que Jimin estava em Washington na última vez em que falou com ele? Você tem certeza, Jungkook?
Balançando a cabeça freneticamente, o Jeon negou.
— Eu não tenho certeza, hyung! Não tenho, não tenho certeza alguma. Desde que Jimin embarcou naquele vôo, eu não tenho mais certeza de nada. Ele se tornou um completo desconhecido e eu não sei mais nada sobre ele. — Contra a vontade de Jungkook, lágrimas se acumularam em seus olhos — Já faz um ano desde aquela ligação, onde Jimin disse estar em Washington. Eu não sei o que aconteceu desde que encerramos aquele telefonema.
A voz embargada do melhor amigo, fez o coração de Seokjin apertar.
— Jungkookie, eu não quero que você se sinta ainda mais excluído da vida de Jimin... — Remexendo as mãos em nervosismo, tentou encontrar uma maneira descomplicada para falar o que o amigo precisava saber — Há algo que você precisa saber… Amigo, os números de telefone que você disse pertencerem à família do Jimin, eles não deram resultado algum. Os dos pais sequer chamam, o do irmão, chama, mas ninguém atende. As recepcionistas do hospital tentaram inúmeras vezes e vão continuar tentando, mas até agora, não conseguimos entrar em contato com a família dele. É como se eles tivessem sumido. Como se não existissem…
As últimas frases de Seokjin fizeram o peito de Jungkook apertar. Havia convivido com a família Park durante anos, sabia o quão dedicados os pais de Jimin eram aos filhos, o quanto o irmão era próximo dele. Por que eles não atendiam às ligações do hospital? Por que não socorreram Jimin antes dele chegar em um estado tão crítico como o em que estava agora?
A brecha em toda aquela confusão fazia a cabeça de Jungkook girar. Era como se uma cratera tivesse sido aberta em meio à tudo o que ele e Jimin viveram, como se a história de ambos tivesse sido dividida no tempo em que estiveram juntos, no que Jimin viveu sozinho e no que acontecia naquele momento.
Inúmeras perguntas confundiam a mente do Jeon. O que havia acontecido com Jimin? Por que ele nunca entrou em contato consigo no último ano? Onde estava a família dele?
Tudo parecia um grande mistério, e por mais que Jungkook estivesse se esforçando, não conseguia entender o que estava de fato acontecendo.
— Eu não sei o que está acontecendo, hyung. Eu só quero respostas para todas as dúvidas que eu tenho. — Lágrimas insistentes transbordaram pelos olhos escuros do Jeon.
Segurando a mão do amigo sobre a mesa, Seokjin tentou confortá-lo.
— Nós vamos encontrar essas respostas, Kookie. Nós vamos, tenha fé.
•••
Embora fosse um grande admirador do sol, Jungkook não se sentiu feliz quando a estrela brilhante banhou seu quarto naquela manhã. Havia tido uma noite cheia de sonhos com Jimin, que em determinado momento, tornaram-se pesadelos e lhe fizeram perder o sono. Acordar tão cedo, depois de uma madrugada em claro, era um complemento à tortura de não ter pregado o olho.
Contudo, apesar de estar de folga do trabalho, Jeon não demorou-se muito na cama. O sono não era maior do que suas preocupações profissionais, e mesmo longe do hospital, precisava trabalhar. Foi pensando nisso que saltou da cama, dirigindo-se ao banheiro, afim de tomar um banho frio e terminar o processo de despertar.
Com a água fria caindo em seus ombros, relaxou, fechando os olhos e aproveitando por alguns instantes. Estava cansado, mas tinha muito o que fazer, e entre todos os afazares, o principal deles, era investigar o caso das gêmeas siamesas Jina e Mina.
Durante a conversa com os pais das gêmeas, ainda no dia anterior, Jungkook reuniu todos os exames já feitos anteriormente por elas, assim como diagnósticos recentes e algumas investigações de outros médicos quanto ao caso. Para aquela manhã, pretendia entrar em contato com esses especialistas, gostaria de saber qual a visão deles sobre a situação de ambas, analisaria os exames, diagnósticos e então partiria para o plano principal: conseguir um doador para Jina.
O Jeon sabia que encontrar um doador não seria algo fácil, mas essa era a única chance de dar aos pais e às próprias gêmeas, uma oportunidade de seguir em frente com a família completa.
Após um banho cheio de divagações, Jungkook finalmente sentiu-se acordado e pronto para iniciar o dia. Já vestido e com a higiene matinal em dia, abriu as cortinas do quarto, estendeu a cama e se dirigiu à cozinha, preparando um café da manhã reforçado. Passaria o dia trabalhando em casa e não sabia quando teria tempo para almoçar, então, era melhor abastecer-se com um bom café.
Ainda na mesa, iniciou os trabalhos, digitando o número do primeiro médico a ter tido contato com o caso das siamesas. Foi atendido no segundo toque.
A conversa que tiveram foi longa. O médico do outro lado da linha deu-lhe detalhes que até então, ninguém havia dado. Jungkook sentia que estava no caminho certo, por isso, quando a ligação chegou ao fim — depois de muitos agradecimentos da sua parte —, repetiu o processo, dessa vez, com outro número e para outro médico.
O dia do jovem médico se passou daquela forma: ligando para outras colegas de profissão, fazendo anotações, estudando o caso das gêmeas e buscando possíveis doadores para Jina. O caminho seria longo, mas Jungkook sabia que a recompensa seria maior ainda. Só de saber que havia uma chance de ambas sobreviverem, seu coração se aquecia. Era nessas horas que sentia-se especial, que tinha certeza de que havia escolhido a profissão certa. Salvar vidas, era sem dúvidas, o motivo de continuar vivendo. Não se via longe da medicina e mesmo sabendo que não podia operar milagres, sabia que podia ao menos tentar.
Focado no trabalho que fazia e nos próprios devaneios, o Jeon sequer notou o dia correr. Como havia imaginado, não parou para almoçar e quando se deu conta do estômago roncando, o anoitecer já substituía as cores claras do céu, por tons mais escuros.
Satisfeito com tudo o que conseguiu reunir ao longo das horas de trabalho e pesquisa, Jungkook fechou o notebook e guardou os prontuários e exames das gêmeas, deixando a mesa da cozinha livre para que pudesse iniciar o seu jantar. Contudo, antes mesmo de decidir o que cozinharia, ouviu o celular quase descarregado tocar.
Seu olhar buscou o aparelho esquecido sobre a bancada de mármore branca e antes de caminhar até ele, o médico secou as mãos molhadas no pano de prato. Assim que alcançou o smartphone, visualizou o número de Seokjin piscando na tela. Deslizou o dedo pela tela e levou o aparelho ao ouvido, escutando a voz apressada e ofegante do amigo soar do outro lado.
— Junghkookie, Jungkookie! — Seokjin parecia eufórico e o coração do mais novo falhou uma batida com isso — Jungkookie, Park Jimin acabou de acordar. Jimin acordou, amigo, acordou e quer te ver.
Por um segundo, Jungkook sentiu que toda a distância gerada pelos 3 anos sem ter contato com seu ex, cair por terra.
Jimin estava acordado. E queria lhe ver.
Ansioso, abandonou o pano de prato sobre a ilha da cozinha e correu para a sala de estar, em busca das chaves do carro. No caminho, com a voz trêmula, respondeu o melhor amigo que ainda aguardava na linha.
— Eu estou indo vê-lo, Jin hyung. Diga ao Jimin que eu estou indo.
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